Sou Oz, o Grande e Terrível – O Mágico de Oz, de L. Frank Baum
“- Quem é você? – perguntou o Espantalho quando se esticou e bocejou. – E para onde está indo?
– Meu nome é Dorothy – disse a menina. – E estou indo para a Cidade das Esmeraldas, para pedir ao Mágico de Oz que me mande de volte pra casa.
– Você acha que, se eu for para a Cidade das Esmeraldas com você, esse tal de Oz poderia me dar um cérebro?
– Não tenho certeza – ela respondeu. – Mas pode vir comigo, se quiser. Se Oz não te der um cérebro, você não vai ficar pior do que está agora.”
Publicado em 1900, e ainda tão presente no imaginário e na cultura popular, O Mágico de Oz surgiu da imaginação de um escritor, comerciante, ator e cineasta norte-americano chamado L. (Lyman) Frank Baum.
Baum tinha 44 anos quando escreveu A Cidade das Esmeraldas, como foi primeiramente chamada a obra. O livro conta a história da pequena Dorothy e de seu cachorro Totó, que, após serem arrancados da grande pradaria cinza do Kansas por um ciclone, acabam chegando à estranha Terra de Oz. Instruída pela boa Bruxa do Norte, Dorothy segue caminho pela estrada de tijolos amarelos para encontrar o Grande Mágico de Oz, o único com poderes para levá-la de volta pra casa.
No caminho para a casa do Grande Mágico, Dorothy se junta a outros três personagens que decidem também encontrar Oz e para terem seus desejos realizados. O Espantalho sempre achou que precisava de um cérebro, para que pudesse ter pensamentos melhores. O Homem de Lata sai em busca de um coração “porque cérebro não faz ninguém feliz”. E tudo que o Leão covarde queria era um pouco de coragem, para que pudesse se tornar o rei dos animais.
Para o leitor fica claro que o que os companheiros de Dorothy já possuíam as características que desejavam, mas para os personagens a longa viagem em direção a Cidade das Esmeraldas era algo necessário à jornada de cada um.
“- Se andarmos o bastante – disse Dorothy -, tenho certeza de que alguma hora vamos chegar a algum lugar.”
Baum escreveu sobre a necessidade de histórias infantis mais puras e sem violência. A intenção do autor era a de modernizar os contos de fada, que na época possuíam um tom mais sombrio, como os contos dos Irmãos Grimm e os de Hans Christian Andersen, e sua ideia era criar algo que agradasse as crianças daquela época – uma história onde os pesadelos e o sofrimento eram substituídos por encanto e felicidade.
Em O Mágico de Oz a narrativa é construída de forma que os desafios são sempre vencidos e, mesmo que exista um certo grau de violência na história, ela é sempre tratada de uma forma mais leve, diferente de, por exemplo, a história de João e Maria, onde a bruxa tenta engordar as duas crianças para depois devorá-las.
O simbolismo espiritual na obra
A jornada de Dorothy pela Terra de Oz tem sido analisada constantes vezes e sempre parece se encaixar em algum tipo de metáfora. Alguns a consideram uma espécie de crítica política, econômica ou de alegoria psicológica. Algumas versões falam da constante busca espiritual, representada na história como o caminho de tijolos amarelos.
Existe a história de um mestre sufi (corrente mística do Islã) chamado Nasrudin que, um dia em desespero, entrou na cidade de Bagdá montado em seu burro. Preocupado e ansioso, ele galopou por todas as ruas, becos e vielas, sempre correndo, procurando algo. As pessoas da cidade começaram a ficar curiosas e, ao saírem de suas casas, começaram a perguntar: “Nasrudin! Nasrudin! O que você está procurando?”. E ele respondeu: “Eu perdi o meu burro e não consigo encontrá-lo!”.
A história de L. Frank Baum parece ter uma direta conexão com a história do mestre sufi, no ponto em que a realização, através do encontro com o Mágico de Oz, revela que o que buscamos com tanta dificuldade esteve conosco o tempo inteiro.