Por Victoria Dutra e Victoria Meggiato
A atriz Karol Mendes e o cantor Felipe Stigger experimentam novas alternativas de atuação
A pandemia do coronavírus foi e continua sendo um momento de muita preocupação e ansiedade para todos. Para os artistas locais, a situação não é diferente. A crise sanitária provocada pela doença mudou drasticamente a vida desses profissionais, que tiveram que se readaptar ao momento.
Cantores, atores, pintores, bailarinos e outros artistas, dos mais diversos segmentos, têm enfrentado dias de bastante dificuldade e apreensão. Os eventos culturais de pequeno e grande porte, que em tempos normais movimentam a economia dos municípios, não acontecem há mais de um ano, o que prejudicou muito a vida de quem depende disso para sobreviver.
É o caso de Karol Mendes, atriz local e graduanda do curso de Teatro pela Universidade Federal de Pelotas, que mantinha uma rotina de ensaios e apresentações artísticas constantes antes da chegada da pandemia. Até o momento, ela trabalha somente como atriz, e, quando viu que o isolamento social ia permanecer por mais tempo do que o esperado, acabou se preocupando.
“Como a maioria das pessoas, eu não esperava que o caos da pandemia durasse tanto tempo. Quando finalmente absorvi a gravidade da situação e percebi que não voltaríamos à normalidade, começou então um zigue-zague de sensações. Por um lado, a preocupação por não saber como lidar com o que está acontecendo, e, por outro, a vontade de não ficar estagnada e seguir adiante com o meu trabalho da melhor maneira possível. Confesso que tem sido difícil”.
Novos formatos e desafios
Desde março do ano passado, Karol passou a trabalhar de casa. Mas as dificuldades são muitas, já que a prática teatral é um trabalho que exige uma presença física e um contato maior com as pessoas. “A situação desde o início da pandemia tem sido difícil. O trabalho foi afetado de diferentes formas, tanto física (pelo isolamento, distanciamento e suspensão das atividades artísticas em geral) quanto psicologicamente (já que toda essa situação causa um desgaste emocional muito grande, de forma a afetar a produtividade). Tem sido difícil tentar manter a rotina, agora de uma forma tão diferente ao habitual, já que trabalhar em casa não é tão fácil quanto pode parecer. Mas a gente segue tentando, sempre se adaptando da melhor forma possível”, relata.
Com o período do distanciamento social, alguns artistas tiveram que se reinventar. Karol conta que o formato de peças, intervenções e performances mudou bastante “Desde 2020 a classe vem trabalhando através de vídeo-cenas/video-performances, o que aproxima ainda mais o teatro do cinema, por exemplo. Atrizes e atores, agora, além de atuar, também fazem as vezes de editores, técnicos, diretores, tudo ao mesmo tempo e, muitas vezes, com poucos recursos, como o celular e o computador. É uma reinvenção da arte teatral, digamos assim.”
Em junho do ano passado, uma lei foi sancionada para destinar R$3 bilhões para o setor cultural, a Lei Aldir Blanc, uma homenagem ao compositor e escritor que morreu em maio de 2020, vítima do coronavírus. O auxílio também ofereceu o pagamento de três parcelas de R$600 para os artistas informais. Apesar disso, a ajuda a esses profissionais demorou a sair do papel e o valor custou a chegar, o que prejudicou ainda mais a vida dos artistas. “Infelizmente não tem sido suficiente e nem 100% eficaz (como todo o resto feito pelo governo durante a pandemia). A lei Aldir Blanc demorou a sair do papel e, com isso, tanto o auxílio aos artistas quantos os editais profissionais acabaram demorando a chegar às pessoas. O que resta para a maioria é um ajudar o outro, como temos visto por todos os lados do país”, afirma Karol.
Programação de shows interrompida
Conhecido por seus shows nos eventos de Pelotas e região, o cantor Felipe Stigger, de 23 anos, é outro artista que teve sua carreira afetada pela pandemia do novo coronavírus. Pouco tempo antes de começar o isolamento social, o cantor tinha inúmeros shows e eventos marcados. Felipe conta que quando foi decretado o fechamento das casas de shows, o mais assustador para ele foi o fato de ser por tempo indeterminado.
“No início nós não sabíamos que proporção tudo isso ia ter, depois que o tempo foi passando, e me dei conta de quanto tempo iria demorar para as coisas voltarem ao normal, foi um pouco assustador. Não só pela parte financeira, que foi totalmente afetada, mas também por não poder estar fazendo o que eu mais amo, que é cantar”.
Apesar disso, o cantor diz que é privilegiado, pois mesmo sua renda vindo toda de seus shows, ele mora com os pais e pode contar com esse suporte financeiro. O que não é a situação da sua banda, que foi muito afetada pela pandemia. “Está bem complicado para várias pessoas que eu conheço do meio artístico e, inclusive, para parte da minha banda, que dependia bastante da renda dos eventos. Para mim está sendo mais tranquilo, pois eu ainda moro com meus pais e os shows eram uma renda extra, mas estou fazendo o máximo para ajudar as pessoas que estão passando por essa dificuldade”, relata.
Assim como outros músicos, Felipe também entrou na moda do início do isolamento social e produziu duas lives. As lives tiveram um papel importante para o cantor, tanto para retomar o contato com o público e ajudar a divulgar o seu trabalho, quanto no papel social, já que suas lives arrecadaram alimentos e dinheiro. “ As lives foram bem importantes porque eu consegui matar a saudade do público. Mas, além disso, o mais importante foi o papel social que a live teve, pois eu consegui arrecadar três toneladas de alimentos que foram doados para entidades de caridade aqui de Pelotas e também para as pessoas que trabalhavam na noite e estavam passando por necessidades”, conta Felipe.
Na pandemia, o que mais tem afetado Felipe são duas coisas: a saudade dos palcos e a angústia de não saber quanto tempo vai levar para as coisas voltarem à normalidade de antes. “ O que mais me deixa apreensivo é que eu não tenho ideia do quanto pode demorar para eu poder voltar a minha rotina normal de cantor, não poder fazer o que a gente ama é muito difícil. E, além de tudo isso, pesa bastante saber que os eventos e os shows serão as últimas coisas de todas a serem liberadas novamente”, analisa
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