A teledramaturgia nacional ganha força através das redes sociais

Os vídeos editados contribuem para fãs e público que curtem telenovelas, séries e filmes conhecerem produções relevantes       

Por Daniela Alves         

 

Um fenômeno recorrente nas redes sociais – para não dizer característico delas -, é a criação dos chamados edits. Nada mais são do que vídeos com uma duração média de 18 a 30 segundos, que trazem recortes elaborados de cenas de filmes, séries, entrevistas de pessoas famosas e vídeos publicados por elas. É algo quase exclusivamente feito de fãs para fãs, mas, que se torna uma poderosa ferramenta de engajamento, principalmente, no mundo conectado em que vivemos.

Trata-se de uma ferramenta prática para o entretenimento de qualquer fã assíduo de algo. Afinal, é possível criar as artes através de aplicativos que podem ser baixados com apenas um click através do celular. Essa forma de produção digital é também um forte componente da dita cultura da participação. Nesse tipo de criação, os membros de uma comunidade, grupo ou sociedade estão ativamente envolvidos na produção e compartilhamento de conteúdo, ideias e experiências.

 

“Hilda Furacão” voltou  a fazer sucesso através das redes sociais     Foto: Jorge Baumann / TVGlobo/Divulgação

 

Essa cultura muito comum às plataformas virtuais, valoriza a colaboração, a interação e a contribuição coletiva, promovendo a participação ativa e o envolvimento de todos. Além de utilizarem a criação dos vídeos para entretenimento próprio, os fãs aproveitam também para popularizarem os conteúdos de que gostam. A partir de vários recortes, é possível contar uma nova história sob outra perspectiva (vide as fanfics), possibilitando que mais pessoas tenham conhecimento das produções, e, assim, impactem positivamente na forma com que é incentivado pelas grandes marcas e patrocinadores.

Como um exemplo de quem está ligado nos edits, está a jovem Ana Paula Montez, de 22 anos. Ela é fã da popular série britânica “Fleabag”, que segue a vida tumultuada e as experiências emocionais de uma mulher londrina sem nome, conhecida apenas como Fleabag, e que se apaixona por um padre. O X (ex Twitter) mostrava associado à série uma cena de uma minissérie brasileira, e ela decidiu procurar mais informações para assistir. Assim, ela se tornou fã de “Hilda Furacão”, que descobriu em uma sequência de tweets feitos por norte-americanos. “Quando eu terminei de ver ‘Hilda Furacão’, fiquei abismada, é uma minissérie incrível, e que faz o uso da análise política dentro da história de uma prostituta e um frei, tudo isso em vésperas de golpe militar. É muito bom!,” diz Ana.

Divulgador do cinema brasileiro

Administrador de uma das páginas que reproduz o conteúdo, desta vez, na plataforma do Instagram, Lu é um animador e tem, com a página, até mesmo o reconhecimento de atores globais, como a própria Fernanda Torres. Com o trabalho feito na página @scifimoon, o jovem busca alcançar um público maior para contemplar o cinema brasileiro e as obras que vem sendo produzidas, que em nada perdem para as que são feitas no estrangeiro.

“Eu vejo que não só o nosso cinema, mas a nossa teledramaturgia também tem muito potencial e isso não vem de agora. Quem não tem uma novela preferida que tenha assistido na infância? Tem algo que nos marca e a gente sabe reconhecer isso, a questão é que vivemos em um tempo que não basta uma ou duas pessoas assistirem algo para conversar entre si, não. Está na hora de todo mundo saber que nós fazemos arte, que não ficamos para trás,” destacou o administrador.

Tendo sido um recente fenômeno nas redes sociais, “Hilda Furacão” se tornou um viral no TikTok e no X. Teve direito a exigências de uma versão legendada da minissérie. E, é claro, contou com a ação de nobres voluntários e chegou a ter, sim, alguns episódios traduzidos por fãs brasileiros para que os gringos pudessem ter uma prova da dramaturgia brasileira de Glória Perez.

Os edits tomaram conta das plataformas, e alguns podem ser conferidos a partir da #hildafuracão.

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Cultura pelotense em evidência com o Mapa Cultural AGIMOS

Ferramenta de gestão cultural da UFPel busca fortalecimento e políticas públicas para o setor. Premiação da agência abriu oportunidades para 16 artistas, entre os quais a cantora Julie Schiavon         

Por Jaime Lucas Mattos             

 

A Agência de Indústria Criativa e Mobilização Social (AGIMOS), junto à UFPel, fomenta o circuito independente de arte e cultura e contribui com a estruturação do setor cultural na cidade de Pelotas e região. Uma das ferramentas da agência é o Mapa Cultural, que serve como um agregador de produções culturais regionais.

Com o Mapa Cultural, artistas, espaços e produtores de eventos podem se inscrever na plataforma e terem seus trabalhos expostos no site, tendo em vista que a ferramenta possui páginas específicas com um mapeamento de todos os cadastrados e de futuros eventos.

A ferramenta serve tanto como um agente de divulgação quanto como um ponto crucial para a conexão e diálogo entre artistas e produtores. “É uma plataforma aberta que tem como objetivo unir os artistas e produtores culturais da zona sul. É a partir dele que os artistas têm uma conexão mais direta com os produtores e os locais dos eventos”, relatou a ex-participante do projeto, Caroline Savedra.

A plataforma tem grande importância para o âmbito cultural de Pelotas e região porque não existe outro agregador de eventos para a cidade, que funcione como um calendário cultural eficiente. Com o Mapa Cultural, eventos e artistas têm maiores oportunidades de divulgarem seus trabalhos e receberem a devida atenção.

 

Julie Schiavon foi premiada com sua música “Agir” Imagem: Divulgação

 

Prêmio AGIMOS de Produção Musical

Além da própria plataforma, o Mapa Cultural foi um agente de apoio para a produção do Prêmio AGIMOS de Produção Musical, realizado em outubro de 2023. As inscrições para o prêmio foram realizadas entre agosto e setembro, e a premiação selecionou 16 artistas para receberem um prêmio em dinheiro e algumas oportunidades sob curadoria da UFPel. Dentre as chances oferecidas, estava a possibilidade de gravar no Estúdio UFPel de Produção Musical e a inclusão em um álbum virtual distribuído pela Editora da UFPel.

Julie Schiavon, uma das ganhadoras do Prêmio AGIMOS, contou que se inscreveu no último dia, mas que valeu a pena ter participado. “Foi, sobretudo, uma experiência muito enriquecedora que me trouxe muitos aprendizados. Meu maior objetivo quando me inscrevi era de aprender, foi incrível poder experienciar novas visões e ideias sobre música em geral e sobre o meu trabalho. No final das contas todo esse aprendizado foi o verdadeiro prêmio.”

