Coletivo Mulherio das Letras Rio Grande: valorizando a literatura feminina local
Fundado em junho de 2022, o coletivo Mulherio das Letras Rio Grande está unindo forças para valorizar e promover a literatura feita por mulheres na cidade do Rio Grande, contribuindo para um cenário literário mais inclusivo e diversificado.
Historicamente, a literatura brasileira foi dominada por vozes masculinas. As autoras muitas vezes tiveram suas vozes abafadas, relegadas a um papel secundário ou ignoradas, o que dificultou seu reconhecimento e sucesso. Escritoras como Clarice Lispector e Cecília Meireles foram pioneiras em romper essa barreira, abrindo caminho para futuras gerações de autoras.
Desde junho de 2022, o município do Rio Grande ganhou um aliado na luta pela valorização feminina no âmbito literário: o coletivo Mulherio das Letras Rio Grande. Composto por 40 escritoras rio-grandinas, o coletivo surgiu após uma reunião de vinte e uma escritoras no Coreto do Largo Carmen da Silva, na praça Tamandaré.
“Nosso coletivo nasceu em 11 de junho de 2022, quando vinte e uma escritoras rio-grandinas estiveram reunidas no Coreto do Largo Carmen da Silva, na praça Tamandaré, para o registro de uma foto que participou do movimento Um Grande Dia para as Escritoras. Nós fomos uma das quarenta e nove cidades registradas no livro que culminou desse movimento, somos parte das mais de duas mil mulheres que tomaram espaços públicos de cidades no Brasil e no mundo para registrar sua presença na literatura. Foi nesse momento, conscientes da força que temos, que surgiu o Mulherio das Letras Rio Grande“, explica Juliana Blasina, escritora e idealizadora do Mulherio das Letras em Rio Grande.
No âmbito nacional, o movimento feminista Mulherio das Letras foi idealizado pela escritora Maria Valéria Rezende. Desde 2017, atua viabilizando a presença feminina na literatura, unindo escritoras e criando um espaço de troca e pertencimento.
Fomentando as produções literárias por mulheres
Desde sua criação, o coletivo promove encontros esporádicos na livraria Hippocampus, no Balneário Cassino. De acordo com Juliana Blasina, a cena literária em Rio Grande é extensa e está sempre em transformação. Nesse sentido, ler autores locais é uma forma de colaborar com esse movimento e com as futuras gerações.
“A arte, a literatura e, mais especificamente, a publicação de literatura feita por mulheres está enraizada na história do Rio Grande, desde o trabalho das nossas mães literárias, as irmãs Revocata Heloísa de Melo e Julieta de Melo Monteiro, que já no final do século XIX se dedicavam a publicar tantas escritoras nas páginas do Corymbo e de outras revistas que ambas mantiveram. Segundo, o cenário literário atual na cidade é intenso e está em constante expansão. Ler o que está sendo produzido aqui, além de valorizar as nossas artistas, é também uma forma de participar desse movimento. Há todo o tipo de produção e essa variabilidade diz muito da riqueza cultural que é nosso patrimônio, nossa herança e a herança que estamos deixando para as futuras gerações“, ressalta a escritora.
Uma caminhada de desafios e conquistas
Em 2022, quatro dos dez livros mais vendidos no Brasil foram escritos por mulheres, segundo os dados divulgados no site do Nielsen Book Data. Para Juliana, embora a presença feminina tenha ganho destaque no mercado editorial, a visibilidade de mulheres na literatura é uma luta constante.
“Embora nos últimos tempos o mercado editorial tenha apresentado algumas mudanças consideráveis em números de mulheres publicadas, se comparado às últimas décadas, sabemos que ainda há muito pelo que se lutar. A bolha parece furada, mas não está. Temos ciência de que todo espaço conquistado pelas lutas feministas está em ameaça constante e precisa de esforço coletivo para ser mantido. Mesmo essa pequena transformação que estamos presenciando no mercado editorial se deve a pressão que esse mercado tem sofrido por movimentos como o Mulherio e o Leia Mulheres – cobranças feitas não só por quem escreve e publica, mas por quem lê, por quem consome livros e faz esse mercado girar. Também a reivindicação de políticas públicas culturais que valorizem o livro e a formação de novas escritoras, é um compromisso do coletivo. Sabemos também que, para muitas de nós, o caminho entre a escrita e publicação de um primeiro livro é longo e tortuoso, mais ainda para aquelas que escrevem longe dos grandes centros culturais, como é o nosso caso, aqui em Rio Grande. Além disso, percebemos que o primeiro desafio enfrentado e compartilhado pelas mulheres que escrevem é o de se reconhecer como escritora, de encontrar a primeira validação e superar a síndrome da impostora. Nesse ponto, o coletivo é um espaço de pertencimento, de trocas e de renovação de forças, onde ‘uma escritora puxa a outra”, destaca Juliana Blasina.
Para as escritoras que desejam unir-se ao coletivo Mulherio das Letras, Juliana Blasina deixa o convite: “para fazer parte do Mulherio das Letras RG é preciso estar ciente e de acordo com as pautas defendidas por este que é um coletivo feminista e democrático que luta pelos direitos das mulheres dentro e fora da literatura. Convidamos as escritoras que desejam integrar o coletivo a ler a Carta Aberta do Mulherio das Letras e comparecer a um de nossos encontros presenciais. Mais detalhes serão divulgados em nosso perfil do instagram @mulheriodasletrasrg”, finaliza a escritora.