“Diversos olhares e uma coleção” foi uma ação virtual experimental realizada pelo MALG durante o período de restrição às visitações através das plataformas digitais do museu – Instagram, Facebook, site – entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, que consistiu num convite para diversos colaboradores do museu escolherem uma obra da Coleção Século XX e elaborarem um breve comentário sobre a referida obra e o porquê de sua preferência.

A Coleção Século XX é uma coleção relativamente grande, possui uma diversidade de linguagens, estilos, técnicas e procedências. Sua constituição é baseada num critério temporal – obras que foram incorporadas ao acervo da instituição desde a sua fundação, em 1986, até o ano 2000 através de doações, editais etc. – sendo, portanto, uma coleção bastante múltipla e com inúmeros potenciais de investigação.

Dentre os diversos convidados, que incluíam professores, estudantes, técnicos e colaboradores externos, responderam ao nosso chamado com excelentes comentários Joana Lizott, Clarice Magalhães, Eloiza Silva da Silva, Felipe Caldas, Renan Soares, Raquel Santos, João Igansi, Gustavot Diaz, Roberto Heiden, Amanda Machado Madruga, Balthazar Thiago, Gabriela Costa, Rogério Lima, Silvana Bajanoski, Renan Espirito Santo, Desirée Nobre, Edward Pérez-González, Lauer A. N. dos Santos e Juliana Angeli.

Esta exposição apresenta parte dessas obras como possibilidade de realização e continuidade dessa atividade virtual experimental no espaço real do museu, estabelecendo elos de ligação possíveis entre esses dois momentos e oferecendo ao visitante a possibilidade de explorar alguns dos recursos que garantiram sua aproximação como forma de complementar a experiência da arte como conhecimento e compartilhamento.

Ao visitar a exposição é possível ter acesso aos textos e comentários através dos QR disponíveis e também convidamos para que explorem o projeto na íntegra acessando nossas mídias digitais:

instagram _ @malg.ufpel
facebook _ @museuleopoldogotuzzo

Dezembro de 2021

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Lauer Alves Nunes dos Santos
Diretor do MALG – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
Coordenador do LACMALG – Laboratório de Curadoria do MALG

 

OBRAS SELECIONADAS
ESCOLHAS DE CONVIDADOS

Wilson Cavalcanti (Cava) _ por Felipe Caldas e Wilson Marcelino Miranda


Wilson Cavalcanti (Cava)
Sem título [da série] sagrados, místicos e profanos, 1995
Óleo sobre tela, 46,5 x 36 cm
Doação do Artista

 

Wilson Cavalcanti, por Felipe Caldas – artista e professor de História da Arte na FURG

Ele olha para o horizonte, para olhar para si. Nós olhamos para a imagem, para olharmos para o outro, até nos darmos conta, que o outro, somos nós.
O ato construtivo da imagem oscila entre o controle e a gestualidade, entre a figuração e a não figuração. A forma nos inquieta, não tem a gestualidade e fluidez necessárias, e sequer o domínio da representação da figura humana segundo uma tradição naturalista. Completo desrespeito a qualquer estilo, noção de boa forma, e com um domínio técnico questionável, no entanto, é justamente isto a potência do trabalho. Um ato de desrespeito as tradições formais, em prol da liberdade, pois forma e ideologia sempre caminham juntas.

Expressionista, simbolista, ou surrealista, moderno ou contemporâneo, Bad Painting a brasileira, inclassificável.
A pintura é mais que a imagem, é objeto, e este trabalho está entre a precariedade do suporte, e a sofisticação da tradição da pintura a óleo. Entre o retrato de Simonetta Vespúcio de Sandro Botticelli e a imagem de Exú.
É impossível dissociar o trabalho artístico de Wilson Cavalcanti, ou simplesmente, o Cava, de sua própria existência e trajetória. Um homem que perambula entre a erudição e o conhecimento popular. Caminha sobre tapetes vermelhos, e as ruas de chão batido da periferia, mas sempre, contempla os lírios do campo”.

