Remake de “Lilo & Stitch” revela falta de criatividade dos estúdios Disney

Lançado em maio, novo filme da empresa não consegue atingir a magia da animação original     

Por Vinicius Terra     

 

Filme mostra amizade entre a pequena Lilo e seu alienígena de estimação, Stitch     Fotos: Disney/Divulgação

 

“Lilo & Stitch” (2025) é uma nova versão da Disney do filme homônimo de 2002. Dirigido por Dean Fleischer Camp, reconta a já conhecida história de um alienígena, Stitch, criado pelo cientista Jumba. Após o experimento mostrar conduta errática, a Federação Galáctica decide por exilar Stitch, que foge em uma nave e cai no planeta Terra, mais especificamente na ilha do Havaí. Jumba e Pleakley, um entusiasta sobre o planeta, são ordenados a capturá-lo. No Havaí, duas irmãs, a pequena Lilo e a mais velha Nani, precisam lidar com a morte precoce de seus pais, e Nani precisa manter a vida em ordem em meio ao caos para não perder a guarda de Lilo. Preso em um abrigo de animais, Stitch é adotado por Lilo, que, por conta de sua inocência, acredita que seja um cachorro. Em um filme sobre família, os dois, Lilo e Stitch, aprendem juntos e se divertem pela ilha.

O filme conta com um diretor novo na cena, Dean Fleischer Camp, que já havia impressionado ao ser indicado ao Oscar de Melhor Animação pelo lindíssimo stop-motion “Marcel the Shell with Shoes On”, de 2021. Mesmo assim, “Lilo & Stitch” parece faltar com a originalidade e marca autoral do diretor e, ainda que com cenas mais saturadas e coloridas, não há elementos de destaque para a direção nos enquadramentos. Ao longo do filme, é possível perceber uma certa ruptura entre os interesses de manter como no original e de trazer algo mais atualizado. Dessa forma, é impossível assistir ao filme e não comparar com seu material base, “Lilo & Stitch” (2002).

Nas primeiras cenas, as imagens geradas por computador (CGI – Computer-Generated Imagery) incomodam ao mostrar alienígenas exóticos, ao mesmo tempo em que estão em busca pelo realismo. Isso levanta uma discussão antiga para quem acompanha cinema e os remakes da Disney, que desde “Cinderela” (2015) já contabiliza 19 filmes live-actions baseados em alguma das suas franquias. Isto é, observa-se se que o que já existe em desenhos animados nem sempre funciona na realidade simulada da tecnologia CGI. E isso comprova-se uma verdade para “Lilo & Stitch” como nenhum outro filme, já que ele aborda raças de alienígenas, naves espaciais, proporção dos corpos dos personagens e, além da modelagem, questões intrínsecas ao estilo visual original. Não é possível afirmar se o que poderia funcionar é a retirada de alguns elementos fantasiosos, que essa produção também faz, ou a adaptação fiel de todas as cenas, mas o que é possível é analisar o filme em questão. Com certeza, há algo fora do tom em “Lilo & Stitch” (2025) que o deixa pasteurizado e sem o senso de comicidade original.

De certa forma, esta nova versão mostra a atemporalidade da animação ao trazer novamente algumas temáticas, como a relação entre ser bom e ruim, tanto visto em Stitch, mas também visto na Lilo, que por conta de suas atitudes, acaba sendo colocada nesse lugar por seus colegas e professores. Na trama, as irmãs possuem uma vizinha mais velha também, Tutu, que ajuda quando Nani precisa sair para trabalhar, assim como David, que desde o início se mostra interessado romanticamente por Nani. Tutu, surge como uma figura protetora para as duas garotas, de uma tal maneira que tira um pouco do senso de irmandade que elas possuíam no filme original.

A representação da união entre as irmãs, contudo, ainda é o valor mais forte dessa história, mostrando que as tensões realmente partem do medo da Nani de perder Lilo, como no momento em que ela quase se afoga, na possibilidade de serem separadas pela assistência social e ao final do filme. Essa tensão desse filme parece ser maior do que na animação anterior, porque antes tratava-se de representações mais abstratas dos humanos. Neste, estamos vendo humanos passando por essas situações de uma forma mais realista.

 

A principal temática da nova versão cinematográfica ainda é a ligação das duas irmãs 

 

Algo que gera estranheza é o fato de Pleakley e Jumba passarem mais da metade de suas passagens pelo filme utilizando um dispositivo que os deixa parecidos com humanos. Ainda que surjam novas cenas de humor a partir dessa mudança, perdemos um pouco da essência desses personagens excêntricos, completos alienígenas, que tentam se inserir na vida humana por meio de acessórios, perucas, chapéus e roupas. Por mais que essas mudanças certamente tenham ocorrido para eliminar o CGI bizarro do meio das cenas principais, paira no ar a dúvida se através das modificações estamos perdendo a magia do que estava na história original.

Mesmo que ancorado em uma história forte de amor e família, o filme não consegue agradar visualmente e nos faz pensar como a indústria vem, cada vez mais, trazendo apenas tentativas de reproduções de seus feitos anteriores. Com uma arrecadação de mais de 850 milhões de dólares no mundo todo, no entanto, parece que a Disney está disposta a manter esse modelo para garantir o lucro anual da empresa. Apesar da resenha desesperançosa, ainda vale a pena conferir “Lilo & Stitch” nos cinemas para matar saudades de personagens queridos e iconizados na cultura pop.

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