Mídia de múltiplas vozes
Na segunda noite da Semana Acadêmica do Jornalismo, Moisés Mendes falou sobre pluralidade e a reinvenção da profissão.
Por: Gislene Farion, Kímberlly Kappenberg e Vitória Leitzke
A terça-feira foi de auditório cheio para acompanhar a conversa com o jornalista Moisés Mendes, convidado da noite na IV Semana Acadêmica do Jornalismo UFPel. O profissional de Rosário do Sul compartilhou com os estudantes experiências da carreira, que inclui 27 anos no jornal Zero Hora, e no bate-papo falou sobre suas expectativas para o futuro da comunicação.
Um ponto que guiou o encontro foi a participação da mídia no Golpe Militar de 1964, e mais recentemente a posição adotada pelos meios de comunicação durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em ambos os casos a influência exercida não pode ser negada, disse Moisés, assim como a posição ainda adota por grande parte dos veículos, que refletem uma pequena parcela mais abastada da população.
O profissional, no entanto, se mostrou otimista com a nova geração de jornalistas que está saindo das universidades e se voltando às propostas de comunicação alternativas, que para ele são o futuro da profissão, num mercado que vem encolhendo. “Nesse formato as grandes questões da humanidade voltam a ser pauta” afirmou ele, que compara o futuro ao trabalho exercido antes do Golpe de 64, na segunda metade do século XX, que se preocupava com questões como feminismo, Floresta Amazônica e o poder de transformação social da comunicação.
Contudo, os profissionais progressistas não podem deixar de lado as grandes redações, mas sim demarcar seu espaço de contraposição ao discurso da maioria. “Os novos jornalistas precisam resgatar a alma da profissão. Reinventá-la”, destacou Moisés Mendes. Isso tudo deve ocorrer em um cenário que se volta cada vez mais ao online, em que a internet é a grande aposta e o jornalista muda o papel de um simples comunicador, para um apurador de fatos que traz credibilidade à notícia com seu trabalho de investigação.
O acadêmico do terceiro semestre, Johnny Cangirana, disse que a noite contribuiu muito para sua formação e elogiou a iniciativa do Centro Acadêmico Patrícia Galvão (CA Pagu) em trazer um profissional experiente, com uma visão que difere dos veículos hegemônicos. “É uma pena não ver mais jornalistas como ele na grande mídia” refletiu o estudante.
O exemplo de Pagu
Moisés Mendes se mostrou muito contente em participar do evento, especialmente pelo fato de o Centro Acadêmico do curso ter como homenageada a escritora Patrícia Galvão – Pagu – que exerceu forte militância e, nas palavras do jornalista, “uma transgressora que serve de exemplo”.
Pagu, nascida em 1910, participou do movimento modernista, através de poesias, peças de teatro e demais obras. Durante a vida se posicionou como militante comunista e foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas, ao expressar suas opiniões contrárias ao cenário político da época. Ela escreveu para o jornal a Vanguarda Socialista, que se contrapunha ao discurso do então presidente Getúlio Vargas, e como ilustrador participou da Revista de Antropofagia.