As diferentes concepções que o Pós-Modernismo abarca
Por: Clara Celina
Dentre o ambiente acadêmico facilmente se nota uma visualização pejorativa em torno do pós-modernismo. Tal percepção se molda a partir da generalização de que o termo abarca uma visualização extremamente relativizada da realidade. Ainda não existe, no entanto, um estudo consistente em torno das possíveis vertentes do movimento, de forma que os pensadores considerados pós-modernos possuem percepções bem diferentes entre si.
Pode-se dizer que o termo pós-modernismo nasce de uma possível ruptura com o racionalismo, propondo uma crítica às instituições estabelecidas até então, fundamentadas em sistemas culturais fragmentados – ciência, moral e arte. No entanto, como aponta o mestre em filosofia Maikon Scaldaferro, a partir do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, não é como se o pós-modernismo fosse um novo modelo cultural, se apresentando mais como um novo estado de consciência e um projeto do que como uma nova época da história.
Dessa forma, o pós-modernismo não pode ser visto como um sistema cultural unificado e os pensadores que o compõem não necessariamente tratam dos mesmos assuntos. Daí que Foucault fale de novas concepções de poder, dizendo que este se encontra diluído na sociedade atual; Habermas trate da comunicação e apresente a premissa de que a verdade se apresenta através do diálogo; Giddens estude a relação dos indivíduos com as instituições; Pierre Bordieu delimite a Teoria Praxiológica e defenda que teoria e prática se complementam e transformam concomitantemente.
Sendo assim, embora o pós-modernismo traga um novo modo de pensar a respeito de como a verdade se constitui e uma perspectiva mais crítica diante do sistema, ele não necessariamente cai em uma relativização completamente desligada dos valores propagados até então, como muito se julga. Isso também se expressa através do fato de que diferentes pensadores lhe atribuem nomenclaturas diversas, não compactuando entre si.
Enquanto o filósofo francês Jean-François Lyotard se utiliza do termo pós-modernismo, e o caracteriza como o fim das metanarrativas (grandes esquemas explicativos), o também filósofo francês Gilles Lipovetsky prefere chamar de Hipermodernidade, pois não compactua com a premissa de que ocorreu uma ruptura com a modernidade, mas sim que acontece uma exaltação de certas características da mesma.
Os pensadores críticos também não visualizam a pós-modernidade a partir das mesmas perspectivas. Zygmunt Bauman, por exemplo, analisa de acordo com os relacionamentos e cunhou o termo Modernidade Líquida. Já Frederic Jameson, traça uma análise político-econômica e diz que o pós-modernismo corresponde à lógica cultural da terceira fase do capitalismo.
É preciso, portanto, que se tenha tato ao se direcionar críticas ao chamado pós-modernismo. O pensador Ken Wilber, por exemplo, visualiza a Nova Era, movimento considerado pós-moderno, como a mistura mais estranha entre pessoas que tendem à evolução a partir de uma crítica consistente de valores anteriormente tidos como absolutos, e pessoas que tendem à regressão a partir da negação total das antigas concepções.
Daí que seja tão importante não cair em uma crítica generalizada ao pós-modernismo, de forma a não correr o risco de defendê-lo em demasia e aceitar absurdos, mas também não rejeitá-lo inteiramente, sem perceber que ele abarca um grande potencial de evolução.