Tom Nunes: a cultura afro e LGBTQIA+ na cena musical eletrônica

Conheça a trajetória do DJ porto-alegrense que vem realizando eventos musicais na região de Pelotas      

 por Amanda Marin      

Tom Nunes marca sua carreira pela autonomia e a expressão afirmativa da cultura

               

A cultura eletrônica sempre esteve atrelada a movimentos de resistência, e poucos nomes representam essa interseccionalidade tão bem quanto DJ porto-alegrense, Wellington Nunes da Silva, ou Tom Nunes, como é conhecido. Com uma trajetória marcada por autogestão e identidade, o artista se destaca pelos sets energéticos focados em sets afros e latinos, e pelo ativismo dentro da cena cultural. Como homem negro e LGBTQIA+, Tom utiliza sua arte como espaço de expressão e luta, resgatando as raízes da música eletrônica e ocupando lugares que, historicamente, não foram pensados para corpos como o seu.

Seu primeiro contato com a música veio da infância festiva e rodeada de sons, mas a decisão de se tornar DJ veio de uma necessidade concreta: estar em espaços de festa sem ter dinheiro para isso. A solução encontrada foi coletivizar o acesso à música. “A gente começou a se juntar e colocar um som na rua. Precisava de gente pra tocar, e assim a coisa foi crescendo”, conta. Dessa organização espontânea surgiu a base para a sua atuação como DJ e produtor cultural.

Com influências musicais negras, latinas e LGBTQIA+, seu som passeia por gêneros variados, mas o house é o eixo central de sua identidade artística. “House é música preta. Hoje, quando se fala em eletrônica, é algo muito distante das origens, e a minha caminhada também é essa retomada”, reflete. Essa consciência histórica se reflete tanto nos sets quanto no discurso. A presença digital também é um fator essencial para sua trajetória, sendo um dos elementos que possibilitam a expansão de seu trabalho. “Os artistas hoje são multi coisas. Produzem, cantam, mixam, fazem vídeo. Minha atuação na internet está diretamente ligada à minha carreira, e por isso é tão importante.”, somando assim quase seis mil seguidores no seu Instagram.

Oportunidades e desafios

Dentre os espaços em que se apresentou, um dos mais marcantes foi o festival Cabobu, em Pelotas, no qual atuou como DJ e MC, conectando-se com o público de forma mais direta. Entretanto, relata que estar nesses ambientes não é sinônimo de aceitação automática. “Sempre parece que tenho que provar que sei fazer o que faço, que estou no lugar certo”, sobre os desafios enfrentados na cena musical. Em eventos, já foi tratado de forma diferenciada por funcionários e frequentadores, só ganhando reconhecimento após subir ao palco. “Depois que tu tocas, te tratam de outro jeito, é fato e difícil de lidar”.

Apesar dessas barreiras, Tom Nunes segue impulsionado pelo coletivo. Desde os primeiros passos no Arruaça e Turmalina, o trabalho em rede sempre foi fundamental para sua formação, e é nas trocas com outros artistas que ele encontra referências. Ele destaca a importância desses diálogos para a construção de sua trajetória, enxergando na experiência de outros músicos um caminho para fortalecer sua identidade artística. “Hoje tenho o prazer de conversar com pessoas que fazem essa arte preta e LGBTQIA+ há décadas. Gosto muito dos contatos com DJ Helô, de Pelotas, e DJ Malasia, de Porto Alegre”.

Ao longo da carreira, transitou entre espaços culturais alternativos e grandes eventos, notando como a recepção varia conforme o público. “Faço parte de uma cena underground da música eletrônica, mas também transito no mainstream. A resposta do público é diferente. Em espaços culturais, já existe uma predisposição para entender o que eu trago”. Esse contraste revela as diferenças de percepção entre públicos mais nichados e aqueles acostumados a consumir música de forma mais ampla e comercial. Enquanto na cena underground há uma maior abertura para experimentação e inovação, no mainstream, muitas vezes, é necessário encontrar um equilíbrio entre identidade artística e expectativa do público

 

Set na casa noturna Neue, em Porto Alegre, no ano passado

                                           

Mesmo diante dessas diferenças, Tom Nunes mantém sua essência e entende que cada espaço ocupado é uma conquista. Ele percebe que sua presença em eventos de diferentes perfis contribui para ampliar o alcance de sua arte e reforça a necessidade de representatividade dentro da música eletrônica. Sua performance carrega uma mensagem maior, conectando-se com sua trajetória e com a luta histórica de artistas negros e LGBTQIA+.

Para Wellington, a arte é resistência e reconstrução. Sua trajetória reflete a importância da ocupação de espaços por artistas negros e LGBTQIA+, trazendo para a pista de dança tanto a batida, quanto a história de uma cultura que resiste e se reinventa a cada som. Mais do que um DJ, ele se firma como um agente de transformação, ampliando narrativas e reforçando a presença de corpos dissidentes na cena musical.

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Nossa, fiquei muito feliz e contemplado nessa escrita. Obrigado Arte no Sul por ser esse espaço, tão necessário. A cultura local agradece!

Tom Nunes

 

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A arte enquanto obra e como manifestação viva dos artistas


Até onde a biografia dos  criadores determina as suas obras e quanto seu trabalho ganha um valor independente no jornalismo cultural     

Por Luís Esteves Garcez        

 

 

O debate para definir o que é arte tem seu início na Grécia antiga, junto dos grandes filósofos, especialmente Platão e Aristóteles, e permeou a história da humanidade desde então. Definir o que é e o que não é arte tomou uma grande importância no trajeto de artistas, críticos e também do público comum. É impossível não se deparar com opiniões que desconsideram o movimento Dadaísta como arte, o gênero musical funk como arte, os videogames como arte, entre tantos outros. Essa presunção parte de um sentimento de superioridade, que conecta a palavra arte a algo inerentemente belo e positivo, e não consegue distinguir suas preferências pessoais de algo com ou sem qualidade técnica, mas essa é uma discussão para outro momento.

Nesse texto eu não quero focar tanto no que é e no que não é arte, mas o debate em si é importante como base para a discussão que quero criar. Por tanto, considerando o quão abstrato é a pergunta “o que é arte?”, eu prefiro definir aqui o que eu, o indivíduo Luís Garcez, considero como arte. Para mim, arte é qualquer expressão humana movida por emoção. Tendo isso definido, passo para a essência do que quero discutir, que é o quão atrelado a arte está ao artista que deu vida a ela.

Para começar meu argumento eu gostaria de categorizar a arte em dois grupos, apenas para deixar meus pontos futuros mais claros. Chamei o primeiro grupo de arte externa, ou arte viva. A arte externa passa a existir sozinha e independente após ser criada, depois que o artista da vida a ela, ela não precisa mais desse artista para se manter viva, ela é material e muitas vezes continua no mundo muito após o seu artista desaparecer. Aqui estão as pinturas, as esculturas, os filmes, os videogames, etc.

Já o segundo grupo contém as artes internas, ou artes transientes. Elas são efêmeras, deixam de existir no momento que o artista cessa sua performance, elas são inteiramente dependentes daquele artista e das habilidades dele para existir no nosso mundo, e, se não fosse a preservação de mídia, sempre morreriam junto daquele artista. A preservação de mídia é um ponto importantíssimo a ser comentado aqui, pois ela é uma forma de eternizar a arte transiente, mas não considero que isso a torne uma arte viva, pois uma gravação de uma música não é a mesma coisa do que escutar aquela música ser tocada por seu criador. Assistir uma peça de teatro gravada não provêm a mesma experiência de assistir a trupe original encenar aquela peça ao vivo.

 

Artes transientes

Ao definir as artes transientes, sei que encontrarei inúmeras opiniões contrárias à minha e é nesse ponto que meu argumento se torna mais complexo, entretanto, ao mesmo tempo, singular. Como dito acima, teatro e música são, obviamente, artes transientes, mas vou muito mais além disso, considero artes marciais e esportes artes transientes, onde a arte só existe durante aqueles minutos em que a competição está acontecendo, morrendo quando o vencedor é definido. Um poema declarado por um homem apaixonado à sua amada é outro exemplo, entretanto, aqui temos as duas artes em simbiose. O poema em si é a arte viva, e a declaração dele, a arte transiente. Mas enfim, chega de exemplos, acho que meu ponto está suficientemente claro.

