“Ensaio sobre a cegueira” e sua atemporalidade

No ano do centenário de nascimento de José Saramago sua obra segue impactando leitores pelo mundo     

 Por Roberta Furtado Muniz       

O leitor mergulha junto com os personagens dentro de um prédio em isolamento

 

Chocante, cru, aterrorizante. Três adjetivos que descrevem em parte o que é ler “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago. Não há como ler essa obra sem sentir angústia, medo e a sensação de sufocamento que a história carrega. Embora esse livro seja recomendável para todo mundo, também é preciso lembrar de cenas tão difíceis de ler, que talvez não sejam exatamente indicadas para todos.

Sem nos dizer em que tempo, local exato em que se passa, começamos acompanhar uma trama em que um homem fica cego de repente. Estava ele em um semáforo, quando simplesmente perde a sua visão e só passa a enxergar branco, como se tivesse sua cabeça sido mergulhada em leite. Ele grita por ajuda, desesperado, e pessoas correm em seu auxílio.

É levado para casa e, quando sua mulher chega, ela toma a providência de levá-lo ao oftalmologista. O médico não consegue explicar o que lhe passa, não há nada de anormal em seus olhos. O que será isso? Mais exames serão necessários, então, pensa o médico. Que caso intrigante ele tem em mãos. Porém, infelizmente, não haverá muito tempo para estudos já que outros estão cegando.

O próprio médico cega. O mal branco, como também começa a ser chamado, está infectando a todos, pelo que parece. O governo é acionado e os isolamentos serão feitos. O médico será levado embora. Enquanto ainda não tinha ficado cega, sua esposa não deixa levarem seu marido sozinho.  E, na sequência, ela lhes diz: acabei de cegar.

Agora o leitor mergulha junto com os personagens dentro de um prédio em isolamento. A única a ver, ainda é a esposa do médico, que acaba se mostrando a protagonista dessa história. Não se sabe por que, mas ela permanece com sua visão, embora o caos que se instaura, às vezes a faça sentir vontade de ficar cega também. E é isso, a desordem toma conta de tudo quando o mundo inteiro aparentemente para de enxergar.

Fome, abuso sexual, violência, podridão. Mortos, feridos, dejetos humanos espalhados por qualquer lugar. Sujeira. O cenário é angustiante. É devastador. O leitor sente-se completamente imerso dentro da história, que, por mais assoladora que seja, também evidencia o grande escritor que foi Saramago. Hoje em dia, fica quase impossível de não fazermos um paralelo da narrativa com a pandemia da Covid-19, pela qual passamos e ainda permanece presente entre nós. O caos em “Ensaio sobre a cegueira” foi extremamente maior, mas enquanto lemos uma história dessas, lembramos inevitavelmente de nossos hospitais lotados, de países com mortos nas ruas e dentro das suas casas, de não haver mais lugar onde alocar os pacientes.

O livro de Saramago, com seus personagens sem nome, evidenciando a desumanização deles diante da cegueira de todos em volta, sem que haja distinção entre eles, nos faz pensar nos tantos nomes que se apagaram ao nosso redor após a pandemia da Covid-19. Em nosso estado, já se somam mais de 41 mil vidas perdidas.

Publicado pela primeira vez no ano de 1995, há quase 20 anos, Saramago não poderia saber o quanto sua história lembraria uma parte da nossa realidade, e nem o impacto e a importância que tem hoje em dia na literatura mundial. E, no ano de 2022, em que é comemorado o centenário de nascimento desse autor português, sua obra segue viva e nos brindando com excelência.

A edição comemorativa foi lançada esse ano pela editora Companhia das Letras, contando com informações adicionais para além da história fictícia. E para quem pretende ler ou já leu e ainda não assistiu, recomenda-se também a adaptação cinematográfica, lançada no ano de 2008 e dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles. Apesar de algumas mudanças, a essência da obra está totalmente captada na tela, gerando, como o livro, um misto de sentimentos enorme em quem assisti.

               Neste ano está sendo comemorado o centenário de nascimento de José Saramago                     Foto: Divulgação

 

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Eu amei o site. Espero ter acertado ♥��
Carla Familiar Franca

Feira do Livro de Pelotas retorna após dois anos para a 48ª edição

Evento voltado para a cultura literária inicia hoje, às 13h, na Praça Coronel Pedro Osório   

Por Isadora Mariko Ogawa e Joanna Manhago Andrade     

Após um intervalo de dois anos, a 48ª edição da Feira do Livro de Pelotas volta a ser realizada de hoje (28 de outubro) a 15 de novembro, na praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas. Promovido e realizado pela Câmara Pelotense do Livro desde 1960, este ano o evento traz como inspiração o espírito de transformação e de valorização da literatura, com o slogan “Uma cidade, muitas histórias”.

