Desaparecimentos em Pelotas e a iniciativa da Piracanjuba

Campanha que resgata histórias, dá visibilidade e reforça a importância da busca por desaparecidos

Bárbara Vencato / Em Pauta

Desde outubro de 2024 a marca realiza a campanha em parceria com as Mães da Sé. Foto: Bárbara Vencato / Em Pauta

Todos os dias, 212 pessoas desaparecem no Brasil. Esse dado alarmante motivou a Piracanjuba, em parceria com o Movimento Mães da Sé, a lançar a campanha Desaparecidos, que utiliza embalagens de leite como meio de divulgação para rostos de pessoas desaparecidas. O projeto também recorre à inteligência artificial para atualizar digitalmente as imagens, tornando-as mais realistas para facilitar o reconhecimento.

A campanha resgata um modelo que já existiu nos anos 80 nos Estados Unidos e que, agora, ganha uma abordagem mais tecnológica e adaptada ao cenário brasileiro. No primeiro lote, 19 pessoas tiveram seus rostos estampados nas caixas, e, até o momento, oito delas já foram localizadas. A iniciativa tem gerado impacto nacional e levantado discussões sobre a importância da visibilidade nos casos de desaparecimento.

A realidade de Pelotas

Na cidade de Pelotas, a Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) registra anualmente entre 90 e 120 desaparecimentos. A taxa de localização gira em torno de 80%, mas os casos restantes muitas vezes esbarram em dificuldades como a falta de registro da localização pelas próprias famílias.

Segundo o delegado Félix Fernando Rafanhim, os desaparecimentos na cidade geralmente envolvem usuários de drogas, pessoas com histórico de desaparecimento recorrente ou indivíduos com doenças que comprometem o discernimento. Diferentemente do que mostram filmes e séries, a polícia não precisa esperar 24 ou 48 horas para iniciar as investigações e pode agir desde o primeiro momento.

Delegado Felix Rafanhim afirma que campanha como esta podem auxiliar na conscientização da população. Foto: Diário da Manhã / Em Pauta

Outro desafio enfrentado pelas autoridades da cidade é a falta de investimentos em câmeras de monitoramento e a localização inadequada das existentes, dificultando a reconstrução dos passos da pessoa desaparecida. Além disso, não há parcerias locais semelhantes à campanha da Piracanjuba, o que poderia fortalecer os esforços na busca por desaparecidos.

O papel da sociedade e a importância da conscientização

Para o delegado, a iniciativa da Piracanjuba é interessante, mas tardia, considerando que outros países já adotam esse tipo de ação há anos. Ainda assim, a campanha pode desempenhar um papel crucial na conscientização da população sobre o tema.

A colaboração da sociedade é fundamental para lidar com os desaparecimentos. Informar as autoridades sobre situações suspeitas, auxiliar em buscas e estar atento ao bem-estar de familiares e vizinhos são atitudes que fazem diferença. O delegado também destaca a necessidade de que as famílias sejam mais abertas com a polícia, evitando esconder informações para preservar a imagem do desaparecido.

“A iniciativa da Piracanjuba pode ajudar não apenas na busca, mas na conscientização. Infelizmente, as pessoas só costumam se preocupar com o tema quando passam pela situação”, reforça Rafanhim.

As fotos são tratadas com Inteligência Artificial para possivelmente aproximar a fisionomia da realidade atual do procurado (a). Foto: Bárbara Vencato / Em Pauta

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