A artista pelotense iniciou sua carreira profissional em 2017, quando lançou seu primeiro single autoral, “The Fear”, mas diz que, desde a infância, já tinha vontade de seguir a profissão. “Eu gosto de dizer que a música decidiu me escolher antes de eu escolher ela”. Apesar de estar realizando essa vontade de cantar, não significa que é tarefa fácil: “Ser artista em Pelotas requer uma boa dose de persistência, resiliência e resistência. Mesmo sendo um polo cultural regional, os desafios do artista independente começam exatamente em função da escassez de oportunidades, tanto na divulgação quanto na valorização do seu trabalho”.

 

Um dos pontos mais importantes da AGIMOS, que se concretizou com a premiação, é dar atenção aos artistas independentes da região sul, que normalmente já não têm muitas oportunidades. “A AGIMOS, para mim, exerce um papel importante como rede de apoio ao circuito artístico independente. Sua atuação como agente de fomento da cultura tem oportunizado o acesso a conteúdos de extrema relevância para artistas, produtores, etc, qualificando o artista nas diferentes dimensões que impulsionam a arte como indutora de produção cultural e econômica”, prosseguiu Julie.

A artista ainda contou que a participação na premiação possibilitou muitas colaborações novas. “Foi também uma importante validação do meu trabalho para que eu continuasse meu caminho com mais confiança”, disse. “Me sinto muito honrada de estar fazendo parte da primeira coletânea deste prêmio e, mais ainda, em participar de um cenário artístico repleto de artistas incríveis que merecem todo reconhecimento do mundo”, ressaltou.

Sobre as oportunidades a partir da premiação, Julie revelou que já gravou no Estúdio UFPel e que foi uma experiência enriquecedora. “Durante o processo de preparo para a gravação, recebemos feedbacks de alguns dos curadores do prêmio. No meu caso, tive uma belíssima orientação da cantora Anaadi, que compartilhou comigo toda sua sabedoria e bagagem de uma forma muito gentil e didática”, descreveu. “Desde que eu comecei profissionalmente eu tive poucas oportunidades de gravar em estúdio, então esta troca presencial com profissionais que atuam há anos foi realmente uma escola para mim”.

A participação de seus amigos e parceiros musicais na construção da canção escolhida pelo prêmio, Kass e Roberto, foi de grande importância nesse processo: “Foi muito marcante para nós ter participado desta gravação juntos e extremamente gratificante receber esse reconhecimento pelo nosso trabalho, pois, o percurso da arte é constantemente acompanhado de muitas inseguranças e estas conquistas para mim são como lembretes de que eu escolhi e sigo escolhendo o caminho certo”, concluiu Julie.

 

Julie junto ao coordenador do projeto, Leandro Maia, e aos técnicos de som no Estúdio UFPel  Foto: Acervo pessoal

 

Ganhadores do 1º Prêmio AGIMOS

Veja a lista de vencedores do 1º Prêmio AGIMOS de Produção Musical, com o nome do artista e o título da música escolhida.

  • Julie Schiavon, “Agir”;
  • Ivanov Basso, “Ah Se Tu Voltasse”;
  • D.U.C.K., “Algum Lugar”;
  • Marilia Piovesan, “Avesso”;
  • Bart, “Black Atlantis (Novos Ares)”;
  • Humberto Schumacher da Gama Júnior, “Braço D’água”;
  • Zombie Johnson, “De Volta Pra Casa”;
  • Matheus Menega, “Fervo”;
  • ForróGodó, “Griô”;
  • Duglas Bessa/Hector Rojas, “Mañungo”;
  • Douglas Vallejos, “Música é Vida”;
  • Mestre José Batista, “Nascido na Palma da Mão”;
  • Bruna Klein, “Navegar”;
  • César Lascano, “Transversal da Ilusão”;
  • Sarah Monteiro, “Tudo Que Eu Sei”;
  • Solo Fértil Reggae Raiz, “Veio de Lá (acústica)”.

 

Para se inscrever no Mapa Cultural e ficar por dentro de todas as oportunidades da plataforma, o procedimento é simples e pode ser feito por todos os artistas, produtores e proprietários de espaços que tiverem interesse. “Podem ser artistas, cursos de artesanato, música, dança, teatro, pode ser o local, etc. […]”, explicou Caroline Savedra. No site do Mapa Cultural há um vídeo-tutorial que explica o passo a passo da inscrição na plataforma oficial.

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Pobres Criaturas: a subversão feminina pelos olhos de Yorgos Lanthimos

Com roteiro de Tony McNamara, filme subverte expectativas sobre amadurecimento das mulheres através do humor

Por Isabella Barcellos     

 

   Em segundo longa-metragem com Yorgos Lanthimos, Emma Stone explora anseios de “mulher Frankenstein”     Fotos: Divulgação

 

Em 1992, Alasdair Gray lança “Poor Things: Episodes from the Early Life of Archibald McCandless MD, Scottish Public Health Officer” (ou “Pobres Criaturas: Anedotas sobre a juventude do Dr Archibald McCandless, Inspetor da Saúde Pública Escocesa). Controverso e claramente inspirado na obra prima de Mary Shelley, Gray apresenta ao mundo uma versão de Frankenstein protagonizada por uma mulher. Depois de 31 anos, o diretor grego Yorgos Lanthimos se inspira na mesma personagem bizarra para discutir o feminino e suas particularidades em “Pobres Criaturas”.

Bella Baxter (Emma Stone) é fruto de um experimento científico idealizado pelo brilhante Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe): nasce enquanto mulher adulta, mas com o cérebro de um bebê. Conforme seu desenvolvimento cognitivo progride, Bella Baxter passa a se fazer questionamentos sobre a sociedade, o prazer sexual e as complexidades das relações interpessoais. Em um longa-metragem de duas horas e 21 minutos, a criatura de “God” descobre seu mundo e também a si mesma.

 

A personagem Bella Baxter (Emma Stone) se depara com o erotismo como força motriz da existência

 

Liberdade à libido e ao prazer

Falar sobre “Pobres Criaturas” é falar sobre quebra de expectativas. Lanthimos apresenta ao público um mundo que remete à Inglaterra vitoriana, mas acompanhado de aparatos tecnológicos fantasiosos, criaturas híbridas e cores vibrantes. Ao fazer referências ao clássico de Shelley, o roteiro sempre posiciona os personagens em conflitos do tipo “humanidade versus monstruosidade”. E diferentemente do que os padrões vitorianos reservaram à natureza feminina, Bella Baxter (Emma Stone) questiona a tudo e todos com convicção, sempre interessada em novos conhecimentos e, principalmente, em novas maneiras de se sentir satisfeita.