As atividades da Feira acontecem das 13h às 21h, todos os dias, envolvendo uma ampla programação para crianças ao longo do dia, até mesas de conversa com autores na parte da noite. Para Theia Bender, coordenadora do evento, além de fazer uma feira totalmente literária, o propósito é aproximar os leitores dos escritores.

Theia, que também é organizadora há mais de 12 anos da Feira, lembra da magia que envolve o evento. “Trazer a Feira de volta é muito importante, pois a gente sente a carência das pessoas por esse encontro, por estar na praça de novo, e com os livros”, enfatizou.

Nesta edição, toda a programação foi dirigida para que o livro, a leitura e a literatura fossem o foco principal, sem as tradicionais apresentações musicais e a praça de alimentação. Elisabete Lovatel, presidente da Câmara Pelotense do Livro, certifica o renascimento da Feira e a importância de incentivar os hábitos literários.  “O foco dessa edição é aproximar as pessoas da leitura e dos livros”, destaca. Ela ainda demonstra sua animação para o retorno do evento, com a expectativa de um excelente público.

Com base na pesquisa do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), a qual indicou que 49,8% da população de Pelotas não tem o hábito de ler livros, a Feira também articula ações para estimular o costume, distribuindo vários “Pontos de Leitura” na cidade, a fim de promover a prática. “Queremos valorizar o tempo e o espaço dedicados à inserção na leitura, e entendemos que este incentivo é uma causa coletiva, que precisa partir de toda a sociedade para beneficiar a cidade”, defendeu Elisabete.

Com 13 livreiros, expositores, tenda cultural, cafeteria e o palco com atividades literárias, a estrutura da 48° Feira do Livro de Pelotas já está montada. Com início nesta sexta-feira (28), sua abertura oficial acontece na noite de sábado (29).

Serviço

O que: 48ª Feira do Livro de Pelotas

Quando: de 28 de outubro a 15 de novembro

Onde: Praça Coronel Pedro Osório, Pelotas (RS)

Entrada franca

 

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Santa Cruz do Sul recebe evento voltado ao cinema nacional

Programação da 5ª edição do Festival segue até esta sexta-feira (28) e conta com a mostra de diversos curtas nacionais    

Por Larissa Bruno    

Ocorre até esta sexta-feira (28), a 5ª edição do Festival Santa Cruz de Cinema. O evento, que acontece durante cinco dias na cidade de Santa Cruz, tem como objetivo promover a cinematografia nacional, através da exibição gratuita de curtas-metragens brasileiros. Os encontros ocorrem às 19h, no Auditório Central da Universidade Santa Cruz do Sul.

A abertura oficial do evento ocorreu no início da semana, dia 24, e contou com a presença da gestora municipal, Helena Hermanyscs, que assinou a lei que estabelece a criação de uma comissão fílmica na cidade para atrair e incentivar a realização de produções audiovisuais no local. Na noite de terça-feira (25), a mostra ‘Olhares Daqui’, abriu a primeira sessão de exibições com seis obras produzidas no município.

Já na Noite de Premiações, último dia do evento, ocorre a cerimônia de encerramento e entrega do Prêmio Tuio Becker ao ator e diretor Júlio Andrade, além de outros dez troféus aos destaques da edição. Conforme o organizador do festival, Rudinei Kopp, “Nada mais justo do que reconhecer personalidades importantes para o cinema nacional, que possuem esse amor pelo que fazem”.

O ator e diretor Júlio Andrade será homenageado com o prêmio Tuio Becker

Confira a programação de encerrramento

Nesta quinta-feira (27), às 14h, ocorre o tour arquitetônico e cervejeiro pela cidade. Já às 19h, será feita a transmissão dos filmes: “O Barraço”, de Gabriel Motta; “Meu nome é Maalum”, de Luíza Copetti; “Possa Poder”, de Victor di Marco e Márcio Picoli; “O elemento tinta”, de Luiz Maudonnet e Iuri Salles; “Só mais uma frase”, de Giulia Bertolli e “Poder Falar”, de Evandro Manchini. Após cada exibição, o público participa de bate-papos sobre os curtas com os realizadores.

Ao longo da semana, foram transmitidas seis obras em cada dia, totalizando 18 filmes exibidos no festival. A programação completa pode ser conferida pelo Instagram @festsantacruzcinema ou através do site do festival.

