Citros de mesa são reaproveitados para produção de sucos e geleias

Por: Larissa Teixeira Medeiros

O Rio Grande do Sul produz mais de quinhentas mil toneladas de citros de mesa por ano. Mas esse volume todo nem sempre chega ao consumidor, que é bastante exigente. Devido a problemas comuns na produção, alguns frutos sofrem danos ou não ganham o tamanho necessário. Assim, deixam de atender às demandas do mercado e acabam descartados, mesmo aptos para o consumo.

São laranjas, bergamotas, limas, limões e outras frutas cítricas. Cada uma delas é colhida em uma época diferente do ano. E da mesma forma que produzem em períodos diferentes, também podem ter finalidades diferentes. As de melhor aparência são “de mesa”. As demais, processadas e, viram sucos e geleias. Nesse caso, o interesse é por plantas com safra longa, grande produtividade de frutos e alto rendimento de suco.

Entretanto, chuvas, ventos e outras alterações climáticas, além de um manejo mal feito, interferem no desenvolvimento desses frutos, que podem receber marcas e, até mesmo, não se desenvolverem bem. Quando isso acontece, os de mesa perdem valor entre os consumidores, preocupados apenas com a aparência dos frutos, e acabam descartados, na maioria das vezes, sem necessidade.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado Roberto Pedroso, realiza estudos na área há vários anos e explica algumas questões sobre o problema: “É normal um descarte da produção da ordem de 20%, porque são frutos que não têm o padrão exigido para comercialização. E, essas perdas, em anos em que podem ocorrer alguns fenômenos ambientais, podem chegar a até 60%. Esses frutos, se você for pensar no mercado de citros de mesa, teriam que ser descartados, mas uma boa parte deles pode ser utilizada como uma fonte adicional de renda. Ou o produtor produzindo os próprios subprodutos, que seriam geleias e sucos, ou vendendo para empresas que tenham essa finalidade”.

A Embrapa Clima Temperado já recomendou em torno de 50 cultivares de citros para todo o estado. A mais produzida é a Okitsu, uma bergamota que não possui sementes e nem cheiro forte. É uma fruta precoce, sendo colhida nos meses de março e abril, e bastante utilizada na região, como por exemplo para a produção de sucos. “Os frutos dessas cultivares nunca foram utilizados para fins industriais, mas hoje em dia, se pensando em sucos ou geleias varietais, se abriria esse mercado de produtos diferenciais. O fato desses citros de mesa recomendados pela Embrapa, a maioria desses cultivares, não apresentarem sementes traz inúmeras facilidades na extração do suco, na produção da geleias, entre outros. No caso das geleias dá para fazer com gomos inteiros. São muitas facilidades nesse sentido”, completa Pedroso.

O citros de mesa chega a valer de 4 a 6 vezes mais in natura. Mas, quando não pode ser comercializado, o processamento garante rentabilidade sobre o que seria descartado. E o lucro pode ser ainda maior se o produtor fizer isso diretamente na propriedade. “Normalmente o mercado in natura aceita pagar o valor mais elevado. Se o mercado de processamento pagasse tão caro, o produto industrial teria um preço muito maior e até inviável”, explica Pedroso.

E é exatamente isso que está fazendo o Seu Bira. No interior de Pelotas, ele processa diversas frutas na sua agroindústria de sucos e geleias, e os citros, como a bergamota, entram como opção. “Frutas que apresentam todas as características, entre elas um aspecto especial, mas que nem por isso elas podem, pelo fato de num dado momento não terem um aspecto tão bonito para a mesa, perder a condição de serem belos produtos para uso industrial”, comenta seu Bira a respeito dos produtos. O processo para o feitio do suco começa mergulhando a fruta em água com cloro durante dez minutos. Depois disso, a tampa da bergamota é cortada e o fruto é posto em um processador. O suco que sai dessa máquina passa para a despolpadeira, retirando excessos de polpa. Depois desses procedimentos, o suco é aquecido, engarrafado e colocado em banho-maria por 10 minutos em água com cloro.

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A agroindústria Quinta Martins funciona na zona rural de Pelotas. Foto: Yago Moreira

“E a tangerina está alinhada nisso. Existem tangerinas que não são tão grandes, existem tangerinas que podem ter qualquer imperfeição na casca, por exemplo, e que não deixam, por isso, de serem excelentes matérias-primas industriais, tanto para sucos quanto para geleias”, reforça seu Bira a respeito da qualidade das frutas. E além do processamento, Seu Bira aproveita até o que seria jogado no lixo após a produção do suco. As cascas vão para um minhocário e se tornam húmus, servindo de adubo orgânico para os pomares. E dos caroços das frutas é extraído óleo ou viram aditivo na lenha para lareira. Nada é jogado fora.

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Em algumas safras, dependendo dos fenômenos climáticos que ocorrerem, os danos à produção podem chegar a até 60%. Foto: Henrique Cerqueira

Além do Seu Bira, há outro tipo de trabalho com esses citros em pelotas. A dona Onélia produz vários tipos de doces e geleias artesanais na “Doces da Onélia”, também em Pelotas. Mesmo se localizando no Rio Grande do Sul, vende doces para todo o País. Ela experimenta diferentes cultivares (melhoramento de variedades) nos doces, como a Okitsu, diversificando o sabor dos produtos que vende. “Quase todas as frutas viram doce. Esse tipo de bergamota tu faz geleia. E fica boa a geleia! E dá pra fazer ela em gomos também. Faz uma calda, depois desmancha os gomos e coloca no vidro: é uma conserva de bergamotas!”, conta dona Onélia a respeito das possibilidades de criação com as cultivares de citros.

Esses dois casos são exemplos de como aproveitar frutas que não precisam ser jogadas fora. Além disso, contribuem para um mundo mais sustentável e solucionam problemas na produção, ajudando tanto quem produz, quanto quem compra, seja para uso industrial ou consumo pessoal.

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