Grafite transforma parede do Anglo em manifesto visual durante a SIIEPE 2025

Em parceria com a Universidade Federal de Pelotas, artista Junior Asnoum cobre o campus Anglo de cores

O mural “Amor Universal”, após sua finalização. Foto: Júnior Asnoum /especial Em Pauta

Luis Garcez/Em Pauta

Um novo mural cobriu as paredes do Campus Anglo da Universidade Federal de Pelotas durante a 11ª Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE), realizada de 20 a 24 de outubro desse ano. Intitulada “Amor Universal”, a obra foi criada pelo artista visual e grafiteiro Junior Asnoum , a partir de um acordo com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) e com patrocínio da empresa pelotense de tintas Oglee, restaurante Libre e Rafa repasses .​

A criação do mural, pintado em uma das paredes do prédio principal do Campus, levou cinco dias e acompanhou a movimentação intensa da SIIEPE 2025. A obra dialoga diretamente com o tema desta edição, “UFPel Afirmativa: Ciência, Direitos Sociais e Justiça Ambiental”, que orientou a programação acadêmica e cultural do evento. Batizada de “Amor Universal”, a intervenção integra o conjunto de ações destacadas na Semana Integrada, aproximando arte urbana, universidade e comunidade em um espaço de grande circulação estudantil. A parceria entre a PREC, o artista e o patrocinador permitiu que o mural fosse pensado como parte da identidade visual do evento, somando-se às apresentações artísticas e à mostra cultural da SIIEPE.​

Junior Asnoum conta que o mural nasceu de um desejo antigo de ver sua arte naquela parede vazia do Anglo, vontade que ganhou forma quando ele decidiu procurar a PREC para apresentar a proposta e pedir autorização. A partir desse movimento, o projeto foi vinculado oficialmente à programação da SIIEPE, e o artista passou a buscar patrocínio para viabilizar a pintura, em um processo que ele descreve como construção de pontes e somas de intenções.

Guiado pela temática das ações afirmativas, Asnoum entende o mural como um lembrete de que o possível se revela quando alguém se move com propósito, transformando um impulso em gesto concreto e em criação compartilhada. O artista trabalha com graffiti desde 2002 e desenvolve uma pesquisa autoral em caligrafia e em um alfabeto próprio, decompondo e reorganizando letras em composições abstratas. Em seus processos, palavras intuídas durante a pintura se misturam a simbologias nas formas e nas cores, que o artista enxerga como canais de energia capazes de conectar pessoas e espaços em atmosferas de harmonia e reflexão.

Mestre em Artes Visuais pela UFPel, Junior Asnoum acredita grande parte de sua evolução artística à passagem pela academia, tanto pela formação técnica e conceitual quanto pela convivência diária com outros artistas. Essa experiência, segundo ele, foi decisiva para a construção da identidade visual que desenvolve hoje, marcada pela mistura entre letra, abstração e espiritualidade.​ Depois de anos conciliando arte e trabalho formal, Asnoum decidiu deixar o emprego e assumir integralmente a carreira artística, por entender que a pintura e a criação demandavam a energia e o tempo que antes eram consumidos por outras atividades.

Na trajetória do grafiteiro, alguns murais ganharam peso especial, como a participação em um projeto em Barra Mansa (RJ), que resultou em um mural de cerca de um quilômetro de extensão e passou a ser considerado o maior mural de graffiti do Brasil. O artista também citou a pintura do mural do Anglo como uma experiência única que o fez refletir sobre a força da arte em ambientes institucionais e sobre o impacto de acompanhar, em tempo real, a reação do público às obras, além de reforçar o sentimento emocionante de estar em um espaço que o formou, agora como artista convidado.

Junior Asnoum durante o início da pintura do mural. Foto: Luís Garcez/ Em Pauta

Em uma conversa com Julia Vitoria Duarte Nunes, estudante do segundo semestre do curso de jornalismo, a menina comentou que chegou a ver o processo de pintura durante os dias que frequentou a SIIEPE. “No início vi mais de passagem, mas nos outros dias comecei a olhar com mais atenção. A pintura na parede com as cores vibrantes e chamativas acaba proporcionando bastante personalidade para o campus, chamando a atenção de quem acaba passando por ali.” Após vislumbrar o trabalho finalizado, ela o considerou incrível, não só pela sua beleza estética, mas também por prover muita identidade visual ao campus, removendo um pouco da simplicidade do local.

Questionada sobre os outros diversos, porém menores, murais que decoram o campus, Júlia afirmou que os acha lindos, pois além de trazerem mais cor e personalidade para o campus, também funcionam como uma forma de expressão da diversidade. “Para mim, universidade é exatamente isso: diversidade” Concluiu a futura jornalista. Júlia também comentou que acha muito interessante encontrar maneiras de representar a universidade de uma forma artística e caracterizada, seja em eventos importantes como a SIIEPE, ou na simplicidade do dia a dia estudantil. A garota gostaria de ver novas intervenções artísticas no seu campus, pois acha muito importante que o ambiente universitário abra portas para diversas formas de arte.

De acordo com o pró-reitor de Extensão e Cultura da UFPel, Fábio Garcia Lima, o mural “Amor Universal” foi pensado como uma “encomenda” específica para a SIIEPE, viabilizada pelo patrocínio da empresa Oglee Tintas, marca pelotense que atua no setor de soluções em pintura e foi fundada por um ex-professor da universidade, aproximando ainda mais a iniciativa da UFPel.​​

Fábio adianta que a Coordenação de Arte, Cultura e Patrimônio da PREC pretende, a partir de 2026, lançar editais voltados a artistas locais para novas intervenções visuais. A ideia é que esses editais sejam temáticos, alinhando cada proposta aos espaços e aos momentos em que as obras serão instaladas, reforçando a integração entre arte e cotidiano universitário.

 

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