 

 

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“Uma Advogada Extraordinária” ajuda na compreensão do autismo

Série sul-coreana, sucesso de audiência, traz narrativa sensível e divertida sobre protagonista com Transtorno de Espectro Autista (TEA)      

Por Gabriela Pereira       

O K-Drama “Uma Advogada Extraordinária”, que estreou em junho deste ano, traz a beleza, leveza e diversão e está tendo um alcance mundial. A novela sul-coreana conta a história de Woo Young Woo, uma advogada com transtorno de espectro autista (TEA). Em uma produção original Netflix, a advogada é protagonizada pela atriz Park Eun Bin, um dos grandes nomes na indústria coreana e que ganhou o prêmio de Melhor Atriz por seu papel em “O Rei de Porcelana”, outra produção original do mesmo serviço de streaming.

Com seu QI altíssimo, de 164, a Young Woo se formou como a melhor aluna da turma na prestigiada Universidade Nacional de Seul. Por esse motivo, ela conseguiu uma vaga de emprego como advogada em um dos maiores escritórios de advocacia do país, com todo o apoio do seu pai dedicado, que tem papel fundamental na vida de Young Woo. Mesmo com sua inteligência elevada, a advogada tem dificuldade em interagir socialmente, seu jeito é visto por outras pessoas como “esquisito” e “solitário”.

A atriz Park Eun Bin tem sido elogiada por sua atuação como Woo Young Woo             Fotos: Divulgação

 

Enfrentando desafios

O dorama (como os dramas televisivos em sul-coreanos são chamados) tem como foco a trajetória de Young Woo. Os episódios trazem as mudanças de sua recém-chegada ao escritório, como a primeira interação social com o mundo externo, o que é abordado pela série de forma sensível e responsável, sem reforçar estereótipos ou polemizar o tema.

A personagem carrega características certamente peculiares, principalmente, pelo seu fascínio por um mamífero em específico, a baleia. Seu grande conhecimento sobre a natureza do animal permite fazer alusões aos casos no tribunal. Há cenas incríveis em que ela vê uma baleia se movendo lentamente ao seu redor e essas imagens a levam a encontrar soluções para as questões jurídicas.

Representar alguém com um tipo de transtorno pode ser desafiador.  Por isso, a atuação de Park Eun Bin impressiona os críticos e telespectadores, devido à sua dedicação como atriz, demonstrada ao longo da série.

A história nos leva a refletir o quão é importante e necessário falar sobre o tema. Vê-se como a advogada precisa enfrentar cotidianamente o preconceito que pessoas com autismo sofrem.

Além do contexto profissional, Woo Young Woo tem um relacionamento amoroso com o assistente Lee Jun-ho, interpretado pelo ator Kang Tae-Oh. Essa parte da história trata de mais um estereótipo que possa existir, pois, mesmo com espectro autista, é possível amar e ser independente.

Um dos momentos que tornou a série conhecida nas mídias sociais é o cumprimento de Young Woo à sua melhor amiga de infância Dong Geaurami. Há cenas descontraídas e que têm grande importância nas decisões da advogada.

Cotidiano da personagem traz aspectos da vida profissional e sentimental

 

Da teledramaturgia para a realidade

Assim como as grandes produções sul-coreanas, o roteiro da dramaturgia carrega um ensinamento para quem assiste. Dentro disso, o autismo torna-se uma temática delicada e importante, pouco abordada em séries e produções cinematográficas. A criatividade fica por conta da alusão às baleias, que são a forma de conectar Young Woo em suas decisões, pensamentos e ideias, e a ajudam e guiam a entender o mundo da sua maneira.

“Woo não é uma expectativa polida do que uma pessoa autista deve ser pelos olhos de uma pessoa neurotípica, ela possui falhas realistas e está longe de vencer sempre”, escreveu o crítico Nick de Angelo, do site Woo Magazine

Para alguns telespectadores, o teaser já foi surpreendente, pela temática envolver uma protagonista advogada e autista. Lara Assunção Silva, de 21 anos, relata que se sentiu satisfeita pelo assunto ser abordado de forma leve e criativa. Outro ponto destacado por Lara, são os casos mostrados nos julgamentos. “Todos os episódios relatam assuntos superimportantes da sociedade e com críticas em relação a esses problemas”, comenta.

Além disso, Lara destaca sua surpresa em relação ao romance entre os protagonistas. “Pelo tema em si, nem precisava de um romance, mas qualquer pessoa que começa a assistir implora que seja bem desenvolvido no decorrer dos episódios. Esse dorama traz muitos ensinamentos, terminei com o coração aliviado e totalmente satisfeita,” destaca.

“Uma Advogada Extraordinária”, conta com 16 episódios, tendo sua segunda temporada confirmada para 2024 e está disponível na plataforma de streaming Netflix.