Felipe Caldas

Cava (Wilson Cavalcanti), por Wilson Miranda – arquiteto e professor aposentado da UFPEL, foi diretor do MALG por duas gestões

“Antes de formalmente entrar no assunto proposto, ou seja, a análise de uma obra de arte de um artista da Coleção Século XX, do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo/MALG/CA/UFPEL, não posso deixar de comentar o quanto de magnífico tornou-se esse museu.
Apenas, percorrendo a Coleção Século XX, podemos constatar um belíssimo acervo de obras de artes (pinturas, desenhos, gravuras, cerâmicas e esculturas), todas obtidas através de doações, que, na maioria das vezes, foram obtidas quando do encerramento das exposições temporárias. À época, era sugerido ao artista a doação de uma ou mais obras para permanecer no acervo do museu.
Também, não posso deixar de comentar, como ex-diretor do MALG, algumas lembranças ou mesmo momentos e situações administrativas/culturais quando do surgimento desse museu. Quando diretor do então Instituto de Letras e Artes/ILA (artes visuais, letras, música, teatro, arquitetura e urbanismo) passei a conviver, diariamente, com grande parte de obras de arte, objetos, documentos cartas, lembranças de Leopoldo Gotuzzo (1887 – 1983), que haviam sido trazidas do Rio de Janeiro, por ocasião do falecimento do artista. Todo esse acervo patrimonial encontrava-se numa sala úmida, anexa ao gabinete da direção do ILA, sem luz direta, aguardando sua decifração e posterior manutenção através de catalogação, restauração, tombamento e investigações artísticas e biográficas. Diariamente via aquela situação com muita preocupação, já que todo o legado artístico ali depositado, estava como carga patrimonial do ILA.
Mas, graças às ações abnegadas de uma equipe de trabalho liderada pela profa. Luciana Araujo Renck Reis (fundadora e primeira diretora do Museu) e sua grande colaboradora, profa. Yeda Machado Luz, que contaram com apoio técnico de outros profissionais como museóloga, artífice em marcenaria, restauração e alunos estagiários, deram-se início os primeiros passos para a criação de um museu. Aos poucos e ao mesmo tempo com pressa, em 1986, consolidou-se a ideia da fundação do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, dentro da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura / Universidade Federal de Pelotas. Após rememorar, brevemente, a gênese do museu, volto ao assunto requerido, ou seja, um comentário sucinto sobre o artista visual Wilson Furtado Cavalcanti ou Cava, como também é conhecido.
Natural de Pelotas-RS (1950), Cava reside e trabalha em Viamão-RS. É um dos artistas de destaque no panorama das artes no Rio Grande do Sul, possuindo obras em acervos de instituições importantes do nosso estado, bem como em outros estados do Brasil. Trabalha com pintura, desenho e gravura. Teve uma iniciação artística no mundo da história em quadrinho. Frequentou o Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde conviveu com importantes artistas da nossa história da arte como mestres Danúbio Gonçalves (1925), Paulo Peres (1935), e Marília Rodrigues (1937), Carlos Martins (1945).

Artista plenamente engajado nas lutas culturas de nosso país (1974 a 1978), vê suas insinuantes histórias em quadrinhos serem publicadas em jornais e revistas de âmbito estadual e nacional, como no caso da Folha da Manhã, Planeta e Pasquim. Em Porto Alegre, participa e organiza, juntamente com outros artistas, manifestos sobre Arte na Rua. O currículo de sua produção artística é vasto, abrangendo inclusive produção de livros. Mas, sobretudo, cabe salientar sua atuação no campo da formação de novos artistas quando funda o Atelier de Gravura em Metal do Museu do Trabalho (1988); Atelier de Litografia Oficina 11 (1992); Núcleo de Gravuras do Rio Grande do Sul; Núcleo de Gravura do Rio Grande do Sul e a Associação Independente de Artistas – AINDA (1997).
Trata-se de um artista inquieto perante o mundo em que vive. É um artista de traço fortemente expressionista. Movimento que teve início no século passado, na Alemanha. Para Cava, a realidade atua como forte força propulsora na sua produção artística, com uma figuração de grande impacto emocional e expressão subjetiva.
Seguindo o que Panofsky (2001) nos elucida, a obra em questão, ao ser analisada sob o ponto de vista iconológico, nos surpreende com seus elementos, corpos e rostos de imensa força expressiva repleta de significados que nos levam às reflexões alusivas a problemas sociais, étnicos, políticos, psicológicos.
Na obra aqui lançada, a figura de uma mulher está problematizado com um corte espacial que separa corpo e cabeça.
A grande forma alaranjada do corpo domina o espaço e dá visão de uma cabeça de perfil, de cor cinza, que olha para uma realidade desconhecida, suspensa, dentro de linhas geométricas. O grande corpo cor de laranja, sobrevive na composição, com linhas curvas e sensuais onde se deposita um frio coração azul. Na referida obra existe um contraste das linhas curvas do corpo com o espaço geometrizado com ângulos, onde a cabeça erguida, sobressai buscando respiração.
Linhas frágeis, como pernas, sustentam a composição. É a representação de um corpo que parece estar inflado de frustações com um pobre coração azul, ao centro, quase parando. No entanto, a cabeça da figura humana permanece levantada, sustentada apenas por frágeis pernas de mulheres sofridas.
Na análise iconográfica observa-se uma composição cruciforme sustentada por uma forma quase circular com dois triângulos retângulos em seu interior que estabilizam a composição, sustentada por traços finos na base.
Sem dúvidas, Wilson Cavalcanti trata-se de um artista merecedor de grande reconhecimento no panorama cultural brasileiro, face sua grande produção artística e de qualidade, toda ela produzida através de um genuíno e requintado temperamento artístico”.

