Em Defesa do Pop: o gênero além do efêmero
por Vinicius Colares
A música acompanha o homem há muito tempo sem levar em consideração intelecto e posição social. Onde há vida, há música e toda construção musical é intrínseca ao ser humano. É ele que a produz, afinal. Mantendo os pés no século XXI, uma grande diferença de nossa época em comparação às passadas, nesse sentido, é simples: a possibilidade de fugir da música hoje é nula. Ingênuo aquele que diz que pode controlar sempre o que vai ouvir e quando vai ouvir. Encontrar uma trilha sonora diferente em cada lugar exemplifica o fato. Das livrarias às oficinas, a música preenche qualquer ambiente de forma unânime. O termo “música de elevador” não surgiu do nada, afinal.
O que é pop?
O fator determinante, que serve como base para definir o que vai tocar com maior frequência em um número X ou Y de lugares, não é a sorte, porém. O conceito de música pop está diretamente ligado a isso. A pop music (termo em inglês que surge da abreviação da palavra popular) pode ser entendida, grosso modo, como um gênero que se alimenta de elementos variados para criar um tipo específico de música. Os objetivos da música popular são o puro prazer por parte do ouvinte – sem grande preocupação com questões técnicas – e a comercialização, através do alcance das grandes audiências (mass audience).
A música pop, geralmente, não tem preocupações estéticas aprimoradas. Questões estruturais são geralmente as mesmas (a duração média de 3-6 minutos, letras de formato básico com “esqueleto” verse-chorus, guitarras que não abusam de distorção, etc.). Essas características acabam dando certos ares de efemeridade para a música pop. Todo preconceito contra esse gênero vai de encontro com o fato de ser “música para vender e não para ouvir”. E a partir daqui deve-se ter cuidado.
Aviso: o ouvinte que define o que ouve a partir de questões técnicas estruturais e de composição apenas, não leia o texto até o fim. Aliás, desnecessário escrever isso. Quem assim define música só leu o título e foi-se embora. Que assim seja.
A qualidade popular
É com a melhor das intenções que deve-se pedir para que tenham cuidado ao simplesmente definir a pop music como descartável. Existe vida dentro desse gênero. Pouca, verdade, se compararmos o quanto se produz dentro da música popular, mas isso serve também para outros gêneros.
Exemplificação é a melhor ferramenta nesse caso. Recorro aos clássicos: Off The Wall (1979) do eterno Michael Jackson; Arrival (1976) do ABBA (grupo sueco preferido das titias do mundo todo); Purple Rain (1984) de Prince em parceria com seu grupo de apoio The Revolution.
A intenção não é levar nenhum beatlemaníaco à loucura, mas é impossível não trazê-los nessa lista também. Alguns especialistas (muitos deles) creditam aos Beatles os melhores álbuns pop de todos os tempos. Abbey Road (1969) talvez seja o maior.
Daft Punk e a reforma do pop
Outra motivação para a defesa do gênero deve ser um disco de 2013 que mudou a forma de fazer pop music. O Random Access Memories (2013) do Daft Punk, no mínimo, assusta. Fugindo da formatação simples, o álbum não se prende a nenhum tipo de convenção. O preconceito que ainda levam consigo alguns, pode morrer ao apertar o play e a culpa é da ousadia da dupla francesa. O resultado final do álbum é música pop eletrônica de finíssima qualidade com elementos de disco, funk e jazz. Alguns elementos de música dos anos 1970 e 1980, principalmente, voltaram a marcar presença forte nos hits que se ouve por aí graças ao Random Access Memories. Um dos responsáveis por isso é o produtor e músico Nile Rodgers, figura marcada no disco.
A terceira música do R.A.M., “Giorgio by Moroder”, é narrada pelo compositor e também produtor Giovanni Giorgio. Uma das frases dessa lenda da música disco deve servir para quem gosta de música, apenas.
– Uma vez que você liberta sua mente sobre um conceito de harmonia e de ‘música correta’, você pode fazer tudo o que quiser – diz Giovanni na introdução da canção.
A música, hoje, deveria ser considerada uma das formas de arte mais democráticas que temos. Por isso ouçam o que lhes agrada, sempre. Mas não esqueçam o lugar comum que diz que você é o que você come. Não está assim tão errado. Se for música pop que agrada, que seja. Procurem o que é bom e não aquilo está definido como bom. Falando de música nada é intocável e surpresas surgem o tempo todo. Procurem, para variar, na pop music. E, mais importante, procurem o tempo todo.