Antes de prosseguir para o próximo ponto dessa jornada, eu gostaria de fazer um adendo para me referir especificamente à música. Acredito que a música seja a arte mais presente e impactante na vida das pessoas, quase todos indivíduos não apenas apreciam música como tem ela como parte importante de sua vivência. Além do impacto massivo que a música tem na sociedade, ela também se solidificou muito bem em ambos os tipos de arte que descrevi acima, e é isso que torna ela única. Uma música é tanto arte por si só, como também vive em uma relação simbiótica com seu criador, seja um compositor, um cantor ou uma banda. Nossa sociedade idolatra criadores de música de forma que não faz com criadores de literatura ou pintura, então mesmo que através da preservação de mídia as músicas se tornem eternas, o valor da música como arte está muito atrelado ao seu criador, o que faz sentido, já que, apesar de tudo, considero-a como uma arte transiente.

Tendo em mente o que os dois tipos de arte significam, precisamos analisar as diferenças com que elas nascem, crescem e morrem. Meu objetivo é tentar explicar a diferença de como nossa sociedade reage a esses dois tipos, tanto em situações positivas quanto negativas, e como isso também reflete na indústria jornalística, muitas vezes tendo suas nuances ignoradas pelos profissionais na hora de realizarem suas críticas. Vamos começar focando na arte viva.

 

 

Criador e obra com vida própria

O conhecido discurso sobre “separar a arte do artista” prega um ideal onde devemos ignorar o criador de uma obra de arte na hora de definir o valor desta. Ele é muito utilizado para justificar o consumo de obras criadas por artistas considerados problemáticos por qualquer motivo, seja a transfobia de J.K. Rowling, o racismo de H.P. Lovecraft, entre outros diversos exemplos. Essa filosofia é aceita em massa quando nos referimos às artes vivas, é raro encontrar alguém que se recuse a ler um livro ou visitar uma exposição de quadros de algum artista considerado imoral, ou até mesmo criminoso. Essa facilidade de distanciar a criação de seu criador se dá exatamente pelo fato que aquela criação não depende do criador, socialmente falando, ela é uma entidade separada, viva.

Quando tentamos aplicar esse mesmo argumento à musica, entretanto, encontramos diversas barreiras sociais. Como dito anteriormente, o valor que atrelamos a uma obra musical depende diretamente de como enxergamos o artista que a criou. A relação parassocial que quase lembra uma seita que nossa sociedade, e especialmente nossa juventude, cria com bandas e cantores torna realisticamente impossível agir da mesma forma para com eles como agimos com escritores, pintores, etc. Para nós, a música traz com ela quem a criou, junto dos valores, ideais, qualidades e defeitos daquele artista.

É importante frisar que fui generalista no parágrafo acima, entendo que muitos não pensam assim e de fato conseguem escutar e aproveitar uma música sem se importar com qualquer polêmica ou causa social que o músico por trás dela esteja envolvido. Entretanto, vivemos em uma época extremamente polarizada, quando a posição política e social do indivíduo tem uma importância que nunca antes teve, devido a isso, acredito que essa generalização não danifique meu argumento.

Após analisar todos os fatores acima, entro agora na segunda parte do texto, mas antes, preciso deixar claro que não necessariamente acredito nas coisas que escreverei a seguir, considero-as mais como ideias a serem levantadas e discutidas com mais atenção. São assuntos delicados, mas, como aspirante jornalista, não acredito que assunto nenhum não seja merecedor de um debate justo. Tabus e dogmas atrasam nossa sociedade impedindo nosso pensamento de evoluir.

 

Arte e biografias polêmicas

Quando nos referimos às outras artes transientes que não tem a mesma dualidade da música, a filosofia de “separar a arte do artista” para de ser apenas complexa e polêmica e se torna completamente indiscutível. A ideia de “conservar” e admirar a arte de um dançarino de ballet, de um jogador de futebol ou de um ator de teatro mesmo que esse artista tenha a reputação manchada sempre será recebida com mau gosto em qualquer discussão.

Hollywood constantemente exila seus atores devido a crises de imagem, Competições nacionais e mundiais de esportes impedem ou dificultam a participação de atletas envolvidos em polêmicas, se quer damos a oportunidade de um criador de conteúdo virtual continuar com sua carreira caso ele cometa um “erro” em sua vida pessoal que é julgado irredimível pelo público. Por que é tão difícil para nós separarmos a arte do artista nesses casos, e tão fácil de fazer o mesmo nos casos citados mais acima nesse texto?

A resposta para essa pergunta já foi respondida aqui, a arte transiente depende totalmente daquele artista, não é absurdo que seja impossível para o público separar algo que é, em sua essência, inseparável. Meu texto não tem como objetivo criticar e classificar como hipócrita a dicotomia com que tratamos desses dois assuntos, mas sim levantar a questão que talvez um bom jornalista cultural precise se esforçar muito mais que o público e tentar realizar uma análise justa sem deixar que seu trabalho seja deturpado por vieses que, apesar de compreensíveis, não tem lugar em uma crítica cultural.

Já a diferença de tratamento que o jornalismo usa para os dois tipos de arte explicadas aqui serve para provar que tal tarefa é possível. Se conseguimos realizar críticas literárias objetivas sobre tantos clássicos, tanto nacionais quanto estrangeiros, ignorando descaradamente a vida pública extremamente polêmica que seus autores tiveram quando eram vivos, acho que conseguimos julgar objetivamente uma atuação ou apresentação, deixando de lado a última fofoca que aquele ator ou atriz se envolveu. Repito novamente que considerar que isso seja possível não quer dizer que eu considere que seja sempre necessário.

Nos dias de hoje, parece que se criou uma nova e poderosa instituição chamada de “Corte da Opinião Pública”, onde todos agimos como júri, juiz e carrasco, distribuindo sentenças de acordo com nossas próprias bússolas morais, que raramente são paradigmas de justiça. Não gosto desse modelo de sociedade, não acho que a massa tem a capacidade de tomar esse tipo de decisão, tampouco penso que jornalistas sejam mais capacitados. Nosso trabalho é noticiar, explicar e, para o jornalista cultural, criticar uma obra de arte. Talvez as críticas ao artista devam ser deixadas para a corte de justiça, onde profissionais poderão tomar decisões educadas sobre o assunto.

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Livraria sobre rodas leva saber para São Lourenço    

A Fuscoteca do Amadinho incentiva a leitura e está precisando de doações     

Por Eduarda Saraiva          

 

Rodrigo Seefeldt e Amadinho, fusca amarelo de 1971, que virou uma biblioteca móvel e projeto cultural  Fotos: Divulgação

 

A literatura pode chegar aos leitores das formas mais inusitadas, e, em São Lourenço do Sul, ela viaja sobre quatro rodas. A “Fuscoteca do Amadinho” é uma biblioteca móvel que tem levado livros a crianças, jovens e adultos, incentivando o hábito da leitura e o acesso gratuito à literatura. O projeto, idealizado pelo escritor Rodrigo Seefeldt, surgiu como um desdobramento do livro “As Aventuras do Fusca Amadinho”, publicado em 2023.

A ideia da Fuscoteca nasceu após uma série de palestras realizadas em escolas, onde Seefeldt percebeu que muitas crianças tinham grande interesse pela leitura, mas nem sempre tinham acesso aos livros. A inspiração veio da filha do autor, Maria Flor, que sugeriu unir a biblioteca ao Fusca 1971 da família. Assim, o carro que já protagonizava uma história ganhou um novo propósito: carregar livros e espalhar conhecimento.

