“Elize Matsunaga: Era uma vez um crime”

Série apresenta detalhes de um acontecimento controverso e difícil de esquecer      

por Julya Bartz Boemeke Schmechel       

Em 2012, um dos maiores empresários brasileiros, Marcos Matsunaga, foi brutalmente assassinado por sua então esposa, Elize Matsunaga. O crime, ao ter seu desdobramento revelado, chocou o país. O herdeiro da empresa Yoki foi morto e esquartejado por Elize, no apartamento do casal.

Nove anos após o crime, a Netflix lançou, no ano passado, a minissérie de caráter documental “Elize Matsunaga: Era uma vez um crime”. Relembra o crime através de declarações da própria Elize, assim como a apresentação de imagens inéditas e detalhes sobre a vida da família antes da morte de Marcos.

Imagem registra Marcos e Elize em um dos seus “hobbies” favoritos: a caça    Fotos: Divulgação

A minissérie, dividida em quatro episódios, mostra Elize Matsunaga de uma maneira nunca vista antes, mas que já era imaginada por muitos: como uma assassina fria e sem sentimento de culpa.

Ao longo dos episódios é possível observar calma e tranquilidade em todas as falas de Elize. Ela relembra o crime com detalhes, além de expor traições por parte de Marcos e como o mesmo tornou-se abusivo ao longo do casamento. A minissérie apresenta falas dos advogados, afirmando que o crime foi uma maneira de Elize se defender dos abusos e agressões sofridas. 

O momento em que Elize realmente se emociona é ao citar sua filha, fruto do casamento com Marcos. A menina, que atualmente tem 10 anos, é criada pela família paterna e chama seus avós de pais, por não ter lembranças de Marcos e Elize. A família de Marcos recusou-se a participar da série, já que Elize afirma que aceitou participar para contar a sua própria versão do crime para a filha.

Série conta a vida de Eliza e como ela chegou ao ponto de cometer um crime brutal

 

Como a produção tem foco na vida de Elize e não somente no crime, os episódios também passam por sua infância e adolescência, fases em que Elize afirma ter passado por diversas dificuldades, principalmente, quando foi abusada sexualmente por seu padrasto.

No último episódio, o espectador acompanha a visita de Elize Matsunaga até sua avó e mostra a relação de carinho entre ela, sua avó e sua tia.

A minissérie possui um tom dramático, com músicas melancólicas e perguntas feitas para comover o público, assim como o tom de fala da própria Elize. Fica evidente que esse é um meio de grande importância para que Elize, quem sabe no futuro, possa contar a sua versão do crime para a própria filha.

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Grupo canguçuense fomenta cultura através de danças folclóricas

Ideia é manifestar tradição de diversas origens com integrantes de várias faixas de idade    

Por Vivian Domingues Mattos   

                  Amigos que já possuíam uma trajetória em danças alemãs e pomerana reuniram-se no Grupo Bauernkreis              Fotos: Acervo do grupo

 

Vinculado à Associação Cultural Gramado, o Grupo de Danças Folclóricas Bauernkreis atua em Canguçu, no Rio Grande do Sul, realizando manifestações artísticas que carregam elementos que percorrem as culturas alemã, pomerana, austríaca, sueca e polonesa.

Formado em julho de 2022, o Grupo é atualmente composto por 18 integrantes da categoria adulta, na faixa etária de 18 a 30 anos, e os ensaios ocorrem semanalmente no Ginásio Municipal de Esportes.

A iniciativa de composição do Grupo Bauernkreis surgiu de uma união entre amigos que já possuía uma trajetória em danças alemãs e pomerana do período de escola. A partir disso, o Grupo criou uma identidade que representasse o município e que englobasse várias faixas etárias. O presidente, instrutor e coordenador do Grupo, Giales Raí Blödorn Rutz, comenta que a proposta é expandir o Grupo e trabalhar com categorias além da adulta. “A ideia é que a gente possa construir mais categorias, conforme nós formos estruturando uma por uma”.

O instrutor Giales Rutz explica que a escolha do nome do Grupo é a união de duas palavras que carregam significados característicos para o Grupo e do município. Buscando uma nomeação alusiva a Canguçu, reconhecida como a Capital Nacional da Agricultura Familiar, com suas 14 mil pequenas propriedades rurais e uma representação das danças folclóricas, surgiu a nomeação “Bauernkreis”. O nome significa “Círculo de Agricultores”, sendo um termo originado da língua alemã que liga as palavras “bauer” que significa “agricultor” e “kreis” na tradução de “círculo”.  

