“Pachinko” marca sucesso de filmes com temas sul-coreanos

Por Andrea Cardoso da Silva      

O país vem difundindo sua arte nos últimos anos e em 2021 investiu cerca de R$ 31 bilhões em cultura, turismo e esporte

A série retrata a paixão proibida vivida entre Sunja e Hansu e suas consequências                  Foto: Divulgação.

Há dez anos, em 2012, o cantor sul-coreano PSY emplacou o hit musical “Gangnam Style”, e desde então, as produções do país começaram a cada vez mais fazer parte do dia a dia do público em geral. Hoje, em 2022, a Coreia do Sul vem conquistando a todos, com filmes como “Parasita”, vencedor do Oscar de 2020, e séries como “Round 6”, e mais recentemente “Pachinko”, da Apple TV+.

Não é de hoje, no entanto, que o país percebeu que investir em cultura poderia ser algo poderoso. Segundo uma matéria da Istoé Dinheiro, a Coreia do Sul vem injetando grandes quantidades de dinheiro em suas produções culturais desde 1990, o que explica como o Produto Interno Bruto (PIB) do país triplicou entre 2000 e 2018, passando de U$ 500 bilhões para U$ 1,5 trilhão, de acordo com dados do governo coreano.

Conforme o Ministério de Economia da Coreia do Sul, o país investiu R$ 31 bilhões em cultura, turismo e esporte em 2021. Enquanto isso, no Brasil, no mesmo período, segundo o Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, o investimento foi apenas de R$ 2,2 bilhões.

“Pachinko”

Mesmo que Pachinko” seja, na verdade, uma produção norte-americana, é uma prova que os investimentos sul-coreanos na cultura estão dando certo, com a difusão mundial de sua história, arte e artistas, no caso representados pelo cinema e literatura. Criada por Soo Hugh e dirigida por Kogonada e Justin Chon, todos ásio-americanos, a série é uma adaptação do livro homônimo de Min Jin Lee, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca. A produção estreou em 25 de março e sua primeira temporada foi finalizada com oito episódios, de cerca de 55 minutos de duração cada.

A série conta a história de várias gerações de uma mesma família coreana, que imigrou para o Japão no início do século XX. A trama gira em torno de Sunja, uma adolescente humilde que se envolve com um homem mais velho, o misterioso Koh Hansu. Dessa paixão, a jovem engravida, mas ao descobrir que Hansu é casado, ela o renega e acaba se casando com Baek Isak, um pastor que chega doente na pensão que ela e sua mãe gerenciam. Sunja então parte para o Japão, para tentar uma vida melhor, mas acaba tendo que lutar para sobreviver a manter sua família.

A produção traz um elenco de peso e traz a vencedora do Oscar, Youn Yuh Jung, como a versão idosa de Sunja, e a atriz estreante Kim Min-ha como sua versão jovem. Além das duas, Lee Min-ho, um dos atores mais famosos da Coreia do Sul, encarna com perfeição Koh Kansu, e Anna Sawai, de “Velozes e Furiosos”, interpreta Naomi. “Pachinko” é contada em três línguas, coreano, japonês e inglês, e, em seu elenco, há atores de todas as nacionalidades, passando por diversos períodos e anos, como 1910, 1923 e 1989.

Ao longo da história, vamos descobrindo mais sobre a Coreia e o Japão, e a difícil relação entre os dois países. O Japão anexou a Coreia em 1910, que permaneceu como uma colônia japonesa até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A ocupação japonesa na Coreia foi muito violenta, como mostra tanto a série quanto o livro, e culminou na separação do país entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, após o final da guerra.

A Apple TV+ confirmou, logo após a exibição do último capítulo, que a série foi renovada para uma segunda temporada. Essa notícia já era esperada por aqueles que leram o livro, pois os oito episódios da primeira temporada não dão conta das mais 500 páginas da história original. “Pachinko” é realmente uma adaptação, pois não é totalmente fiel ao livro em muitos pontos de sua narrativa, o que pode ter incomodado um pouco os leitores que estavam esperando ansiosos por ver Sunja e sua família nas telas.

Min Jin Lee escreveu uma preciosidade e o livro foi um best-seller entre os maiores índices de venda apontados pelo jornal The New York Times, além de ter figurado na lista de melhores livros lidos pelo ex-presidente Barack Obama em 2019. Mesmo tendo uma qualidade audiovisual impecável, a série de Soo Hugh não consegue dar conta da complexidade da obra original, entretanto a produção se aprofunda em alguns pontos interessantes que não são abordados no livro, e é possível perceber o cuidado dos historiadores que se envolveram com a produção da série.

Investimentos em cultura

A Coreia do Sul vem investindo em cultura desde os anos 1990, e, de lá pra cá, a chamada “onda coreana”, ou “Hallyu”, ganhou muito força e se consolida cada vez mais com produções de qualidade. “Pachinko” é apenas um dos exemplos de como o país conseguiu “estourar a bolha” com suas produções, que agora, além de fazerem sucesso no mundo todo, também estão sendo produzidas em outros países, como os Estados Unidos. Dessa forma, histórias tão importantes, como a saga das famílias coreanas que imigraram e sofreram no Japão, ganham luz.

Infelizmente, a realidade brasileira é muito diferente, e mesmo tendo um mercado cultural riquíssimo, que poderia ser consumido pelo mundo inteiro, os investimentos em cultura são muito baixos. Recentemente, no dia 4 de maio, o presidente Jair Bolsonaro vetou a nova lei Aldir Blanc de incentivo a cultura, alegando que o projeto é “inconstitucional e contraria ao interesse público”. A lei previa o repasse anual de R$ 3 bilhões, da União para estados e municípios, para o fomento à cultura.

Assista o trailer:

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