 

Fuscoteca do Amadinho, projeto contemplado pela Aldir Blanc, promove a  literatura no interior do Estado

 

O projeto se estrutura em quatro pilares principais:

  • Arrecadação de livros – A biblioteca móvel recebe doações de livros infantis, infantojuvenis e adultos, exceto livros didáticos. A meta é arrecadar pelo menos 2.000 exemplares para distribuição. Quem quiser doar pode deixar os livros nos pontos de coleta espalhados pela cidade ou entrar em contato diretamente pelo Instagram @fusca_amadinho ou pelo telefone (53) 98467-8816.
  • Distribuição gratuita – Livros são entregues gratuitamente, principalmente para crianças da educação infantil, incentivando a leitura desde cedo.
  • Exposições literárias – O projeto também promove exposições para que as pessoas possam conhecer diferentes obras e observar como os livros evoluíram ao longo do tempo.
  • Contação de histórias – Aline, integrante da iniciativa, realiza encenações caracterizada como personagens como Emília e Coelha da Páscoa, tornando a experiência ainda mais envolvente para os pequenos leitores.

A fuscoteca está recebendo doações de livros infantis, infanto-juvenis e adultos

 

Impacto cultural e expansão

A Fuscoteca foi viabilizada através da Lei Aldir Blanc e conta com um reboque acoplado ao Fusca para transportar os livros arrecadados. Segundo Seefeldt, esse tipo de apoio é fundamental para democratizar o acesso à cultura e garantir que iniciativas como essa alcancem comunidades onde os livros nem sempre chegam com facilidade.

O impacto do projeto vai além da simples entrega de livros. Para o escritor, incentivar o hábito da leitura é uma missão essencial. “Nós temos que achar uma maneira de que as pessoas tenham fácil acesso à literatura, para que peguem gosto e criem o hábito da leitura”, afirma.

Atualmente, a Fuscoteca já está organizando suas primeiras distribuições de livros, previstas para abril, mês em que se celebra o Dia Nacional do Livro Infantil e o legado de Monteiro Lobato. As entregas serão feitas em escolas municipais de educação infantil e também em edições especiais na Praça Central da cidade.

Um sonho que vai além do projeto

Embora a Fuscoteca tenha sido planejada para durar um ano dentro do cronograma da Lei Aldir Blanc, a meta é que o projeto continue existindo por muito tempo. “Nosso maior sonho é que a Fuscoteca do Amadinho consiga sobreviver além do período previsto. Queremos buscar recursos para mantê-la, melhorar sua estrutura e garantir que mais pessoas tenham acesso à leitura”, destaca Seefeldt.

Para isso, o projeto segue recebendo doações de livros e incentiva que escritores e leitores contribuam para essa missão.

Com um Fusca 1971 carregado de histórias e sonhos, a Fuscoteca do Amadinho prova que a literatura pode chegar a qualquer lugar – basta abrir um livro e embarcar nessa viagem.

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Terror com “Substância”

Um dos favoritos no Oscar crítica com força a indústria de filmes estadunidense       

Por Augusto Lettnin Ferri       

 

Ótima atuação rendeu para Demi Moore o prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de comédia/musical de 2024    Fotos:Divulgação

 

“A Substância”, filme dirigido pela francesa Carolie Fargeat e estrelado pelas atrizes americanas Demi Moore e Margaret Qualley, é um dos filmes com mais prêmios e indicações de 2024 desde seu lançamento no Festival de Cannes. O que surpreende é que o longa conquistou isso mesmo criticando fortemente Hollywood e sua cultura.

O filme se passa em Los Angeles, contando a história de Elizabeth Sparkle (personagem interpretada por Moore), uma atriz de 50 anos que vem perdendo seu espaço no mundo do entretenimento justamente por sua idade. Sparkle já havia ganhado prêmios, tinha um programa de televisão matinal e até uma estrela na calçada da fama, mas, por não estar mais dentro dos padrões de beleza hollywoodianos, ela é demitida.

Após quase se acidentar e acabar em um hospital, é então que recebe a oferta da substância, uma nova droga capaz de trazer uma versão mais jovem, mais bela e mais perfeita dela mesma. E é exatamente isso que acontece quando Sue (personagem de Margaret Qualley) sai das costas de Sparkle.

Embora Sue seja um corpo diferente, ela ainda é Elizabeth. Com a atriz tendo que respeitar uma rígida escala de sete dias em cada corpo, respeitando o balanceamento para evitar qualquer problema. Mais e mais problemas aparecem quando ela começa a querer passar mais tempo como sua versão melhor e mais jovem.

 

Margaret Qualley como Sue, a versão de Elizabeth criada pela Substância

 

Demi Moore entrega uma atuação cheia de nuances e momentos inesquecíveis. A atriz de 61 anos, que sofreu muito durante sua carreira, foi a escolha perfeita para estrelar uma história sobre etarismo na indústria do cinema.

Também há algo muito gratificante em ver a atriz ser reconhecida como nunca havia sido durante sua carreira de 47 anos, em um filme que aborda o quanto a mídia está disposta a descartar alguém que não se encaixa nos ridículos padrões de beleza do mundo moderno, seja por aparência ou por idade.

 

Personagem enfrenta a crueldade a que o mundo do show business pode chegar

 

Sua outra versão, Sue, interpretada por Margaret Qualley, também faz um papel memorável mesmo tendo menos tempo de tela. Ela consegue mostrar o desejo que a personagem tem de se manter no topo em Hollywood, e também momentos de fúria e medo.

A personagem ostenta o corpo impossível que é tantas vezes anunciado em programas de televisão como se fosse algo alcançável, algo que apenas depende de exercício e dedicação. Mas, a própria Sue não conquistou esse corpo desse jeito, mas, sim, por ter usado a titular substância, fazendo com que o filme também possa ser visto como uma alegoria à dependência e utilização de drogas com fins estéticos.

Embora as personagens principais sejam personalidades tão diferentes e, até mesmo, antagonizam uma à outra, elas ainda são uma só. O filme traz uma mensagem forte de cuidar e querer o melhor para si, sobre como decisões que fazemos no calor do momento podem trazer satisfação momentânea, mas que irão voltar mais tarde para nos afetar. Essa mensagem pode ser resumida com o bordão que Elizabeth e Sue tem durante o filme: “Cuide de si mesmo”.

Mesmo tendo momentos de horror corporal que lembram filmes como “A Mosca” e “O Enigma de Outro Mundo”, graças ao uso de efeitos práticos ao invés de computação gráfica, o filme consegue ter um senso de humor sombrio. Há momentos engraçados que se baseiam na situação insana em que as duas protagonistas se encontram.

 

Filme mescla ficção científica, terror e ironia cáustica

 

Além disso, o filme satiriza Hollywood e a indústria de filmes de uma maneira que só alguém com anos de experiência e raiva dentro do mundo da mídia como a diretora Caroline Fargeat conseguiria trazer. O longa expõe o quanto as pessoas no poder da mídia irão descartar atrizes simplesmente por ficarem velhas demais, como se tivessem um prazo de validade.

Também é exposto o quanto as pessoas estão dispostas a fazer tudo pela fama e atenção. Elizabeth Sparkle, mesmo já tendo alcançado glória e fama e não aceitando que isso passou, destrói sua vida e ignora qualquer outra coisa e pessoa. Embora alguns momentos de “body horror” do filme sejam aterrorizantes, o terror maior vem com a inevitabilidade do envelhecimento humano.

Concorrendo nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Atriz”, “Melhor Roteiro Original”, “Melhor Direção” e “Melhor Maquiagem e Penteados” o filme conta com muita substância para o Oscar, sendo ótimo para quem quer conferir um dos filmes mais renomados de 2024 ou para quem curte uma mistura de humor, terror e crítica social. “A Substância” pode ser assistido na Amazon Prime Video, Apple TV e Mub.

Ficha técnica:

“A Substância” “The Substance (2024)
Reino Unido, Estados Unidos, França
Duração: 140 min
Direção: Coralie Fargeat
Roteiro: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Hugo Diego García, Dennis Quaid, Oscar Lesage, Joseph Balderrama, Gore Abrams, Matthew Géczy, Vincent Colombe.

