Autora inova na forma de escrita e garante experiência única de leitura
Por Samantha Beduhn
O livro de ficção “Daisy Jones and The Six: Uma história de amor e música” conta a história de uma banda de rock da década de 1970 que se separou abruptamente no auge do sucesso. A autora Taylor Jenkins Reid usou uma linguagem de documentário para dar vida ao enredo, dando a possibilidade de saber a versão de todos os envolvidos nos acontecimentos. Lançado em 2019, nos Estados Unidos, o livro venceu o prêmio Goldsboro Books na categoria Glass Bell Award já no ano seguinte. E também ganhou uma adaptação para o Amazon Prime Video em 2023.
A autora Taylor Jenkins Reid (39) é conhecida pelo best-seller “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, de 2017, que conta a história de uma atriz dos anos 1950 e seus sete casamentos. Na sequência, ela publicou os livros “Daisy Jones and The Six”, “Malibu Renasce” e “Carrie Soto está de volta”. Todos fazem parte do universo de celebridades criado por Reid e cada história se passa em uma década diferente. Ao todo a autora norte-americana possui oito livros publicados e um conto. Ela é conhecida por uma narrativa envolvente e dinâmica, com conteúdos que levam a reflexões.
Em Daisy Jones and The Six a composição de enredo e documentário trazem diversas alusões ao contexto do movimento e gênero musical rock’n roll das décadas de 1970 e 1980. A autora teve inspirações musicais para construir a narrativa de acordo com as minúcias da época. Entre elas, a banda Fleetwood Mac que gravou seu álbum de maior sucesso nos anos de 1970 após a chegada de dois novos vocalistas, Lindsey Buckingham e Stevie Nicks. Eles tinham um relacionamento amoroso e lembram os protagonistas da história literária Daisy e Billy. Já o duo The Civil Wars, com Joy Williams e John Paul White, inspirou o fim inexplicável da banda após vencer o prêmio Grammy.
O universo musical foi bem construído, com referências a locais frequentados por músicos em Los Angeles, as dificuldades da carreira, as intrigas neste meio, os acontecimentos históricos daquela época e principalmente o abuso de drogas. Daisy Jones começou o seu vício em entorpecentes ainda na adolescência como forma de suprir uma carência afetiva por parte de seus pais. É importante analisar que a história é contada no futuro, quando a mocinha tem ciência do mal que fez para si. O caso de Billy já é diferente, o abuso de drogas começou junto com a carreira e mostra a forma como isso era comum na época. Após a sua filha nascer, o protagonista começa a se tratar e a lutar constantemente com as tentações ao seu redor. O amor de Billy e Daisy começa com a expectativa de que “os opostos se atraem”. Mas a história sai do tradicional romance cão e gato quando é maior a vontade dele de se redimir com a esposa do que o amor pela colega de banda.
Camila, a esposa de Billy, se mostra uma mulher forte desde o começo quando deu apoio total para o marido e a banda. É possível que ela tenha sido uma das personagens que mais sofreu, já que o marido a traiu sem qualquer pudor durante a primeira fase da banda. Após o seu tratamento, Billy tentou se redimir pelos erros cometidos, inclusive estava disposto a abrir mão de seu amor por Daisy para ficar com a Camila e as filhas. Contudo, é difícil saber ao certo qual seria sua atitude se a vocalista tivesse permanecido na banda, ao invés de sair praticamente em fuga, após Camila lhe pedir isso em uma conversa.
Os personagens secundários também possuem ótimos desenvolvimentos, o guitarrista solo e a tecladista, Graham e Karen, formam um casal surpreendente do início ao fim e, durante toda a narrativa, foi possível notar que um amava mais do que o outro. Já Eddie, o guitarrista base, é o personagem chave para mudar a experiência da leitura com os seus comentários opostos aos dos outros integrantes e sempre com “alfinetadas” direcionadas a Billy. Há quem diga que ele tem inveja da fama de Billy, mas também tem aqueles que o consideram injustiçado. Já Pete, o irmão de Eddie e baixista, é o integrante que se afastou da música e não quis participar do documentário, assim se parecendo com situações típicas da produção de documentários reais. E o Warren, o baterista, talvez seja o personagem menos interessante, pois serve apenas para dar uma direção sobre o que realmente ocorreu em meio a tantas versões dos mesmos fatos.
Neste ano, foi lançada a série de “Daisy Jones and The Six” com dez episódios na Amazon Prime Video. A produção deu vida não somente à história do livro, mas também às músicas que os protagonistas compuseram com base em seus próprios sentimentos e que entregam mais uma forma de se enxergar os fatos narrados pelos personagens. Mesmo com composições diferentes, tanto na série como no livro, as músicas contam o romance nunca concretizado de Daisy e Billy, e também reforçam a ótima construção do rock que é tão marcante nessa obra.
Para os fãs do clássico rock’n roll essa obra é um excelente entretenimento, a leitura é rápida já que o formato de documentário possui apenas falas. Vale ressaltar que os documentários são populares no meio musical e isso torna ainda mais real a sensação de que “Daisy Jones and The Six” existiu.
Apesar de ser uma história que se passa durante muitos anos de forma rápida, a narrativa é bem construída com acontecimentos coerentes com a época, com o contexto musical e com os personagens. O romance causa um incômodo por conta das traições, mas o final consegue corrigir isso com a união dos mocinhos que recebem a benção de Camila antes de morrer. A grande revelação da jornalista por trás do documentário também é um ponto alto, a ideia de que a própria filha de Billy levanta a dúvida se o protagonista foi inteiramente sincero em relação à Daisy e Camila. Por todos esses motivos, a experiência de leitura é diferente para cada leitor, cada um pode ter a sua própria opinião sobre a história e a verdade por trás dela.
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