Vozes do Silêncio: a invisibilidade do indivíduo negro no sul do Brasil

Por João Pedro Cardozo Macedo    

Artista pelotense roteiriza curta-metragem que apresenta seu novo álbum musical

                         Zudizilla é considerado principal rapper gaúcho da atualidade               Foto: Divulgação 

Março de 2022 foi um período de muitos lançamentos para o rapper pelotense Zudizilla, com o álbum “Zulu: de César a Cristo (Vol. 2)”, segundo da trilogia Zulu, processo que ele vem trabalhando desde 2019. O filme curta-metragem “Vozes do Silêncio” complementa o álbum lançado este ano e tem como tema a invisibilidade da negritude no Rio Grande do Sul, pauta muito abordada pelo artista em suas obras.

Roteirizado pelo próprio Zudizilla, o curta conta com o apoio da Natura Musical e foi financiado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, com inúmeros artistas no elenco e com a participação especial da pesquisadora Winnie Bueno. O filme conta com poucos diálogos e com closes fechados, o que valoriza muito o trabalho dos atores Agnes Mariá, Dona Conceição, Faylon Lima e Lucas Khallid. Temas como violência policial, desigualdade social e ser reconhecido em seu espaço foram pautas bastante aprofundadas no curta.

Apesar de ser um filme complemento do álbum, a trilha sonora foi feita apenas com instrumentais das músicas da obra, com a voz de Zudizilla sendo ouvida apenas no final do curta, o que acabou gerando certo impacto negativo, já que as letras ajudariam a fortalecer a ideia do filme. Muitas simbologias utilizadas também são pontos importantes da obra, como quando é falada a frase “Só não tinha preto” em determinada cena. Esta frase é colocada no mudo quando dita, podendo ser reconhecida apenas pelo movimento da boca e pela legenda do filme, e não há nada mais explicativo do que tornar a invisibilidade do povo preto no Sul como algo que não pode ser ouvido.

Outra cena que chama bastante atenção é a de uma mão deixando cair um prato com quindim no chão e o prato se quebrando. Logo após esta cena, os personagens de Agnes Mariá e Faylon Lima acabam discutindo sobre Pelotas, a cidade do doce e que, de doce, ela não tem nada. Agnes ainda faz uma crítica ao quão importante é ela estar no meio de manifestações do povo preto, afinal ela ainda tem necessidades e precisa de dinheiro para sobreviver. É interessante citar os nomes dos personagens falados neste diálogo: Zulu, César e Maninho. Separados no curta, eles fazem parte do indivíduo Zudizilla, que dá um pouco do seu modo de ser a cada um deles.

O filme é um curta que merece ser visto mais vezes para ser melhor entendido, e de preferência é bom ouvir “Zulu: de César a Cristo (Vol. 2)” para ter uma ideia melhor do que significam estas obras. No final do filme, os personagens chegam a uma conclusão do que fazer para serem reconhecidos em meio a um espaço que os invisibiliza, e a mensagem deixada é a mesma que inicia o filme: “A gente TEM que sair daqui”.

Sobre Zudizilla

Zudizilla é um rapper, designer, roteirista e artista gráfico pelotense que para poder viver da música teve que se mudar para São Paulo. Com um repertório vasto de três álbuns bem aclamados pelo público: “Faça a Coisa Certa”, “Zulu, Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Deixar o Chão” e “Zulu: de César a Cristo (Vol. 2)”, o rapper nascido e criado no bairro Guabiroba sempre procura trazer suas origens para a música com pautas que precisam ser ditas e ouvidas pela sociedade. O artista é um dos maiores nomes artísticos hoje no Rio Grande do Sul, sendo reconhecido por grandes nomes da música e do rap nacional, como o rapper de São Paulo, Emicida, com quem já tem uma música em parceria.

Ele e sua esposa, a cantora baiana Luedj Luna, vivem em São Paulo com seu filho Dayo. Mesmo assim, Zud sempre procura pelo menos uma vez ao ano aparecer em Pelotas e fazer um show para a sua gente. O artista já está trabalhando no último álbum da trilogia Zulu e espera-se que mais uma obra-prima seja feita pelo rapper pelotense.

Veja o filme neste link

Ouça o álbum neste link

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