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A arte de pintar inclusão através das cores

Por meio do grafite, jovens com Síndrome de Down encontram uma forma única de expressão, conquistando autonomia, pertencimento e mostrando ao mundo uma poderosa ferramenta de inclusão e transformação social    

Por Bruna Garcia e João Victor Rodrigues         

 

Integrantes do Graffiti Down, aprendendo técnicas e fortalecendo laços de amizade

 

O grafite, que um dia foi considerado mera rebeldia nas ruas, hoje se torna símbolo de resistência, uma linguagem capaz de se comunicar com todos, independentemente de sua origem ou condição. Nas décadas de 1960 e 1970, quando o grafite surgiu nas ruas de Nova York, ele carregava em sua essência a voz de uma juventude periférica, excluída e silenciada. A tinta nas paredes era um grito, um manifesto que ecoava pelas avenidas, como se o mundo tivesse que ouvir o que aqueles jovens tinham a dizer.

Hoje, essa mesma arte, que em outros tempos era marginalizada, é celebrada mundialmente, transcende fronteiras, culturas e gerações. No Brasil, grafiteiros como Eduardo Kobra e Os Gêmeos levaram as cores vibrantes de suas obras para as galerias mais prestigiadas do mundo, mas, para alguns, o grafite não é apenas sobre estética. É sobre dar voz a quem o sistema tenta calar.

Em Pelotas, Gabriel Veiz encontrou no grafite a sua forma de expressar a dor, a revolta, mas também a beleza. Nascido e criado na cidade, Gabriel se perdeu e se reencontrou na arte. Seus primeiros traços, nas ruas, eram uma forma de desafiar a vida, de colocar para fora tudo o que o mundo tentava impor. Mas, com o tempo, ele percebeu que o grafite poderia ser mais que um grito de resistência. Ele poderia ser uma ponte de conexão, uma ferramenta de transformação. Foi inspirado por seu irmão Eduardo, que tem Síndrome de Down, que Gabriel decidiu criar o projeto Graffiti Down.

O Graffiti Down não se trata apenas de um projeto com o objetivo de ensinar técnicas de spray, mas sim de criar e oferecer um espaço em que jovens com deficiência possam se sentir pertencentes, vistos e, o mais importante, reconhecidos. Mais do que muralistas, esses jovens são poetas de cores, que têm uma história para contar ao mundo, uma história de superação, de luta, de identidade.

 

Gabriel Veiz, criador do projeto Graffiti Down, usando a arte como forma de expressão e inclusão

 

“Eu comecei a grafitar porque sentia que precisava me expressar. Mas hoje, o grafite é minha forma de dar algo para o outro, de transformar a vida de alguém. O Graffiti Down é minha forma de devolver para a comunidade tudo o que a arte me deu”, diz Gabriel. “Minhas artes podem ser encontradas em lugares como BGV, Dunas e Pestano, onde as paredes falam com as pessoas de uma forma diferente. Eu sempre quis levar a arte para as comunidades mais carentes, assim como ela mudou minha vida, como aqueles lugares me acolheram, hoje eu tento mudar a vida de outros. O grafite, pra mim, é uma maneira de ajudar a transformar realidades, de dar a quem não tem voz, a chance de ser visto, de se expressar e, quem sabe, até de sonhar mais alto.”

Gabriel Veiz tem obras expostas em festivais de arte de rua no Brasil e na Europa. Seu trabalho é uma fusão única de letras estilizadas e elementos do graffiti europeu, influenciado tanto pelo concretismo quanto pelo abstracionismo geométrico, criando uma linguagem visual que dialoga com diversas formas de expressão artística. Essa experiência internacional enriqueceu ainda mais sua visão sobre o grafite e sua missão com o projeto, levando a arte além das fronteiras pelotenses.

 

“Ver esses jovens com Síndrome de Down se expressando, cada um com suas cores, suas formas, seus sentimentos… Isso é mais que arte. É a oportunidade de ser ouvido quem, muitas vezes, é silenciado, ” (Gabriel Veiz)

 

Para fortalecer a conexão dos jovens com o meio artístico, o projeto realiza visitas a galerias de artes e exposições, proporcionando não apenas o aprendizado de novas técnicas, mas também a inserção dos participantes em um cenário cultural amplo, em que podem trocar ideias com outros artistas. E, entre as tintas e os sprays, Gabriel destaca que não vê seus alunos como apenas integrantes do projeto, mas como amigos, e que o Grafitti Down vai além das pinturas. “A gente se diverte junto. Saímos para beber, fazer rolê, dar risada, assistir ao pôr do sol, nós vamos juntos para algumas galerias de arte quando tem alguma exposição na cidade, essas são algumas das atividades que fazemos além das aulas. A gente compartilha a vida, eles são meus amigos!”, conta Gabriel, com uma risada sincera. “O que mais me faz feliz é ver que, para eles, a arte não é só um hobby.” Ele observa com orgulho o desenvolvimento de seus alunos, vendo a arte se tornar algo muito mais profundo e significativo em suas vidas.

O impacto do Graffiti Down vai além das paredes da cidade. Ele se reflete na transformação que ocorre dentro de cada participante, que, por meio da arte, aprende a se colocar no mundo, a se sentir parte de algo maior. Cada obra é uma metáfora de superação, um grito silencioso de quem conquistou, finalmente, um espaço de fala. Quando esses jovens criam, eles não estão apenas desenhando; estão redefinindo seu lugar no mundo. Estão dizendo que não serão mais ignorados. O Graffiti Down tem sido uma revolução silenciosa. Não apenas nas ruas de Pelotas, mas na alma da cidade, na mente de cada jovem que teve a chance de dar o seu toque pessoal ao mundo. A arte, que antes era apenas uma forma de protesto, hoje é um ato de inclusão, de amor e de aceitação.

 

“Muita gente nos procura pra falar sobre o projeto somente perto de datas simbólicas como o Dia Internacional da Síndrome de Down. Mas não é isso que queremos, não é isso que precisamos, eles são pessoas normais dentro dos seus limites. Eles namoram, vão a festas, curtem a vida e não merecem ser lembrados somente em um único dia do ano” (Gabriel Veiz)

 

Cada participante do projeto tem a sua história, São histórias que falam mais alto que qualquer palavra, expressões que não precisam de justificativas. E ao fazer isso, o Graffiti Down não só transforma o espaço físico, mas redefine o que significa inclusão. Ele transforma a cidade, os corações e as mentes daqueles que, muitas vezes, são invisíveis.

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“Ariadne” por Jennifer Saint: a princesa além do mito grego

Feminista relê mito de Ariadne e vai para além do personagem como irmã do lendário Minotauro e mera companheira do herói Teseu e do deus Dioniso       

Por Maria Eduarda Lopes     

  

 

Uma releitura potente, ambiciosa e envolvente de um dos maiores mitos da Grécia Antiga. É assim que o romance “Ariadne” é vendido pelas editoras e livrarias. E realmente a obra prova ser digna dessas indicações. Escrito pela britânica Jennifer Saint, conhecida por seus trabalhos de releituras de mitos antigos protagonizados por figuras femininas, o livro se propõe a contar a história da princesa Ariadne de Creta muito além do mito do seu irmão Minotauro, do destemido herói Teseu e da paixão com o deus Dioniso. Aqui, ela é protagonista das suas próprias escolhas.

No mito original, Ariadne era uma princesa de Creta, uma ilha na Grécia Antiga governada pelo seu pai, o cruel rei Minos. Lá ela vivia com sua mãe, Pasífae. E, apesar da sua irmã mais nova, Fedra, ser uma das personagens destaques do livro, ela raramente é mencionada nos mitos.

Minos havia implorado a Poseidon, o deus dos mares, que lhe enviasse um touro magnífico, prometendo sacrificar o animal em sua honra, o que garantiria a sua autoridade em Creta. Mas, ao ser atendido, Minos traiu seu juramento a Poseidon e não sacrificou o animal. Ao invés disso, achou que seria capaz de enganar Poseidon ao sacrificar outro touro no lugar. Poseidon, sentindo-se ultrajado, planejou uma vingança: instigou em Pasífae uma paixão ensandecida pelo touro divino, o que a fez deitar-se com o animal. A rainha de Creta concebeu o fruto dessa união, um bebê meio humano e meio touro, nomeado de Minotauro.

