“053 só falo uma vez, nois sabe quem é, nois sabem quem fez”
Rio Grande é a cidade natal dos artistas Matheus Perazo e Dizéro, que criaram juntos a faixa “053”. Este número faz referência ao código de telefone do município mais antigo do Rio Grande do Sul, na região Sul do Estado, em que os músicos residem até hoje. A composição tem o objetivo de trazer o sentimento de representatividade musical para o Estado. A vontade é evidenciar todo o potencial artístico e de resistência que existe na região, que, por muitas vezes, é mal representada dentro da cena do rap brasileiro, contribuindo para que haja uma exclusão da produção artística de vários artistas negros do Estado.
Além das questões de identificação, “053” traz o estilo clássico do hip-hop em um instrumental com sample, contrastando com um BPM alto, uma bateria rápida e 808s potentes, misturando o clássico e o atual para trazer uma sonoridade nova.
Matheus Perazo, além de rimar na faixa, também marca autoria na produção do instrumental e pela mixagem e masterização de forma independente. Dizéro é conhecido na cena rio-grandina pela criação do evento Rap Contra o Frio, que ganhou sua sétima edição em 2022. A atividade busca fomentar a curadoria de artistas da região, oferecendo espaço para apresentação musical, de dança e grafitti, contemplando os quatro elementos do hip-hop.
Em “053”, Dizéro e Matheus Perazo deixaram que as rimas fluíssem em um embate constante com o instrumental, em que as viradas se tornam desafiadoras para qualquer MC. O videoclipe foi dirigido pela empresa de audiovisual Polvo, trazendo a cidade de Rio Grande em uma estética mais direta, com o evento de rap Batalha do Cassino.
Os dois músicos começaram a trabalhar juntos em 2022. “053” é a sua segunda parceria, a primeira foi em “Aurora”, a música tema do 7º Festival do Rap Contra o Frio.
Matheus Perazo comentou a produção em conjunto com Dizéro em entrevista para o site Arte no Sul:
Arte no Sul – O que motivou a parceria?
Matheus – Eu já conhecia o trabalho do Dizéro antes de começar a trabalhar efetivamente com rap. Ele é da “velha escola” do rap rio-grandino. O ano de 2022 foi quando nós tivemos o primeiro contato por conta do festival Rap Contra o Frio, em que eu fui contratado para fazer a gravação das vozes para a música tema “Aurora”, e que, posteriormente, para a minha surpresa, motivou o convite para fazer parte do som como MC. O processo de criação, com tantas pessoas envolvidas, desde a produção ao videoclipe, (foram pelo menos 10 pessoas!) é bem extenso e, consequentemente, fez com que a gente tivesse contato quase que diariamente. Isso fez com que nós nos identificássemos um com o outro e tivéssemos vontade de continuar trabalhando juntos após a conclusão de “Aurora”, como de fato aconteceu. Eu enviei o instrumental de “053” para ele e Dizéro retornou com a letra pronta no mesmo dia. O resto é história.
Arte no Sul – As letras falam de quem tem dificuldades de conquistar um espaço no meio social e artístico?
Matheus – “053”, acima de tudo, fala sobre autoestima pra quem é do Sul. O rap é o gênero mais consumido no mundo e no Brasil e ele é protagonizado por artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou como nós chamamos: “O eixo”. Eles têm o protagonismo, uma maior facilidade para chegar em evidência por ter uma estrutura estabelecida. E é normal que alguns artistas usem isso como referência para a própria produção artística, o que, na minha opinião, é uma estratégia de alto risco. “053” é uma música que em sua essência diz: “Nós não precisamos ser eles para sermos ouvidos”. Nós, aqui do Sul, temos nossa própria maneira de se comunicar e é aí que mora nossa maior potência, nós somos diferentes deles, e isso é bom.
Arte no Sul – Quem de fato está sendo representado na música, os cantores de rap ou o público que houve rap?
Matheus – Primeiramente o hip-hop no sul do Brasil. Em segundo lugar, as pessoas daqui.
Arte no Sul – Como tem sido o contato de vocês com o público?
