Pavilhão de Agricultura Familiar da Fenadoce enche a feira de tradição e história
Sempre presente durante a Fenadoce, a Agricultura Familiar segue sendo um dos setores mais visitados e ricos do evento
Por Maria Clara Morais Sousa e Sarah Cremonini de Oliveira
Geléias, queijos, vinhos, cachaças artesanais, sucos, erva mate e até salames podem ser encontrados no Pavilhão da Agricultura Familiar na Feira do Doce de Pelotas. Esse ano o espaço fica no final da feira e tem acesso a Cidade do Doce para o visitante experimentar tudo de melhor que a feira rica em gastronomia e cultura têm a oferecer.
A ideia não é nova, já é a segunda vez que a Fenadoce se junta com a Secretaria do Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, a Federação dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (FETAG) e a Emater com objetivo de dar oportunidade para pequenos agricultores e produtores.
Segundo o técnico agrícola da Associação dos Sindicatos Regional Sul, Jean Augusto, 79 empreendimentos fizeram a pré-inscrição, porém há espaço apenas para 68 desses. Dessa forma, a diversificação é o critério mais importante utilizado pelos organizadores, além da procura de estabelecimentos geridos por jovens, mulheres e que não tenham participado da feira anteriormente.
Um exemplo é a dona da empresa Morangos da Rosa, Rosa Maria Harthmann, que está expondo pela primeira vez suas geléias na Fenadoce, incluindo três novos sabores exclusivos: cerveja, caipirinha de limão e erva-mate. Ela afirma sentir mais aprovação do governo para produtores do campo e que produtos sem agrotóxicos ou conservantes estão sendo mais valorizados, em sua propriedade ela possui 40 mil pés de plantação orgânica e toda produção é feita sem veneno.
Sobre os sabores novos, houve uma pesquisa: “Eu fui no mercado, fiz pesquisa e vi no carro do pobre e do rico: a cerveja e a cachaça e daí partiu a ideia.”. Rosa diz que sente que o mercado tem pedido novidades e foi por isso que ela decidiu trazer a ideia de uma geleia de cerveja, que tem sido um sucesso com o público masculino.
Mas não temos apenas iniciantes na feira. A dona dos Doces Crochemore, Ane Crochemore, nos conta que participa da Fenadoce desde sua segunda edição e que foi para o pavilhão da Agricultura Familiar com seus laticínios, mas também sempre esteve com as doceiras. A marca tem história, seus doces estão passando pela terceira geração e tem descendência francesa, e o objetivo sempre foi claro: continuar “preservando a qualidade, nosso doce, a história que se mistura com a história de Pelotas, os imigrantes.”
Mesmo estando no Pavilhão, os Doces Crochemore também possuem um espaço na Cidade do Doce com café da tarde colonial, onde seus doces estão presentes junto com bolos, pães, sucos e muitas outras delícias.
Outro veterano é a Ervateira Rainha do Sul de Pedro Brizolla. A empresa atua desde 1887 e foi um dos agricultores que abriu a ExpoInter em 1999. Pedro conta que a família começou a produzir, pois foi o que sempre fizeram e que também “tínhamos o sonho de (ter) um negócio próprio (…), são três gerações que contam a história de uma produção 100% familiar, desde a plantação.”
Na parte da comida também temos os Produtos Coloniais Hermes, o dono Rafael dos Santos diz que já são 60 anos produzindo embutidos – sendo 40 anos na informalidade e 20 anos legalizados. A empresa também conta com panificados, que começou de maneira inusitada: “(Foi) numa brincadeira, e foi fazendo e tomou uma proporção.”, ele fala. A família era famosa por suas cucas e, a partir do momento que viram a demanda, começaram a comercializar seus produtos. Hoje, tanto os embutidos quanto os panificados, têm a mesma proporção de venda, o negócio é bem diversificado.
Além da parte alimentícia, as bebidas alcoólicas também estão presentes. Rosângela Maria Costa Dias é dona da marca de vinho Tradição da Ilha, o qual começou com a tradição portuguesa de seus descendentes que produziam a bebida para consumo próprio. “Nós mantemos essa tradição de produzir na ilha, mas ela (somente) foi registrada em 2020″, diz a empreendedora.
No Pavilhão também é possível achar também lã e pelegos, a D&J Pelegos é uma empresa que existe há 20 anos, mas que apenas começou a exibir na Fenadoce ano passado. “A primeira Fenadoce não viemos porque a gente trabalha com outros clientes aqui em Pelotas, lojistas aqui em Pelotas e aí a gente não queria competir” afirma Jessica Zanetti, esposa do dono da marca.
Mas após a pandemia o cenário mudou, com o aumento do custo de vida, a empresa decidiu tentar a Fenadoce. Jessica conta que deu certo: “A Fenadoce ano passado nos trouxe 3 clientes novos, (clientes) lojistas.” e que agora, “as expectativas para esse ano são grandes.”
Ainda na categoria de lã, também temos o empreendimento Hulha Negra, de Mara Domingues, a qual começou a trabalhar com lã há 17 anos e há 2 anos atrás também começou a sua própria produção de charque. Mara relata que o artesanato é mais difícil de se vender, pois segundo ela, as vendas acontecem mais frequentemente em “ época de frio e depois para (…)”. E foi exatamente por esse motivo que ela, o marido e a senhora que colabora com eles, começaram a vender charque e hoje realizam entregas para escolas, quartéis e marcados.
Com marcas cujo os donos, suas famílias e amigos estão presentes no processo de produção desde o início até o seu destino final – que durante os últimos dias tem sido a Fenadoce -, o setor da Agricultura Familiar é, sem dúvidas, uma parte indispensável de se visitar e saborear as delícias presentes por ali.
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