O Grupo aceita convites para apresentações em localidades fora de Canguçu, mediante a disponibilização de transporte. Suas próximas apresentações e participações em eventos irão ocorrer a partir do dia 8 de outubro, na 33° Südoktoberfest em São Lourenço do Sul, e nas cidades de Santa Cruz do Sul e Igrejinha.

Além disso, ocorrerá, em 5 de novembro, o “1º Baile de Chopp do Grupo de Danças Folclóricas Bauernkreis” em Canguçu e aberto ao público.

O grupo prepara-se para apresentações em Canguçu, São Lourenço do Sul, Santa Cruz do Sul e Igrejinha

 

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Castelo Simões Lopes completa 100 anos, mas sem revitalização

Instituto pede rescisão de convênio e Prefeitura busca alternativas para recomeçar obras de restauro do imóvel   

Por Victoria Fonseca    

Sem previsão para o retorno das obras de revitalização, o Castelo Simões Lopes, localizado no bairro Fragata, em Pelotas, continua fechado ao público e sofrendo as ações de deterioração do tempo. Uma pequena parte do imóvel chegou a ser restaurada entre 2018 e 2019, no entanto impasses orçamentários e a pandemia da Covid-19 causaram a paralisação das obras.

A edificação construída pelo político Augusto Simões Lopes foi local de vários importantes eventos políticos e sociais. O castelo pertenceu posteriormente à família do notável escritor pelotense, Simões Lopes Neto. Em 1990, a propriedade foi adquirida pela Prefeitura de Pelotas, que deste período até o ano 2000 abrigou no imóvel inúmeras entidades culturais. Já em 2012, foi tombado como patrimônio histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE).

Completando o centenário de construção neste ano, o Castelo está em ruínas e até mesmo os restauros iniciais terão que ser refeitos devido às ações de depredação de vândalos. A reforma estava sob gestão do Instituto Eckart, vencedor da licitação aberta pelo município para a revitalização. Entretanto, o convênio com a Prefeitura foi rescindido em maio deste ano em razão das dificuldades financeiras, após uma suspensão de seis meses em 2021.

O castelo pertenceu à família do escritor pelotense Simões Lopes Neto

Luta pela preservação

No período do ano de 2016 até agora, sem nenhuma ação efetiva, houve uma grande degradação interna do Castelo e os problemas estruturais só se agravaram, conforme explica a arquiteta da Secretaria de Cultura (Secult), Liciane Almeida. “A cobertura dele também já está muito danificada, uma parte ruiu”, acrescenta.

Pelo menos até o final do ano, a situação do prédio deverá continuar a mesma, isto, porque o executivo precisa novamente realizar os trâmites burocráticos para o recomeço da revitalização. No dia 29 de agosto, de acordo com a arquiteta Liciane, a pasta esteve em reunião solicitada pelo Ministério Público (MP) para tratar sobre a rescisão com o Instituto e sobre as medidas de preservação do bem público.

A alternativa encontrada no momento pela Secult é tentar o Fundo de Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do MP. Através do convênio com a instituição, a pasta espera conseguir recursos para custear um novo projeto de restauro. Para isso, durante o mês de setembro, será elaborado um termo de referência com proposta de projeto da recuperação do prédio, que deverá ser enviada para o edital de seleção até dia 3 de outubro.

Caso seja selecionada, com a verba do fundo, a Secretaria terá como elaborar o projeto de restauração. “É o pontapé inicial para a gente poder fazer posteriormente uma execução de obras”, explica a arquiteta. Após a criação do esboço, que segundo Liciane, muito “otimistamente”, poderá ficar pronto até o final do ano, o município abre novo processo de licitação para dar início às obras novamente.