Humilhado pelo desgosto que recaiu sob seu reino, Minos, um governante ganancioso e rancoroso, mandou o renomado artesão Dédalo construir um labirinto abaixo do palácio para prender o Minotauro, e consequentemente qualquer um que ousasse adentrá-lo. Como um tributo perverso, a cada ano, a cidade de Atenas, subjugada pela conquista de uma guerra perdida contra Creta, deveria enviar sete meninos e sete meninas atenienses para saciar o apetite da besta. Assim, ao invés da vingança de Poseidon trazer apenas vergonha e desgraça para a família do rei, a criação do Minotauro os elevou ao patamar de lendas.

Em certo momento, o herói Teseu se infiltra como um dos que seriam sacrificados, com o intuito de derrotar o Minotauro. Porém, ele não conseguiria sem ajuda. Na ilha de Creta, ele conhece Ariadne, que se apaixona pelo herói. Também sensibilizada pelos horrores que aconteciam no labirinto, a princesa ofereceu a Teseu uma espada e um fio, para guiá-lo de volta à entrada. Assim, Teseu se consolidou na mitologia grega como o herói que venceu o Minotauro.

Com a besta derrotada e o herói a salvo, Ariadne e Teseu poderiam ficar juntos. Então finalmente eles fugiram para a ilha de Naxos, e, a partir daí, o mito se desdobra em diversas versões. A principal delas é que Teseu teria abandonado Ariadne na ilha a mando da deusa Atena, e sensibilizada por sua história, Afrodite teria a oferecido Dioniso (que entre os romanos passou a ser chamado Baco) para ser seu companheiro. Há também a versão de que a deusa da caça e da lua, Ártemis, teria sido responsável por sua morte em cumplicidade com Dioniso. Seja qual for a versão, Ariadne ou é abandonada, traída ou termina seu destino ao lado de um homem.

 

Óleo sobre tela “Baco e Ariadne”, com data 1522-23, com autoria de Ticiano,  do acervo da National Gallery de Londres

 

Os mitos fazem parte de uma tradição cultural, uma narrativa popular que passa de geração a geração. Apesar de não serem histórias reais, eles surgem através de condições históricas relacionadas a dada cultura. Na Grécia Antiga, em uma sociedade liderada apenas por homens, as mulheres ocupavam o lugar de criaturas menores que não possuíam direitos ou cidadania, e muito menos uma voz para deliberar escolhas. Dessa forma, o livro “Ariadne” propõe fazer uma releitura deste mito a partir da perspectiva feminina da personagem.

O revisionismo feminista, ou a teoria revisionista, partindo do feminismo, tem como objetivo justamente representar personagens desprezadas ou subjugadas pelas autorias masculinas ao longo da história, e oferecer um papel de protagonismo para elas. Esse revisionismo visa reivindicar um espaço narrativo tendo em vista que a tradição do patriarcado excluiu as mulheres.

A obra tem a oportunidade de abordar de maneira muito mais profunda as complexidades da história de Ariadne. A personagem reconhece a realidade que vive, afirmando em um trecho: “O que eu não sabia era que havia me deparado com a realidade de ser mulher: por mais que levássemos uma vida irrepreensível, as paixões e a cobiça dos homens poderiam nos levar à ruína, e não havia nada que pudéssemos fazer”. Esse tema se mantém durante o desenvolvimento do livro, no qual as mulheres sofrem as consequências de comportamentos de homens e não possuem uma voz ativa, um reflexo do cenário da época.

No decorrer da leitura somos apresentados a outras facetas do mito. Para Ariadne, o Minotauro era muito mais do que apenas uma besta, do que um recado perverso dos deuses. Como irmã, ela havia o criado desde o seu nascimento, e o chamava de Asterion, que significa “estrela” ou “o que brilha”, contradizendo a sua monstruosidade. Mas vivenciou o seu crescimento, assim como o seu apetite insaciável, e seu banimento eterno ao labirinto.

O mito reflete o que acontece até hoje em nossa sociedade. As mulheres não são devidamente creditadas por suas conquistas e frequentemente são subjugadas pelos homens. Ao ajudar o herói Teseu, Ariadne foi a principal responsável pela morte do monstro e da libertação dos jovens atenienses do labirinto. Mas a história coloca Teseu como o herói honrado, enquanto Ariadne é posta como secundária. E após ser usada pelo herói, após ter confiado plenamente no homem, ela foi abandonada sozinha em uma ilha para morrer.

Um desenvolvimento muito interessante que o livro apresenta é a relação de Ariadne com sua irmã Fedra. Após a derrota do Minotauro e a fuga de Ariadne, o reino inteiro acredita que a princesa estava viva e longe dali, ou simplesmente morta. Fedra vive o resto da sua infância com a certeza de ter sido abandonada pela irmã, e que ela havia falecido. Mais à frente, Fedra descobre que era simplesmente uma farsa que Teseu havia contado, de que Ariadne havia sido picada por uma cobra e falecido durante o sono. Na verdade, Ariadne havia sobrevivido na ilha e conhecido o deus Dioniso, por quem se apaixonou, se casou e teve filhos. Mas, para a sua futura infelicidade, Fedra se casa com Teseu, e simbolicamente toma o lugar de sua irmã no trono. É muito bem construída pela autora a rivalidade feminina imposta para ambas as mulheres, que foram exploradas e usadas pelos mesmos homens e deuses.

A maternidade também é um assunto bastante aprofundado na trama. Para Ariadne, ser mãe foi uma jornada de autodescoberta, e ela encontrava um propósito de vida em seus filhos. Para Fedra, era um pesadelo. Esses paralelos entre as irmãs são muito bem estruturados. A realidade que antes elas conheciam na ilha de Creta, vivendo juntas e sendo o apoio uma da outra, não existia mais. Até o reencontro das irmãs, as personagens vivenciam experiências completamente diferentes. Ariadne estava na ilha de Naxos ao lado de Dioniso, vivendo quase uma utopia. Fedra estava presa em um casamento arranjado com Teseu, se vendo no papel de esposa, sendo obrigada a gerar filhos e cuidá-los, enquanto ela não queria nada daquilo. É justamente esse desenvolvimento complexo da personagem que traça seu destino no final da trama.

Para fins de contextualização, evitando revelar spoilers do final do livro, o destino de Ariadne é aquele que ela sempre soube que seria, sendo uma mulher em um mundo de homens e deuses gananciosos.

Em entrevista para o World History Encyclopedia, a autora Jennifer Saint comenta sobre o processo criativo sobre o desenvolvimento dos desfechos finais da obra: “Acho que, particularmente ao decidir sobre o final, resolvi me afastar de algumas das versões mais conhecidas. Os temas que se destacaram para mim nas histórias dessas mulheres foram as mulheres sendo esquecidas, sofrendo as consequências de comportamentos de homens, e suas vidas sendo menos significativas do que as reputações e as glórias dos homens. Então, quando eu estava escolhendo qual versão do mito eu iria seguir, ou mesmo fazer um desvio completo, era importante que se encaixasse na história que eu queria contar”.

A obra apresenta uma nova faceta da personagem mitológica e de sua história, inserindo outros personagens bem construídos em uma narrativa muito bem fechada que preenche lacunas do mito original de forma criativa e condizente com a proposta da trama.

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Entrevista com DJ MichaCNR: Crescimento da cultura Hip Hop em Pelotas

Músico descreve detalhes da sua trajetória e sua visão sobre o cenário local         

Por Yan Freitas e Yasser Hassan

 

DJ MichaCNR vem liderando o movimento musical na cidade     Fotos: Divulgação  

         

Pelotas, uma cidade com uma rica história artística, é um verdadeiro celeiro cultural no extremo sul do Brasil. Ao longo dos anos, a cidade se destacou não apenas por seu patrimônio arquitetônico e histórico, mas também por sua forte cena cultural. Abriga uma série de manifestações artísticas, que vão desde a música e o teatro até a literatura e as artes visuais.

