Rô Mierling: “Diário de uma Escrava”

A escritora gaúcha Rô Mierling  já publicou sete livros Foto: Divulgação

Por Sabrina Borges

 

O livro “Diário de uma Escrava”, de Rô Mierling, foi publicado pela Editora DarkSide Books em 2016. Em uma edição caprichada, como é comum desta casa editorial. A capa é dura, nas cores preto e branco e com detalhes brilhosos que ficam visíveis com a alteração da luz. O corte das páginas tem as cores rosa, azul e roxo, dando um charme a mais na edição. Mesmo com toda essa beleza, é possível observar sinais da história sombria que se desenvolve nas páginas deste livro. Algo escorre das asas da borboleta, pingos de alguma coisa que ainda não sabemos, mas que ficará claro como os fios de cabelo que saem da capa e “decoram” algumas das 224 páginas da história.

 

 

 

“No Brasil, todo ano, 250 mil pessoas desaparecem sem deixar vestígios. Desse total, 40 mil são menores de idade, dos quais um terço são meninas destinadas a fins sexuais. Muitas escapam ou são encontradas, contando histórias terríveis; outras nunca mais são vistas com vida.”

Laura é uma moça de 15 anos, linda, alegre, que frequenta a igreja e começou a namorar recentemente. Ela é virgem, e gosta disso, pois a faz pensar que tem controle do seu corpo. Ultimamente, no entanto, ela tem percebido um sujeito estranho a encarando. Ela notou o homem pela primeira vez a observando da janela do seu quarto, depois teve a impressão de o ver na saída da escola, na praça enquanto estava com as amigas, e até ocupando o último banco da igreja nos domingos. Laura está vivendo uma fase superfeliz, os pais são incríveis, e deram total apoio para o início do namoro com Mauro, e ele a faz suspirar e sorrir o tempo todo. Mal sabe ela que essa felicidade está prestes a ter seu fim.

A jovem é surpreendida pelo homem suspeito antes de chegar na casa do namorado. Ele bate nela, que desmaia e acorda em um carro. Desesperada, ela tenta fugir, mas leva outra pancada e acorda em seu cativeiro, que será seu “lar” por longos anos. Laura é submetida a uma tortura física e psicológica intensa. Frequentemente estuprada e agredida, Laura sobrevive sem alimentação adequada, sem higiene e apenas com luz artificial muito fraca. Ela vive, dia após dia, vendo seu “café da manhã” passando pela portinhola, fazendo suas necessidades no balde grande, e se “limpando” no balde pequeno. Ela vê sua vida passando, sua inocência sendo violada, seus sonhos interrompidos, ela se vê quebrando pouco a pouco.

Essa é uma daquelas leituras que faz o leitor se transportar e vivenciar de mãos dadas com a personagem cada sensação. A leitura traz o peso de histórias reais, de sofrimentos verdadeiros, que não permitem pôr a cabeça no travesseiro e dormir com tranquilidade. É uma leitura fluída, embora seja preciso dar uma pausa em alguns momentos para absorver as informações e lidar com o aperto no peito. Se existe uma palavra para definir este livro, seria: perturbador. É perturbador pensar que uma menina que caça borboletas pode se tornar prisioneira de um “ogro” de uma hora pra outra. É perturbador saber o risco que nós mulheres corremos diariamente, é de tirar o sono pensar que nossas filhas são alvo para esses monstros.

No dia 10 de Setembro, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgou o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Segundo os dados contidos no relatório, os números de estupros em 2018 são os maiores já registrados. Cerca de 180 estupros acontecem por dia. E mais assustador, 53,8% eram crianças de até 13 anos de idade, ou seja, quatro meninas nesta faixa são estupradas por hora. Segundo este mesmo relatório, o número de desaparecidos no Brasil é de 82.094 pessoas. É ou não é assustador?

Nesta obra, Rô Mierling escreve um alerta para a sociedade, principalmente para as mulheres. A autora descreve várias formas que o estuprador da Laura usou para raptar suas vítimas. É um aviso claro e inegável, qualquer um pode ser um psicopata escondido em vestes de “homem de bem”, “cidadão exemplar”, “homem de família” e “cristão devoto”. A escritora nos deixa, no final do livro, algumas notas, com casos reais de onde retirou informações para compor a história. Ela nos mostra fatores em comum entre todos os casos, como vítimas sendo jovens, raptadas em locais próximos a suas casas, por vezes acompanhados por mulheres e crianças no carro, utilizando redes sociais e chats para seduzir e enganar as vítimas. Não podemos mais ser ingênuos. Precisamos ficar alertas a qualquer sinal. Precisamos estar sempre com um pé atrás. Fique atenta, se cuide e cuide de alguém.

Sobre a Autora

Rô Mierling é gaúcha, escritora, ghost writer e pesquisadora acadêmica. Tem sete livros publicados e já recebeu diversos prêmios com suas crônicas e contos. Depois de ter tido mais de um milhão e meio de leituras na plataforma Wattpad, “Diário de uma escrava” ganhou sua versão em capa dura pela Editora DarkSide Books. Em seu site, a autora informa que “Diário de uma escrava” será adaptado para o cinema nacional. Rô ministra oficinas de escrita criativa e ainda atua junto ao Centro Cultural da Embaixada Brasileira de Buenos Aires. A autora divide seu tempo entre Buenos Aires e Santa Catarina.

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