Caótica rua levanta a bandeira da cultura skatista em Pelotas
Por Claudine Zingler
O Multiculturalismo e a Rua, evento proposto pelo coletivo Caótica Rua vai acontecer no dia 29, sábado, na Travessa Conde de Piratini (entre a Bibliotheca Pública Pelotense e o Banco Bradesco e procura divulgar entre a população os ideais do movimento do skate, que é bastante presente em Pelotas e no restante do Brasil.
O responsável pela organização do evento é o coletivo Caótica Rua, criado por Andrei Brettas no início de 2018, apesar de a ideia já existir há mais tempo. Além dele, a jornalista Rayane Lacerda é responsável pela comunicação e pelo setor criativo do coletivo. Outros membros não-fixos participam do grupo, principalmente nas ações que são organizadas, por exemplo produções audiovisuais e evento, como é o caso do Multiculturalismo e a rua, evento do dia 29.
Conversamos com Andrei sobre a história do coletivo, sobre os panoramas da realidade do skate na cidade Pelotas e sobre o Multiculturalismo e a Rua.
Em Pauta: Quando foi formado e qual é o objetivo do coletivo Caótica Rua?
Andrei Brettas: O coletivo começou a ser formado em novembro de 2017, e acredito que ainda esteja em processo de formação. Tudo começou pela observação da cena precária do skate local, as atividades paradas e um sentimento estagnado de que a cidade oferece sempre os mesmos bloqueios e oportunidades que seguem um padrão ao qual não podem ser ultrapassadas. A ideia principal do coletivo é sair deste padrão e abrir novos caminhos para o multiculturalismo do skate local poder se desenvolver e tocar no íntimo das pessoas com o viés do skate, de forma mais ampla. O objetivo principal é conscientizar as pessoas do potencial extenso que o skate carrega.
Penso que uma melhor qualidade de vida se dá quando nos tornamos mais conscientes sobre as coisas que nos cercam. Quando uma pessoa que não conhece a cultura do skate vê um skatista andar sob partes da cidade, geralmente não se percebe como ele está dando um novo significado ao espaço, escolhendo uma forma de se expressar sobre o objeto por meio de uma manobra inventada em uma linguagem particular daquela cultura, superando medos que o fato de jogar o skate sobre um obstáculo produz, se posicionando de forma que a manobra fique mais agradável aos olhos e se relacionando em vários outros aspectos sutis que envolvem esta prática. Com a Caótica, tento passar um pouco dessa ideia por meio de todos os âmbitos que o skate envolve, por acreditar que ele é uma ferramenta
EP: Quem faz parte do coletivo e como ele atua?
AB: A ideia do coletivo é funcionar de forma colaborativa. Por isso o eixo de organização consiste na minha atuação como administrador e na participação da Rayane Lacerda como jornalista responsável pela área de comunicação e colaboradora no setor criativo. A outra parte do coletivo é formada pela participação de skatistas que atuam em áreas específicas de acordo com cada projeto. Dependendo do projeto, atuamos conforme as oportunidades que aparecem ao longo da trajetória, portanto, sinto que o processo criativo precisa ser constantemente renovado. Vivemos de um modo que causa uma ilusão de estarmos em um mundo cada vez mais acelerado e novas portas vão se abrindo o tempo todo, por isso prezamos muito pelo contato direto com pessoas que já atuaram na cena cultural, buscando aperfeiçoar nossos meios de atuação no todo. Como o skate é multicultural e toca em diversos pontos como expressão corporal, cinema, fotografia, arquitetura, desenho, etc., lidamos com públicos diversos e isso abre espaço para trabalhar com inúmeros meios.
EP: Quais ações o coletivo já fez até agora?
AB: De modo sutil, creio que grande parte das ações do coletivo são coisas comuns que eu tentava fazer sozinho, mas percebi que acabava passando despercebido e dificilmente tocava alguém, forçando algo que deveria ser natural. Com o coletivo, vi que era possível se comunicar com um público maior e passar as ideias com um formato mais artístico, dando outra vivacidade ao que eu tentava comunicar, quebrando aos poucos alguns atrofiamentos de comunicação que eu tinha.
