Reportagem de Maiara Marinho –
Projeto visa a produção cinematográfica como uma forma de compreender a realidade social –
A cultura expressa através do cinema, da literatura, do teatro e outras tantas formas de manifestação é uma ferramenta também de construção de significados e contribuição para o imaginário social. Dessa forma, ela é feita com alguma intenção: desde demarcar um espaço de privilégio até a resistência política. Mas, também, como forma de emancipação. Assim surge o projeto DunasCine. Realizado no Centro de Desenvolvimento do Dunas (CDD), em Pelotas, o projeto tem como objetivo uma prática cinematográfica através de oficinas de fotografia, audiovisual, edição de vídeos e, também, de construção de roteiro com uma temática sobre o próprio bairro. Tudo isso vai gerar um documentário feito por estudantes de 12 a 17 anos, das escolas do bairro Dunas. O autor do projeto, Felipi Pimentel, conta que a ideia surgiu através de uma cadeira que teve no curso de cinema sobre cinema e educação. Felipi é estudante de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mas reconhece no audiovisual um espaço importante de inclusão e participação cidadã. Ele relata que aprendeu a usar o cinema como uma ferramenta pedagógica, e a fazer cinema como um aprendizado de vida. “Aí eu tava com a ideia, procurei alguns editais, tinha um da Secretaria da Cultura, me inscrevi e passei”, descreve.
O primeiro encontro foi realizado no dia 13 de outubro no próprio CDD, local utilizado durante todo o projeto. Um espaço em comum do bairro onde outras iniciativas são realizadas. Alice, estudante do sexto ano da escola Saldanha da Gama exclama que quer “aprender tudo”. “Principalmente do audiovisual, sempre gostei de fotografar”, diz a estudante que tem como sugestão de tema a violência e as drogas. João também sugeriu o debate da violência, mas enfatizou que é “pra falar o que não falam, falar a realidade”. Estudante do nono ano da escola Jornalista Delgar Soares, João tem interesse nas entrevistas em audiovisual e afirma com relação às imagens mostradas no início das atividades: “Quero fazer que nem eu vi no vídeo”.
A expectativa de Felipi Pimentel é que seja possível aprender junto e se aprofundar dos temas que vão surgir como sugestão para o documentário que será feito pelos próprios estudantes. Assim, como alguns levantaram o tema da violência, é importante fazer uma discussão de por que as pessoas consideram esse bairro o mais violento. Ele é ou não é violento? Por que sim? Por que não? Por que as pessoas pensam que é? “Eu acho que tem que fazer uma reflexão acerca disso e não só expor algum fato, mas pensar sobre ele e formar uma opinião de forma mais consistente, uma forma que consiga analisar as coisas e não só dar uma visão direta”. Com isso, o projeto DunasCine fala, através de sua prática, sobre cidadania. Com previsão para ocorrer até o final deste ano, está dividido entre oficinas práticas de fotografia, audiovisual, edição, construção de roteiro e debates sobre as temáticas apresentadas. Até o momento participam do projeto cerca de 10 estudantes e os encontros acontecem toda segunda-feira.
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