A partir desse embate, a relação de Bella Baxter com a própria libido se torna fio condutor da história. Quanto ao sexo, o filme fica longe de qualquer perspectiva pornográfica tanto no roteiro quanto na própria montagem das cenas. As relações se tornam um espaço de prazer e experimentação, sem qualquer tipo de pudor por parte da protagonista e sua liberdade deixa os personagens masculinos, como Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), constrangidos e diretamente conectados com a monstruosidade do ciúme e da frustração.

Amadurecimento sob diferentes óticas

Após ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz neste ano, Emma Stone declarou que considera o filme uma comédia romântica: “Vejo isso como uma comédia romântica, no sentido de que Bella cai na vida real […]. Ela aceita o bom e o ruim na mesma medida; tudo é importante”. A perspectiva voraz e inocente da protagonista gera questionamentos sobre a existência do feminino sem as expectativas impostas por uma sociedade patriarcal sobre casamento, sexo, comportamento e tantas outras coisas. Ela encontra a si mesma sem invalidar os próprios sentimentos ou ambições, permitindo-se levar pela natureza imprevisível da vida apesar de ser enganada e tratada como um objeto pelos homens que a cercam.

 

Willem Dafoe interpreta Dr. Godwin Baxter, criador do experimento científico que resulta no nascimento da protagonista

 

Até este momento, “Pobres Criaturas” já ganhou o Leão do Ouro no 81º Festival de Veneza e concorre em 11 categorias do Oscar 2024, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz. Junto a uma safra de filmes como Barbie (Greta Gerwig, 2023) e Anatomia de uma Queda (Justine Triet, 2023), Pobres Criaturas mostra como o amadurecimento e a complexidade da existência feminina são dignos da atenção (e aclamação) pública. Neste domingo, dia 10 de março, a entrega dos prêmios Oscar 2024 será exibido pelo canal TNT, na TV paga, e no streaming pela Max (antiga HBO Max), a partir das 19h, sendo que a cerimônia começa às 20h.

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Lições da história do doce e ciências naturais no Centro de Pelotas

Os museus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) cumprem sua missão de democratizar conhecimentos                 

Por Carolina Farias Tapia e Sara Lopes da Silva          

No coração da cidade de Pelotas, localizados no entorno da praça Coronel Pedro Osório, os museus de “Ciências Naturais Carlos Ritter” e “Museu do Doce”, mantidos pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), carregam em si parte da bagagem histórica da metrópole do doce.

 

Museu de História Natural Carlos Ritter fica na Praça Pedro Osório
Fotos: Sara Lopes da Silva

 

O Museu de Ciências Naturais, com 54 anos, e o Museu do Doce, um jovem de 11 anos, visam compartilhar seus acervos e vivências com a comunidade pelotense e visitantes das demais cidades da região, possuindo atrações lúdicas e monitores em todas as sedes para tornar as visitas uma verdadeira imersão histórica.

O Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter carrega o nome do responsável pelas primeiras doações ao acervo: animais taxidermizados artisticamente e mosaicos entomológicos, criados pelo próprio fundador entre o final do século XIX e começo do século XX. Embora hoje esteja localizado nas proximidades da Praça Coronel Pedro Osório, no Centro, o Museu já esteve em diferentes bairros de Pelotas. No entanto, para Carolina Peraça Silveira, assistente administrativa, e a museóloga Lisiane Gastal Pereira, a mudança de localização fez com que a equipe percebesse um crescimento exponencial no número de visitantes fora de escolas, que eram o principal público nas antigas “residências” das exposições.

 

Mosaico produzido por Carlos Ritter, responsável pelas primeiras doações e que dá nome à instituição

 

Aberto para visitas públicas desde 1970, o Museu Carlos Ritter possuiu, em 2023, uma média espontânea de mais de quinze mil visitas, dentre as quais estiveram os moradores de Pelotas em maioria. Mas as escolas ainda conservam a tradição, inclusive de outras cidades, que trazem seus alunos para visitar o acervo todos os anos. Alguns eventos corroboram para um aumento no público, sendo um dos mais importantes o Dia do Patrimônio, sendo realizado há dez anos, com o objetivo de estimular a visitação aos prédios históricos de Pelotas e o conhecimento da cultura local.

Por se tratar de um órgão suplementar do Instituto de Biologia da UFPel desde 1991, o Museu é utilizado por alunos de cursos como Ciências Biológicas, Artes Visuais, Museologia e Gestão Ambiental através de aulas, solicitadas pelos professores à administração do local. Por possuírem uma sala adaptada para esse fim, alunos de Teatro e o próprio Coral da Universidade também fazem uso do ambiente e da área externa do prédio histórico. Além das aulas, há uma série de alunos estagiando no Museu Carlos Ritter, como estudantes de alguns dos cursos supracitados e também de turmas de Administração, História, Zoologia, Conservação e Restauração, Arqueologia e Antropologia.

 

Uma das aves expostas nas dependências do museu que se dedica aos estudos sobre a natureza

 

A visitação, quando em grupos inferiores a dez pessoas, não necessita de agendamento. No entanto, para grupos maiores, a equipe do Museu pede uma marcação de visita com alguns dias de antecedência. O espaço é limitado e corre o risco de não comportar todos os visitantes ao mesmo tempo. Também há necessidade de um mediador estar presente, ajudando as turmas a entenderem o Museu e seu acervo. O funcionamento do Museu (Praça Coronel Pedro Osório, 1) é de segunda-feira a sábado, das 13h às 18h30. A entrada é gratuita e, mesmo com apenas um visitante, a solicitação de um guia é possível.

O Museu também oferece cursos para mediadores e diversas oficinas, abertas tanto ao público da Universidade quanto fora dela.

 

Museu do Doce funciona em prédio histórico construído em 1878

      

O Museu do Doce é considerado uma conquista da comunidade doceira de Pelotas, que deu início às exposições ainda na Fenadoce, nos anos de 1998 e 1999, através de uma réplica chamada “Casa do Doce”, visando mostrar aos visitantes o processo de preparo das sobremesas tradicionais da cultura pelotense. No ano de 1977, a edificação construída em 1878 foi tombada em nível federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, em 2006, foi comprada pela UFPel. O restauro do local teve início em 2010, e no ano de 2013, quando concluído, tornou-se o lar do Museu, aberto para visitação do público no mesmo ano de sua inauguração.

 

A história dos doces pelotenses é exposta ao longo do Museu. Ao fundo, o cartaz da 1ª Fenadoce

 

Embora o tempo de sua abertura seja pequeno, quando comparado aos demais museus da UFPel no Centro Histórico de Pelotas (Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter e Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo), o público consumidor do Museu do Doce alcançou mais de dezesseis mil e setecentas pessoas no ano de 2023, em sua maioria a comunidade externa à Universidade.

