Devaneios na terra do doce
Por Marcelo Nascente
Passando muito rápido pela janela-olho. Cores que não sei o nome, gente que nem conheci direito. Vêm e passam por mim e também uns pelos outros. E seus sonhos se repelem e se mesclam – e esvanecem – a ponto de não ser mais possível diferenciar o que é escolha e o que é só reflexo.
Do dia a dia se faz a paisagem que ninguém vê. E não se aprende a evitar os cortes, mas acostumar-se à dor. Não causa espanto que a superficialidade seja zona de conforto.
Uma “nota mental” lembra que preciso ser prático, direto e claro. Mas não há nenhuma outra que diga que não posso bater na mesma tecla. Puxo o freio de mão. Preciso trazer o assunto pra estrada. Comecemos pela que vai para o Laranjal, então: uma das poucas que se mantinha quase intacta virou terreno lunar desde a última chuva, há uns vinte dias. Ao menos agora está padronizada com todas as outras…
Não tenho dados estatísticos, mas imagino que as mecânicas e empresas de peças de suspensão tenham tido um pico de vendas nos últimos anos. Mas, sim, se faz remendos aqui e ali. O problema é que os remendos não são suficientes. Nem bons.
Existe uma espécie de fair play entre Câmara e Prefeitura. E, a essa altura, todos jogam pra cumprir tabela. O empate fica bom para todos. Até a torcida parece gostar do zero a zero…
Nos bairros da cidade o que se vê são mini-mercadistas trabalhando por trás de grades, escondidas pela má iluminação pública. É, no mínimo, um descaso; quiçá um desacato, o que acontece. Pelotas que não atravessam mais o arroio, mas estão à deriva.
A tal revitalização da avenida Bento Gonçalves não ocorreu como consequência da retirada dos trêileres. Os novos leitos tão prometidos pelas capas dos jornais não condizem com a realidade conhecida por quem precisa do pronto-socorro municipal.
O nome que se destaca na política local é o da vice-prefeita, que precisou colocar um “em exercício” no seu cartão de visitas; e assumir uma bronca que não esperava (imagino). Pior: não se vislumbra nenhuma novidade para a próxima corrida eleitoral, o que é assustador.
Canguçu tem uma proposta popular que objetiva reduzir o número de vereadores na cidade e utilizar a verba restante desta ação em questões como saúde e educação. Pelotas pode olhar para o que acontece à volta, ou continuar se convencendo de que tudo vai bem.
Do dia a dia se faz a paisagem que ninguém vê. E não se aprende a evitar os cortes, mas acostumar-se à dor. Não causa espanto que a superficialidade seja zona de conforto. Por isso fico aqui, “perdido em pensamentos, sobre o meu cavalo”…