Documentário Muito Além do Peso reflete a preocupante realidade da alimentação infantil
Por: Clara Celina
Lançado em novembro de 2012, o documentário dirigido por Estela Renner enriqueceu o debate em torno da alimentação das crianças brasileiras e de como elas reagem ao marketing. Em uma viagem por diversas regiões do país, torna-se claro o quanto os efeitos de uma má educação alimentar podem trazer malefícios às novas gerações, que sofrem precocemente com obesidade e outras complicações relacionadas a ela, como problemas cardíacos, diabetes, artrite e trombose.
“Seu filho vai viver dez anos a menos do que você, por causa do ambiente alimentar que construímos.” Assim inicia o documentário Muito Além do Peso, com a fala do chef britânico Jamie Oliver.
Tratando-se de um país que até pouco tempo sofria com a desnutrição infantil, a estimativa de que 33% das crianças brasileiras pesam mais do que deviam demora a causar impacto. Até então estar acima do peso era sinal de saúde.
A globalização muito ajudou na modificação desse contexto, já que até então a cultura alimentar era um marco característico regional e os alimentos consumidos pelas populações habitantes se definiam a partir das condições geográficas. Hoje é possível consumir o mesmo alimento independente da localização, o que é positivo por permitir maior integração mundial, mas distancia o contato com a natureza.
O documentário torna isso claro quando mostra que crianças sabem o nome e os componentes de salgadinhos e bolachas, mas não sabem identificar frutas e legumes. O conhecimento da produção dos alimentos se tornou distante diante da facilidade de abrir embalagens e da ficção repassada através das propagandas de alimentos infantis.
A ficção, infelizmente, vai além da publicidade na medida em que não há um conhecimento dos termos comumente utilizados pela indústria alimentar. Não se divulga, por exemplo, que carboidrato pode ser sinônimo de açúcar, que néctar se refere a uma bebida composta de mais açúcar do que suco de fruta e que 0% de gordura trans não significa que o produto está livre da mesma.
O contexto alimentar abrange duas linguagens que não são ensinadas, uma referente à linguagem publicitária, já que as crianças passam em média cinco horas em frente à televisão e, como o documentário propõe, o diálogo dentro dos mercados não é entre pais e filhos, mas entre pais, publicitários e filhos. E outra referente à linguagem alimentar, já que dificilmente se aprende a ler tabelas nutricionais.
O documentário reflete, portanto, para além da decadência alimentar, a grande proporção de desinformação que é constantemente fomentada e o quanto à mídia tende a influenciar intimamente as populações. Nos Estados Unidos, por exemplo, são gastos em média 51 milhões em divulgação de hábitos saudáveis, o que ainda é muito pouco comparado aos 1,6 bilhões gastos com marketing alimentar.
O poder de escolher, frente a esse cenário, entretanto, ainda está nas mãos dos consumidores. Daí a importância de uma maior circulação de informações e a necessidade de uma educação que abranja a mídia e a alimentação.
O documentário é uma produção da Maria Farinha Filmes e se encontra integralmente disponível no Youtube.