A REALIDADE POR TRÁS DAS DANÇAS ÁRABES
Bailarinas do Grupo Harika concederam entrevistas sobre a aceitação das danças árabes entre o público leigo
Por Giorgia Ossanes
No dia 11 de junho de 2017, o Grupo Harika de Danças Árabes apresentou onze coreografias no palco principal da Fenadoce. O grupo foi criado no ano de 2000 por Mônica Botelho (34) graças ao interesse de algumas alunas da Escola Santa Mônica na cultura dos países árabes, e hoje conta com mais de 65 bailarinas a partir dos quatro anos de idade.
As apresentações anuais do grupo na feira sempre têm grande público, formado principalmente por pessoas de fora do meio da dança, que não têm conhecimento sobre a cultura árabe, mas que se interessam em parar seus passeios e assistir algumas das belíssimas coreografias criadas pelas bailarinas.
“Acredito que nós bailarinas temos a missão de mostrar através da dança do ventre toda a cultura e tradição de um povo tão bonito. Para mim esse estilo de dança, assim como vários outros, carrega um peso histórico enorme que é importante ser estudado e passado adiante” diz Muriel Mença (24), engenheira civil e bailarina há dezessete anos.
A dança do ventre sofre preconceito vindo de um público que não a conhece, para Megan Polnow (25), estudante e professora de danças árabes, um dos pontos principais em expor a dança para um público leigo é transmitir seu amor e respeito por essa arte.
Essa dança tem grande influência na autoestima das bailarinas e na forma como elas enxergam a si mesmas, de acordo com Muriel, professora do grupo há mais de oito anos, a dança do ventre faz com que as praticantes se sintam mais seguras e confiantes. “Aceitei mais meu corpo, que antes rejeitava. Hoje a dança me faz bem”, afirmou Cláudia Mortagua (21), estudante e bailarina desde os onze anos de idade.
Nos últimos dois anos, o Harika conquistou mais de cinquenta prêmios em festivais no estado, incluindo o prêmio de melhor qualidade do evento (coreografia com maior nota entre todas as apresentadas) no ano de 2016 no BellyTchê Festival Internacional de Danças Orientais, em Canoas/RS.
Para as bailarinas, a falta de conhecimento causa a visão distorcida e equivocada que o público em geral tem sobre a dança. Rafaela Stark (15), bailarina há cinco anos, acredita que as pessoas têm uma opinião primitiva sobre a dança por falta de divulgação e conhecimento, “eles ainda pensam na dança do ventre como algo sexual”, diz a estudante. “É o pré-conceito que as pessoas têm sobre alguns assuntos, não conhecem, mas ainda assim dão opinião”, afirma Raquel Silva (32), bailarina há seis anos. Para Mônica, diretora administrativa e bailarina há dezoito anos, a mídia tem grande influência na visão equivocada da maioria das pessoas, “muitos filmes antigos mostravam a dança do ventre com mulheres se insinuando, ela era dançada em lugares fechados e masculinos e, por isso, acabou estereotipada pela mídia”, hoje, com passos lentos, a dança do ventre tem saído de trás dessa imagem criada pelos meios de comunicação e está conquistando seu lugar como a arte que realmente é.
Quando questionadas sobre a reação das pessoas ao saberem que são bailarinas, seis entre as sete entrevistadas afirmam que já ouviram comentários desagradáveis. “Infelizmente ainda existem muitas pessoas que não conseguem apreciar a dança do ventre como uma forma de expressão cultural”, conta Muriel. Convites para danças particulares são feitos às bailarinas, como dito por Nadyne Correa da Luz (18), bailarina há dez anos: “É muito mais do que uma dança sensual, é uma dança que envolve uma rotina de ensaios, estudos, cansaço físico e mental, existem pessoas que vivem disso, é um trabalho normal”, diz a estudante. Para Jade Possapp Keiber, produtora cultural e bailarina há onze anos, o pior é lidar com os comentários machistas vindos de homens, “Nosso papel é cortar esse tipo de piada e mostrar que essas pessoas estão equivocadas”.
“Infelizmente as pessoas não têm um conhecimento real sobre as danças árabes, apenas acham bonito e a dança é muito mais do que isso, existe uma história por trás. Gostaria que as pessoas entendessem mais sobre isso”, conta Nadyne. A dança do ventre para a maioria não é considerada uma arte, é apenas considerada um espetáculo bonito, desconsiderando toda a bagagem cultural da dança. Megan acredita que o leigo geralmente pensa que a dança é vulgar e não a tem como uma arte, mas ao mesmo tempo, apreciam ver a bailarina dançar ou sentem curiosidade de um dia ver. “Ao contrário do que as pessoas pensam, a dança do ventre é uma arte e é linda”, afirma Cláudia, “Muitas pessoas a acham bonita, mas ainda têm o pensamento errado de que é uma dança ‘para o marido’”, conclui.
“Acho que nosso papel é mostrar para as pessoas que essa dança pode ser completamente normal, ela não é diferente dos outros tipos e é incrível, tem técnicas, disciplina e não é vulgar”, diz Jade. “A dança do ventre é uma arte milenar e ser bailarina requer muito estudo e dedicação”, afirma Megan.
As bailarinas estão em constante luta para destruir as barreiras do preconceito e mostrar a verdadeira essência dessa dança. “Nós demos um grande passo a partir do momento em que mostramos que a dança do ventre não é apenas para a mulher, ela pode ser praticada por homens e crianças. Isso já é uma forma de quebrar a ideia de que é uma dança vulgar”, disse Jade. “A dança na infância exercita a coordenação motora, assim como qualquer atividade física, e a dança do ventre trabalha com a concentração e exercita o trabalho em grupo”, explica Mônica, “E ter crianças no nosso grupo é uma certeza de que o Harika se manterá vivo por muitos anos”. Por não ser uma dança vista tão comumente nos meios de comunicação como o ballet e o jazz, a dança do ventre acaba não sendo tão conhecida e compreendida, “Acho importante passar um pouco da cultura árabe para as pessoas, me sinto bem em saber que com a dança posso fazer isso”, falou Nadyne. Na opinião de Muriel, as pessoas devem estudar e se informar antes de julgar, “a dança do ventre tem muito a oferecer para quem quiser aprender”, diz ela.