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10ª edição do Dia do Patrimônio é realizada em Pelotas

Com o tema “Vozes de Pelotas: O Patrimônio Linguístico”, evento celebrou de 19 a 21 de agosto o Dia Nacional do Patrimônio Cultural   

Por Larrissa Bruno   

                                   Evento movimentou a cidade com o retorno da sua edição presencial                                   Foto: Michel Corvello/Prefeitura de Pelotas

Foi realizado em Pelotas a 10ª edição do Dia do Patrimônio entre 19, 20 e 21 de agosto. Neste ano o evento teve como temática às “Vozes de Pelotas: O Patrimônio Linguístico” que buscou ampliar o debate sobre às diversas formas de falar existentes. A iniciativa atraiu mais uma vez a população para os prédios do Centro Histórico e outros bairros da cidade, estimulando a ocupação e preservação do espaço público. A festividade celebra o Dia Nacional do Patrimônio Cultural, comemorado em 17 de agosto.

Foram realizadas ao todo 115 atividades em diferentes locais do município e cerca de mil estudantes da rede de ensino visitaram prédios e exposições de história e arte durante o evento.

                               Jovens puderam conhecer detalhes da história regional                             Foto: Michel Corvello/Prefeitura de Pelotas

O estudante de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, Matheus Silva, de 23 anos, veio de Minas Gerais para estudar e adorou a oportunidade do Dia do Patrimônio para conhecer a sua cidade nova de moradia. “Logo quando cheguei no mês de agosto, próximo do evento, fiquei sabendo que alguns prédios históricos estariam abertos para visitação. Fiquei muito empolgando em poder ver a arquitetura dos lugares por dentro e conhecer mais sobre Pelotas – é uma ótima iniciativa”, destacou.

 

                                      Evento reuniu públicos nos principais museus da cidade                                                 Foto: Michel Corvello/Prefeitura de Pelotas 

Entre os prédios para visitação, estiveram o Museu da Baronesa, no bairro Areal, e o Theatro Sete de Abril, no Centro da cidade. Após o processo de revitalização, a sala de espetáculos aguarda os últimos reparos para a reabertura oficial. Também fez parte do evento o Casarão 6, que está fechado para reformas, mas teve parte de seu acervo exposto durante o evento. Já a Catedral Anglicana do Redentor, conhecida popularmente como “Igreja Cabeluda”, com sua fachada coberta por vegetação, abriu as portas pela primeira para visitação guiada no Dia do Patrimônio.

         Patrimônio reúne uma série de obras de arte, objetos, documentos e edificações de relevância cultural       Foto: Gustavo Vara/Prefeitura de Pelotas

A população pôde contar, dentre muitas outras atrações, com a oficina de escavação arqueológica no Museu Histórico da Bibliotheca Pública Pelotense, as exposições “Gamp Feminista – 30 anos de trajetória” e a trajetória de Yolanda Pereira, pelotense que se tornou Miss Universo no ano de 1930. No Casarão 6, foram apresentados o documentário e a mostra “Antônio Caringi”, que apresentou detalhes da vida e obra do artista pelotense, conhecido como o Escultor dos Pampas e é autor da famosa escultura do Laçador, considerado um símbolo rio-grandense.

Evento ocorre há nove anos

O Dia do Patrimônio é celebrado em Pelotas desde 2013 e promovido anualmente pelo Poder Público com objetivo de valorizar a cidade, sua história e raízes culturais, por apresentações de música, dança, teatro e exposições.

As duas últimas edições, em 2020 e 2021, foram realizadas no formato on-line, devido à necessidade de isolamento social causado pela pandemia do coronavírus. Portanto, a décima edição retomou a abertura dos prédios históricos ao público, para promover o debate sobre a importância do patrimônio material e imaterial local.

                    A memória e o resgate histórico  são sempre celebrados a cada edição do evento                      Foto: Gustavo Vara/Prefeitura de Pelotas

Emocionada, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, declarou: “Estarmos juntos novamente, após o distanciamento de dois anos imposto pela pandemia, [este momento] carrega um significado especial: nossa história foi marcada por adversidades, mas principalmente, por superações”.

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Brasil e Coreia unidos no filme “Fortaleza Hotel”

Drama brasileiro apresenta uma história simples, mas com nuances provocativas  

Por Giéle Sodré  

Clébia Sousa interpreta a personagem protagonista  “Pilar”             Foto: Jorge Silvestre/Divulgação

“Fortaleza Hotel”, o segundo longa de Armando Praça, maestro do sensível “Greta” (2019), traz uma história cheia de enlaces culturais e paralelos entre seus personagens e narrativa. Nele, Pilar (Clébia Sousa) é uma camareira que está perto do sonho de se mudar do Brasil para a Irlanda em busca de uma vida melhor quando conhece Shin (Lee Young-lan), uma mulher coreana de meia-idade, cujo marido que trabalhava no Brasil acaba de cometer suicídio. Shin está no país para resolver a cremação e traslado das cinzas do marido para casa, mesmo que ela mesma já não veja a Coreia como lar, tendo seu sonho de viver uma vida diferente no Brasil destruído com a morte do marido. Para conseguir transitar na cidade, pede a ajuda de Pilar, que fala inglês, para entender a linguagem e se movimentar pelo desconhecido de Fortaleza.

