Entenda por que a tradição doceira de Pelotas é considerada patrimônio imaterial do Brasil
Saiba mais sobre o sabor tradicional Pelotense em entrevista com gerente da Doces Bidi
Por Giordanna Benkenstein Vallejos
A decisão de tornar a tradição doceira de Pelotas um patrimônio imaterial do Brasil foi tomada pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), no dia 15 de maio de 2018, em Brasília. O pedido partiu da Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas (CDL) e da Secretaria de Cultura de Pelotas, na busca da valorização da cultura do doce, tão presente na cidade.
Em 1870, ocorreu a expansão do charque em Pelotas, o que enriqueceu a cidade e a tornou um forte polo cultural. Os doces passaram a ser uma possibilidade quando os navios que levavam o charque para o Nordeste, retornavam com açúcar em abundância. Nos intervalos de teatros, bailes de gala e muitos eventos sociais que ocorriam, os docinhos passaram a estar sempre presentes. Curiosamente, a maioria dos doces tinham ovos em sua receita, pois as roupas eram engomadas usando clara de ovo, sobrando muitas gemas.
Para ajudar na preservação e divulgação da cultura doceira, em 1986 foi criada a primeira Fenadoce. Com o tempo a feira cresceu e passou a atrair turistas de toda a parte, no ano de 2018 foram 234 mil visitantes.
A Fenadoce de 2019 terá como tema “Patrimônio Nosso”, justamente por que no ano anterior os doces e prédios históricos foram classificados como parte do patrimônio cultural brasileiro. O evento ocorre do dia 5 a 23 de junho de 2019, onde as receitas de um século atrás, preservadas por muitas gerações, podem ser degustadas nos dias atuais, em uma viagem no tempo por meio dos sabores.
Essas receitas são uma herança cultural de famílias portuguesas, africanas, alemãs e francesas. Não existe forma melhor de entender a cultura doceira que é passada de geração em geração em Pelotas, do que conversar com Jean Carvalho Bento, proprietário do Amour café e gerente da Doces Bidi, empresa com 27 anos no mercado.
Por que você acha que a tradição doceira de Pelotas é considerada patrimônio imaterial do Brasil?
“Os doces de Pelotas são patrimônio imaterial pois estão intrínsecos ao movimento de crescimento da nossa cidade, como polo cultural e gastronômico. É importante preservar a essência dos doces, mantendo suas características originais em termos de ingredientes e sabor, preservando nossa história e preservando nossa rica cultura”.
Quais os doces mais tradicionais e mais pedidos pelos turistas na Doces Bidi?
“Os clientes buscam sempre os doces tradicionais: Quindins, Ninhos, Olhos de sogra, Trouxinha de nozes e Bombons de morango, por exemplo”.
Se você pudesse descrever os doces Pelotenses para alguém que nunca provou ou viu, como descreveria?
“Nossa cultura de doce vem de origem Portuguesa (doces com ovo), Africana (os doces de coco), Francesa (doces em calda e cristalizados). Devido a esses fatores temos doces com características bem doces, com uma grande fusão de sabores, e uma mistura de doces tradicionais com a gastronomia moderna”.
Como a Fenadoce e a cultura doceira movimenta a economia e os comércios de Pelotas?
“A fenadoce traz a memória todo potencial que o doce tem o ano todo e acaba pouco explorado, com certeza traz mais movimento e estimula o consumo. É uma época de muito trabalho, foco e produção para seguir fazendo jus a nossa trajetória e nosso produto”.