Mulherismo Africana na 46° Feira do Livro

46ª Feira do Livro promove roda de conversa sobre Mulherismo Africana na Bibliotheca Pública Pelotense. Fotos: Lunara Duarte

Por Lunara Duarte

No último domingo, dia (11), aconteceu uma roda de conversa sobre Mulherismo Africana promovida pela 46° Feira do Livro de Pelotas, às 18h, na Bibliotheca Pública. A estudante de Ciências Sociais, Mayra de Jesus, ministrou o encontro e debateu com o público de maneira descontraída um tema de enorme complexidade.

De início, Mayra apresenta a definição de Mulherismo Africana (apesar de estar no feminino, significa plural em latim). O termo surge oficialmente nos Estados Unidos na segunda metade do século XX com a professora de inglês Clenora Hudson. Autora de diversos livros, ela conta que, enquanto negra da diáspora (descendente de africanos escravizados), não se reconhece no território em que vive, na América. “Onde quer que você esteja, você é África. E quanto mais África você se parece, mais difícil é viver fora dela”, afirmou a estudante.

A estudante Mayra de Jesus fala sobre a importância da afrocentricidade.

A teoria não possui vertentes e está alicerçada em três grandes pilares: o matriarcado, o panafricanismo e a afrocentricidade. No primeiro caso, parte de uma perspectiva matriarcal, ou seja, a figura feminina tem um papel central (como era na África pré-colonial). No segundo, trata-se de uma teoria que tem como eixo a premissa de que todos os negros pertencem à África independente da sua nacionalidade, em uma tentativa de reerguer o continente destruído pela invasão colonial. No terceiro, a intenção é guiar-se por autores panafricanistas negros, resgatar a religiosidade tão cara à tradição africana e adotar no cotidiano  costumes e valores ancestrais.

Mayra salientou as diferenças teóricas com o feminismo. “A gente não tem a intenção de ser universal, a intenção é reconhecer e abraçar mulheres negras”, enfatizou. Além disso, destacou que a maneira de encarar gênero e sexualidade pela teoria é totalmente oposta já que no contexto pré-colonial a figura feminina era sagrada, e as formas de organização social eram bastante diferentes das verificadas nos padrões ocidentais. “Apesar de sermos diferentes (homens negros e mulheres negras), somos africanos e temos que trabalhar para a África crescer”.

O Candomblé, religião de matriz africana, ajuda a compreender como funcionam as relações entre homens e mulheres nessa perspectiva. No terreiro, a mulher prepara e serve os alimentos não por submissão, mas porque nela reside o dom da criação, por isso nutre os demais. Ela é detentora do ventre original. Existe uma simbologia que corresponde à outra maneira de interpretar o mundo, incompatível com a teoria feminista, surgida a partir de uma matriz eurocêntrica na qual a mulher ocupa uma posição subalterna.

O panafricanismo defende que todas as pessoas negras possuem um elo em comum, algo além da aparência. A estudante apresentou a analogia das máscaras africanas para exemplificar que, apesar da diversidade cultural no continente, existe uma essência inerente aos povos nativos. “Você pode reunir várias máscaras da África e colocá-las em um museu na Europa que eles não vão saber exatamente de qual tribo é, mas vão saber que é da África”, pontuou.

A conversa durou em torno de 2h30 e trouxe muitas contribuições às pessoas, que ouviam atentamente e depois faziam comentários pertinentes. Os assuntos se desdobraram em temas como identidade nacional, religião, educação e outros tantos, oportunizando uma troca de conhecimento enriquecedora para quem pertencia ou não à universidade. A mensagem foi repassada: Mulherismo Africana é muito mais do que uma teoria, é uma luta constante pela preservação de valores ancestrais.

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