Matheus – Pelo fato de que o Dizéro está morando em Pelotas e eu em Rio Grande, ainda não conseguimos fazer uma apresentação da música juntos, então nos últimos três shows que fiz, fiz sozinho. Mas tem sido bem legal a receptividade, tanto em show quanto online, muita gente de fora da minha bolha veio falar que gostou muito do som e do clipe.
Arte no Sul – Como a gravação de um clipe soma para manter ou aumentar a conexão com o público?
Matheus – Tenho pra mim que um videoclipe é uma ferramenta para ampliar os sentidos das obras. O videoclipe de “053” carrega uma estética de imagem “crua” e, muitas vezes, até um pouco nostálgica, gravado inteiramente pelas ruas de Rio Grande, reforçando ainda mais a nossa ligação com o lugar de onde viemos.
Arte no Sul – Como vocês batalham para manter a autenticidade do rap rio-grandino?
Matheus – Sendo nós mesmos. Rio grande é uma potência artística muito forte, em vários segmentos, mas que por falta de incentivo e de estrutura, os artistas acabam tendo sua voz diminuída. Projetos como o Rap contra o frio e produções como “053” são necessárias pra pensar novas alternativas para a construção de uma arte que fale mais da gente.
Para mais informações sobre os próximos lançamentos de Matheus Perazo acompanhe as redes sociais, no Instagram: e Youtube.
Ficha técnica do clipe “O53”:
Produção: Polvo
Roteiro, direção e montagem: Jean Amaral e Matheus Perazo
Fotografia: Pâmela Rodrigues
Música:
Voz: Matheus Perazo e Dizéro
Produção musical: Matheus Perazo
Captação de voz: Matheus Perazo
Mixagem e masterização: Matheus Perazo
Veja a letra de “053”:
Matheus Perazo
Ame ou odeie, hoje não faz a menor diferença
Sempre soube que eu era diferente
Dona Ana sabe, desde nascença
Flow com febre, espalhei a doença
Assisto vocês e parece reprise
Novo Drake, Novo Thug, Novo yeezy
Olha meu bolso, deve ter uns 20
Mão fechada não recebe o prato,
Colher, faca ou garfo, nem senta com nois
Na mistura, Dizéro e Perazo
Resto tá abaixo igual água e óleo
Meu estilo é sempre ofensivo,
Eles se ofendem, só jogo no ataque
Ambidestro, escrevo com as duas
Uma é Hiroshima, outra Nagasaki
Faço por quem representa a cultura, a vera
Não por quem atrás da tela, é novela, o clone
Pelas crianças e pelos líderes fora da cela
Eu colei na tua área e nem sabem teu nome
Essa é por quem honra a terra das calçadas frias
E faz a chapa esquenta mesmo abaixo de zero
Quem chega junto e também sabe que é a nossa vez
Levanta o braço e grita alto zero cinco três
Refrão
Matheus Perazo e Dizéro
053, só falo uma vez
Nós sabe quem é, nós sabe quem fez
053, só falo uma vez
Nós sabe quem é e não foi vocês (2x)
Dizéro
(Dizéro a cem baby, made in cdn, yeah, okay)
Sem pressa andando na fé
Me inspiro em todo céu azul (céu azul)
Meu império continua em pé
Essa fita é tipo deja-vu
Desses deja-vu eu ja vi
Visão slow tipo Pimp C
Muitos caras derrubando prédio
Morrendo na praia, falsos Mc’s
Passam os dias, passam as semanas
Todos eles tão atrás de fama
O problema de quem foca em grana
Se não bate as nota, bate neura e drama
Essa parada me fez forte
Pra nos pegar tem que ter sorte
Proteja a cabeça com a Tork
Perazo no beat é tipo Storch
Elevando a potência
Na pura malevolência
Essa porra é minha essência
Fonte de resiliência
Eu boto fé na ciência
Cultura me fez elevar a vivência
Cruzando os dedos, metendo a sequência
Que nós vai vencer com talento e insistência
Eles não mandam tão bem
Não fazem isso também
O fato é que isso vai além
Do que ganhar alguns bens
Eu também quero uma Benz
Mas quero mais do que bens
Se tiver bom para nós
Então aí tudo bem (É isso)
Refrão
Matheus Perazo e Dizéro
053, só falo uma vez
Nós sabe quem é, nós sabe quem fez
053, só falo uma vez
Nós sabe quem é e não foi vocês (2x)
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