A cultura hip-hop está se expandindo com uma força impressionante, e um dos nomes que contribui para esse movimento é o DJ MichaCNR. Ele é a personificação de um artista que se encontrou na arte e cresceu com ela, ganhando notoriedade na cena cultural de Pelotas.

A pandemia, apesar de seus desafios, trouxe uma oportunidade única para MichaCNR, mergulhar no universo da produção musical, transformando um período de incerteza em uma jornada de aprendizado e crescimento. Para o músico, o hip-hop não é apenas um gênero musical; é uma missão de vida que o escolheu e o guia diariamente. Humildemente, ele se vê como parte de uma cena maior e crescente, uma força cultural do extremo sul que está se tornando uma referência nacional.

MichaCNR acredita na evolução contínua do movimento hip-hop no Brasil, mantendo suas raízes e missão de transformação social. Seus ídolos vão desde clássicos da música brasileira até colegas de profissão, todos contribuindo para sua jornada.  Mesmo com a maturidade adquirida ao longo dos anos, ele mantém a essência de seu estilo musical. Olhando para o futuro, está animado com os novos lançamentos e colaborações que estão por vir, demonstrando gratidão pelo caminho trilhado até aqui.

 

MichaCNR se considera nascido em Rio Grande, mas adotado por Pelotas

 

Veja os principais trechos da entrevista, em que ele fala de sua trajetória e visão sobre o cenário hip-hop na região:

Arte no Sul – Quem é o DJ MichaCNR?

MichaCNR Mais um sonhador brasileiro, feliz, muito feliz de poder exercer o trabalho da arte profissionalmente aos 36 anos de idade, nascido em Rio Grande, adotado por Pelotas, conhecido como Micha, mas nunca abandonando o Michael.

Arte no Sul – Como e quando surgiu a vontade de ser DJ e Beatmaker?

MichaCNR Na pandemia, as festas os eventos pararam né, na busca de alinhar a cabeça e não perder o foco, fui estudar produção musical.

Arte no Sul – Por que o Hip Hop?

MichaCNR Eu costumo dizer que não é nós que escolhemos a cultura, a cultura hip hop que escolhe. Hoje vivendo essa cultura no meu dia a dia, tudo faz sentido. Mais que um movimento e uma cultura, minha missão de vida.

 

Com sua expansão, cultura Hip Hop não pode perder suas origens

 

Arte no Sul – Como você vê a cena Hip Hop em Pelotas, sendo um dos principais representantes dela?

MichaCNR Não sei se sou um dos principais, mas sei que sou um que faz parte dela e que contribui com o seu crescimento. Pra ser bem honesto, a cena cultural do extremo sul do Brasil é gigantesca, dentro das suas possibilidades de alcance. Eu vejo isso como uma referência nacional até.

Arte no Sul – O Hip-Hop/Rap é um movimento negro, de resistência social e embate contra o sistema. Como tu enxergas a evolução do movimento ao longo dos anos no Brasil, e qual a mensagem que tu tentas passar através da tua arte?

MichaCNR A cultura hip hop cresceu muito, se profissionalizou muito também, hoje a gente vê elementos participando de grandes palcos, palestras, lançando livros, projetos super estruturados. Acho que a tendência é se expandir mais, espero que ela não perca suas origens, acredito que não vai, pois a cultura salvou e ainda salva muitas pessoas, independente da tecnologia, da evolução, ainda precisamos manter a base dela forte.

Arte no Sul – Quais são as tuas maiores referências dentro da música?

MichaCNR Eu tenho várias, algumas até estão entre os meus amigos, mas atualmente tenho ouvido algumas coisas que bate meu coração da música brasileira, tipo Cassiano, Dom Bene, Tim Maia e Djavan.

Arte no Sul – Quais mudanças você percebeu no seu set ao longo dos anos de carreira, e como você define seu estilo musical hoje?

MichaCNR Ainda sou aquele DJ romântico, carrego toca-discos, mixer, vinil, tenho isso como meu instrumento de trabalho, minhas ferramentas da obra, musicalmente estou mais maduro digamos assim.

Arte no Sul – Quais os projetos atuais e para o futuro?

MichaCNR Estou com um selo, tem alguns lançamentos de alguns artistas independentes da cidade, tô feliz com meu amadurecimento como DJ, acredito muito que tem muitas conexões e coisas boas por vir. E obrigado pela oportunidade de falar.

 

Trabalho do DJ MichaCNR vem inspirando público e músicos da região

 

A cena hip hop em Pelotas inspira jovens a explorar sua criatividade e a perseguir seus sonhos artísticos. O exemplo de figuras como DJ MichaCNR mostra que é possível transformar paixões em carreiras bem-sucedidas, incentivando novos talentos a emergir.

DJ MichaCNR é um exemplo do poder transformador do hip hop e de como a cultura pode crescer em qualquer lugar. Suas palavras e seu trabalho continuam a inspirar muitos, mantendo viva a chama do movimento hip hop em Pelotas e região.

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“O Poço 2″, uma continuação necessária

Produção dá sequência ao clima de extrema opressão e aponta para as desigualdades sociais       

Por João Victor Figueiredo Fagundes       

O filme espanhol “O Poço” tornou-se um fenômeno global em 2019. Sua sequência, “O Poço 2” (“El hoyo 2”), lançado no ano passado na Netflix, retoma o conceito distópico e expande a narrativa para uma reflexão ainda mais profunda sobre desigualdade, sobrevivência e a complexidade das relações humanas. Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, o longa aborda questões sociais com uma crueza desconcertante, enquanto aprimora elementos técnicos e narrativos.

A trama se desenrola em um novo cenário dentro do poço, que agora revela níveis ainda mais subterrâneos, explorando o impacto de sistemas sociais opressivos em diferentes comunidades. A narrativa é pontuada por novos personagens que, assim como os do primeiro filme, estão presos à mecânica cruel da distribuição desigual de recursos.

Diferentemente do primeiro filme, “O Poço 2” investe mais tempo em revelar os bastidores desse sistema, proporcionando ao público uma perspectiva mais ampla da estrutura que rege o poço. Essa escolha adiciona camadas à história, permitindo uma reflexão mais profunda sobre as instituições que perpetuam desigualdades.

 

A cena clássica do racionamento dos alimentos para os presos dentro do poço  Fotos: Divulgação

 

O impacto do visual

Gaztelu-Urrutia mantém sua assinatura estilística, mas eleva o nível de sofisticação visual. A fotografia, assinada por Jon D. Domínguez, é marcada por tons sombrios e composições claustrofóbicas, que ressaltam a desesperança do ambiente. Em contrapartida, cenas que retratam momentos de resistência e solidariedade são banhadas por uma iluminação suave, sugerindo uma fagulha de esperança em meio à escuridão.

A direção também destaca performances intensas, com os atores entregando interpretações visceralmente autênticas. A câmera é usada como um meio de explorar a psicologia dos personagens, aproximando o espectador da complexidade de suas emoções e escolhas.

 

Perempuan (atriz Milena Smit) e Zamiatin (Hovik Keuchkerian) observam o nível inferior ao qual eles estão

 

Um espelho perturbador

“O Poço 2” se consolida como uma obra provocativa que transcende o entretenimento para se tornar um comentário social contundente. O filme faz uma crítica feroz às estruturas de poder e à dinâmica da desigualdade, abordando questões como a falta de empatia, o egoísmo humano e as consequências devastadoras de um sistema que privilegia poucos em detrimento de muitos.

A alusão à luta de classes é evidente, mas o longa também dialoga com temas contemporâneos, como a crise climática e a distribuição injusta de recursos naturais. É impossível assistir à obra sem refletir sobre as desigualdades do mundo real e o papel de cada indivíduo nesse cenário.

Uma sequência necessária

“O Poço 2” é mais do que uma sequência bem-sucedida; é uma obra que expande e aprofunda a proposta do original, consolidando-se como um marco na ficção distópica. Com uma narrativa envolvente, uma direção impecável e um impacto social significativo, o filme é uma experiência cinematográfica intensa e reflexiva. Para além do cinema, sua mensagem é um apelo urgente por mudança em um mundo cada vez mais marcado por desigualdades e injustiças.