Ao mesmo tempo, Jamille (Larissa Góes), a filha que Pilar teve muito nova e que negligencia com frequência, envolve-se com pessoas problemáticas na área pobre onde vivia com a mãe. Está sendo mantida em cárcere até que uma quantia de 10 mil reais seja paga para a sua liberação. E é aí que o sonho de Pilar também desmorona, tendo que escolher entre o futuro que desejava e sua filha. Descobre-se em uma situação de desespero.

De alguma forma, as duas mulheres, Pilar e Shin, apresentam-se como reflexos e confortos uma da outra durante o filme. Shin é a imigrante que teve suas vontades e ideias despedaçadas pelas escolhas do marido, influenciadas fortemente pela própria cultura asiática de não tolerância à vergonha e ao fracasso. Tem apenas a escolha de voltar para a casa sozinha após navegar em um mundo que não conhece e ao qual não se adapta. Pilar, por outro lado, tem seus sonhos despedaçados em frente à imagem do que poderia ser, da frustração do desconhecido e descontente. Mesmo assim, as duas ainda encontram consolo uma na outra de uma forma quase agridoce.

Lee Young-lan e Clébia Sousa como Shin e Pilar         Foto: Jorge Silvestre/Divulgação

“Fortaleza Hotel”, no entanto, ainda é uma história sobre individualismo: Pilar constrói suas escolhas em volta de um sonho, aposta até mesmo em deixar a filha sozinha e, ao longo da trama, vai deixando cada vez mais seus ideais em prol das decisões que precisam ser feitas. O marido de Shin deixa-a sozinha, tomado pela vergonha ou pelo medo, fugindo de todos os problemas e acabando com todos os planejamentos e esperanças que haviam construído em conjunto.

E os padrões continuam, as cenas de solidão dos personagens ainda são muito construídas com trabalho de câmera, mantendo as protagonistas em bolhas até mesmo durante os diálogos, focando apenas em suas reações e expressões, mesmo quando outros personagens se tornam relevantes na trama.

E os trabalhos de fotografia e câmera continuam a mover a ambientação quando mostram uma Fortaleza longe das belezas naturais, os cenários são pouco chamativos, constroem um ambiente real e melancólico que demonstra o mundano de uma cidade normalmente exaltada como praiana e colorida, tendo seus ápices de beleza cinemática nos momentos mais melancólicos e solitários de Shin, a peça que não encaixa na narrativa brasileira e resiliente da trama.

O diretor Armando Praça faz novamente uma narrativa delicada e vívida, porém se perde um pouco quando tenta usar das figuras ao invés de explicar. A fórmula segue agridoce, sem a satisfação que normalmente se espera ao final de uma trama.  Porém somos levados a questionar sempre o certo e o errado de toda a história. Há uma pergunta com uma resposta muito difícil que é traduzida muito bem dentro de todas as nuances e desenvolturas de “Fortaleza Hotel”.

O filme está disponível no YouTube, GooglePlay Filmes, Apple TV e Telecine.

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Projeto Lumina Mundo incentiva leitura em Rio Grande

Veículo transita pela cidade com mais de 2 mil exemplares, promovendo doação e adoção de livros    

Por Joanna Manhago Andrade e Isadora Ogawa

Biblioteca circula por diversos bairros e escolas valorizando o hábito de ler      Fotos: Joanna Manhago

   

O Lumina Mundo é um projeto que foi criado no início deste ano, mais precisamente no mês de fevereiro, para ser uma das atrações das celebrações dos 285 anos da cidade do Rio Grande, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (SCEL). A ação visou facilitar e incentivar os hábitos de leitura de crianças e jovens. A iniciativa continua hoje através de um furgão, que aceita doações de livros e permite que a população pegue exemplares.