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Prezada, eu estou assistindo novamente a série e realmente como algumas outras séries coreanas e de demais países asiáticos , hoje, estão nos trazendo para o enorme preconceito e relações de poder, opressão violência que a sociedade coreana carrega , bem como demais em várias partes do mundo. Agora assisto com um olhar mais cuidadoso do script e da maneira como os casos podem ser resolvidos com um a advogada e seus pares com espectro autista e outras questões emocionais e de caráter veladas e com capacidade analítica e de síntese que assusta e paralisa ou outros a sua volta com outros espectros ou aspectos de pseudo-normalidade. O foco no autismo nos leva ao comportamento infantilizado, violento repugnante, apaziguador, lotado de repulsas ” educadas” e julgamentos a priori sobre o outro que não conhece em seus potenciais , habilidade e ações. O diálogo dela com a descoberta da mãe é absolutamente revelador como a dissimulação, tentativa de apagar atitudes do passado e hipocrisia de sociedade conservadora coreana- que obviamente também surgem em outras partes do mundo com contextos sociais, morais, políticos, econômicos e culturais distintos.

Grata pela resenha, Vania

Vania Velloso

Quero saber se já tem previsão para 2a temporada!

Valéria

Irmãs estudantes combinam habilidades para produzir arte

A dupla produz conjuntamente peças artesanais e artísticas    

Por Vitor Valente    

Sabrina e Meiissa participam de exposição em Feirinha de Rio Grande    Fotos: Divulgação

A sintonia entre as irmãs Melissa e Sabrina Araújo é visível para qualquer um que olhe atentamente para as peças produzidas pela Feijão Mágico. A combinação entre o talento artístico de Melissa e as habilidades e técnicas artesanais de Sabrina resultam em um trabalho que esbanja autenticidade. A dupla de estudantes natural de Mostardas, interior do Rio Grande do Sul, produz artigos artesanais e ilustrações como fonte de renda e mantenimento na universidade pública.

Aos 25 anos, Sabrina é bacharel em História pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural (PPGMP) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Aos 21 anos, Melissa, mais conhecida como Mel, é estudante de Artes Visuais – Licenciatura também da UFPel. As duas criaram a loja virtual Feijão Mágico durante a pandemia de forma paralela a empregos temporários. “A gente estava sem renda”, conta Sabrina.

Após alguns meses juntando dinheiro, compraram materiais e decidiram apostar tudo na lojinha, deixando os empregos temporários em segundo plano. “Um pouco de tudo, assim. Sem muita noção do que ia dar certo ou não. Meia dúzia de cada coisa e fomos fazer para ver o que iria vender e o que não. E é isso aí. E está dando certo até hoje”, conta Mel sobre os investimentos em materiais e as primeiras peças produzidas. “A gente sempre quis fazer alguma coisa juntas, sempre gostamos de fazer coisas artesanais”, diz Sabrina.

Exposição no evento cultural Sofá na Rua em Pelotas

Entre os artigos comercializados pela Feijão Mágico, destacam-se os panos de prato, os bloquinhos e cadernos, além das ilustrações de Melissa. A artista explica que os produtos vendidos são essenciais para a sua subsistência e manutenção na faculdade. “É importante porque qualquer coisa que venda já é uma passagem para Pelotas, outro produto que venda já é tipo o RU da semana toda”, exemplifica Mel.

Melissa revela que desenhar é algo recente em sua vida. Ela explica que durante o ensino fundamental, só produzia por obrigação escolares. “Só copiava por cima, ou então fazia do pior jeito possível, sem prestar atenção”, relata. A influência de uma professora de artes do ensino médio fez com que a estudante começasse os seus primeiros rabiscos. Entretanto, nota que o trabalho na Feijão Mágico foi primordial para estimular o desejo de aprender mais sobre arte e ingressar no curso de Artes Visuais. “Eu descobri que tinha vontade de ser artista”, reconhece.

A artista conta que precisa de tranquilidade para se inspirar e produzir. “Normalmente vem quando estou muito de boa. É quando produzo mais. Quando estou feliz, escutando música”, frisa. Ela confessa que a pressão e o estresse impedem que ela faça mais do que rabiscos. “É por isso que às vezes as encomendas são um problema”, admite. Apesar de normalmente conseguir cumprir as demandas, Melissa relata que em uma ocasião não conseguiu realizar a entrega de encomendas. “Eu fiquei muito frustrada, disse que não faria mais nada”, lamenta.

