Manuela D’Ávila deixa aos universitários o recado: “Resigne-se ou lute”
DCE da UFPel reúne comunidade para debater resistência e defesa da educação com Manuela d’Ávila
Por Nathianni Gomes
Poucas horas antes da greve geral de 48h pela educação dos dias 2 e 3 de outubro, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) organizou o evento “Manuela d’Ávila debate resistência e defesa da educação”. No auditório térreo do Campus II, a mesa de debate também contou com a presença de Rosane Brandão, Maria Tereza Fuji, ambas servidoras da UFPel, e Hullifas Nogueira, coordenador do DCE.
O contexto da educação no Brasil é de dúvida e preocupação. As universidades públicas vivem momentos de tensão e insegurança sobre o que será feito daqui para frente e qual será o seu destino com o projeto do novo governo instaurado. Estas questões foram os pontos-chave do debate, além de temas como o que foi, o que é e o que será a educação do País.
Em sua fala, Maria Tereza Fuji, coordenadora geral da Associação dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas (Asufpel), contextualizou a educação brasileira com uma pequena linha do tempo, desde a redemocratização até os dias de hoje, passando por momentos como as lutas estudantis, a PEC do Teto da era Temer e a insegurança dos tempos atuais. “A universidade vai entrar no ano que vem em condições tão precárias que vai se ver obrigada a aceitar o Future-se. Esse deve ser o pensamento do governo”, afirmou ela.
O Future-se tem sido pauta recorrente em debates dentro da universidade através do DCE, que juntou unidades acadêmicas para difundir informações sobre o projeto. De acordo com os resultados dos debates e assembleias, a ideia é vista pela comunidade universitária como um retrocesso em relação à autonomia das universidades, conquistada por meio de movimentos de estudantes e servidores. “A luta da educação é a maior prova de amor pelo país”, concluiu Hullifas, coordenador do DCE e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes.
Rosane Brandão, coordenadora de políticas estudantis da UFPel, relembrou que as políticas sociais são direitos garantidos pela Constituição e destacou a posição da educação no contexto atual: “ela está claramente como a inimiga de um projeto que o governo quer incrementar. Resistir é imprescindível”.
Já a fala de Manuela foi importante para o entendimento de como a estruturação da sociedade propiciou esse momento de tensão. Além de jornalista e mestre em Políticas Públicas, a palestrante foi vereadora, deputada estadual e federal e candidata à vice-presidência da República.
Para ela, a falta de diálogo entre pessoas com ideologias diferentes afastou discussões importantes. “Eu acho que nós nos engajamos muito pouco. Será que nós conversamos com as pessoas de uma forma que elas compreendam a relevância e o que isso representa para as nossas vidas? O corte de verbas da UFPel pode parar com o atendimento da Odontologia na cidade. O quanto a população sabe disso?”, questionou.
A jornalista ainda enfatizou a importância da universidade e das pesquisas que são produzidas nesse ambiente: “a universidade não é o espaço da realização pessoal de vocês apenas, ela é um espaço que produz conhecimento para nosso país”. Para ela, “democratizar o acesso a esse conhecimento é ter a possibilidade de mudar o projeto de desenvolvimento do Brasil”.
A política também relembrou a infância, a juventude no movimento estudantil e a graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul que, segundo ela, tinha condições tão precárias que os estudantes pensavam em privatização. “Já em 2016, quando voltei para fazer meu mestrado, era um mundo novo. E é diferente porque agora tem a cara do povo”, conta. O recado de Manuela para os estudantes é de esperança na luta estudantil para garantir a educação pública de qualidade: “Resigne-se ou lute”.