Açúcar demais faz mal
“Azedo como limão e doce que nem pudim” de João Luiz é um livro meigo (até demais)
Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta
O romance gay ainda é uma área pouco notada e valorizada no mundo cisheteronormativo, o autor João Luiz e outros tentam consertar isso trazendo para suas tramas o protagonismo LGBTQIAPN+. A ideia seria começar a imaginar temas básicos, como se descobrir, crescer e existir, e inserir representatividade neles, mas é preciso tomar cuidado com o que é básico e o que raso.
O livro conta a história de Eduardo, um jovem de 18 anos que acabou de se mudar para São Paulo para fazer faculdade. Após a morte de seu pai e meses de isolamente, o menino começa a conviver com três colegas de apartamento: Artur, Caio e Pedro, seu parceiro de quarto. A obra mostra não só o romance entre Pedro e Edu, mas também o processo de luto e descoberta de si.
É uma pena ver uma história tão interessante como essa com tema tão importante transformada numa narração pueril, quase como uma fanfic. Os primeiros capítulos te prendem de uma forma fenomenal e você fica ansioso para ver como aquilo vai se desenvolver (um spoiler, não vai).
A trama é segura e os personagens pouco desenvolvidos. Confesso que me apeguei à Lara, por isso me pergunto o motivo dela ficar escondida e não ter nenhuma característica marcante. Me parece que todos que estão no livro são unidimensionais e não possuem muita profundidade.
Não vemos nada de inovador nessa obra, ela é muito doce e inocente, tudo é muito simples. Quando finalmente chegamos no impasse da história (depois de muita enrolação), ele é superado rapidamente e sem muita explicação, tudo isso para deixar um final em aberto.
Confesso que gosto do final, acho que combina com a (pouca) personalidade do personagem, porém, já que a desculpa para a briga de casal vem de forma tão mal explicada e abrupta, esperava uma certeza de um final feliz (para o casal).
Todas as cenas de romance (encontros, beijos, sexo) são muito bem escritas e conseguem te tirar um suspiro apaixonado, fora isso a história não se desenvolve muito. Um “inimigos para amantes” que parece mais um “amigos para amantes”, já que eles são inimigos por pouco tempo.
Considero um livro aceitável, não acho que seja muito ruim, nem muito bom. Talvez grande demais para o pouco que ele oferece, entretanto, ainda acho uma boa representatividade e um tema legal. No geral, recomendo para ler nas férias, quando você tem tempo e quer descansar de leituras profundas.