O Museu do Doce é considerado um “Museu-Laboratório” da UFPel, isto é, diversos cursos estão diretamente ligados ao local, bem como inúmeros trabalhos acadêmicos sendo realizados no ambiente. Para a professora da UFPel e diretora do Museu do Doce, Noris Leal, o local configura-se como uma das instituições museológicas mais importantes da cidade, com o maior número de visitações anuais e diversas atividades que atraem a atenção do público para a história da cidade e da cultura doceira.

O acervo do local é formado por peças diretamente relacionadas à história da tradição doceira tanto artesanal quanto das indústrias, sejam documentos, objetos ou demais formas que possibilitem a exposição. Por se tratar de um laboratório da Universidade, em todos os setores do Museu há professores e alunos trabalhando em projetos de conservação e restauro.

O local é configurado como órgão suplementar do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, do qual os principais cursos oferecerem estágio no ambiente, a exemplo dos cursos de Museologia e de Conservação e Restauro. Também os alunos do curso de História auxiliam nas atividades de pesquisa.

Os itens, em grande maioria advindos de doações, passam por um processo de registro, catalogação e pesquisa a respeito, antes de serem expostos. Para a diretora da instituição, o acervo ainda é pequeno, quando comparado aos demais museus da Universidade. No entanto, sua equipe tem muita responsabilidade com a coleta de objetos, para garantir que o objetivo do Museu não seja alterado e preste informações fidedignas ao público visitante.

 

Além de expor latas de compotas antigas de diversas fábricas, Museu também traz murais com ampliação de rótulos

 

A visitação ao Museu (Praça Coronel Pedro Osório, Casarão 8)  pode ser feita de forma espontânea, sem necessidade de agendamento. No entanto, para os visitantes que desejam um mediador, o agendamento é necessário, pois os guias possuem uma carga horária específica no local. O horário de funcionamento está reduzido, ocorrendo nos dias de terça-feira a sábado, das 13h às 18h, não abrindo nos domingos e feriados.

 

Nas várias salas do Museu, inúmeras réplicas dos tradicionais doces pelotenses podem ser vistos

Embora possuam acervos diferentes, os museus da UFPel no Centro Histórico de Pelotas unem-se no que diz respeito aos seus objetivos: ser uma fonte de consulta para professores e alunos, mas, ultrapassando as barreiras acadêmicas. O valor cultural desses locais é inigualável. Grande parte da história da cidade de Pelotas pode ser vista ao longo dos corredores e salas dos Museus do Doce e de Ciências Naturais Carlos Ritter. Além disso, o fato de estarem localizados na principal região histórica pelotense traz visibilidade e curiosidade ao público, que aprende e entende cada vez mais a respeito de sua própria história.

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Otroporto: arte, cultura e educação reunidas em bairro pelotense

Neste quinta-feira e sexta-feira ocorre o projeto Cine Céu do Porto com mostra de curta-metragens de estudantes e a presença do consagrado diretor gaúcho Jorge Furtado        

Por Carolina Pereira Soares           

A Otroporto – Indústria Criativa é uma entidade sem fins lucrativos localizada na Rua Benjamin Constant, nº 701-A e conta com diversos projetos dedicados à comunidade do bairro Porto e da cidade de Pelotas.

Nesta quinta-feira, dia 7 de março, o projeto Cine Céu do Porto recebe a Mostra Otroporto -UFPel  de Cinema Universitário. Traz como destaque curtas metragens produzidos por alunos e uma mesa-redonda com os realizadores, dialogando acerca do processo de realização das obras.

E, no dia 8 de março, sexta-feira, realiza a masterclass com o cineasta gaúcho Jorge Furtado, reconhecido internacionalmente pelo curta-metragem “Ilha das Flores” (1989) e diretor de vários outras curtas e longas-metragens, a exemplo de “O Homem que Copiava” (2003), “Meu tio matou um cara” (2004) e “Rasga Coração” (2018). Ele ministra uma aula gratuita sobre roteiro e direção pela manhã, às 9h; e, à noite, comentará filmes curtas clássicos de sua carreira, após a exibição às 19h. As atividades da Mostra Cine Céu do Porto são gratuitas e não têm inscrição prévia.

 

Jorge Furtado fala sobre seus filmes na sexta    Foto: Wikipédia

 

Pertencimento cultural

Formalizada em 2018, a Associação Otroporto Indústria Criativa atua como elemento integrativo entre economia, meio ambiente e comunidade, focada em apoiar e desenvolver iniciativas que gerem pertencimento, fruição, educação, formação e cidadania.

Seu espaço reúne desde diversas obras de arte, auditórios e até espaços de aprendizagem e leitura, como a Biblioteca Otroporto. Uma das maiores iniciativas é o Laboratório Faber Sapiens, um espaço que visa propagar conhecimento científico por meio de aulas e cursos tanto para professores que buscam formação continuada, quanto para alunos da educação básica, de forma totalmente gratuita.

 

O laboratório Faber Sapiens colabora com escolas Foto: Carolina Soares

 

Segundo o professor e responsável pelo laboratório, Ricardo Willian Costa Assumpção, o espaço tornou-se comunitário com a participação das escolas. “Os professores da rede pública, que não gozam de um espaço com esses equipamentos para suas aulas, ligam para nós e agendam um horário [no laboratório]. O laboratorista organiza tudo para a turma e nós oferecemos lanche e transporte. Esse espaço se tornou um apêndice para as escolas”, explica.

 

Otroporto dispõe de espaços para artes visuais   Foto: Carolina Soares

 

Dentro da instituição, as obras de arte preenchem desde os pisos até o teto. Através de editais, a Galeria Otroporto Connection expõe obras de grafite, pintura, escultura e fotografia, com obras de artistas locais e internacionais. Atualmente, mais de 50 artistas têm suas obras expostas no local.

Para quem quer conhecer os projetos, todas as informações são divulgadas no site da instituição e nas suas redes sociais.

 

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Tradição pelotense tem continuidade no Espetáculo “Vozes”

A Academia Corpo & Dança se apresentou mais uma vez no palco do Theatro Guarany no final de 2023 com coreografias de várias modalidades e faz refletir sobre o lugar desta arte em Pelotas     

Por Sarah Oliveira      

 

No palco, coreografias que são elaboradas no decorrer de um ano      Foto: Deka Chagas/dekachagasfotos/Divulgação

 

Há mais de uma década, a Academia Corpo & Dança organiza um espetáculo com todos os seus alunos – crianças, adolescentes e adultos – para comemorar o final de mais um ano de atividades. Com coreografias elaboradas durante o ano inteiro, todos os bailarinos da academia passam meses ensaiando as mais de 10 coreografias planejadas e realizando projetos para arrecadar fundos para a produção.

