Nem tudo são flores

“Prima- dona: Todas as flores são perfeitas” por L.S. Englantine é um suspense surpreendente que vai te fazer duvidar da sua própria intuição

Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta

“Eu tinha dez quando decidi que um dia, quem sabe, se tivesse sorte, eu mataria Angelina Trindade” é a frase que inicia esse livro, ela é dita por Alana Castro, meia-irmã da menina citada e ao ler de primeira podemos pensar que isso se trata de uma brincadeira, mas a protagonista deixa bem claro a seriedade da sua promessa.

Prima-dona é mais uma obra da autora L.S.Englantine. Foto: Reprodução/Amazon

Aos vinte anos, em uma chácara afastada da cidade, e na data de aniversário de Angelina, é onde tudo acontece, mas não é onde se passa todo o livro. Para dar conta de toda a história de vida e do que levou Alana a tomar uma decisão tão drástica, a autora nos faz caminhar pelo passado e presente das irmãs.

As garotas são completos opostos, enquanto Angelina se comporta como uma patricinha extrovertida e sempre pronta para posar como perfeita, Alana prefere ser ela mesma e não ceder ao que os outros pensam dela. Resumindo por cima, Alana é a menina que “não é como as outras garotas” e Angelina seria “as outras garotas”.

Isso seria se Englantine não tivesse um planejamento, plot twist e aprofundamento da história. De longe, as garotas parecem superficiais e bobas, mas ao passar da (maravilhosa) escrita, é possível enxergar como elas realmente são. Fica muito mais claro quem Alana é, já que Angelina insiste em fingir – até para a família – perfeição. Não pretendo dar spoilers para não estragar a experiência de leitura, mas saiba que Ange é muito mais do que aparenta.

Engraçado pensar que uma meia-irmã sobressai a outra, pois a autora em momento nenhum descreve as meninas. A única característica que temos é sobre o cabelo das mesmas. Ou seja, quase como experimento social, Englantine nos deixa imaginar o rosto, tom de pele, altura e corpo das personagens nos fazendo questionar o que é perfeição (física) para os nossos olhos.

A escrita é instigante e, embora o vai e volta seja levemente confuso, é impressionante como a autora dá conta de esconder o maior segredo – e a razão de Alana querer matar a meia-irmã – durante todo o decorrer do livro.

L.S. Englantine é o pseudônimo da autora Lara, paulistana que fez sucesso ao publicar suas histórias de maneira independente na internet. Foto: Reprodução/Amazon

Interessante pontuar também que a metáfora das flores foi muito bem usada e é interessante ver que tudo se originou de uma flor, apenas. Prima-dona é venenosa, mas bonita (como Ange) e cravos são simples, mas essenciais (como Alana).

Lendo a história podemos chegar a apenas uma conclusão: É impossível não matar Angeline. Além da personagem se tornar insuportável e suas ações sobre a protagonista nos fazerem ter pena de Alana, o plot twist corrobora para nos afirmar que a principal está sim fazendo o que é certo.

Ainda acredito que o livro seja levemente simples, um suspense e um drama muito bem criados e escritos, entretanto, talvez seja fácil cair num clichê de dois opostos que se odeiam. A autora tenta escapar disso a todo momento, porém tudo me parece muito transparente. Talvez para prender o público ou para exagerar ainda mais a perfeição de Ange, mas há um pouco de usualidade no livro.

Também acredito que as vezes ele foi mais gráfico do que o necessário, os apelos assassinos de Alana apareciam com bastante detalhe, o que não é do meu agrado. Mesmo assim, entendo que isso foi feito para exacerbar a raiva de Alana, já que ela não podia dizer e nem agir, que ela pensasse.

No geral “Prima-dona: Todas as flores são perfeitas” é um ótimo livro para ler no final de tarde de domingo, é curto, rápido e cativante. As personagens principais são muito bem desenvolvidas e o quanto aos outros não há muito motivo para saber sobre. Englantine nos traz um dos melhores plot twists que eu já li numa narrativa muito bem estruturada, mesmo que comum. 

Comentários

comments

Você pode gostar...