Wilson Marcelino Miranda

Eliane Santos Rocha _ por Raquel Santos 


Eliane Santos Rocha
Sem título, 1995
Calcogravura [2/10], 24,5 x 19,5 cm
Doação da Artista

 

Eliane Santos Rocha, por Raquel Santos – é Doutora em Educação, foi diretora do MALG e é professora do Centro de Artes/UFPel

“Eliane Santos Rocha começou a fazer gravura com o artista Armando Almeida, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, nos idos 1990/91 e depois, com a professora Nilza Haertel. Desde então recebeu diversos prêmios na área. Tenho o prazer de conhecê-la! Não só isso, fui sua aluna. Ela me recebia todas as manhãs, em sua casa, para aulas particulares, com direito a café, almoço e jogo de sinuca (tinha uma mesa enorme na sala).
Dedicada à gravura em metal, usa materiais de boa qualidade para as impressões, como papéis importados, placas de cobre, feltros especiais, prensa elétrica e tintas de fabricação própria. Tudo isso Eliane dividia comigo, gratuitamente. Simplesmente, pela paixão de ensinar a arte da gravura artística.
Ao olhar a obra da artista do acervo do MALG, talvez não se consiga perceber tudo que envolve a sua produção. Gravura é uma imagem obtida através da impressão a partir de uma matriz, que pode ser madeira, pedra ou metal.
A artista utilizou 4 matrizes, em cobre, ou seja, uma matriz para cada cor e imprimiu sobre o papel hahnemühle, um papel de origem alemã, composto 100 por cento em algodão.
As tintas “talho doce”, próprias para o metal, foram produzidas artesanalmente pela Eliane, são parte de suas pesquisas.
Depois de pronta a matriz, ela é entintada e colocada em uma prensa de cilindro para transferir a imagem para o papel. O importante a destacar é a questão da reprodução em gravura. Ela não é uma obra única como a pintura. Podemos observar que há inscrito na obra, a esquerda, a lápis, uma fração: 2/10. Isto quer dizer que essa gravura é a número 2, ou segunda cópia, de um total de 10 idênticas. A gravura chegou a ser considerada uma “arte menor” por sua capacidade de produzir obras seriadas e também quem sabe por isso, foi libertadora, e considerada a mais democrática das artes”.

Raquel Santos

Vagner Dotto _ por Rogério Lima


Vagner Dotto, por Rogério Lima – professor de História da Arte junto ao Centro de Artes/UFPEL