Assim como de costume, todos os espetáculos da Corpo & Dança possuem um tema específico referente ao ano de apresentação e, desta vez, os diretores da academia Caren Jensen e Horácio Martins decidiram que o foco seriam artistas icônicos da música brasileira. Sendo planejado desde o início do ano, o tema do espetáculo é decidido em conjunto com os professores de cada gênero, a fim de que cada um possa já começar a trabalhar as ideias de coreografias que casem com o tema escolhido.

Bailarinos e pais de alunos também estão envolvidos durante toda a produção. Após formar uma pequena comissão com boa parte dos membros da academia, a produção do espetáculo começa de maneira efetiva. “A melhor parte da produção é quando a gente está superanimado [no início], mas ainda ficamos meio inseguros, né? Daí quando a gente faz a reunião com todos, (…) apresentamos a ideia e o pessoal acha ótimo, é a melhor parte, começamos a trabalhar, a desenvolver mais o tema”, descreve Caren.

 

Cenografia destacou as imagens de todos os homenageados     Foto: Suzana Pacheco/pachecosuzana.nik/Divulgação

 

Tendo a intenção de sempre apresentar algo novo e fresco para o público, a Corpo & Dança inova não somente no seu tema, mas também em suas coreografias, buscando levar ao palco uma diversidade de movimentos, corpos e formas para a sua composição. “A gente [quer] mostrar coisas novas que não sejam repetitivas e estamos sempre pensando que uma coreografia tem que ser diferente da outra, que não pode ter no palco as mesmas diagonais, a mesma roda, os mesmos desenhos coreográficos ou as mesmas cores de figurino. [Queremos] que seja sempre uma coisa diferente que, quando [as pessoas] assistam, cause aquele impacto da surpresa”, afirma a diretora Caren Jensen. Isso é reforçado pelo relato de Manoella Collares, ex-aluna da academia, ao contar que a sua parte favorita durante o processo de criação das coreografias era saber “se teria algo de diferente e que chamasse mais a atenção do público”.

Belchior, “AmarElo” e Emicida 

Uma das coreografias acontece ao som de “AmarElo”, do rapper Emicida. E o professor das turmas de danças urbanas, Taison Furtado, diz que a ideia de usar a música surgiu para a apresentação deste ano, a partir da personalidade escolhida para ser homenageada pelo seu grupo, o cantor e compositor Belchior.

“O processo de criação (…) veio a partir da seleção da personalidade, da voz. E seria o Belchior, então, a partir de Belchior, a gente chega em ‘AmarElo’. É uma música do Emicida que tem um ‘sample’ de Belchior, (…) uma sonoridade urbana. A partir daí, a gente pôde desenvolver toda a nossa movimentação de danças urbanas, para que se conseguisse, de certa forma, criar símbolos em que a gente potencializasse essa existência de Belchior”.

A partir desse ponto, o coreógrafo passou a pensar como tudo que é dito na composição “AmarElo” do rapper paulista, com referência ao cantor cearense, “bate em mim, bate em nós e o quanto a gente consegue criar novos símbolos [na dança] para potencializar tudo isso”.

No processo de criação, Taison procura garantir que o que vai ser mostrado condiga com a letra da música, com os artistas e o sentimento que ela passa. Mas, para que tudo isso possa ser feito, é necessário um trabalho especial com os bailarinos que irão executar a coreografia em questão, pois, para o professor, este é um trabalho que depende “cinquenta por cento do coreógrafo e cinquenta por cento do elenco, tanto em dedicação, quanto em confiança.

“A gente passa, antes de tudo, pelo processo de desenvolvimento da corporeidade dos alunos, dessas pessoas que vão fazer parte do elenco. Então, primeiro, a gente prepara muito bem no que diz respeito à estrutura de movimento, ao tempo, espaço, expressividade, todas essas questões”, conta Taison sobre os ensaios com o seu grupo.

Após esse trabalho ser concluído com os alunos, o processo de ensaio se instala e se estende até os últimos dias anteriores do espetáculo. Nesse processo, Taison vê o ensaio como a hora de trabalhar a repetição dos movimentos até o momento em que os bailarinos “tenham total segurança de misturar, de transbordar aquilo que eles sentem no momento da apresentação para que eles não se atentem apenas à técnica.”

Mais do que atender à técnica, o coreógrafo espera que, junto a ela, os artistas tragam as suas expressões e a sua naturalidade. “O bailarino vai estar conectado com isso, com este sentimento”. Para a ex-bailarina Manoella Collares, estar no palco conectada com a música e a coreografia era a chave principal para transmitir o sentimento e dedicação que as sequências pediam, mesmo com o nervosismo e o frio na barriga presentes. “No momento em que eu entrava no palco, o nervosismo se acentuava e eu sentia que não lembrava de nada, mas, quando a música iniciava, eu só deixava o corpo fluir conforme a melodia, eu dançava sem nem pensar nos passos. No final, sempre dava certo. Quando terminava, eu sentia que finalmente conseguia respirar, estava com o coração a mil e com muita energia no corpo, dava vontade de voltar e dançar outras várias vezes, só pra viver aquela adrenalina de novo”, recorda.

 

Grupo de Danças Urbanas em cena com ‘AmarElo’ de Emicida       Foto: Deka Chagas/dekachagasfotos/Divulgação

 

Além de idealizar a coreografia, o professor Taison também entrou no palco junto de seus alunos e encara o desafio como um grande compromisso – não só por ser mais um dançarino no palco, mas também por ter a oportunidade de contribuir para o crescimento de seus alunos. “Poder dividir o palco com pessoas que estão tendo a sua formação comigo é de uma responsabilidade e, ao mesmo tempo, de uma magia imensa, porque somos tão rápidos e todos são pessoas que vão ter a sua vida transformada pelo restante da sua existência”, reflete. “Então, é muito importante, de uma responsabilidade imensa para mim, um prazer enorme poder participar da vida dos meus alunos. Assim, poder ser esse pontinho na vida deles e entender que eles vão para a cena se divertindo, aproveitando tudo isso”, afirma.

 

Entre uma e outra coreografia, bailarinas assistem os seus colegas no palco pelas coxias   Foto: Sarah Oliveira

 

Bailarinos e público unidos pela dança

Após tantos anos de apresentações, a intenção da Academia é a mesma: unir bailarinos e público pela dança. Para Caren Jensen, o fundamental em um espetáculo é que os artistas se sintam confortáveis para dançar e se apresentar diante de uma grande plateia como a do teatro, da mesma forma em que eles se sentem à vontade nas salas de ensaio contribuindo para a montagem de toda a produção – desde o figurino até a coreografia. Em relação ao público, o principal objetivo é demonstrar que a dança é um movimento universal e que inclui a todos que estiverem dispostos a fazer parte da sua arte.