Ficha técnica

Gênero: Terror, Ficção Científica

Direção: Galder Gaztelu-Urrutia | Roteiro Galder Gaztelu-Urrutia, David Desola

Elenco: Milena Smit, Hovik Keuchkerian, Óscar Jaenada

Duração: 1h 39min

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Professor de cinema de animação celebra desenho de imprensa

A obra do cineasta André Luis Porto Macedo tem fortes raízes nos quadrinhos, tiras e charges       

Por Vanessa Centeno Ferreira        

 

O professor André Macedo começou sua trajetória fazendo desenhos com cópias em papel carbono                                   Foto: Reprodução/Instagram

 

O professor do Curso de Cinema de Animação do Centro de Artes UFPel, André Luis Porto Macedo, é conhecido como o criador do Betinho e Libório, ambos personagens de tiras e charges muito lidas na região Sul gaúcha. Hoje o seu trabalho também vem ganhando versões audiovisuais, mas é inegável a importância de seu trabalho inicial com quadrinhos, charges e tiras. No ano passado, na Feira do Livro de Pelotas, o personagem Betinho recebeu uma homenagem com a sua escultura ao lado da de Mafalda, criação dos quadrinhos que completou 60 anos.

Em 2006, seu curta-metragem de animação “O jogo do osso” recebeu menção honrosa no Granimado (Festival de Animação de Gramado). Ele também é autor das animações “Irene na Casa do Blau” (2018). “Salada Mista” (2017), “Granmero & Flor” (2016), “Square Down” (2010), “Demoiselle” (2009), e “Melancia e Coco Verde” (2007).

Em uma conversa muito mais que legal, o professor André, natural de Pelotas, do bairro Simões Lopes, lembrou dos momentos da sua trajetória. Quando criança, desenhava amigos, familiares e animais de estimação. Fazia seus desenhos em papel carbono e distribuía para a população e, assim, divulgava o seu trabalho.

 

Uma das tiras com o personagem Betinho Imagem: Reprodução/Instagram

 

Naquela época, era difícil trabalhar em um jornal, mas aos poucos ele foi conquistando um lugar no meio profissional da imprensa. Trabalhou com jornalismo, fazendo tiras de quadrinhos, durante 35 anos. Começou como freelancer para o jornal Diário Popular de Pelotas, que infelizmente fechou suas portas em 12 de junho de 2024, sendo o terceiro mais antigo do Rio Grande do Sul. Desde a sua fundação em 27 de agosto de 1890, o veículo foi o principal jornal diário da Região Sul por anos.

O professor trabalhou com outros jornais simultaneamente, dez anos no Correio do Povo, em Porto Alegre, 15 anos no jornal de Ijuí e realizou alguns trabalhos fora do Estado por um período mais curto, além de jornalista em quadrinhos. Publicou 22 livros, entre eles, a obra mais vendida foi a coleção “Curtas e Grossas do Betinho e do Libório” (1996).  O projeto Garapa, criado em 2002, promoveu a distribuição de edições nas escolas, chegou a bater um recorde nacional, com 400 mil exemplares. A grande maioria dos seus livros foi publicada em quadrinhos.

 

Livro “Carne Viva” aborda complexidade dos grupos sociais

 

O livro “Carne Viva” (2018), com 362 páginas e mais de dois mil desenhos, foi publicado pela editora UFPel. Fala da torcida do time de futebol Pelotas e o contraste de desigualdade social na sociedade. É uma novela gráfica que conta histórias de uma sociedade em ebulição. Mas tudo disposto nas arquibancadas do estádio de futebol Bento Freitas, sede do Grêmio Esportivo Brasil (Xavante). Apesar do vínculo com um clube esportivo, o livro não fala sobre futebol. Toda a narrativa se volta para a natureza humana e para os múltiplos perfis que povoam e se coletivizam no estádio. Outra publicação recente de André foi “Irene: o pão de Mia e a Tuba Velha”, lançada em 2022.

 

Um auto-retrato ilustra a página do Instagram de André Imagem: Reprodução/Instagram

 

Betinho e sua turma

Os personagens Betinho e a sua família são bem conhecidos e fazem a alegria dos leitores pelotenses em tiras e charges. Há também os personagens sugeridos pelas torcidas e times de futebol, que são as equipes pelotenses do Xavante e do Lobo. A inspiração para a criação dos personagens são pessoas que André conheceu ao longo da sua vida nas mais diversas situações. O Libório, por exemplo, tem os pés de alguém que ele conheceu em um dia de inverno, na parada de ônibus para o bairro Pestano, em Pelotas. Com todo o frio, o homem estava de ponche, mas com um chinelão e com o dedão de fora. Esse senhor, visto em um rápido momento, tem a sua lembrança eternizada através do personagem Libório desenhado por André.

 

Libório e sua esposa Jurema garantem diversão com suas histórias

 

O seu Campêlo era dono de um boteco, onde se vendia muitos produtos, desde cigarros até revistas usadas. André costumava comprar ali edições de quadrinhos usadas por vinte centavos. Esse senhor que atendia no estabelecimento também é uma parte da personalidade de Libório.

Já o personagem Betinho é o mais curioso e agitado, pertencente de uma tribo indígena. Recentemente a Prefeitura de Pelotas, através da Secretaria da Cultura (Secult), fez uma homenagem a essa criação com uma escultura em um dos bancos da praça Pedro Coronel Pedro Osorio, inaugurada durante a Feira do Livro do ano passado. André se alegrou muito e disse que isso está contribuindo para a divulgação do seu trabalho pelo mundo inteiro. Betinho está na praça ao lado de Mafalda (personagem criada pelo argentino Quino em 1964).  

 

Mafalda e Betinho são as novas esculturas que integram Centro Histórico de Pelotas Foto: Rodrigo Chagas/Divulgação

 

Esta realização foi por iniciativa da professora Luciane Martins, do Centro de Letras e Comunicação da UFPel, que tem pesquisado a personagem Mafalda. Viabilizadas com recursos de instituições privadas e apoio da Prefeitura, as esculturas marcam os 60 anos da Mafalda e os 40 do curso de Letras, do Centro de Letras e Comunicação da UFPel (CLC). A iniciativa fez parte de um projeto Mundial de Mafaldas, com esculturas em homenagem à menina sexagenária espalhadas pelo mundo.

O professor André ficou muito feliz com a iniciativa da então prefeita Paula Mascarenhas, em 2024, e pelo convite de sua colega no Centro de Letras. O professor continua atuando com narrativas, quadrinhos e cinema, de tudo um pouco, sempre produzindo.

 

Um dos maiores sucessos editoriais do autor traz uma conhecida família de personagens

 

Jornalismo em quadrinhos

O mundo do jornalismo em quadrinhos para alguns leitores leigos pode soar como algo infantil por ter uma linguagem mais simples e mensagens de fácil compreensão. Mas é primeiramente um modo de escrever jornalismo ou apresentar os fatos de uma maneira em que a imagem desenhada e o texto interagem. “É como aquele conhecido provérbio, uma imagem vale mais que mil palavras”.

O início do desenho de imprensa no Brasil teve um pioneiro gaúcho, Manuel de Araújo Porto-Alegre, que fazia charges e caricaturas.  Pode-se fazer, no entanto, uma viagem no mundo do jornalismo em quadrinhos. Essa prática profissional já tem lá seus cento e cinquenta e seis anos de história e foi em 30 de janeiro de 1869 na revista Vida Fluminense que foi publicado o primeiro jornalismo em quadrinhos no Brasil, “As Aventuras de Nhô-Quim”. E o seu criador foi ítalo-brasileiro Angelo Agostini.   Nhô-Quim era um típico representante do homem comum, com suas situações cotidianas e aspectos da sociedade, o autor retratava temas sociais, políticos e culturais do Brasil daquela época.       

