Produção feita no estado do Tocantins recupera a história de vida de João Carlos Haas Sobrinho, médico desaparecido durante a ditadura militar

Formado na UFRGS, João Carlos atuou junto às comunidades camponesas sem assistência Fotos: Divulgação
Nos dias 24 e 25 de junho, será exibido no YouTube o documentário “Doutor Aruaguaia”, com a história de João Carlos Haas Sobrinho, um dos desaparecidos durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Ele ousou em lutar por justiça em tempos de silêncio e medo. A disponibilidade on-line do documentário será em homenagem ao seu aniversário. Será exibido no canal do YouTube @TGEconomiaCriativa, resgatando a memória do médico desaparecido pela ditadura e eternizado como símbolo de coragem, solidariedade e resistência.
Produzido no Tocantins e dirigido por Edson Cabral, o filme resgata a trajetória do jovem gaúcho que trocou os consultórios da elite por um hospital improvisado no interior do Maranhão e, mais tarde, se tornou o médico da Guerrilha do Araguaia, até ser morto pelo regime militar em 1972. Seu corpo nunca foi encontrado.
Um dos destaques do filme é a trilha sonora original, com composições interpretadas por artistas do Tocantins. Entre elas, emociona especialmente a “Canção das Forças Guerrilheiras do Araguaia”, na voz potente de Nacha Moretto e Jorge Menares. Igualmente o filme conta com músicas gaúchas, de Raul Ellwanger e arranjo de César Haas.

A luta de Sônia Maria Haas pela memória do seu irmão foi uma inspiração para o documentário
Reconstituição da história
Se estivesse vivo, João Carlos Haas completaria 84 anos no dia 24 de junho e teria salvo ainda mais vidas, destaca Sônia Haas, irmã do médico. “Conforme a apuração e as entrevistas feitas para o filme, descobrimos que João pôde, mesmo com recursos precários, cuidar e salvar um número incontável de vidas entre 1964 e 1972. Sua atuação fez com que fosse amado e respeitado pelos camponeses que, além da pobreza, também sofriam diretamente com as arbitrariedades e descaso do regime de exceção”, destaca.
Com gravações realizadas em São Leopoldo, Porto Alegre, São Paulo, Porto Franco, Xambioá, Palmas e Salvador, o filme é um mergulho na vida de João Carlos. Produzido pela TG Economia Criativa e MZN Filmes, o projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e conta com apoio cultural das Prefeituras de São Leopoldo (RS) e Porto Franco (MA), além do apoio institucional da Fundação Maurício Grabois.
Ao longo de 36 meses de produção, a obra reúne depoimentos emocionantes de pacientes, ex-guerrilheiros, camponeses, amigos, estudiosos e lideranças políticas como José Genoíno, Jussara Cony e Zezinho do Araguaia. Mas é a presença firme e comovente de Sônia Maria Haas, irmã de João Carlos, que conduz a narrativa. Ela tornou-se colaboradora e inspiração para o diretor do documentário, pois dedica-se há quase cinco décadas, à busca pela verdade sobre o irmão desaparecido. Junto com seu companheiro Odilon Camargo, ela tornou-se uma grande amiga do diretor. “A amizade com Sônia e Odilon foi um divisor de águas para este projeto. O amor deles pelo João Carlos ajudou a transformar dor em memória e saudade em resistência”, destaca Edson Cabral.
A estreia no YouTube acontecerá em 24 e 25 de junho, e os interessados poderão assistir gratuitamente nesses dois dias. Depois disso, o link ficará como não listado e só poderá ser acessado mediante solicitação à produção pelo email: ecabral.to@gmail.com.
Além da exibição virtual, o filme já teve estreias presenciais em diversas cidades do Brasil e do exterior, incluindo uma primeira sessão especial em São Leopoldo, no Shopping Bourbon, com debate com o diretor e Sônia Haas. Houve sessões especiais em Porto Alegre, na Sala Redenção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Também foi produzida um livro de história em quadrinhos com a reconstituição da vida de João Carlos, com autoria dos ilustradores Diego Moreira e Gabriel Kolbe, lançado em 2023.
Para marcar a data, o canal convida grupos, coletivos, escolas e instituições em diferentes pontos do Brasil e do exterior a organizarem exibições públicas, registrando o momento com fotos, vídeos e depoimentos nas redes sociais. “A proposta é criar uma corrente de memória coletiva, dando visibilidade à luta de João Carlos e de tantos outros invisibilizados pela repressão”, ressalta Cabral.

Livro em linguagem de histórias em quadrinhos foi lançado em 2023
Sobre João Carlos Haas
Nascido em São Leopoldo (RS), João Carlos teve formação jesuíta, brilhou como estudante da UFRGS e foi presidente do centro acadêmico. Após o golpe militar, foi preso por sua liderança estudantil e, ao sair da prisão, iniciou uma trajetória de dedicação à medicina social. Viveu em Porto Franco (MA) e Xambioá (TO), onde salvou centenas de vidas com atendimento gratuito e humanizado bem antes da criação do SUS.
Seu engajamento político se intensificou: participou de treinamentos na China e, com o codinome “Dr. Juca”, atuou como o único médico da Guerrilha do Araguaia. Foi morto em 30 de setembro de 1972 em confronto com o Exército. Seu corpo nunca foi localizado. Em 2019, sua família obteve o reconhecimento oficial do Estado brasileiro como responsável por seu assassinato.
Para mais informações sobre o documentário acesse o Portal do Cinema Gaúcho.
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