Segundo a diretora, a expectativa em torno da resposta da plateia em relação às coreografias é sempre que “eles sintam vontade de dançar, que se sintam inseridos naquele contexto, que sejam coisas bem próximas da realidade deles, que conheçam as músicas e se envolvam mesmo, para não ficar aquela coisa como se a arte estivesse muito longe”.

Jensen também acredita que a pluralidade de seus alunos também auxilia o público a perceber o quanto a dança é inclusiva e diversa ao ver pessoas de diferentes corpos, etnias e idades em cima do palco. “O legal deles assistirem o espetáculo da academia é verem que é possível eles também dançarem, também participarem como protagonistas da arte”, afirma Caren, ao refletir sobre o impacto que a dança pode ter em quem assiste.

Agora fazendo parte do público, a estudante Manoella conta que, no final de cada espetáculo, se sente “muito orgulhosa e contente de todo esforço e trabalho duro da equipe ser recompensado com todas as pessoas na volta curtindo e elogiando”, toda a produção elaborada ao longo do ano e que se materializou no palco. 

 

                                           No final do espetáculo, todos bailarinos e professores se juntam para agradecer ao público                    Foto: Deka Chagas/dekachagasfotos/Divulgação 

 

Mudanças em Pelotas

Sendo uma cidade rica em cultura, para além do doce, Pelotas também é uma cidade cuja dança é um dos movimentos que sempre esteve presente em sua existência, mas que, ao longo dos anos, sofreu com altos e baixos. Ao relembrar o início da sua carreira como dançarino, o professor Taison Furtado, do grupo juvenil e adulto de danças urbanas da academia, afirma que a cena da dança da cidade já foi completamente diferente do que é hoje: “Pelotas é uma cidade que tem uma veia artística muito bem desenvolvida. A gente tem muitos artistas, coreógrafos, professores, pessoas que são da dança e que hoje (…) estão por aí pelo mundo afora, pelo Brasil afora e que são pessoas importantíssimas para a cena nacional e internacional da dança”, diz.

Taison acredita que Pelotas tem muitos tesouros, “muitas joias que são da área da dança”.  Considera que seria muito importante a cidade olhar com um carinho maior para as artes, porque “tem filhos que são muito importantes no mundo”. Ele lembra que viveu em uma época quando existiam várias mostras de danças no decorrer do ano. Isso fazia que muitas pessoas comparecessem aos espetáculos de dança. Apesar da nova realidade do cenário cultural pelotense, a dança está cada vez mais se reinventando dentro da cidade, através de novos movimentos da própria categoria.

Obstáculos enfrentados

Feito para celebrar dançarinos e professores, o espetáculo de fim de ano da academia vem da vontade de continuar trazendo a dança para o calendário cultural da região. Durante todos esses anos, apesar de constar sempre com o seu público fiel, as apresentações de grupos artísticos sofreram, – e ainda sofrem – diversos obstáculos para serem realizados.

Para Caren Jensen, professora e dona da Corpo & Dança, não somente os esforços das escolas e bailarinos da cidade devem ser os responsáveis pela reestruturação da dança na cena local, a Prefeitura também deve contribuir com incentivos para que essa arte continue presente no calendário cultural. E a reabertura do Theatro Sete de Abril seria um bom início para tal feito. Ela aponta para a dificuldade de pagar o aluguel do Theatro Guarany, que é uma empresa particular, com um custo aproximado de 7.500 reais. Além disso, há gastos com cenário, produção, estúdio, edição musical, material de divulgação, com as taxas do ECAD, voltado aos direitos autorais das músicas, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (SSQN) e gastos com som e luz, que chegam a 5.500 reais. No Theatro Sete de Abril, os espetáculos pagam só uma porcentagem da venda dos ingressos, o que viabiliza escolas e grupos com menor infraestrutura a realizarem seus espetáculos. “Então o que falta é isso… um comprometimento da Prefeitura”, observa. “Não adianta dizer que Pelotas é uma cidade da cultura e não nos dar oportunidades.”

Apesar de ser uma jornada de produção de muito esforço e investimento, o resultado final para todos os envolvidos no momento em que as cortinas se fecham é o mesmo: gratidão. “É muito importante quando a gente pode levar os nossos trabalhos para um palco que tem uma estrutura com a iluminação e sonorização adequadas, onde o nosso público vai se sentar confortavelmente e vai conseguir assistir e fluir de uma forma extremamente tranquila, porque está se sentindo à vontade naquele espaço. Então, é sempre muito importante toda vez que a gente pode levar e apresentar o nosso trabalho em um espaço que realmente valorize ainda mais o que a gente mostre em cena, né? É muito gratificante.”, afirma Taison, ao contar como ele se sente ao levar o seu grupo para o palco do Theatro Guarany.

Mais uma vez, a Academia Corpo & Dança entregou um espetáculo rico em dança, música e cultura para o público pelotense, estendendo esse momento especial para quem assistia dos assentos do Theatro Guarany e deixando a grande expectativa do que será apresentado nos palcos dos teatros de Pelotas em 2024.

 

Composto por casais, grupo de ‘Dança de Salão’ apresentou três coreografias Foto: Deka Chagas/dekachagasfotos

 

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Tchau Verão: evento gratuito com shows no sábado

Tom Neves e Pagode do Resenha são as atrações musicais do evento que ocorre no bairro Três Vendas, em Pelotas     

Por Yan Freitas Cavallin e Yasser Hassan       

Para celebrar o fim da estação mais quente do ano, a Rádio Atlântida de Pelotas vai realizar o evento Tchau Verão no próximo sábado, dia 2 de março, no Food Hall Quartier (rua Boulevard Quartier, bairro Três Vendas), em Pelotas. Vai contar com a presença dos comunicadores da rádio, que vão interagir com o público e transmitir o evento ao vivo. As principais atrações musicais são o cantor Tom Neves e o grupo Pagode do Resenha.

Serão dois shows ao vivo. O primeiro será do cantor Tom Neves, que sobe ao palco às 17h e vai animar a galera com seus sucessos do pop, rock e reggae nacional. O cantor possui trabalhos autorais, mas se destaca por shows cover de artistas como, Armandinho, Natiruts, Tim Maia, etc.

Tom comentou a importância de ser um evento aberto ao público e a sua expectativa para a apresentação, “Eu acho muito importante que a música seja acessível a todos, por isso. eu apoio a iniciativa de fazer esse evento gratuito. A música é uma forma de expressão, de emoção, é uma forma de arte e de cultura. Assim, eu agradeço a oportunidade de compartilhar a minha música. Estou muito ansioso para subir ao palco e cantar as minhas canções que vocês gostam, que nos fazem felizes.”