 

O personagem Nho-quim de Angelo Agostini  marca o início das histórias em quadrinhos no Brasil

                                                                                                                                  

Apesar do trabalho de Agostini, quem aparece como pioneiro nas reconstituições históricas, geralmente é o norte-americano Richard Felton Outcault, com seu personagem Yellow Kid, criado em 1896. Ele é citado como o primeiro a publicar histórias em quadrinhos no mundo, pois o nosso querido Angelo Agostini não foi considerado como tal pelo fato de suas histórias em quadrinhos não conterem balões, o que caracterizaria esse tipo de jornalismo. Mas há outros precursores de outras nacionalidades. Em 1833, a criação do jornalismo em quadrinhos começou com o suíço Rudolf Töpffer com “Historie de Mr. Jabout” e o alemão Willhelm Busch, com “Max und Moritz”, de 1865, traduzidos no Brasil em 1950 e 1960, respectivamente.

 

Charge “A campainha e o cujo”, de Manoel de Araújo Porto-Alegre     Imagem: Reprodução/Biblioteca Nacional

 

Presença rio-grandense

No jornalismo desenhado, há o gaúcho Manoel de Araújo Porto-Alegre nascido em 1806 na cidade gaúcha de Rio Pardo. Ele começou estudando pintura e desenho aos 16 anos de idade, momento que adota o sobrenome Porto-Alegre em referência ao estado que nasceu. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1827, ingressando na Academia Imperial de Belas Artes, onde estudou com o francês Jean-Baptiste Debret. Em 1831, viaja com Debret para a Europa, tendo lições com outros grandes mestres da França, da Itália, da Inglaterra e da Bélgica. Por lá conheceu as publicações humorísticas de caricaturas políticas que circulavam no continente.

Ao regressar ao Brasil em 1837, Porto-Alegre publica no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro. A charge intitulada “A campainha e o cujo” era uma crítica contra a prática do governo de cooptar jornalistas para trabalhar no Correio Oficial.

Assim como Porto-Alegre, o professor André, atualmente é uma inspiração para quem sonha em trabalhar com animação, jornalismo em quadrinhos, tiras ou charge. Ele ainda vivenciou a época antes da internet, em que as publicações impressas eram a maior oportunidade para os desenhistas, embora com limitações. Ele foi para além disso, e seu sucesso sempre está em saber observar o cotidiano, a cultura local e expressar suas vivências e pontos de vista através dos quadrinhos.

Veja os links para acompanhar os trabalhos de André Macedo:

Instagram, Youtube, Facebook e Site.

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Parabéns André Luis ! Meu sobrinho querido mereces todo o sucesso e homenagens recebidas.Fi fizeste por merecê-las com teu talento e criatividade. Fico muito feliz quando leio sobre tua trajetória brilhante. Nossos queridos no mundo espiritual devem também estar orgulhosos do teu sucesso. Te amo e não esqueço da tua infância quando morávamos juntos, às vezes, com tuas travessuras, deixavas tua mãezinha preocupada e nós também. Tua história é um exemplo de que, quando se tem um sonho, não há dificuldade que nos faça desistir dele. És um vencedor! Quem sabe a gente um dia se encontra ainda nesse plano, se não der, será no mundo espiritual. Recebe o meu carinho. Bjo.

Zeila Macedo de Lima

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Festival premia curtas e videoclipes em Bagé

Mostra Regional da Fronteira teve cerimônia de premiações no sábado

 

Centro Histórico Vila de Santa Thereza sediou encontro de cinema e  trouxe de volta à cidade Baile no Tempo das Marchinhas                                Foto: Anderson Coka

 

A Mostra Regional do XVI Festival Internacional de Cinema da Fronteira reuniu em Bagé, na semana passada, de 6 a 8 de fevereiro, vários cineastas gaúchos. Na noite de sábado, foram anunciados os vencedores das mostras competitivas de curtas-metragens e videoclipes. O festival aconteceu no Centro Histórico Vila de Santa Thereza e trouxe de volta à cidade o tradicional Baile no Tempo das Marchinhas. Dentre os premiados, estiveram os representantes de Pelotas, Eduarda Barcelos, Gabriel Leão,  Edneia Brazão,  Gabriel Alonso  e Roberta Silva.

 

Videoclipe pelotense “Menino” recebeu Menção Honrosa   Foto: Roberta Tavares/Divulgação

 

“Chibo”, produção de Tiradentes do Sul, de Gabriela Poester e Henrique Lahude, foi eleito o melhor curta da Mostra Regional. Da cidade de Novo Hamburgo, “Pastrana”, de Gabriel Motta e Melissa Brogni, recebeu melhor direção e melhor filme pelo júri popular. Outro destaque foi “Intragável Vinho Tinto”, de Uruguaiana, que levou os prêmios de direção de arte e o Prêmio Bolsa AIC (Academia Internacional de Cinema). Os vencedores entre os videoclipes foram “Farol”, de Jonathan Pereira (Santa Maria), melhor videoclipe do evento; e os pelotenses “Kiss On The Cheek”, de Gabriel Alonso, eleito melhor videoclipe segundo o júri popular e “Menino”, de Roberta Silva, que recebeu menção honrosa.

 

                                      O filme “Chibo”, representante de Tiradentes do Sul foi escolhido o melhor curta-metragem                                       Foto: Gabriela Poester/Divulgação

 

 

A jurada Drika Collares  entrega Menção Honrosa para atriz Edneia Brazão             Foto: Ana Paula Ribeiro

 

“A mostra volta às suas origens, que é a celebração da identidade e do pertencimento em um momento de retomada da cidade e de encontro com a cultura popular”, acredita Zeca Brito, secretário de Cultura do município. “É a afirmação de que a tecnologia pode caminhar junto com a memória e a vontade da população”, conclui. O júri de curtas foi formado por Drika Collares, Flávia Rocha e Maria Samara, enquanto os jurados da categoria de videoclipes foram Guilherme Monteiro, Lucas Barros e Negra Jaque.

 

A entrega dos  prêmios  da Mostra Regional da Fronteira aconteceu no sábado        Foto: Ana Paula Ribeiro

 

A Mostra Regional da Fronteira é uma realização da Associação Pró Santa Thereza. A promoção é da Prefeitura Municipal de Bagé através da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio institucional do Instituto Federal Sul Rio-grandense (IFSul), Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp), Universidade Federal do Pampa (Unipampa), e Jornal Minuano. O evento é realizado com recursos da Lei Complementar 195/2022, Lei Paulo Gustavo, apresentado pelo Ministério da Cultura, Governo Federal, e financiado pelo IECINE, Pró Cultura RS e Secretaria da Cultura do Estado do RS.

Premiados:

Categoria Curtas-Metragens

Melhor Direção de arte: João Chimendes e Felipe Oliveira, por “Intragável Vinho Tinto” (Uruguaiana)

Melhor montagem: Eduarda Barcelos e Gabriel Leão, por “Em Nome da Rua” (Pelotas)

Melhor fotografia: Lucas Heitor Beal Sant’Anna, por “A Grande Torre” (Dois Irmãos”, Ivoti, Porto Alegre)

Melhor roteiro: Boca Migotto, por “Janeiro” (Porto Alegre)

Melhor Atuação: Clemente Viscaíno, por “Janeiro”

Melhor Direção: Gabriel Motta e Melissa Brogni, por “Pastrana” (Novo Hamburgo)

Melhor filme: “Chibo”, de Gabriela Poester e Henrique Lahude (Tiradentes do Sul)

Prêmio Bolsa AIC (Academia Internacional de Cinema): João Chimendes, por “Intragável Vinho Tinto”

Menção Honrosa para Carmen Moreira, por “Átila Sá Siqueira: um nome para lembrar” (Bagé)

Menção Honrosa para atuação de Edneia Brazão, por “Não tem Mar nessa Cidade” (Pelotas)

Melhor Filme Júri popular: “Pastrana”, de Gabriel Motta e Melissa Brogni

Categoria Videoclipes

Melhor Videoclipe: “Farol”, de Jonathan Pereira (Santa Maria)

Melhor Videoclipe Júri Popular: “Kiss On The Cheek”, de Gabriel Alonso (Pelotas)

Menção Honrosa: “Menino”, de Roberta Silva (Pelotas)

Visite a página do Instagram da Mostra.

 

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