Festival Cabobu: racismo estrutural, um fenômeno a ser debatido

A mesa redonda realizada no primeiro dia de festival tratou sobre o racismo estrutural enfrentado pela população negra em Pelotas e teve a participação de figuras relevantes para a luta

Por Maria Eduarda Lopes / Em Pauta

No primeiro dia de festival (21/04), às 10h30, na Bibliotheca Pública Pelotense, ocorreu a mesa redonda “Racismo Estrutural, Um Fenômeno a Ser Debatido”. O Espaço Mestra Griô Sirley Amaro recebeu os convidados Antônio Carlos Cortês, Ledeci Coutinho, Márcio Chagas e Marielda Barcellos. O debate, mediado por José Batista, evidenciou diversas vivências infelizmente proporcionadas pelo racismo.

Antônio Carlos Côrtes é advogado e psicanalista. Na década de 70 integrou o movimento Quilombismo e o Grupo Palmares, um impulsor da proposta do dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.

Ledeci Coutinho é ativista há mais de 30 anos. Servidora pública do estado, é licenciada em História e mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente é diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Monsenhor Queiroz e conselheira do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Pelotas.

Márcio Chagas é professor de Educação Física, formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Foi árbitro da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), eleito o melhor do Rio Grande do Sul em 2008 e de 2011 a 2015.

Marielda Barcellos é doutora em Antropologia, professora aposentada e ativista do Movimento Negro Unificado (MNU). Atualmente, integra a coordenação da “Marcha Mestra Griô Sirley Amaro”.

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As falas de Márcio chocaram o público inúmeras vezes, conforme relatava os casos de preconceito sofridos no âmbito esportivo. “Quando eu fui para o meio da arbitragem, foi na perspectiva de acreditar que o futebol seria um espaço democrático, e ele não é nem um pouco, principalmente quando um negro se coloca numa posição de decisão. A relação do futebol nada mais é do que uma representação contemporânea da escravatura muito viva, inclusive se adota o termo escravocratas sem que a gente perceba como compra e venda de pessoas. E o modus operandi é o mesmo dos europeus na época da escravatura: os europeus vem, compram, levam, e distribuem o que normalmente são corpos pretos ou de brancos pobres”, completa Chagas.

Marielda rebateu a comoção pública, afirmando que a discriminação é algo cotidiano vivido por pessoas pretas, essa é a lastimável realidade que precisa ser enfrentada todos os dias de suas vidas. “Temos que pensar quais são as nossas ações e reações quando achamos que o que acontece com o Márcio não acontece conosco e não está dentro da nossa casa”.

Para o Em Pauta, Márcio Chagas compartilha o prazer em participar da mesa: “Foi uma satisfação estar numa mesa com pessoas qualificadas, com muito conteúdo e muita experiência. Pra mim também é um aprendizado. São pessoas que têm uma vivência e que já vem de uma luta há muito mais tempo do que eu, então sempre é de grande valia dividir espaço com essas pessoas, e também contribuir de alguma maneira à outras gerações”.

Mais uma convidada, Marielda Barcellos salienta a reflexão do papel da sociedade para avançar sob as estruturas racistas vigentes, e a participação no Festival: “É sempre muito bom e muito potente quando nós conseguimos estar em espaços como esse, onde conseguimos dividir conhecimentos e pensamentos com outras pessoas. Estar aqui nesse projeto, que é o Cabobu, é algo muito especial, que dialoga com a minha ancestralidade”.

A mesa foi a segunda da manhã de abertura das mesas do Festival Cabobu. O racismo estrutural é uma pauta urgente, que precisa ser conversada exaustivamente até a descentralização desse sistema que privilegia corpos brancos e desumaniza corpos pretos.

 

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