Entrevista com o artista pelotense Cesar Couto

Por: Lunara Duarte

Todos nós sabemos o quanto os artistas locais encontram dificuldades para difundir as suas produções artísticas. A cidade de Pelotas reúne uma grande quantidade de artistas que só conseguem divulgar o seu trabalho de maneira autônoma em eventos culturais sem alcançar o reconhecimento pelo seu trabalho. É importante retirar da invisibilidade os talentos locais.

Em um bate-papo descontraído, o artista pelotense e estudante de Artes Visuais, Cesar Couto, de 21 anos, expõe em seus portfólios diversos desenhos feitos em aquarela, folhas e flores, e e comenta temas sobre arte, política e educação, além de analisar o cenário de desvalorização do trabalho artístico e da cultura no Brasil.

Quando surgiu o seu interesse por desenho e Artes Visuais?

Eu desenho desde criança. Costumava desenhar nas últimas folhas do caderno. Então, escolhi Artes Visuais por causa do desenho em si, por acreditar que o meu traço ficaria mais solto. Talvez a academia tenha me tornado meio “academicista” porque exigem releituras de outros artistas. No meu entendimento, só a reprodução deixa o artista muito preso.

Quais são as suas inspirações?

Eu me inspiro no pintor Jean Michel Basquiat. Inclusive, está acontecendo uma exposição dele em São Paulo. Ele foi um artista negro norte-americano que trabalhava com arte urbana, com picho. Também me inspiro em um artista brasileiro chamado José Leonilson Pimentinha. Ele tem desenhos mais limpos, minimalistas. Uso os dois como referência porque são divergentes. Fora isso, gosto do movimento dadaísta e surrealista.

Além desses artistas, o que te inspira no cotidiano para produzir?

O jeito que as pessoas sentem. Esses dias eu ia pintar quadro para um amigo meu e sei que ele se sente deslocado, como se aqui – o mundo – não fosse o lugar dele. Desenhei o quadro de uma moça com chifres (como se fosse uma aberração) e planetas ao redor escrito: aqui é o meu lugar. Ou seja, depende de como cada um se sente. Eu tento captar isso.

Qual material você utiliza na sua produção?

Trabalho muito com folhas secas e flores. A minha produção é toda em aquarela. Gosto de usar cores vibrantes e complementares (contrastantes) nos meus desenhos.

Que tipo de desenho você mais gosta de fazer?

Eu gosto dos nus. Talvez porque eu tenha sofrido com o meu corpo. Quando você vai desenhar o corpo na disciplina de desenho da figura humana, e o cavalete fica à sua frente e o modelo nu no meio da sala, é como se você sentisse cada dobra do corpo ao desenhar. Achei curioso que colegas meus riscaram o órgão genital no desenho, como se o corpo humano fosse feio. A nudez continua sendo tabu inclusive nos cursos de artes.

Quando você vê a desvalorização do trabalho artístico?

Onde eu mais sinto é quando a pessoa sabe que você é artista e diz: “Pinta um quadro para eu colocar na minha casa.” Nem pensam que você gasta dinheiro com o material que usou. Pensam que arte não é trabalho. Ainda mas quando se tratam de artistas locais. Os próprios estudantes de artes acabam valorizando os artistas mais renomados do que os locais. Mas a nossa produção é muito rica. Só é difícil conquistar o seu espaço em um país onde a cultura não é valorizada.

Onde você costuma divulgar o seu trabalho?

Eu vendo o meu trabalho eventos culturais. Inclusive, eu e minha amiga vamos fazer um bazar pra divulgá-lo. Mas podem me procurar nas redes sociais também.

Qual a importância da arte em um contexto opressivo?

Diante de tantos retrocessos no Brasil e no mundo, a arte é um meio de protestar. Os pichos, por exemplo, são um meio de protesto.

Quais são os seus projetos?

Penso em seguir a carreira de artista e professor. Além disso, pretendo trabalhar com cerâmica este ano.

Como você pretende trabalhar a arte e a educação?

Arte e educação andam lado a lado. A educação luta contra o sistema e a arte também. Eu pretendo ensinar aos meus alunos que todo mundo sabe desenhar, mas que nem todos desenham igual. Todo desenho transmite alguma coisa. Quero ensiná-los que para desenhar não é necessário tinta ou lápis de cor, pode-se desenhar com a beterraba, com a cenoura, a manga, a pigmentação de alguma folha, etc. Existem muitos caminhos e o que vale é a criatividade.

Para entrar em contato com Cesar basta acessar o Facebook dele.

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