Inicialmente, o veículo – plotado em laranja para chamar a atenção da comunidade – era levado todas as sextas-feiras para o Cassino. Em fevereiro, por ser a alta temporada do verão, ele era estacionado na principal avenida do balneário ou na Praia do Cassino, quando eram os dias quentes. Assim, as pessoas circulavam por esses espaços e podiam selecionar obras para levar para casa de forma gratuita, ou deixar livros que não tinham mais interesse para outras pessoas.

Os organizadores planejaram identidades visuais que se destacam nas ruas da cidade

Ainda no verão, o furgão laranja passou a ser atração não só no balneário, mas também em diversos eventos propostos pelo Executivo Municipal. A 47ª Feira do Livro, as atividades em alusão ao Dia Nacional do Patrimônio, Prefeitura na Rua, a Festa Junina do Cassino (Fejunca) e as ações no Centro Histórico tiveram o Lumina Mundo como atração.

A coordenadora do projeto, Sheron Macedo, relatou que a iniciativa tinha como objetivo principal facilitar o acesso à leitura da comunidade do Rio Grande. “Como não tínhamos eventos todos os finais de semana, buscamos outras formas de inserir o Lumina Mundo na comunidade, e nada melhor do que as escolas”, comentou.

Sheron relata que a SCEL, em parceria com a Secretaria de Município de Educação (SMEd), passou a inserir o projeto nas instituições de ensino da Rede Municipal de Educação através de um cronograma em que uma das 76 escolas era visitada em cada semana. A Diretora da Escola de Ensino Fundamental Helena Small, Andrea Escovar, disse que o projeto “deu um gás para as crianças que estavam muito paradas por causa da pandemia”.

Moradores e estudantes nas escolas têm contato com novos títulos e doam livros já apreciados

A gestora cita também que, “além de incentivar a leitura, o que é de extrema importância no processo e desenvolvimento cognitivo dos pequenos, o projeto incentiva também a doação e a valorização da ajuda do próximo”. As crianças eram avisadas com antecedência sobre a data em que o furgão estaria na escola para que pudessem realizar doações, caso tivessem livros que não estivesse usando. “Havia alguns jovens que nunca tinham tido acesso a um livro que não fosse da escola, algo que eles pudessem chamar de ‘meu’, e o Lumina Mundo proporcionou isso”, finalizou Andrea.

O mais importante do projeto é promover a interação em torno do hábito de leitura

Até o final de agosto deste ano, o Lumina Mundo já tinha visitado 20 escolas da rede. Sheron frisa: “Nós ainda não fomos nas escolas mais afastadas do centro da cidade, pois o furgão não tinha estrutura para isso, mas essas instituições já estão no cronograma, que deve iniciar na segunda semana de setembro”. Nesse sentido, o veículo passou por uma manutenção, a plotagem foi mudada e a estrutura reforçada, para que o carro conseguisse passar por locais de difícil acesso.

Houve uma parada do Lumina Mundo junto ao Teatro Municipal de Rio Grande

Atualmente, o Lumina Mundo conta com um acervo de mais de 2 mil livros. “Nossa ideia é que esse número varie, não queremos muitos livros, queremos pessoas pegando e doando, tanto nas escolas, quanto nos projetos que a gente comparece”, finalizou Sheron.

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Coral da UFPel retoma suas atividades com novos desafios

Projeto volta com ensaios semanais e participa do IV Encontro de Corais do Conservatório de Música neste domingo  na Catedral São Francisco de Paula

Por Gabriela Pereira    

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) possui diversos projetos que promovem arte e cultura para além do espaço acadêmico, expandindo para a população pelotense. O Coral da Universidade Federal de Pelotas retoma com os ensaios e demais atividades. Atualmente, o projeto é coordenado pelo professor Leandro Ernesto Maia do Centro de Artes, junto ao curso de Bacharelado em Música. Devido à pandemia do Covid-19, em 2020, as atividades presenciais foram suspensas e o coral seguiu ativo de forma on-line.

O coral da UFPel se apresenta neste domingo, dia 18 de setembro, no IV Encontro de Corais do Conservatório de Música, em comemoração aos 104 anos desta instituição artística. A programação inicia às 19h30min na catedral São Francisco de Paula (Praça José Bonifácio, 15. bairro Centro) com entrada franca. A população está sendo convidada a participar com um quilo de alimento para famílias carentes.

