Elvis: A Ascensão de Austin Butler

A história de Elvis Presley voltou a estar em frente às câmeras pelas lentes de Baz Luhrmann com a atuação estelar de Austin Butler interpretando um dos maiores cantores de rock da história.

Por Sarah Oliveira

Austin Butler é Elvis Presley em sua mais nova cinebiografia./ Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

ELVIS PRESLEY (1935-1977)

Nas palavras do professor da cadeira de História Social do Rock, Fábio Cruz, da Universidade Federal de Pelotas,Elvis Presley foi o artista que quebrou as regras não só no rock, mas na música. Ele era o prato perfeito para a indústria fonográfica: era jovem, bonito, talentoso e tinha voz de negro. Um pacote completo. Antes dele, nós tivemos arquitetos do rock como Chuck Berry e Little Richard. No entanto, nenhum deles tinha o sex appeal que a indústria cultural tanto explora até os dias de hoje. Além disso, ele era um exímio cantor e, no palco, era um gigante que enlouquecia as plateias. Influenciou gerações e, ainda hoje, continua influenciando independente do estilo musical do artista.” 

Conhecido como um dos maiores astros do rock and roll, Elvis Presley é sem dúvidas o tipo de artista que não precisa de introdução, pois há muitos anos vive dentro do imaginário de bilhões de pessoas pelo mundo inteiro. Entretanto, é sempre bom lembrar-nos de quem ele é e o novo filme do diretor australiano Baz Luhrmann está aqui para ser a nova lembrança em nome do homem conhecido como o “Rei do Rock” – título esse que o professor Fábio reforça ao completar a sua fala dizendo que Elvis foi e sempre será o REI”.

Elvis Presley no especial de 68. /Foto: Spotify

ELVIS (2022)

Apesar de ter começado a sua pré-produção em 2019, a cinebiografia do ‘Rei do Rock’ do foi finalizada no ano de 2021, após sofrer diversas pausas devido a pandemia de Covid-19 que assolou o mundo inteiro no início de 2020. Mas isso não abalou as ideias de Baz Luhrmann para trazer a vida do cantor às grandes telas do cinema.

Durante todos os anos projetando o filme, Luhrmann tinha em mente de que jamais traria o longa às telas do cinema, pois temia que não iria encontrar alguém que ele considerasse ser perfeito para o papel, mas seus pensamentos mudaram assim que recebeu a audição em vídeo de Austin Butler cantando “Unchained Melody”. Assim, após 5 meses de trabalho em conjunto sem grandes compromissos, Baz e todos da produção decidiram que Austin seria a pessoa a trazer Elvis de volta à vida nos cinemas.

Para quem cresceu assistindo às produções juvenis de canais como Disney Channel e Nickelodeon, deve perceber que o rosto de Austin Butler lhe é familiar. O ator começou a sua carreira atuando em ambos os canais em pequenos papéis até ter o seu grande momento de revelação ao estrelar ao lado de Ashley Tisdale em “A Fabulosa Aventura de Sharpay”, o filme solo da querida personagem da trilogia High School Musical. Ao longo da última década, Butler foi conquistando aos poucos o seu espaço na indústria através de alguns personagens chaves em séries para o público adolescente e jovem adulto até conseguir um lugar no último filme do diretor Quentin Tarantino, “Era Uma Vez… Em Hollywood” (2019), interpretando o assassino Tex Watson, um dos membros centrais da “Família Manson”, seita liderada pelo também assassino Charles Manson que aterrorizou Hollywood nos anos 60 e foram os responsáveis pela morte da atriz Sharon Tate – que estava grávida – em 1969. Em paralelo com o longa de Tarantino, Austin foi escalado pelo diretor Baz Luhrmann para ser o protagonista de seu novo filme – a cinebiografia de Elvis Presley. 

Austin em uma sessão de fotos entre as gravações. /Foto: Hugh Stewart -Instagram

Em seu primeiro grande papel de destaque, Austin Butler dá a sua mente, corpo e alma para interpretar o icônico cantor de rock and roll. Desde a sua caracterização, á sua impecável precisão ao executar os marcantes passos de dança até a incrível mudança em seu tom de voz e sotaque para deixá-la a mais próxima possível à de Elvis, Austin faz com que o espectador não veja somente um ator qualquer representando um papel em um filme, mas sim um ator que estudou tanto o seu personagem que ele agora carrega consigo a sua essência de uma maneira que faz parecer que o próprio Elvis Presley está em cena contando a história de sua vida pelas lentes de Baz Luhrmann.

A entrega de Butler é tão imersiva quando ele está na pele do cantor, que conforme as apresentações vão sendo mostradas no longa, passamos a entender como e o porquê de Elvis ter conseguido cativar a atenção de multidões quando estava em cima do palco por combinar a sua voz marcante com passos de dança ousados demais para a sua época.

 

Além de atuar, Austin também cantou em diversos momentos do longa.

Seguindo na mesma linha que Taron Egerton na cinebiografia de Elton John, “Rocketman” (2019), por conseguir atingir uma grande proximidade com a voz natural de Presley principalmente em seus anos de juventude e já ter uma certa afinidade com o canto particularmente, o ator se tornou responsável por regravar todas as canções que Elvis lançou no início de sua carreira e que seriam utilizadas no filme nos antigos estúdios da “RCA Records”, em Memphis, Tennessee, mesmo lugar onde o jovem Elvis Presley gravou inúmeras músicas para a maioria dos seus álbuns. 

