Resenha: Cafarnaum

Um conto de negligências, infância roubada e crime

Drama libanês que conta a história de Zain. Imagem: Boo Pictures

Por William Engel

Cafarnaum é um drama libanês que conta a história de Zain, um menino de 12 anos que vive uma vida de abusos, abandono e por fim acaba preso após cometer um crime. Na cadeia, o menino decide processar seus pais pelas negligências sofridas e o direito deles não terem mais filhos.  Ambientado no Líbano, o filme foi dirigido pela atriz e diretora libanesa Nadine Labaki. Teve estréia em 2018 e em 2019 foi indicado ao Oscar como melhor filme estrangeiro.

O filme traz a trajetória de um menino, privado de sua infância pela própria família e mesmo quando foge se vê em uma situação de abandono, pois a moça que lhe acolhe acaba presa,  deixando um bebê para ele cuidar. Um relato intenso de cunho social, em que a falta de amor e a pobreza se entrelaçam com a coragem de um menino em viver outra vida. Em seu caminho,  aos poucos vai deixando a juventude para trás, afim de proteger aqueles que ama, além de si mesmo.

O longa de duas horas e meia chama atenção por ambientar-se e transmitir de forma fiel a realidade nestas cidades pobres do o=Oriente Médio, mostrando a pobreza e o livre comércio de crianças. O filme que recebeu diversos prêmios desde sua estreia, tem um ar comovente e realista. Filmes como Cafarnaum, tem a capacidade de trazer uma comoção maior com sua história por dar a oportunidade do espectador imergir na realidade retratada por utilizar-se de moradores locais como atores. Podemos ver este sistema também no filme Ciambra de 2017, que retrata a vida de moradores de uma pequena comunidade romena na Calábria, Itália.

Com certeza uma obra prima, merecedora da indicação do Oscar que recebeu em 2019. Apesar de não muito conhecidos, filmes como Cafernaum e Ciambra valem a pena ser assistidos. Não só pela emoção, mas pela imersão na realidade e cultura dos personagens e as pessoas que vivem nestas cidades. O filme tem como produtor sonoro Khaled Mouzamar, que através de suas trilhas traz outra dimensão e cenas de ápice ao filme.

Meni no Bernardo Boldrini assassinado pelo pai e pela madrasta. Imagem: Reprodução/RBSTV

Infelizmente, obras como estas tem grande conexão com a realidade, como o caso do menino Bernardo Boldrini em 2014. Negligenciado pelos pais, procurou Ministério público, novamente não foi ouvido e finalmente morto pelas mãos de sua madrasta. Em sua última cena, o protagonista de Cafarnaum deixa uma última reflexão que pode nos servir de apelo para todos os pais de Zains e Bernardos:

“Quero que os adultos me ouçam.

Que aqueles que não são capazes de criar seus filhos, não os tenham.

Do que eu vou me lembrar? Da violência, dos gritos? Dos palavrões? Das correntes, da cinta ou das chinelas?” 

 

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