Ciclo de cinema da PROGEP exibiu “Que horas ela volta?”
Por: Mariana Lealdino
Polêmico e emocionante, mas também trazendo a dose certa de humor. “Que horas ela volta?”, lançado em 2015, traz à tona a dinâmica entre patrão e empregado inseridos em um cenário que possui, assustadoramente, inúmeras características e protocolos dos tempos de um retrógrado Brasil colônia. Uma obra cheia de sentimento e de verdade, com fotografia exemplar e um roteiro digno de Oscar, o filme vem para mostrar o potencial do cinema nacional e quebrar o paradigma de que, no Brasil, só se faz sucesso com comédias escrachadas e nudez. O longa dirigido por Anna Muylaert fica como patrimônio imaterial para os brasileiros e uma homenagem a milhares de mulheres, que, muitas vezes, não criam seus próprios filhos para buscar uma situação melhor em casas onde são tratadas como “quase” da família.
O longa retrata o cotidiano de uma família de classe média em São Paulo que tem como sua empregada doméstica integralmente a carismática Val. Uma pernambucana interpretada brilhantemente por Regina Cazé, que deixa sua única filha ainda criança na terra natal em busca de melhores condições de vida para oferecê-la. A trama se complica quando treze anos depois, a filha de Val pede abrigo para a mãe na capital para que possa prestar o vestibular, o mesmo que o filho dos empregadores de Val também prestará. O que a jovem não contava era ficar na casa dos patrões da mãe, esses que a recebem de braços abertos, até o momento que ela começa a circular pela casa livremente, quebrando todos os “protocolos” esperados.
Muylaert consegue transmitir com maestria para o público o que está cautelosamente posicionado nos pequenos detalhes, olhares e imposições que refletem perfeitamente em ações cotidianas de muitas casas brasileiras. Em uma hora e cinquenta e quatro minutos de filme, o espectador é apresentado a uma obra extremamente necessária, pois o público consegue se colocar no lugar do patrão, da empregada e até no lugar da filha da doméstica. Situações muito próximas do cidadão brasileiro e, com isso, o longa tem a capacidade de levantar questões que até então pareciam importunas ou desnecessárias.