Calouros de universidades enfrentam dificuldades após a mudança de cidade

Segurança da escolha do curso e apoio dos pais são importantes para a adaptação do jovem.

Por Daniel Batista

Saudade, euforia, alegria, solidão, medo: esses são alguns dos sentimentos expressados por jovens que decidem mudar de suas cidades em busca do ingresso em uma instituição de ensino superior que, muitas vezes, está há alguns quilômetros de distância e enfrentar algumas situações que ainda não estavam habituados.

Desde 2010, o Sistema de Seleção Unificada (SISU), plataforma digital criada pelo Ministério da Educação (MEC) utiliza a nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para classificar e selecionar os calouros de universidades federais de todo o Brasil. De forma semelhante, o PROUNI seleciona estudantes para ingressarem em uma instituição de ensino superior privada. Isso possibilita que estudantes residentes no Pernambuco, por exemplo, ingressem em uma universidade localizada no estado de Santa Catarina. Somente no primeiro semestre de 2017, segundo dados divulgados pelo MEC, 2.498.261 candidatos se inscreveram no SISU, disputando uma das 237.840 vagas ofertadas em 131 instituições públicas de ensino superior do país.

Os motivos da mudança de cidade vão desde o ingresso em uma universidade conceituada, passando pela busca por um curso que não está presente na região em que o estudante mora, até o fato de poder sair da casa dos pais, como é o caso do estudante de Ciência da Computação da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), Giuliano Neves Damasceno. O jovem, de 20 anos, é natural de São Vicente, cidade localizada no litoral de São Paulo e, atualmente, reside em Pelotas, cidade da região Sul do estado do Rio Grande do Sul. “Eu queria me desenvolver, sempre pensei que se eu mudasse pra fora de casa eu iria crescer bem mais do que se eu tivesse ficado na minha cidade. Além disso, foi sempre uma coisa que eu quis: crescer um pouco mais com a faculdade e poder aproveita ela ao máximo.”, conta.

A escolha de ingressar em uma universidade localizada longe da casa dos pais é normal, segundo a doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo,  Renata Plaza Teixeira. “Quanto mais distante dos pais mais a pessoa tem que ganhar autonomia mais rapidamente. O primeiro mês, a primeira semana, o primeiro final de semana tem um lado fascinante porque o jovem quer, muitas vezes, a sua liberdade, quer os desafios, mas é claro, vem a saudade também”, conta.

A saudade de casa e dos pais é um fator importante que pode tanto interferir no desempenho acadêmico quanto levar o estudante a desistência do curso ou, até mesmo, ao desenvolvimento de doenças, como a depressão. De acordo com Renata Plaza, a procura por ajuda profissional é essencial para o tratamento. “O ideal é que o estudante tenha algum autoconhecimento pra identificar se é o caso de buscar ajuda profissional, então fazer uma terapia que de suporte pra ele atravessar essa fase, sabendo que é uma fase que vai passar. Se há sinais de que ele pode estar com depressão então ele precisa buscar ajuda de um profissional da instituição para fazer uma terapia.” afirma a psicóloga.

A internet, os sites de redes sociais e as novas tecnologias têm facilitado os estudantes a manterem contato com os pais e parentes que estão distantes e superar a saudade, como é o caso de Beatriz Lira Fordelone, de 19 anos. Antiga moradora da cidade de São Vicente, cidade do litoral de São Paulo, a estudante, que se mudou para o interior do estado para cursar Nutrição na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) no campus localizado em Limeira, afirma que não têm sentido muita falta de casa. “Mantenho contato pela internet e tenho conseguido voltar para casa com uma frequência razoável, então ainda não tive problemas lidando com a saudade”.

Uma boa adaptação do estudante na nova cidade é essencial para a permanência na universidade. Por isso, segundo a psicóloga, a recepção dos chamados “veteranos”, grupo composto por alunos que ingressaram no curso em um ano ou semestre anterior ao do calouro, e da própria Universidade é fundamental.  “Os veteranos e a universidade precisam acolher o estudante que está chegando, pois, para ele, vai ser muito melhor, porque nós, seres humanos, somos movidos a vínculos. Então, se a universidade e os veteranos contribuírem pra que esses vínculos sejam estabelecidos mais rapidamente, tanto melhor para que esse jovem se sinta bem naquele local”, afirma.

Estudante do terceiro semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Brasília (UNB), Letícia Plaza Teixeira, de 20 anos, conta que a instituição oferece serviços de apoio ao calouro. “Existem serviços institucionais de apoio aos calouros, como o apoio psicológico, por exemplo. e grupos independentes que costumam incentivar a participação de calouros, como os núcleos religiosos, projetos dos cursos ou até mesmo a política estudantil”.

A busca pelo ingresso em uma universidade federal exige muito esforço e dedicação dos estudantes. No entanto, após a conquista da vaga e a matrícula, começa um novo período, onde o jovem terá de enfrentar muitos desafios que, segundo Renata Plaza, podem ser superados com a ajuda dos pais. “Os pais estando seguros de que a escolha foi feita de maneira pensada, de maneira lógica, com busca de informações e que realmente aquele local é bom para a formação dos filhos, vão conseguir lidar com a distância de maneira melhor do que se eles estiverem inseguros”. Ainda segundo a psicóloga, a segurança do estudante em relação ao curso a universidade e ao amor dos pais é fundamental. “O jovem estando seguro da escolha e do amor que os pais sentem por ele, torna o processo muito mais tranquilo”, afirma.

 

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