Eu acredito na rapaziada!
Movimento estudantil enche as ruas de Pelotas de alegria e protesto político contra governo federal que ataca a educação e corta recursos das instituições de ensino
Cadre Dominguez / Em Pauta
Tarde tipicamente pelotense. Chuva, umidade, vento e céu nublado. Mesmo assim, no Largo do Mercado Público da cidade uma multidão de estudantes mobilizaram as atenções de quem estava no centro de Pelotas.
– O que está acontecendo aqui – me pergunta o senhor grisalho de roupas cinzas, ar calmo e sereno – gostaria de entender?
– É um protesto contra o atual presidente da República, feito pelos estudantes – respondo.
– Muito bem. Nós estávamos precisando disso. Boa tarde.
E seguiu seu caminho tranquilo. Não deu tempo de perguntar seu nome. Nem era necessário. Não era o único. Durante todo o ato público que iniciou as 15 horas e se estendeu até as 18 horas foram muitos os transeuntes que pararam e se juntaram aos coros das manifestações berrados em voz alta.
– Fora Bolsonaro. Fora Bolsonaro – marcavam os manifestantes, a cada meia hora, intercalando os discursos feitos com um microfone e uma modesta e pequena caixa de som.
Mesmo sem estrutura, os estudantes conseguiram mobilizar uma grande parcela de interessados na situação política do país a beira da votação do segundo turno da eleição presidencial, marcado para o dia 30 de outubro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O dia foi de muitos percalços. A aula aberta marcada pela UFPEL para mostrar a sociedade as ações de extensão da universidade fora suspensa no final da manhã. O problema alegado fora o tempo chuvoso. Nos bastidores os comentários mencionavam o pedido de informações da promotoria sobre este ato específico arrolada junto a reitoria da universidade.
Indiferentes as discussões burocráticas administrativas, o ato crescia em empolgação e público. Estudantes chegavam a todo o momento com cartazes e bandeiras, atacando os cortes orçamentário e as políticas de desmonte da universidade pública no pais durante o mandato do atual presidente da República, que desde seu primeiro ano de governo diminui os recursos para o ensino de uma forma geral.
– Aqui é Lula! Não queremos os milicianos. Verba para a educação não para o orçamento secreto! Fora genocida! – diziam os coros e os cartazes na tarde cinzenta e colorida pelas bandeiras de associações partidárias e estudantis.
Por volta das 17h30min, depois de muitos discursos na improvisada caixa de som, que muito nem ouviam, um grupo de estudantes organizou um protesto silencioso fazendo minutos de silêncio, em formação, cabeças abaixadas, por conta da morte dos mais de 700 mil brasileiros vítimas da epidemia de COVID 19 e a falta de ações do governo federal. O mesmo governo que tinha seu mandatário máximo excursionando em campanha política isolado da população nos pavilhões de eventos da Fenadoce, local afastado próximo a BR-116, longe da cidade e da maioria dos eleitores. Próximo dos empresários de liberalidade extrema e lideranças de insensíveis entidades que lideram poucas coisas e poucas pessoas.
Na sequência, os manifestantes se colocaram em marcha, em direção a Praça Coronel Pedro Osório, com um imenso aparato policial da BM que monitorava o ato pacífico e tranquilo até o final. O grupo ocupou quase toda a extensão das quadras iniciais da praça, cerca de três ou quatro quadras. Na rua, os tambores e os coros se engrossaram, alternando melodias consagradas como a de Lula lá, candidato a presidência da República líder das pesquisas e vencedor do primeiro turno por mais de 6 milhões de votos.
A escolta policial só não contava com a presença de um grande cachorro de rua, amarelo e preto, que latia para as rodas das viaturas da BM, em sua função cachorral para qualquer roda ameaçadora e ao mesmo tempo fazia as honras e se posicionava junto a primeira faixa que abria a passeata, um grupo unido da comunidade indígena de estudantes da UFPEL, justamente um dos grupos da população nacional mais atacados pelo atual governo federal. Aqueles que buscam o sonho de ter uma carreira universitária concluída. Possibilidade atacada pelas medidas do Ministério da Economia e Planejamento que buscam secar os recursos das áreas sociais e privilegiar repasses questionados nacionalmente com o propalado orçamento secreto, série de medidas adotadas na Câmara Federal que destinam recursos federais a parlamentares aliados do governo.
A passeata contornou a praça central de Pelotas entre muitos gritos de apoio e adesões dos transeuntes, com direito a aplausos das sacadas dos prédios e trabalhadores de lojas e comércios da área central. A caminhada pela democracia e a educação adentrou no Calçadão da Rua Andrade Neves. Foram muito bem recebidos pelos funcionários das lojas que aplaudiam a movimentação.
Depois de circular pela área central, os estudantes retornaram ao largo do mercado, para marcar posição até que o candidato a reeleição deixasse a cidade. Por volta das 18 horas, a movimentação pacífica e alegre que deu cores e vozes ao cenário político local se encerrou espontaneamente, assim como começou. Me gustam los estudiantes.