“Nosso pai não voltou – canibalização de A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa” configura-se como um processo de apropriação que Marina de Oliveira executa em relação ao conto do autor mineiro. O princípio de canibalização inspira-se no “Manifesto Antropófago”, proposto por Oswald de Andrade em 1928: “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago” ou ainda “Contra a memória fonte de costume. A experiência pessoal renovada”. Canibalizar uma obra, nesse sentido, é comê-la e transformá-la em algo que não é mais o alimento primeiro, mas está ligada a ele, dando-lhe uma outra perspectiva, a partir de um horizonte de compreensão diferente. Na releitura audiovisual, que utiliza componentes do biodrama (conceito de Vivi Tellas), a atriz estabelece um paralelo entre a figura paterna que entra numa canoa para nunca mais sair e o seu pai, médico que recebeu os diagnósticos de “transtorno esquizoafetivo” e “esquizofrenia”, após mudanças de comportamento ocorridas a partir de seus trinta e três anos de idade. A mãe da atriz e seus irmãos participam do processo criativo, entendido pela família não apenas como uma releitura artístico-pedagógica de A terceira margem do rio, mas também como uma forma de testemunho sobre o convívio com um familiar com transtornos mentais.
Processo criativo audiovisual apresentado na Programação Cultural do XVII Congresso Internacional da ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), em outubro de 2021.