Na busca pela igualdade de gênero, a resposta é sempre coletiva

O crescimento da mulher de acordo com o empoderamento proporcionado pelo feminismo. Arte: Rayane Lacerda /Arquivo Pessoal

Com altos índices de violência contra a mulher, o feminismo é uma arma de luta e resistência social

Por Luíza Mattea

Segundo Pesquisa do Datafolha, solicitada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Entre as mulheres que sofreram violência, 61% dos agressores eram conhecidos da vítima e 43% das agressões ocorreram em casa. Visando reduzir esse número, em agosto de 2006, a lei Maria da Penha criminalizou a violência doméstica e familiar, realizando grande transformação social durante os seus 11 anos de existência.

Com a lei, a violência passa a ser tipificada em psicológica, física, moral, sexual e patrimonial. A agressão física é caracterizada como aquela que compromete a integridade e saúde corporal da mulher por meio de atos como: atirar objetos, lesionar com objetos cortantes, espancar, estrangular, queimar ou torturar a mulher. O abuso psicológico é toda e qualquer ação que cause danos emocionais, afete a auto-estima da mulher ou tente controlar as suas decisões e ações – como ameaçar, humilhar, manipular, chantagear, insultar, perseguir, proibir algum tipo de vontade ou escolha, explorar, ridicularizar ou domesticar a sua liberdade. Já a violência sexual consiste em ações que intimidem a mulher a participar, manter ou presenciar relações sexuais não desejadas, como forçar o aborto, proibir a utilização de métodos contraceptivos, estuprar, forçar matrimônio ou gravidez por meio de chantagem, coação e suborno ou limitar o exercício dos direitos sexuais.

A violência patrimonial mantém, retira ou destrói os objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais ou recursos econômicos da mulher, como furto, extorsão, controle de dinheiro, privação de bens ou danos propositais a objetos. Por fim, a violência moral trata-se de calunia, difamação ou injuria, como estragar a reputação, expor, xingar a respeito de sua índole, desvalorizar pelo modo de vestir ou emitir juízos morais sobre a conduta da mulher. Todas essas formas de violência estão interligadas e causam inúmeras consequências às mulheres, tanto física quanto psicologicamente.

Feminismo: entenda o movimento que luta pela igualdade de gênero

O Feminismo é um conjunto de movimentos sociais, políticos, ideológicos e filosóficos que busca a igualdade de direitos e oportunidades entre mulheres e homens, desfazendo os padrões de gênero. Por meio de campanhas pelos direitos das mulheres – o direito ao voto, a autonomia, a integridade de seu próprio corpo, o acesso a métodos contraceptivos e a proteção contra a violência – o movimento busca alterar a cultura machista e patriarcal ainda predominante na atual sociedade.

Em Pelotas, o movimento social Levante Popular da Juventude, o qual visa organizar jovens de diferentes contextos por meio de um projeto de transformação social, tem como um de seus principais focos o movimento feminista. Larissa Brito, integrante do Movimento e formada em Serviço Social pela UCPel, destaca que é construído um feminismo popular, com a leitura da sociedade e do mundo baseada em três pilares fundamentais: gênero, raça e classe social: “essas três junções fazem com que as mulheres sejam mais prejudicadas. Por isso, uma leitura que não una esse tripé, para nós, não é uma leitura que contempla o feminismo popular”.

Larissa teve seu primeiro contato com o movimento em 2014, quando já estava na faculdade e percebia as contradições existentes na sociedade. Porém, conta que inicialmente não entendia como poderia lutar para fazer a diferença: “Eu me via como um ser individual e o Levante me mostrou que a resposta é sempre coletiva, pois é um problema da sociedade. Meu lugar de fala é de uma mulher branca, que fez universidade e teve oportunidades, mas não posso me deter a isso. Preciso lutar por quem não teve as mesmas oportunidades e dar meu espaço de voz a elas”.

Em meio a uma sociedade que justifica as atitudes do agressor, ser mulher torna-se sinônimo de resistência.  Para Larissa, a Lei Maria da Penha é um dos maiores avanços na história feminina, mas não é o suficiente para dar fim a violência: “Mulheres são agredidas por homens. Chegam para denunciar e são atendidas por homens, que muitas vezes as colocam em uma situação de exposição, duvidando do relato”. Nesse contexto, o movimento feminista funciona como incentivo e segurança às mulheres, que se organizam na luta pelo fim da violência. “O feminismo é nossa maior arma, é o que nos faz sair do lugar e estar um passo a frente. Faz a gente ver o quanto ainda precisamos lutar e ao mesmo tempo saber que não estamos paradas” finaliza.

16 dias de ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher

A campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres” é uma mobilização anual, empreendida pela sociedade civil e o poder público, que busca conscientizar a população sobre os diversos tipos de agressão contra mulheres. Apesar de ter surgido apenas em 1991, já conquistou 160 países. Com início mundialmente no dia 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, estende-se até dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, contemplando o 6 de dezembro, Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. No Brasil, a campanha, que acontece desde 2003, inicia as suas atividades no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, para destacar a dupla discriminação sofrida por mulheres negras.

O Grupo Autônomo de Mulheres em Pelotas (GAMP), em 2017, está mais uma vez organizando o ativismo na cidade. Com eventos como rodas de conversa, entrevistas em programas de rádio, seminários, palestras e sessões de cinema, o GAMP busca ajudar mulheres que estão inseridas no contexto da violência, orientando-as sobre seus direitos e trabalhando sobre as formas de preconceitos e discriminação.

Reprodução/Facebook

Em seus 25 anos de ativismo, tem como principais objetivos a luta contra a opressão, resgatar a auto-estima das mulheres, incentivar uma nova postura frente à vida, ampliar a consciência de gênero e incentivar as mulheres a participarem de movimentos da sociedade. O grupo surgiu da união de diversas parcelas da sociedade que procuram dar fim a violência contra a mulher e são realizados encontros durante todo ano, onde ocorrem palestras, conversas, seminários e atos, por meio dos quais o grupo tenta destacar seu tema: Igualdade e respeito às diferenças.

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