“A primeira palavra que eu aprendi em português foi fome”, diz estudante venezuelano que reside em Dois Irmãos.

Conheça a emocionante história de 25 crianças venezuelanas que estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental 29 de Setembro e que foram acolhidas com a substituição das aulas de alemão pelas aulas de espanhol.

Dos 49 alunos venezuelanos matriculados na rede municipal, 25 estão na Escola 29 de Setembro. Foto: Giordanna Benkenstein Vallejos

Por Giordanna Benkenstein Vallejos/Em Pauta

29 de Setembro foi a data que os imigrantes alemães chegaram ao município de Dois Irmãos e também é o nome da escola municipal que decidiu mudar as aulas que eram de alemão para o idioma espanhol, visando melhorar a comunicação entre a comunidade  e os novos estudantes refugiados. “Somos uma escola que leva o nome da data desses primeiros imigrantes, 29 de setembro. Então não recebê-los bem e não fazer tudo que está ao nosso alcance para que eles se adaptem aqui me parece uma contradição.” Diz a diretora, Daniele Simone Arndt. 

De acordo com os dados atualizados pelo secretário de Desenvolvimento Social, Léo Büttenbender, em Dois Irmãos existem 87 famílias venezuelanas cadastradas na Assistência Social, o equivalente a, aproximadamente, 300 pessoas, sendo estas crianças, jovens e adultos. Na rede municipal, são 49 alunos venezuelanos matriculados, sendo somente na Escola 29 de Setembro, 25 estudantes. Sendo que das treze turmas da instituição, apenas duas não tem estudantes da Venezuela. 

Com o aumento do número de imigrantes, e como a professora de alemão, Diane Karine Sochtig, sabe falar alemão e espanhol, as aulas de alemão passaram a ser ministradas em espanhol. Com isso, a escola começou a contar com uma segunda professora de espanhol, Ceura Farias Borges, no contra turno. Nessas aulas, os colegas brasileiros aprendem espanhol e os imigrantes estudam português, com foco em palavras desconhecidas ou de maior dificuldade.

Segundo a professora Diane, as crianças falam rápido o espanhol, e isso dificulta a comunicação. Além disso, eles se sentem deslocados por estarem em uma instituição que fala outro idioma, e ter uma professora que fala a mesma língua deles causa uma sensação de acolhimento.

Dos 25 alunos venezuelanos, 12 que estudam no turno da tarde participaram da entrevista, tendo eles de 5 a 10 anos de idade.  A maioria dos estudantes relatam que gostam de morar em Dois Irmãos por conta da escola e de locais como praças, onde podem brincar ao ar livre.

Ao serem questionados se foram bem recebidos, todos responderam que sim ao mesmo tempo. Os estudantes também disseram que as famílias escolheram Dois Irmãos por ser mais amigável e ter mais oportunidades de emprego. “Viemos para cá porque na Venezuela estava sendo muito difícil de conviver,por conta da troca do presidente. Aí foi ficando difícil, muito difícil. Daí lá não tinha comida, e o país com melhores oportunidades para nós foi esse.”  E acrescenta: “Dois Irmãos é mais amigável. Antes eu vivia em uma cidade no Brasil que era muito ruim, não queriam ver os venezuelanos na rua, começavam a falar mal deles.” Explica o aluno.

A saudade das crianças fica em relação aos parentes que tiveram que deixar para trás, como avós, pais e tios. Além disso, também sentem falta da arepa, prato típico do país deles. A viagem da Venezuela até o Brasil foi em aviões militares: “A minha viagem não foi tão feliz não. Porque a gente foi num avião militar e esse avião parecia que ia explodir de tanto que tremia.”, conta uma das crianças. Eles tiveram que ficar em Boa Vista – Roraima, em uma tenda de refugiados, até terem a entrada aprovada no país, que tardou devido à pandemia. 

Em solo brasileiro, eles começaram a ter contato com o português, uma língua que a maioria não conhecia. Observando e repetindo, os mais velhos atualmente tem uma boa compreensão da língua e falam também. “A primeira palavra que eu aprendi em português foi fome” conta a criança Venezuelana, mostrando uma necessidade de falar algo que nenhum ser humano de qualquer etnia deveria passar.

Sobre as diferenças em relação ao Brasil e a Venezuela, um dos venezuelanos conta: “Lá é muito diferente daqui. Um dia o preço da comida estava muito bom, amanhecia e estava com o preço bem maior.” Relatando os efeitos da alta inflação vivenciada por eles. 

Apesar da barreira de linguagem e de um passado conturbado, os estudantes venezuelanos encontraram na educação e em Dois Irmãos a esperança de um futuro melhor. Caso alguém queira ajudar, a Escola Municipal de Ensino Fundamental 29 de Setembro está aceitando doações de material escolar e uniformes para os alunos carentes de auxílio e o telefone para contato é (51) 3564-8843.

 

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