A Associação Amigos do Conservatório de Música (ASSAMCON) reúne na apresentação, além do Coral da UFPel, o Coral da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Grupo Vox, Coral da Sociedade Música pela Música e terá participação especial do Coral Infanto-Juvenil do Conservatório de Música, que fará a abertura do Encontro. A proposta é divulgar e incentivar a formação de novos grupos de canto coral, mantendo a tradicional cultura musical de Pelotas.

Vozes e história

Criado em 1973, o Coral UFPel foi fundado pelo maestro Romeu Tagnin com objetivo de estabelecer a música vocal coletiva como ferramenta de extensão universitária e instrumento de integração social. Sendo o projeto de extensão mais antigo, em atividade, seu papel é de extrema importância, bem como um grande representante de eventos artísticos e culturais da instituição.

Durante a história, muitas gerações de cantores e maestros passaram pelo grupo que se estabeleceu como referência na cidade, incentivando a participação de espetáculos, festivais, ensaios abertos e audições. O coral agora é composto por cantores da comunidade, alunos de graduação, técnicos e professores.

Coral volta em apresentação  presencial  neste domingo           Foto: Katia Helena/CCS-UFPel

A equipe de coordenação é composta pela Coordenador de direção musical e regência do coral da UFPel, Leandro Ernesto Maia; a preparadora vocal, professora Cristine Bello Guse e, por fim, a coordenadora do núcleo de preparação cênica e técnica de preparação vocal, professora Giselle Molon Cecchini. O grupo conta com cerca de 20 cantores, além dos novos membros, que já fizeram sua primeira apresentação de retorno durante a programação de reencontro da universidade, no dia 10 de agosto.

Repertório e trajetória

Além de reunir e harmonizar uma diversidade de vozes, o projeto busca apresentar um repertório bastante original. Segundo o coordenador Leandro, será apresentada como primeira música os “Três Cantos Nativos dos Indios Kraó”, em uma linguagem indígena e com composição de Marcos Leite. Em seguida, o grupo canta um arranjo adaptado das canções “Sorri”, uma versão de Djavan da canção “Smile”, do cineasta Charles Chaplin e seus parceiros, junto à música “O Sol Nascerá”, de Cartola. Depois é cantado um hino chamado “Cantares” do compositor brasileiro Ronaldo Miranda e, por fim, o espetáculo encerra com “Juízo final”, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares.

“Temos um repertório bastante original e único, algumas peças só a gente canta porque elaboramos as partituras”, comenta Leandro.

A trajetória do coral é contada no livro A Extensão Universitária nos 50 anos da UFPel, com o título “Vozes da extensão: 46 anos de música no coral UFPel”, escrito pelo coordenador Leandro. O material, divulgado em 2019, conta a história do projeto de extensão, processo de produção dos arranjos, sistema de trabalho e metodologia.

As atividades do Coral da UFPel e suas programações podem ser acompanhadas pelo Instagram do grupo. Também as apresentações do Conservatório de Música podem ser acompanhadas pelo Instagram.

                        

              Conservatório de Música da UFPel sedia projeto de extensão do Coral  da Universidade                  Foto: site do Centro de Artes UFPel

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Sessão de cinema paraguaio amanhã

Cine UFPel traz filmes inéditos no Brasil durante três semanas

 

Amanhã, dia 16 de setembro, às 17h, o Cine UFPel dá início à Mostra de Cinema Paraguaio. Durante o mês de setembro, o Cine UFPel irá proporcionar uma imersão na cultura deste país latino-americano, realizando sessões sempre às sextas-feiras focadas em filmes realizados por cineastas paraguaios. Serão três sextas-feiras (16, 23 e 30 de setembro) com filmes inéditos, que não estrearam no Brasil. O Cine está localizado na Rua Álvaro Chaves, esquina com a Rua Lobo da Costa, em Pelotas. No prédio da Agência da Lagoa Mirim (entrada pela Álvaro Chaves). As sessões têm entrada franca.