             

O balanço e a energia do reggae vêm com as canções de Tom Neves Fotos: Divulgação

 

O segundo grupo musical será o grupo Pagode do Resenha, que promete fazer todo mundo dançar com hits do samba e do pagode a partir das 19h. O grupo vem em grande crescimento no cenário musical da zona Sul do Estado, destacando-se por suas músicas autorais. Foi criado em 2022, pelo percussionista Flávio Corrêa, com o intuito de levar os gêneros samba e pagode para as casas de shows de Pelotas. A banda tem o seu diferencial nos vocais, contando com os cantores Nicole Vieira e Pedro Mendes (também compositor).

 

Nos shows do Pagode do Resenha, Nicole Vieira e Pedro Mendes vêm na frente com seus vocais inconfundíveis     

 

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Projeto de banda escolar incentiva o desenvolvimento artístico

Jovens têm oportunidade de aprender a tocar instrumentos musicais e participar de apresentações              

 Por Alexsandro Santos     

 

Alunos da Banda Marcial da Escola Sant’Ana reunidos na última competição regional de bandas   Foto: Arquivo pessoal

 

Arte, Cultura e Educação. Estes são os valores que norteiam as ações da Banda Marcial da Escola Sant’Ana, de Rio Grande. Composta por mais de 40 alunos, o projeto visa garantir o desenvolvimento artístico de seus participantes, dando protagonismo ao público jovem da escola.

A ideia é incentivar a participação dos estudantes nos ensaios que ocorrem no contraturno da escola, além de garantir o aprendizado do toque de um novo instrumento. Desta forma, os jovens ocupam o seu tempo livre com atividades que auxiliam na construção de sua identidade social e no incentivo de sua criatividade. Isso é o que afirma Queli Silva, mãe de Débora e de Pyetro, ambos participantes do projeto. Segundo ela, o projeto garantiu o crescimento no desempenho escolar de seus filhos:

“O Pyetro se desenvolve bem e o desempenho dele na escola melhorou muito depois que ele entrou para o projeto musical. E eu nem preciso cobrar dele, porque a própria banda exige isso para fazer parte”.

 

O próximo desafio do grupo será participar da competição regional que ocorrerá em novembro     Foto: Divulgação

 

Pyetro, com 13 anos de idade, é aluno de outra escola, a Adelaide Alvim, e faz parte do grupo há três anos. Ele conta como ingressou no projeto: “O diretor da minha escola conhece o instrutor da banda e convidou a minha turma para visitar um ensaio. Eu gostei da ideia e comecei a frequentar”.

“Eu gosto bastante de conhecer novos locais com a banda, viajar e ver novas cidades. No fim do ano passado, além de nos apresentarmos em Rio Grande, nós fomos para Pelotas e para Quaraí”, afirma Pyetro.

O próximo desafio do grupo será participar da competição regional que ocorrerá em novembro. Para poder concorrer, os pais e professores se dividem para a realização de rifas para a comunidade. O cronograma completo do grupo pode ser conferido nas redes sociais

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Rio Grande comemora 287 anos e condecora destaques com a Ordem de Silva Paes

Entre os homenageados estão jornalistas e líder do empreendedorismo cultural       

Por Isadora Jaeger e Maria Clara Goulart         

 

Solenidade destacou 15 personalidades e ocorreu  na Praça Xavier Ferreira         Fotos: Prefeitura de Rio Grande

 

Comemorado no dia 19 de fevereiro, o município de Rio Grande completou 287 anos de história. A cidade mais antiga do estado vem realizando, desde a década de 1980, a tradicional celebração com a condecoração da Ordem de Silva Paes. A cerimônia visa homenagear personalidades que tiveram ações de destaque na cidade.

O prefeito do Rio Grande e Grão-mestre da Ordem de Silva Paes, Fábio Branco, comenta sobre o evento. “Eu agradeço por essas oportunidades na vida pública, de poder trabalhar pela comunidade, de desafios enormes que nós temos pela frente, mas também momentos felizes de poder, a partir do nosso aniversário, agradecer a comunidade de uma maneira do coletivo”, diz.

Este ano, 15 profissionais de diversas áreas que contribuem para o funcionamento e prosperidade do município foram selecionados para receber a homenagem. A cerimônia ocorreu na Praça Xavier Ferreira, ao final da tarde do dia 19 de fevereiro e contou com a tradicional celebração entre as autoridades e a comunidade local, com discursos do prefeito Fábio Branco e de uma das homenageadas do dia, a secretária de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, Arita Gilda Hübner Bergmann.

 

Maria Eduarda Brechane recebe homenagem da Ordem do Silva Paes no aniversário da cidade

 

Miss Universo Brasil

Dentre os homenageados destacam-se a Miss Universo Brasil 2023, Maria Eduarda Brechane, natural de Rio Grande, que além de ser a mulher mais jovem a representar o país no concurso, também se destaca* como uma das mais novas a receber a condecoração. Brechane, de 19 anos, é estudante de Jornalismo e comenta sobre a importância de receber o reconhecimento rio-grandino por conta de sua trajetória.

“Por ser a mais nova aqui, é uma honra dupla, porque mostra que sonhos não tem limites, não tem idades e quebra essa ideia de que nós somos jovens ou velhos demais para percorrermos os nossos sonhos e para seguirmos em frente. Essa comenda é algo muito especial e é algo que eu nem mesmo imaginava. Quando eu descobri, fiquei muito, muito feliz. Representar a minha cidade, Rio Grande, no Miss Brasil, foi espetacular e pretendo representar todos os rio-grandinos daqui para frente e para o resto da vida”, comenta a Maria Eduarda.

 

Klécio Santos recebe condecoração entregue pelo prefeito Fábio Branco e chanceler da Ordem de Silva Paes, Lauro Barcellos

 

Jornalista homenageado

Ainda na área da Comunicação, outro homenageado foi Klécio Santos, profissional do Jornalismo e natural de Pelotas. Apesar de ter nascido na cidade vizinha, Klécio morou em Rio Grande por grande parte de sua vida por conta da sua origem familiar.

Formado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Santos teve uma trajetória marcante no Rio Grande do Sul, iniciando sua carreira como crítico de cinema em Rio Grande e posteriormente se destacando como repórter e editor em Pelotas. Sua atuação como correspondente do jornal Zero Hora em 1992 resultou em uma série de matérias que denunciaram a destruição do patrimônio histórico da cidade, incluindo a preservação da casa do escritor João Simões Lopes Neto. Além disso, foi responsável pelo resgate da obra “Os fios telefônicos” e concluiu uma pós-graduação em Artes com foco em Patrimônio Cultural.

