Juliano Guerra: álbum solo

Texto de Felipe dos Santos Madeira –

CD – Crítica –

capa

     “Sexta-Feira” é o segundo álbum solo do músico e compositor canguçuense Juliano Guerra. Lançado em março de 2015, o disco, pré-produzido em parceria com o baterista e percussionista Davi Batuka, além de inteiramente gravado e finalizado em Pelotas, de maneira independente, traz na capa ilustrações de Odyr Bernardi e design gráfico da Nativu Design. O álbum é distribuído pelo selo Escápula Records e está disponível para download gratuito no site do artista, além de venda em lojas de CD’s e serviços de distribuição digital como Deezer, iTunes e Spotify.

     “Sexta-Feira” é composto por dez músicas que totalizam aproximadamente quarenta minutos de casamento entre voz e melodia. Interagem nas músicas do disco instrumentos como acordeom, baixo, bandolim, bateria, cavaco, pandeiro, teclado, violino, violão e violão sete.

      Guerra, o transeunte em busca de paz, traz uma obra mais madura e delicada. A música que abre o disco, intitulado com o mesmo nome, “Sexta-Feira”, primeiramente evoca alegria e leveza mas, como outras canções do artista, esconde verdades e inquietações. “Um hino” é serena, tanto em melodia quanto em letra e fala de amor de uma forma para além do significado conhecido, carregando uma poesia para além da rima. “Biografia” é sem dúvidas o ápice de “Sexta-Feira”. A intimidade expressa na letra e o ritmo que tende a remeter à música popular brasileira de três décadas atrás solidificam o casamento entre a tristeza e a beleza. “Vi Vir Veio” apresenta um anjo vindo da FEBEM, destroça o vulgar na cor marfim e brinca com tempos verbais, fazendo deles instrumentos para levar sua mensagem de forma mais clara. Amor e ódio deixam de ser polaridades opostas em “Vi Vir Veio”, para confundirem-se no decorrer da canção, tornando-a uma obra aberta, sem delimitações claras e acima dos tempos as quais brinca.

     A música “1983” faz uma crítica ao estilo “31 de dezembro”, segunda música do álbum “Lama”, sutil porém forte, e ganha corpo quando, dentre os versos, apresenta-se como resposta a uma outra crítica a qual o músico recebera pelo modo de vida. “20 Cigarros Por Dia” contesta a mídia e a indústria de remédios, que promete curar qualquer coisa, inclusive a tristeza, independente de sua causa. Além disso, a letra vai da oração a uma transmutação da imagem da mulher. “De Improviso”, como diz o nome, traz impressões que vão do improviso à curiosidade inerente ao homem que caminha sem saber ao certo o porquê. As várias vozes em uníssono cantando “Conte Comigo” transferem beleza e especulam a curiosidade já desperta pouco antes, como que querendo brincar com a confusão gerada pelo final da canção: continuação ou fechamento?

     “Sexta-Feira” não é um álbum para ser ouvido apenas na sexta-feira, mas em todos os dias que a ideia de um violino e um cavaco juntos não causarem estranheza. “Sexta-Feira” fala sobre fé, sobre o tédio, sobre se perder, vaguear, sobre perigos e altares na caminhada. Inúmeros são os motivos para indicar o álbum, mas, por ora, basta o simples fato de que Guerra brinca com os versos como uma criança brinca com a própria sombra, sem medo de fazer feio e sem pretensão de ser aplaudido. E isso, já é motivo o suficiente para embelezar a obra ainda mais. As músicas também estão disponíveis no YouTube.

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