 

      Documentário retoma acontecimento e propõe discussão sobre o que ocorreu no dia de um massacre          Fotos: Divulgação

A mostra inicia com o longa “Fuera de campo” (Hugo Gimenez, 2014). Este documentário retoma o episódio ocorrido na cidade paraguaia de Curuguaty, palco de um massacre entre camponeses e forças do Estado paraguaio em junho de 2012.  Inspirado em duas fotografias publicadas nos jornais nos dias que se seguiram aos nefastos acontecimentos,  o filme pergunta sobre que aconteceu realmente. Como é hábito em todas as sessões, antes do longa, o Cine UFPel fará a exibição de um curta. Amanhã será o documentário do mesmo diretor “Sin felicidad” (Hugo Gimenez, 2015).

Serão apresentados amanhã dois filmes do cineasta Hugo Gimenez

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Questões femininas e antifascismo na obra de Isabel Allende

O livro “A Casa dos Espíritos” traz cotidiano familiar marcado pela opressão política    

Por Isabella Cardoso Barcellos  

Quando se fala em literatura latino-americana é quase impossível não citar o realismo fantástico enquanto subgênero. Se clássicos como “Pedro Páramo” (1955), “Cem Anos de Solidão” (1967) ou “Jogo da Amarelinha” (1963) oferecem mapas já bem orientados para esse novo jeito de guiar narrativas, Isabel Allende acrescenta a subjetividade feminina e o antifascismo como “trunfo” ao apresentar “A Casa dos Espíritos” (1982). Filha de pais chilenos e nascida no Peru em 1942, dedicou sua carreira primeiramente ao Jornalismo e depois à escrita de suas 26 obras já publicadas.

A obra prima de Allende retrata a trajetória da família Trueba em um país latino-americano indefinido ao longo das primeiras décadas do século XX. Clara, uma criança excêntrica e dotada de certa clarividência, perde sua irmã mais velha Rosa e por consequência se casa com o noivo dela, Esteban Trueba: um herdeiro abastado que tem grandes quantidades de terra ainda não exploradas. O casamento de Clara e Esteban guia a história em todos os seus detalhes. É a partir da diferença de caráter entre os dois que surgem conflitos e questionamentos, tanto deles quanto de seus descendentes.

Temas como desigualdade social, machismo estrutural, concentração fundiária e a ascensão de um governo ditatorial são trabalhados ao longo das páginas sem deixar de lado o desenvolvimento de cada personagem apresentado. A narração onisciente em terceira pessoa (em que acompanhamos a história “de fora”, mas com acesso ao que todos os personagens pensam) pode se tornar um pouco cansativa para aqueles que não estão acostumados com parágrafos longos e muitos devaneios existenciais. O realismo fantástico em si acaba se concentrando muito mais nas personagens femininas (Clara, Blanca e Alba, por ordem de nascimento), evidenciando o poder matriarcal nesta família.

A autora é sobrinha neta do ex-presidente chileno Salvador Allende

Conflitos do dia a dia

Acompanhar as três gerações desta família é comparável a acompanhar a vida de amigos ou familiares queridos. A riqueza de detalhes sobre as incoerências e as qualidades de cada personagem apresentado oferecem uma percepção de realidade para cada um. Quase como se fosse possível encontrá-los na rua ou entrar em contato com descendentes deles através das redes sociais. É preciso reconhecer quando alguém consegue conceber personagens tão complexos e ainda trabalhar uma narrativa coerente em torno de assuntos pertinentes.

Em entrevistas ao longo dos anos e em seu site oficial, Isabel afirma ter se inspirado em sua própria configuração familiar para escrever esta obra. Em entrevista à Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em 2010, revelou: “Eu não seria escritora se o golpe militar no Chile nunca tivesse acontecido”, reconheceu a autora, que considera o mundo atual muito diferente do de então, já que “não existe mais uma divisão tão grande entre esquerdas e direitas”.  Isabel Allende é sobrinha neta do ex-presidente chileno Salvador Allende, cuja morte foi o ponto de partida para os 17 anos de ditadura no país.

Sob a perspectiva de um Brasil em período eleitoral, ataques a lideranças políticas e velhos conflitos em curso, a leitura de “A Casa dos Espíritos” ainda se faz muito relevante após 40 anos de seu lançamento. E ainda que se enquadre aos (já citados) moldes do que é considerado realismo fantástico, o que realmente impressiona seu leitor atento são as semelhanças assustadoras com o que foi e ainda é vivido em países como o nosso além do continente americano.