“Reverberações sobre lembranças do convívio com a obra de Dotto por Rogerio Lima
A lembrança mais nítida que guardo de Dotto é de um homem muito alto, branco e de compleição física magra. Olhar curioso e furtivo que circulava pelos corredores do Centro de Artes da Universidade Federal Santa Maria, desviando-se dos olhares de outras pessoas. Professor de desenho na faculdade de artes onde eu iniciava meus estudos.
Era a década de 1990 e a ânsia pela liberdade de todas as formas tomava conta das pessoas. Há pouco tempo findava a ditadura militar no Brasil. E os anos de 1990 deram vazão a tudo aquilo que havia sido tolhido e recalcado, por mais de 20 anos, durante o regime ditatorial.
Nas escolas de artes algumas temáticas decorrentes desse turbilhão de novas formas de vontade de viver um novo Brasil eram problematizadas e trabalhadas por alguns professores-artistas, como por exemplo as questões de gênero, as identidades, a diversidade e a síndrome da imunodeficiência adquirida – Aids, que ceifou a vida de um expressivo número de artistas no mundo inteiro.
Um deles foi Vagner com sua temática – naquele que seria seu último período de sua produção artística – que revelaria um homoerotismo latente que tornar-se-ia presente, nas grandes dimensões de seu desenho e, ao mesmo tempo preservava seu anonimato, representado por figuras masculinas acéfalas em seus ambientes sedutores e permissivos, silenciosos e sufocantes, sensuais e fatais, nos quais um decorativismo que atrai e enevoa e, ao mesmo tempo aniquila, como sua obra e a Aids, configura-se como uma metáfora sobre as intenções da obra e as ações em torno da vida, da transitoriedade humana e da presença da morte anunciada.
Sedutoramente, silenciosamente e fatalmente”.

Rogério Lima

Vagner Dotto
Tapete mágico, 1992
Nanquim com bico de pena, 69,2 x 100 cm
Doação do Artista

 

Francisco Brilhante _ por Balthazar Thiago


Francisco Brilhante
Cabeça de Velho, Sem data
Óleo sobre compensado, 37 x 28,5 cm
Incorporado da EBA

 

Francisco Brilhante, por Balthazar Thiago – graduando em Conservação e restauração de bens culturais/ICH/UFPEL.

“Sempre me despertaram interesse as pinceladas que se movimentam e se sobrepõem, sem esconder a gestualidade do instante em que vieram ao mundo.
Me recordam as doações desmedidas e as entregas destemidas.
Parecem uma soma de “erros” que se acertam entre si, libertando a criatividade do espectador e ao mesmo tempo entrelaçando-a ao imaginário do autor.
Para o cumprimento deste ato poético cada artista concebe suas soluções.
Aqui as pinceladas se agrupam para moldar de modo espontâneo o rosto de um homem antigo
que com um dos olhos relembra seu passado, e com o outro encara o seu presente. Diluindo-se então em brancos cromáticos, ora com cargas densas e ora com cargas sutis.
Doando assim a cabeça de velho a sabedoria que lhe é inerente para viver a liberdade do presente”.

Balthazar Thiago

Lenir de Miranda _ por Lauer Alves Nunes dos Santos


Lenir de Miranda, por Lauer Alves Nunes dos Santos – professor titular de pintura, semiótica e curadoria no Centro de Artes/UFPel e diretor do MALG

“‘Alvo deserto’ é uma obra da artista Lenir de Miranda, que foi minha professora de pintura no curso de graduação na UFPEL – ela e José Luiz de Pellegrin. A obra de Lenir de Miranda certamente é uma das mais importantes referências na arte do século XX em Pelotas e daí sua relevância nessa coleção.
Seu traço vibrante, intenso e inquieto se mescla com planos sobrepostos e fragmentos de objetos na obra ‘Alvo Deserto’, cujo título indica a idiossincrasia mesma de orientações espaciais e temporais presentes em sua trajetória que mescla pintura com mitologia, poesia, literatura, performance, livros de artista, vídeo.
‘Alvo deserto’ ainda parece trazer consigo as marcas do ‘Projeto Ulisses’, que é um diálogo que a artista estabeleceu com a obra de James Joyce – Ulysses – que, por sua vez, retoma as buscas ancestrais e arquetípicas da Odisseia através do entendimento do ser humano, sua existência e complexidade nos mais diversos contextos: da Grécia antiga, passando pela Dublin do início do século XX à América Latina do início do século XXI.

 

Em ‘Alvo deserto’ percebemos essa busca através dos diversos fragmentos de figuras que se insinuam e desaparecem em meio a uma profusão de pinceladas e gestos gráficos, bem como pela delimitação de uma área mais geométrica que se impõe com claridade aos traços contínuos do fundo escuro: todos sob a sobreposição de um refletor suspenso, marca inocente e metafórica da busca da luz em uma profusão de signos.
Dentre os motivos pelos quais escolhi esta obra, também destaco o adiamento de uma exposição da artista para lançamento de livro sobre sua obra em 2020, que esperamos que seja possível acontecer em 2021. Se a atemporalidade, a despeito do diálogo e enfrentamento com seu tempo, é uma das características da boa arte, a obra de Lenir de Miranda da Coleção Século XX adentra o já nem tão novo século mantendo sua atualidade e nos instigando a sempre (re)descobri-la”.