Transferindo-se para Brasília, teve uma carreira prolífica como jornalista político, destacando-se na cobertura de eleições e escândalos políticos, coordenando o Painel RBS e recebendo distinções no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Klécio também se destacou na área literária, sendo autor de diversos artigos e livros sobre a história e cultura do Rio Grande do Sul, contribuindo significativamente para o registro e preservação do patrimônio cultural da região.

 

 Débora Nil recebe homenagem por trabalho de valorização das comunidades afro-brasileiras e dos povos originários

 

Empreendedorismo Afro e Indígena

No âmbito social, a presidente do COMDESCCON (Conselho Municipal de Desenvolvimento Social e Cultural da Comunidade Negra da cidade de Rio Grande), Débora Nil, foi uma das homenageadas. A presidente foi responsável pela 1ª Feira de Empreendedorismo Afro e Indígena do Rio Grande, realizada em dezembro de 2023. Este evento aconteceu no espaço do Largo Dr. Pio, entrada do Calçadão, bairro Centro da cidade, e teve como intuito celebrar a diversidade das comunidades afro e povos originários.

“Eu fiquei bem emocionada, porque a nossa luta é constante, é diária. Nós precisamos transcender. E essa Ordem veio a fazer isso, porque é importante o conselho mais antigo do Rio Grande do Sul ter as pessoas negras e representando a Ordem”, relata Débora.

O prefeito Fábio Branco ressalta que a escolha de um grupo de homenageados diverso foi crucial para a realização do evento. “Nosso objetivo foi selecionar pessoas de todas as áreas, para que consigamos prestar essa homenagem e agradecer a eles. Então, é muito importante para que outras pessoas possam se sentir inspiradas em poder criar novos trabalhos para a comunidade em geral de maneira colaborativa”, finaliza.

 

Prefeito do Rio Grande, Fábio Branco, em discurso no aniversário de 287 anos da cidade

 

Confira a lista dos homenageados com a Ordem de Silva Paes:

Arita Gilda Hubner Bergrmann

Isnard Peixoto Filho

Renato Duro Dias

Rudimar Tonini Soares

Evandro Augusto Oss

Ligia Marques Furlanetto

Marcelo Andre Carbonera Valente

Silvia Silva da Costa Botelho

Duda Keiber

Débora Nilce Alencastro

Fernanda Salomão Hackbart

Maria Eduarda Brechane

Klécio Santos

Clóvis da Silva Klinger

José Valdir da Silva Pintado Bernardo

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Orgulho e tradição: a história e origem das famosas iguarias de Pelotas

Considerada a Capital Nacional do Doce, cidade conta com uma rua voltada especialmente para o comércio das quitutes tradicionais      

Por Gabriel Medeiros         

Quem passa em torno do Chafariz, localizado no calçadão da cidade de Pelotas se depara com uma imensa formiga de ferro da cor laranja e, logo ao lado, várias lojas com diversas variedades de doces em suas vitrines. Essa é a Rua do Doce, inaugurada no ano de 2022, localizada em frente a um dos chafarizes que compõem o cenário pelotense, situado na esquina das ruas Andrade Neves e Sete de Setembro.

Origem histórica

Muitas pessoas que conhecem Pelotas ou, até mesmo, moram na município, não sabem o porquê dessa cidade da zona sul do Estado ser considerada a Capital Nacional do Doce. Essa tradição cultural remonta ao século XIX, trazida, principalmente, pelos portugueses que aqui moravam. Naquela época, Portugal e a Europa eram abastecidos com o açúcar trazido principalmente do Brasil. O desenvolvimento da cidade foi marcado, a partir de 1860, sobretudo pelas charqueadas, que permitiram a conservação e comercialização da carne bovina através do salgamento e da secagem ao sol, para uma maior longevidade.

Com o enriquecimento, Pelotas assumiu o papel de cidade mais aristocrática do Rio Grande do Sul. Muito da produção do charque pelotense foi trocado pelo açúcar oriundo do Nordeste brasileiro, o que favoreceu a produção de doces para a sociedade de classe média e alta da cidade, sobretudo em eventos de peças teatrais e reuniões ocorridas dentro dos famosos casarões pelotenses. A partir desse momento, a produção de doces de Pelotas foi aumentando cada vez mais, participando da economia pelotense de forma cada vez mais significativa, tendo em vista que o charque era a principal atividade econômica da região.

 

O quindim e o olho de sogra destacam-se  entre os doces tradicionais de Pelotas                 Foto: Gabriel Medeiros

                                

Nesse contexto, surgem os primeiros doces pelotenses como o quindim, o queque, bem-casado e olho de sogra desenvolvidos principalmente pelas mulheres, mesmo que naquela época não fosse comum a inserção feminina nos empreendimentos. Com o surgimento dos frigoríficos, logo a atividade envolvendo o charque foi perdendo força e a economia pelotense começou a enfraquecer. Neste cenário de incertezas, a produção de doces ganhou forma e tomou conta da economia pelotense, a partir, principalmente, dos anos 1920. Com a imigração de europeus no Rio Grande do Sul, franceses, alemães e pomeranos também passaram a cultivar frutas propícias para a região de Pelotas, o que favoreceu para a criação e venda de novos doces envolvendo frutas como o pêssego e o morango, contribuindo grandemente, também, para o aquecimento da economia da cidade.

A partir desse momento a produção de doce na cidade ganhou cada vez mais força e continua até os dias de hoje, levando o nome como Capital Nacional do Doce, com a sua Feira Nacional do Doce (Fenadoce), criada em 1986, com o objetivo principal de levar a cultura e a tradição doceira de Pelotas para o Brasil e mundo a fora.

Rua do Doce

“Uma breve passada na Rua do Doce em Pelotas já é o suficiente para ficar encantada com tantas opções diversas e saborosas de doces tradicionais da região” é o que conta a estudante de Administração Elizandra da Rosa, de 24 anos: “Não tem como não vir aqui de vez em quando”. Elizandra, natural de Vacaria, alega que já sabia um pouco da história de Pelotas e os doces, mas não imaginava o quão forte era essa tradição na cidade. “Quando eu cheguei aqui, alguns amigos me falaram para experimentar os doces de Pelotas e, desde então, eu sempre compro quando tenho um tempinho”, afirmou a estudante.

Apesar da fama dos doces, hoje a economia da cidade está muito voltada para o comércio e o ramo imobiliário, entretanto ainda há muito procura pelos doces, principalmente de estudantes novos ou turistas que visitam a cidade, segundo a doceira profissional Jussara Rosa, de 61 anos. “Todos os dias vendemos doces, principalmente os que tem como ingredientes principal o ovo, o de maior sucesso é o quindim,” afirma Jussara, que trabalha no ramo há mais de duas décadas.

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