Escândalos envolvendo a presidência e a resposta da população
Manifestação pressionando as investigações na Avenida Paulista. Imagem: Elineudo Meira
Por Julia Vilas Boas
No dia 14 de março de 2018, a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL) foi assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes. Mais de um ano e meio após o crime, as investigações ainda não foram concluídas. Recentemente, um áudio divulgado pelo Jornal Nacional revelou uma ligação entre o porteiro do condomínio em que a família presidencial possui dois imóveis e um homem que se identifica como “Jair”. Anotações do porteiro mostram que esse homem estava na casa 58, casa do atual Presidente da República. Desde então, a família Bolsonaro está oficialmente citada nas investigações em busca dos mandantes do crime. A polêmica causada pelo áudio gerou revolta entre Jair Bolsonaro e seus filhos.
Jair Bolsonaro, em resposta à reportagem da Globo, responsável pela divulgação das provas e da associação da família Bolsonaro com o crime, postou um vídeo histérico em suas redes sociais, diretamente da Arábia Saudita, onde estava viajando. O Presidente se mostrou impaciente e nervoso com as acusações. O vídeo virou motivo de piada entre a oposição e os internautas relembraram as acusações de “histeria” contra a ex-presidente Dilma Rousseff, na época em que houve o impeachment, e compararam o comportamento de Dilma com Jair Bolsonaro.
Também, curiosamente, ainda não foi feita nenhuma grande reportagem na Veja ou em outras revistas e grandes jornais acusando o presidente de ser “louco” ou “desequilibrado”, mesmo que sua resposta a uma investigação policial e sua constante culpabilização da Rede Globo por seus escândalos sejam extremamente explosivos e com palavras de baixo calão. Sua resposta feita por um meio não-oficial de comunicação aumenta a descredibilidade de sua fala. A live foi transmitida na página do presidente na mesma noite em que a reportagem do JN foi ao ar – na Arábia Saudita já era madrugada. Por que, então, nosso presidente não leva essa fama nos grande veículos?
Ato em Pelotas. Imagem: Elineudo Meira
Mas não apenas o presidente está sendo assunto nas redes sociais pela sua resposta às investigações. Carlos Bolsonaro está sendo nomeado de “burro” pela oposição, uma vez que publicou um vídeo com as provas dos horários dos telefonemas entre a portaria e casa 58, confirmando o contato. A família do Presidente da República não vem sendo muito polida ao conversar com a população brasileira, e não é de hoje isso. Lembra-se então as inúmeras entrevistas coletivas em que Jair Bolsonaro destrata a imprensa respondendo perguntas polêmicas com falta de educação e de sua posse com os jornalistas presos em uma sala sem poder sair nem para beber água. O descaso com a informação vem de tempos.
Recentemente a população voltou às ruas para cobrar responsabilidade da justiça para que encontre uma resposta que termine com as investigações logo colocando os responsáveis para responderem justamente pelo assassinato de Marielle. Várias cidades aderiram ao ato. E as autoridades, será que ouvem a voz do povo?
No Chile a população está movimentada pelas ruas pedindo por melhorias, reformas e protestando contra o patriarcado. O movimento é mais forte que o que foi presenciado no nosso país em 2013, com manifestações que começaram contra o aumento da passagem de ônibus e acabaram mobilizando uma nação inteira a lutar contra corrupção. Também podemos lembrar de 2016, centenas de escolas ocupadas contra a PEC 241, greve na educação e manifestações pelas ruas. O Brasil precisou disso em 2013 e 2016 e está precisando novamente, em 2019. Até quando vamos deixar que o Presidente da República faça nosso país de gato e sapato? Até quando vamos tolerar crimes políticos?