Lauer Alves Nunes dos Santos

 

Lenir de Miranda
Alvo deserto, 1991
técnica mista, 120 x 170 cm
Doação da artista

 

Maristela Salvatori _ por Gabriela Costa


Maristela Salvatori
Sem título, 1982
Xilogravura [19/100], 35 x 45,5 cm
Doação da Artista
 

Maristela Salvatori, por Gabriela Costa – graduanda em Artes Visuais/Bacharelado, bolsista do PET-Artes Visuais, CA/UFPel

“O que pode o imaginário, e o quanto as imagens nos permitem devanear?…em quais momentos do trânsito digital, cheio de acessos, desvios, congestionamentos e deslocamentos, conseguimos ainda nos debruçar sobre uma imagem? E o quanto nos permitimos devanear sobre elas?
Existe aqui uma questão de tempo, disponibilidade e presença, afinal os corpos existem, mesmo que do outro lado das telas. A seleção desta gravura fala sobre os contrapontos e, é importante que antes de ler esse texto, que seja possível um momento em que você se permita um encontro com essa imagem.
Não posso lhe contar nada sem que você tenha tempo de criar suas próprias fabulações. Pois, o tempo acontece na xilogravura em etapas: primeiro você encontra a madeira e nela vai dedicar boa parte do seu trabalho, assim fico a imaginar como a mulher e artista desta obra foi escavando os sulcos, pensando nos claros e escuros que gostaria para essa imagem, tirando as rebarbas, fazendo testes de impressão, pensando e sentindo a força que deveria ser despendida para que a tinta se fixasse bem ao papel, criando detalhes sutis que compõem uma narrativa, uma mulher fez três mulheres. Juntas, sorridentes, tranquilas. Com suas marcas e histórias individuais.
Talvez não tenha nada a ver – quem sou eu para narrar uma estória ou firmar um ponto que já foi feito a tanto tempo -, talvez Maristela Salvatori possa nos contar um pouco do que se passava em 1982, pois eu posso apenas imaginar e seguir criando as minhas próprias divagações; sinto que ela me dá espaço para me colocar ali e tecer juntas essa narrativa como uma imagem familiar.
em um ano tão atípico, é necessário um levante
um respiro
tempo de criação
presença de imaginários
comunidades
e outros tipos de compartilhamentos
novos e antigos
/sem que isso seja uma receita de bolo/”

Gabriela Costa

 

Delfina Reis _ por Desirée Nobre


Delfina Reis
Sem título, 1982
Xilogravura [19/100], 34,5 x 45 cm
Doação de Maristela Salvatori 

Delfina Reis, por Desirée Nobre – Terapeuta Ocupacional, mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPel, professora substituta na UFPel e pesquisadora em Acessibilidade Cultural para Pessoas com Deficiência em Museus

“Ao olhar o riquíssimo acervo da coleção Século XX do MALG, dentre tantas obras maravilhosas, esta me chamou muita atenção. De certa forma, é como se estivesse me vendo no espelho da vida.
A cada traço, vejo movimento. A cadência de um corpo livre, que pulsa sempre em frente e que mantém um ritmo até mesmo em seus números, trazendo em seu primeiro passo o andamento de uma valsa (123). Seguido por uma marcha (1 2 1 2 1).
Olhos e mãos bem abertos para o que está por vir. Linhas retas e curvas, como na grande estrada da vida.
Cabelos presos, cabelos soltos, cabelos ao vento. Já dizia algum poeta, que ‘todo corpo é poesia’, a diversidade dos nossos corpos e de como nos movimentamos de forma singular é muito bem representada nesta obra de Delfina Reis.
Que possamos seguir dançando livres pelas linhas da vida”.