O Instagram é um dos meios principais que escolhi para atuar com o coletivo. Por lá, comecei a divulgação de espaços culturais da cidade, envolvendo assuntos como alimentação consciente, música, e transmiti nossas vivências de rua com o skate.
Sempre gostei de editar vídeos, mas fazia algum tempo que não mexia com os programas. No início de novembro, comecei a ter um contato maior com minha câmera, e resolvi registrar algumas imagens das nossas sessões na rua. A ideia de formar o coletivo também teve início por aí, queria chamar o pessoal para andar em “picos” aleatórios de rua, trazendo o pensamento de ressignificar espaços, mas ao longo do tempo foi sendo desenvolvida uma ideia de que Pelotas não é uma cidade em que o skatista pode sair “embalando” livremente e encontrar lugares diferentes para andar. Quando raramente saímos em grupo à procura de lugares novos para andar, cada um vê obstáculos diferentes e imagina manobras diferente sendo realizadas em cada espaço. Os “picos” de skate, são muito relativos, dependem da criatividade pessoal de cada skatista e de seu estilo.
Vi uma brecha para comunicar essa disponibilidade de “picos”, então comecei a produzir o vídeo com o intuito de expandir a visão sobre o potencial de skate que a cidade possui. Com a ajuda dos skatistas que se disponibilizaram a sair para gravar e serem gravados, consegui produzir o primeiro vídeo do coletivo, dando início aos projetos.
No mês de Junho, colaboramos com a Semana Acadêmica das Artes, construindo obstáculos para a oficina de dispositivos urbi-artísticos emancipatórios e também divulgando o evento e registrando parte do que fizemos.
https://www.youtube.com/watch?v=KZy2gG8hdhA
EP: Qual a importância do evento Multiculturalismo e a rua, tanto para vocês quanto para comunidade que vai poder prestigiar?
AB: O evento do dia 29 de julho deve funcionar como uma forma de trazer novos olhares para o skate de Pelotas, abrindo portas para a possibilidade de novos projetos. O local que escolhemos não possui a estrutura ideal para a prática do skate, mas dispõe de uma localização central que nos dá mais chance de sermos vistos por públicos diversos como uma cultura viva e ativa. No momento não temos o privilégio de poder realizar o evento em um lugar afastado e propício para a prática por não termos a capacidade de movimentar um público grande sem cair na mesma posição de sempre, em que o público já é quem nos conhece, e seguimos sem sair do lugar. O foco principal é recuperar o tempo perdido na cidade, mostrar que o skate é uma cultura que cresce cada vez mais e que não deve ser colocado como algo criminalizado e banal. [O evento] Traz um lado artístico que expande a percepção dos praticantes, com um formato moldável que une diversas tribos e as iguala por meio de um objeto (o skate) que envolve vários campos de atuação.
EP: Sabendo que vocês são um coletivo que não dispõe de financiamento, como as pessoas podem ajudar o coletivo e/ou o evento do sábado?
AB: A infraestrutura do evento possui um orçamento que não cabe no nosso bolso, já que somos um coletivo sem retorno financeiro. Então, estamos vendendo rifas a 2 reais concorrendo a uma flash tattoo no estúdio black sea com o tatuador Wan Der, e também rifas de 2 reais concorrendo a uma cesta de café da manhã. Creio que a melhor ajuda que podemos pedir ao público, é que nos acompanhe pelas redes sociais, compareçam nos eventos e passem nossas ideias a diante. Precisamos manter o skate local vivo para dar oportunidade de um futuro melhor aos skatistas que pretendem se tornar profissionais ou amadores, incentivar a prática das crianças, das mulheres que não se sentem bem acolhidas, conseguir melhores espaços, etc.
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