Já para a fase dos anos finais da vida do astro do rock, Austin e a produção optaram por seguir a mesma estratégia utilizada por Rami Malek na cinebiografia da banda Queen, “Bohemian Rhapsody” (2018), que consistia na voz de Rami como base mixada com a voz de Freddie Mercury em cima para dar mais veracidade nos momentos em que Rami subia aos palcos para performar como Mercury. Visto que agora Butler não estaria mais interpretando alguém da sua mesma faixa etária, mas sim um homem perto da meia idade cuja voz já não é mais a mesma que a de um jovem de 20 e poucos anos, a produção passa a usar uma mixagem das vozes de ambos os artistas para que a fase final dos anos 60 e início dos anos 70 seja representada de uma maneira fiel, mas também original. 

Junto à Butler também temos Tom Hanks e Olivia DeJonge entregando ótimas performances como o Coronel Tom Parker, o empresário de longa data do cantor e Priscilla Presley, sua esposa e mãe de sua única filha, Lisa Marie.

Como o grande antagonista do filme, Tom Hanks brilha na pele do asqueroso Col. Parker, o homem por trás de toda a carreira de Elvis e todas as manipulações que ele sofreu durante sua vida. Como narrador do filme, é esperado que a trama toda se passe através da visão de Parker, mas o longa surpreende ao usar sua narração como um contraste do que realmente aconteceu e está passando na tela, evidenciando o quanto Parker – cujo verdadeiro nome é Andreas Van Kuijk – era manipulador e mentiroso que ao mesmo passo em que tornou Elvis uma grande estrela, também o ajudou a se afundar durante os piores momentos de sua vida e carreira.

Assim como dar a vida á uma pessoa que marcou a história da música já falecida é um grande desafio, interpretar alguém do mesmo calibre e que ainda está entre nós também não deve ser fácil, porém Olivia DeJonge consegue dar a audiência uma Priscilla Presley tão bela, amável e simpática quanto a real Priscilla que viveu e se tornou um ícone tanto da cultura pop, quanto da moda.

Coronel Parker e Priscilla Presley de Baz Luhrmann. /Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Falando em moda, um ponto incrível que a cinebiografia possui além de suas atuações estelares é a parceria incrível com as grifes-irmãs Prada e Miu Miu, que desenvolveu grande parte dos figurinos usados por Elvis e Priscilla junto à figurinista ganhadora do Oscar Catherine Martin. A ganhadora do Oscar e a casa de alta moda trabalharam de maneira precisa para que todas as roupas usadas pelos atores fossem não uma imitação, mas sim uma recriação daquelas que foram usadas originalmente pelo casal e que também fossem confortáveis ao máximo para que os atores – especialmente Austin – pudessem performar sem algum impedimento.

Esboços dos figurinos de Elvis e Priscilla pela Prada e Miu Miu. /Foto: Hugh Stewart/Miu Miu e Prada via Instagram

Para além das roupas, outra parte da produção que se destaca ao trazer os anos 50, 60 e 70 de volta à vida é a ambientação bem feita nos diversos cenários que aparecem no filme. Meticulosamente pensados e desenvolvidos pelo diretor Baz Luhrmann e a equipe de montagem, os cenários do filme são lindamente recriados transportando o espectador da cadeira do cinema direto para lugares marcantes na vida de Elvis como a cidade de Memphis, Graceland e Las Vegas, aumentando ainda mais a sua imersão com o enredo e o personagem principal. 

Outra parte brilhante do filme é a sua trilha sonora. Composta por versões remasterizadas das canções originais de Elvis, regravações feitas por artistas convidados como Stevie Nicks e a banda italiana Måneskin, por membros do elenco como Austin Butler e Shonka Durek e músicas originais desenvolvidas especialmente para o longa como a faixa “Vegas” interpretada por Doja Cat, a trilha que acompanha a trama é uma verdadeira prova de como a mistura de artistas e músicas de diferentes tempos possui uma curiosa funcionalidade e uma qualidade musical extrema.

Um únicos pontos negativos do longa é a sua edição e montagem que é bastante confusa ao colocar passado e presente ao mesmo tempo, indo e voltando à tela, durante toda a primeira meia hora de filme, combinando esses paralelos com outros elementos de imagem, como animações. Apesar de ter sido pensada para ser uma viagem em que tanto os personagens quanto o público pudesse participar para saber o que estava acontecendo durante as primeiras decisões cruciais que Elvis toma para o início de sua carreira, tal ideia acaba se tornando, no final das contas, apenas um grande momento de poluição visual quase desconcertante.

Austin Butler em ação como Elvis em sua residência em Las Vegas. /Imagens: Warner Bros. Pictures

Com poucos pontos fracos ou negativos que geralmente assolam toda e qualquer cinebiografia de alguém tão marcante no imaginário do público há gerações, “ELVIS” (2022) de Baz Luhrmann definitivamente entre para a lista das melhores biografias feitas para o cinema, graças à sua ótima direção, atuações impecáveis, trilha sonora surpreendente e uma dedicação meticulosa em reconstruir momentos icônicos do passado para o tempo atual de maneira tão grandiosa quanto da primeira vez em que foram apresentados para o público e dessa vez com todo o poder e explendor que somente o cinema pode oferecer.

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