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Jornal “A Alvorada”: A voz do negro pelotense

Livros recuperam história do periódico que trazia notícias de interesse da população negra e da classe operária   

Por Mariah Coi e Tais Carolina Pereira   

 

Dezenove anos após o fim da escravidão, em 1907, uma expressiva população de negros de Pelotas, no sul do Estado, viu surgir o jornal que viria a ser sua voz. Batizado de “A Alvorada”, que significa em latim “a primeira claridade”, o periódico virou espaço de luta para uma população que era proibida de frequentar diversos locais. A publicação existiu até 1965 e agora uma série de livros deverá recuperar a memória deste trabalho jornalístico.

De acordo com o historiador Lúcio Xavier, por conta das charqueadas, a então São Francisco de Paula caracterizou-se pela grande presença da mão-de-obra negra. Dessa forma, no pós-abolição, muitos negros ex-escravizados uniram-se para a criação de sindicatos, grupos e até mesmo de um jornal. Foi o caso dos intelectuais negros Antonio Baobab, Rodolfo Xavier, Juvenal e Durval M. Penny que, em 1907, insatisfeitos com a falta de representatividade nos espaços sociais, fundaram o periódico “A Alvorada”.

Capa do Jornal A Alvorada     Imagem: Acervo E-cult

No jornal, eram contadas histórias e notícias de interesse da população negra e operária, Denúncias ao racismo da época, tanto da comunidade pelotense como de todo o Estado, constavam nas páginas. A historiadora e professora Fernanda Oliveira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que o jornal traz, desde os seus primórdios, a defesa da comunidade negra. Um exemplo disso é a edição de 4 de abril de 1934, encontrada na Bibliotheca Pública Pelotense, que traz um editorial intitulado “Negro não é gente em São Leopoldo”. O texto questionava as novas medidas da prefeitura da cidade que proibiam a entrada de negros em uma praça.

Circulando até 1965, o jornal marcou um período de grande movimentação negra na cidade, sendo o porta-voz da Frente Negra Pelotense. Estudos apontam que esse foi o único movimento deste tipo criado no Estado na época. Por sua longa duração, o noticiário está até hoje na lembrança de muitos leitores, como de Rosalina Sacramento. A aposentada de 82 anos conta que ainda carrega recordações da infância e de seu pai levando o jornal para casa. “Como eu estava aprendendo a ler, eu gostava muito”, relembrou.

A Bibliotheca Pública Pelotense conta com exemplares do jornal no seu acervo

Para que a história não seja esquecida

Embora esteja na memória de alguns, parte da comunidade pelotense desconhece a existência do jornal. Fernanda afirma que isso se dá pelo não reconhecimento da importância dele para a cidade. Para mudar isso, neste ano, mais de 50 anos após o fechamento do jornal e na contramão do esquecimento, Jorge Penny, ilustrador e bisneto de Juvenal M. Penny, encontrou uma forma de perpetuar o legado dos fundadores.

Em sete livros, ele narra a trajetória do bisavô e do jornal. O objetivo é manter viva para as próximas gerações a história do periódico que foi alicerce da luta negra em Pelotas. “Mais que uma ideia foi uma necessidade. É importante destacar que a história do jornal ‘A Alvorada’, assim como a origem dos nossos antepassados, eram assuntos totalmente desconhecidos no meu núcleo familiar”, relata Jorge sobre o que motivou o surgimento dos livros.

E ele ainda complementa: “Um pouco por acaso, em 2019, resolvi buscar imagens do jornal ‘Alvorada’. Encontrei um grande número de investigações de historiadores, a maioria da UFPel, com informações valiosas. Em um trabalho da falecida professora Beatriz Ana Loner, estava a verdadeira origem da nossa família, e descobrir a história de Clarinda, minha tataravó, totalmente desconhecida para a família Penny”. Assim, através dos livros, o ilustrador retoma não só a história do jornal, mas também a dos seus antepassados.

A ideia de Jorge é seguir relatando quem foram os seus antepassados e quais foram os seus feitos, na Princesa do Sul. “O mais importante para mim é que as novas gerações da minha família saibam quem foi a tataravó Clarinda, o que aconteceu com o seu marido, que se suicidou por dívidas, e que os seus filhos foram fundadores e diretores do jornal negro mais longevo da história de Pelotas e do Brasil”, finaliza.

Os livros podem ser adquiridos neste link.

Capa de um dos livros    Ilustração: Jorge Penny

 

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