Desirée Nobre

FICHA TÉCNICA


Universidade Federal de Pelotas
Reitora Isabela Fernandes Andrade
Vice Reitora Ursula Rosa da Silva

Pró-reitorias / Diretorias
Pró-Reitoria de Administrativo (PRA)
Ricardo Hartlebem Peter
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE)
Fabiane Tejada da Silveira
Pró-Reitoria de Ensino (PRE)
Maria de Fatima Cossio
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC)
Eraldo dos Santos Pinheiro
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP)
Taís Ullrich Fonseca
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG)
Flavio Fernando Demarco
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (PROPLAN)
Paulo Roberto Ferreira Jr.
Rede de Museus da UFPEL
Silvana Bojaoski

Centro de Artes
Diretor Carlos Walter Alves Soares

Diretora Adjunta Roberta Coelho Barros

Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
Diretor Lauer Alves Nunes dos Santos

Núcleo administrativo
Roberta Trierweiller

Núcleo de reserva técnica e acervo
Joana Lizot

Fábio Alves Galli
Núcleo de Programação e Curadoria
André Venzon, Clóvis Vergara de Almeida Martins Costa, Edward Pérez-González, Giorgio Ronna, Helene Gomes Sacco, Lauer Alves Nunes dos Santos, Joana Soster Lizott, Raquel dos Santos, Renan Espirito Santo

Portaria
Bruno Valadão da Silva

Luciane Valente
Vigilância
Diones Barros

Natielle Mendes Ribeiro
Sabrina Molina Duarte
Higienização
Carla Rosi Lima Rosa

SAMALG
Luciana Dias da Costa Vianna

Diversos Olhares e uma Coleção
LACMALG – Laboratório de Curadoria do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo

Curadoria
Joana Soster Lizott

Lauer Alves Nunes dos Santos
Expografia e montagem
Fábio Galli Alves

Joana Soster Lizott
Lauer Alves Nunes dos Santos
Produção textual
Amanda Machado Madruga, Balthazar Thiago, Clarice Magalhães, Desirée Nobre, Edward Pérez-Gonzaléz, Eloiza Silva da Silva, Felipe Caldas, Gabriela Costa, Gustavot Diaz, Joana Lizott, João Igansi, Juliana Angeli, Lauer Alves Nunes dos Santos, Raquel Santos, Renan Espirito Santo, Renan Soares, Roberto Heiden, Rogério Lima, Silvana Bojanoski

Design
Renan Espirito Santo

Fotografia
Daniel Moura

REALIZAÇÃO


PARTICIPAÇÃO


APOIO


Diversos olhares e uma coleção


 

20/dez/2019 _ 20/fev/2020 (virtual)
dezembro _ fevereiro/2021
(presencial)

“Diversos olhares e uma coleção” foi uma ação virtual experimental realizada pelo MALG durante o período de restrição às visitações através das plataformas digitais do museu – Instagram, Facebook, site – entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, que consistiu num convite para diversos colaboradores do museu escolherem uma obra da Coleção Século XX e elaborarem um breve comentário sobre a referida obra e o porquê de sua preferência.

A Coleção Século XX é uma coleção relativamente grande, possui uma diversidade de linguagens, estilos, técnicas e procedências. Sua constituição é baseada num critério temporal – obras que foram incorporadas ao acervo da instituição desde a sua fundação, em 1986, até o ano 2000 através de doações, editais etc. – sendo, portanto, uma coleção bastante múltipla e com inúmeros potenciais de investigação.

Dentre os diversos convidados, que incluíam professores, estudantes, técnicos e colaboradores externos, responderam ao nosso chamado com excelentes comentários Joana Lizott, Clarice Magalhães, Eloiza Silva da Silva, Felipe Caldas, Renan Soares, Raquel Santos, João Igansi, Gustavot Diaz, Roberto Heiden, Amanda Machado Madruga, Balthazar Thiago, Gabriela Costa, Rogério Lima, Silvana Bajanoski, Renan Espirito Santo, Desirée Nobre, Edward Pérez-González, Lauer A. N. dos Santos e Juliana Angeli.

Esta exposição apresenta parte dessas obras como possibilidade de realização e continuidade dessa atividade virtual experimental no espaço real do museu, estabelecendo elos de ligação possíveis entre esses dois momentos e oferecendo ao visitante a possibilidade de explorar alguns dos recursos que garantiram sua aproximação como forma de complementar a experiência da arte como conhecimento e compartilhamento.

Dezembro de 2021

Lauer Alves Nunes dos Santos
Diretor do MALG – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
Coordenador do LACMALG – Laboratório de Curadoria do MALG

 

realização _ LACMALG | Laboratório de curadoria do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo