“Quais são os meios e as promessas que o mundo traz para pessoas como eu?”
Se você se determinar em pesquisar a palavra “mulheridade” uma das primeiras explicações que acharás é: “De acordo com a política queer, a mulheridade é simplesmente a performance do papel de gênero feminino. De acordo com o feminismo radical, o papel de gênero feminino existe puramente como um estereótipo sexista de mulher que tem suas raízes no essencialismo e na misoginia.”
É inegável que ainda hoje exista um apagamento de certas questões e que até aparecerem na grande mídia não são discutidas de formas justas e verdadeiras. Essa hegemonia nos leva a acreditar que certas lutas travadas há muitos anos, recém estão ganhando forças e espaços, quando na verdade, as tentativas de leis e holofotes para questões primordiais da sociedade diversa, se organiza há muito tempo e que deveria ser mais comum adotarmos as siglas e nomenclaturas no nosso cotidiano.
Por mais que estejamos em 2022, e que sejamos entendidas de termos diferentes, mesmo engajadas em pautas de luta, inclusão, diferenças e resistência, deixamos passar algumas questões importantes e por isso ainda temos dificuldades em inserir na sociedade histórias e a visibilidade de mulheres plurais.
A palavra resistência, por exemplo, é um substantivo feminino, de peso simbólico que está atrelado a essa palavra que remete às pessoas que tentam se manter fortes. O modo de sobreviver, as estratégias que são montadas para que a pluralidade feminina se insira nas narrativas nos levam a reflexão de: quem são essas mulheres da mulheridade?
São mulheres trans, são mulheres com deficiências, são mulheres negras, mães solo, mulheres lésbicas… são todas elas que vivem na margem da sociedade lutando por igualdade e oportunidades que chegam em passos lentos ou às vezes nem chegam.
Todos os dias apagam um pouco dessas potências que essas mulheres desejam ser e mostrar e esse “não lugar” em que elas são colocadas provém do fato de enfrentar um sistema que quer ter controle sobre os nossos corpos, mentes e opiniões, impossibilitando a grande maioria de saber da verdade, de como surge a expansão de corpos diversos, de sentimentos diversos que fazem as mulheres múltiplas e particulares ao mesmo tempo.
Em uma entrevista a atriz, cantora, e ativista Linna Pereira, conhecida nacionalmente como Linn da Quebrada, ressignifica o que é isto de ser-se homem ou mulher. Ou querer nenhuma destas duas categorias. “Há muitas mulheridades possíveis de se construir. Há muitas formas de se ser mulher e por muito tempo ser mulher esteve em função do homem”.
Não está mais.
“Nós somos as novas Evas, nós somos as filhas e netas das bruxas, nós somos aquelas que têm construído outras corporalidades, outras identidades, outras feminilidades, feminilidades viris, outras masculinidades também, masculinidades que não sejam nocivas.”
A realidade é: vivemos em um período no tempo em que ser mulher é perigoso, é difícil, é humanamente desconfortável assumir que temos mais potencialidades seja em qual corpo estejamos ocupando. Somos linchadas, canceladas na internet, agredidas, desrespeitadas, mortas… e mesmo tendo leis de amparo, somos o corpo alvo, somos ainda vistas com fragilidade e no segundo plano.
Lésbicas são coagidas a voltar ao armário, mães solos não conseguem apoio e oportunidades, mulheres trans são desacreditadas de suas próprias escolhas, mulheres negras servem para serem usadas (de diversas formas). São olhares superficiais que abalam uma construção diária de fortalecimento dessa mulheridade. Seria demais sonhar com um mundo sem gênero? No qual não exista suposições sobre o que significa ser uma mulher para além dos fatos biológicos? Eu sou uma mulher negra, vim de uma mulher branca, amo mulheres e suas mulheridades e não tenho como admitir que sejamos engessadas ou cultuadas como divinas de forma errada. Queremos liberdade de escolher sentir-se mulher.