Entre o fotojornalismo e a arte das imagens

Por Júlia Müller

Conheça o fotógrafo pelotense Jô Folha

É engraçado pensar que, muitas vezes, iniciamos uma oportunidade vislumbrando os fins, em cada resultado chegaria, sem pensar nas mudanças proporcionadas pelo acaso. O fotógrafo Jô Folha é um dos exemplos das guinadas que a vida dá.

Em 2006, Folha cursava Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e trabalhava como motorista no jornal Diário Popular – um dos maiores veículos de comunicação localizados na região sul do Rio Grande do Sul. Nos dois anos seguintes, os planos começaram a mudar: “Comecei a fotografar e me interessar mais pela área do fotojornalismo. Acabei trocando a graduação de Publicidade para Jornalismo”, lembra.

O contato diário com os fotógrafos do jornal, ainda dentro do carro e bem distante da redação e da rotina de pautas, começou a lhe despertar o interesse pelo ramo. “Se não fosse esse contato com o Carlinhos, Rossi e Moiza não teria seguido o fotojornalismo. Aprendi olhando eles trabalharem, vendo-os nas pautas, como se posicionavam, qual lente usavam, qual ângulo, a luz que escolhiam”.

Folha acredita que o fotojornalismo tem poder para causar mudanças. (Foto: Jô Folha)

O trio Carlos Queiroz, Paulo Rossi e Moizés Vasconcellos compuseram a equipe de fotografia do jornal durante anos. Por um tempo, Folha trabalhou como freelancer de fotografia da antiga filial do Diário Popular sediada em Rio Grande, experiência que evoluiu para o emprego fixo de fotógrafo em 2010. “Aprendi muito [com o trio] sobre a ética profissional e a importância do fotojornalismo para a sociedade, o valor que a fotografia tem como um instrumento de crítica social e o poder que ela tem para causar mudanças. Eles são minha referência na área”, ressalta.

Para ele, o fotojornalista tem um papel fundamental na democracia e na defesa dos direitos da população. “Precisamos dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade”, acredita. Em 2018, Folha foi um dos vencedores do 34° Prêmio de Direitos Humanos da OAB do RS, na categoria de fotojornalismo, marco especial nessa trajetória. 

Olhar sensível é peça chave no trabalho como fotojornalista. (Foto: Jô Folha)

Por conta de toda relevância do trabalho do fotógrafo para a cidade e seu olhar sensível para os aspectos urbanos e históricos de Pelotas, o projeto Arte no Sul escolheu algumas de suas fotografias para compor a identidade visual do site. 

Confira na íntegra o bate-papo com o fotógrafo Jô Folha:

JM: O que tu mais gostas e menos gostas de fotografar?
JF: Eu gosto de fotografar, não tem uma área específica que se sobressaia mais, mas tenho um trabalho com fotografias preto e branco mais artísticas em paralelo ao jornal que curto bastante desenvolver. As pautas que envolvem morte são sempre complicadas e tristes de fotografar, acho que é a única parte do jornalismo em que nunca fico confortável. 

Em paralelo ao trabalho no Diário Popular, Jô Folha possui um projeto de fotografias artísticas em preto e branco. (Foto: Jô Folha)

JM: Quais foram os momentos mais marcantes que o jornalismo te proporcionou?
JF: As pautas marcam de várias formas, têm as negativas que ficam com pesar na memória, como um acidente na BR-116 que uma família inteira, pai, mãe e duas crianças perderam a vida. Outras marcam pela importância social e histórica, como os protestos políticos de 2016, o movimento “Ele Não” ou as eleições em 2018. Há também as histórias de superação, como a de uma senhora analfabeta que perdeu a voz devido a um câncer aos 70 e poucos anos e, para conseguir continuar a se comunicar, aprendeu a escrever. Ela estava sempre acompanhada de um caderninho e caneta. A solidariedade da sociedade também é sempre marcante, lembro da enchente de 2015, quando voluntários e doações chegavam na paróquia do Laranjal para contribuir com as mais de 400 famílias que perderam seus lares.

JM: Em 2018, tu foste vencedor do 34º Prêmio Direitos Humanos da OAB, na categoria de fotojornalismo. Como esse tipo de reconhecimento engrandece no teu trabalho? Esse olhar preciso e delicado que pautas sensíveis envolvem não é para qualquer um. O que é preciso fazer para conseguir trabalhar esses temas na fotografia?
JF: O reconhecimento no prêmio Direitos Humanos de Jornalismo foi extremamente importante porque é um prêmio que valoriza os direitos sociais da população, ter um trabalho reconhecido nele é algo especial. Acredito que primeiro o fotojornalista precisa entender seu papel social em defender os direitos da população, dar voz e representar aqueles esquecidos pelo poder público e sociedade, utilizar sua história e conhecimento para conseguir contextualizar imagens que transmitam a realidade de forma que instiguem uma reação no receptor, na população, seja tristeza, revolta ou felicidade, mas passar uma emoção em quem está vendo a imagem é essencial.  

Folha é dono de um olhar atento aos aspectos urbanos e históricos de Pelotas. (Foto: Jô Folha)

JM: No último ano, nasceu o Martin e tu te tornaste pai. Essa mudança na tua vida pessoal influenciou o teu trabalho de alguma forma?
JF: Depois que virei pai conheci um mundo novo, um leque de novas experiências, valores e emoções. Como fotojornalista sempre penso em como melhor ajudar a sociedade, agora como pai sinto que esse desejo se fortaleceu e me deu um novo olhar para retratar a realidade e, atualmente, coloco essas novas características nas minhas fotografias na esperança que elas instiguem o melhor na população – naquela velha esperança de todo o pai de deixar um mundo melhor para seu filho.

 

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS: 

Comments

comments