Existe vida além do smartphone?
Por Camila Faraco e Manuelle Motta
Nomofobia: você sabe o que é isso? É o termo que define a angústia ou ansiedade sentida por quem está impossibilitado de se comunicar por celulares ou outros telemóveis. Independente de qual seja o motivo: estar sem créditos, sem bateria, ou em algum lugar que não tenha sinal ou que seja proibido o uso dos aparelhos, a sensação de estar desconectado do mundo, em algumas pessoas, pode sair do controle e gerar prejuízos que vão além da saúde.
A vendedora Claúdia Sampaio conta que até comprar seu primeiro smartphone não entendia o que tanto as pessoas mexiam no celular. “Comecei a me sentir excluída, sabia das coisas sempre depois de todo mundo. Foi aí que aderi à moda e descobri que estar com o mundo nas mãos é genial”. Mas, segunda ela, esse tempo, em que o mundo ficava nas mãos, só foi aumentando, proporcionalmente às reclamações de amigos e familiares. “Hoje eu não consigo ficar mais de meia hora sem conferir minhas redes sociais, mesmo que eu não esteja esperando e-mails ou precise falar com alguém, é só pela mania de passar o dedo e ver as últimas atualizações”.
De acordo com especialistas, a pessoa pode ser considerada viciada em internet quando sua vida cotidiana e, principalmente, suas relações são prejudicadas pela necessidade de estar on-line. A psicóloga Dóris Noronha destaca que o mundo virtual – e em especial as redes sociais – traz um sentido de liberdade com possibilidades diversas. Segunda ela, a ilusão estabelecida neste espaço, onde a projeção no outro é evidente, leva as pessoas a um processo de provisoriedade e superficialidade nas relações humanas. “Atualmente, as pessoas estão conectadas a estes espaços virtuais de forma intensa e constante. Isto acaba trazendo prejuízos na convivência com seus pares e familiares”.
Foi justamente isso que aconteceu com Claúdia. O que era pra ser positivo e uma diversão, tornou-se um problema. “Meu marido passou a reclamar muito do excesso de tempo que eu dedicava a mexer no telefone e a gota d’água foi quando quis ir à casa de amigos, depois da meia noite, pegar um carregador emprestado, já que era sexta-feira e eu tinha esquecido o meu no trabalho. Foi aí que eu percebi que estava fora de controle e desde então, pelo menos na frente dele, evito mexer muito”.
Quando as relações presenciais são afetadas, até mesmo quem está acostumado a essa realidade reclama. O jornalista Andrew Falchi percebeu isso no aniversário de um amigo. “Estávamos em um grupo de seis pessoas, uns na volta da churrasqueira e outros tocando violão e só eu mexendo no telefone”. Segundo ele, o mais interessante é que entre essas pessoas, algumas são bem assíduas às redes sociais, mas na ocasião todos interagiam, menos ele. “Percebi que eu estava ausente no aniversário e presente no virtual. Foi estranho porque ali estavam as pessoas que eu converso nas redes sociais e, nem assim, eu fiquei distante do mundo on-line”.
Não podemos negar que ter o mundo, literalmente, nas mãos facilita a rotina das pessoas, ainda mais em dias em que as atividades são muitas e o tempo para sentar, ler e socializar é cada vez menor. Mas, como tudo na vida, o segredo é ter equilíbrio, e foi isso que a química Ana Paula Kruger conseguiu. Ela conta que já teve a fase de se alienar em alguns momentos mexendo no celular, mas que hoje em dia se policia para não ter o mesmo comportamento. Para ela, essa atitude demonstra certo desrespeito por aqueles que estão presentes. “Já reclamei e já escutei reclamações. Acredito que para equilibrar o mundo real e o virtual, basta balancear as necessidades e o lazer. O mundo exige que estejamos bem informados e é muito agradável utilizar redes sociais, para rever amigos ou simplesmente se distrair, mas também é necessário conviver com as pessoas do mundo real e infelizmente estamos esquecendo o quanto isso é prazeroso”.
O desafio é encontrar o bom senso, desfrutando das facilidades oferecidas pela tecnologia sem perder a capacidade de vivenciar a realidade. E acredite, é possível conviver de forma harmoniosa com seus amigos e seus eletrônicos, basta dedicar o tempo certo para cada um deles. “Estar presente e comunicar-se com as pessoas que fazem parte do nosso cotidiano é fundamental para que as relações possam acontecer de forma positiva e pautadas em dados de realidade”, destacou a psicóloga.