Apesar da frustração momentânea, o projeto seguiu de pé. As irmãs revelam que sempre gostaram de universos e histórias de fantasia. Com isso, o apreço das duas pela fábula infantil do João e o Pé de Feijão acabou inspirando o nome da loja de artesanatos. Quanto ao futuro, garantem que a parceria vai continuar. “A gente se complementa muito e precisa uma da outra para fazer as coisas funcionarem”, completa Sabrina.

Sabrina e Melissa são naturais de Mostardas, onde começaram o projeto

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Cine UFPel faz lançamento nacional e traz filme alemão

Sessões serão nesta sexta-feira às 16h e às 19h

Amanhã, dia 21 de outubro, o Cine UFPel promove duas sessões, uma com um filme brasileiro e outra com um título alemão. Um falando do momento político e outro de questões culturais na Europa. A entrada é gratuita e a sala de exibição está localizada na rua Álvaro Chaves, 447, em Pelotas, na esquina com a rua Lobo da Costa (No prédio da Agência da Lagoa Mirim, com entrada pela Álvaro Chaves).

Às 16h, acontece o lançamento do mais novo documentário de Maria Augusta Ramos: “Amigo Secreto” (2022), em parceria com a Vitrine Filmes.  Este documentário faz uma radiografia da macropolítica brasileira contemporânea. Em 2019, um vazamento de conversas entre autoridades brasileiras abala a credibilidade da Operação Lava Jato. Em meio à crise, quatro jornalistas acompanham a situação que coloca a democracia brasileira em risco.

            Diretora Maria Augusta Ramos está fazendo lançamentp do documentário em várias cidades do Brasil            Fotos: Divulgação

Às 19h, em parceria com Curso de Licenciatura em Letras Português e Alemão e o Instituto Goethe, será apresentando o longa-metragem  ”Almanya – Willkommen in Deutschland” (2011) da diretora alemã Yasemin Şamdereli.

A tragicomédia tem como tema central questões de identidade e de pertencimento a um país e a uma cultura. Apresenta, de forma leve, as dificuldades enfrentadas por uma família de imigrantes turcos ao se mudar para a Alemanha em reconstrução no período pós-guerra nos anos 1960.

Acompanhado por esposa e filhos, Hüseyin Yilmaz é o turco de número “um milhão” emigrado em 1964, a partir de incentivos do governo alemão. Esta história é contada pelos olhos da neta de Hüseyin, 45 anos mais tarde, quando os avós, agora portadores de passaporte alemão, resolvem retornar à Turquia. Porém o movimento de retorno reserva novas dificuldades de adaptação. 

O deslocamento em busca de melhores condições de sobrevivência é uma temática recorrente ao longo dos séculos e a adequação a um novo meio nem sempre é um processo fácil. A história questiona o que nos define como pertencentes a um país e a um contexto cultural.

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“The Sandman” mantém o espírito dos quadrinhos

Série que estreou em agosto adapta um dos maiores clássicos dos quadrinhos da DC  

Douglas Rafael Duarte    

No dia 5 de agosto, estreou “The Sandman” na plataforma de streaming Netflix.  A produção adapta para as telas a obra de Neil Gaiman, um dos maiores clássicos dos quadrinhos da DC Comics. A série, que já pode ser considerada um sucesso global, acompanha a jornada de Morpheus, o rei do mundo dos sonhos e um dos sete Perpétuos (entidades divinas responsáveis por sentimentos e experiências humanas). Mais do que tudo, é um convite a refletir sobre temas complexos como a morte, eternidade e o propósito da existência humana.

A produção agradou tanto quem não teve qualquer contato com a franquia quanto quem já gostava das aventuras do sombrio Morpheus (ou simplesmente “Sonho”) desde as páginas das HQs. Ostenta a notável pontuação de 87% de avaliação positiva da crítica e 80% do público no site Rotten Tomatoes. De acordo com a plataforma especializada em monitoramento de produtos de streaming FlixPatrol, a série ainda ficou por algumas semanas em primeiro lugar no Top 10 global e nacional, batendo concorrentes de peso como “Stranger Things”.

Tom Sturridge como Morpheus (o Sonho)    Fotos: Divulgação

Sintonia com público

“The Sandman” é uma das tantas histórias em quadrinhos que vêm sendo acompanhadas pelos leitores atuais desde ao longo da infância e da adolescência. Após a notícia de que a obra seria adaptada para as telas, o sentimento de muitos fãs foi o mesmo: um misto de animação e de temor pelo resultado. Afinal, não seria a primeira vez que produções inspiradas em livros ou HQs decepcionariam (quando não desfiguram completamente um personagem ou até um universo inteiro). Definitivamente não foi o caso.

Ao terminar de assistir os 10 episódios da série, pode ficar uma incômoda sensação de se gostar mais da produção cinematográfica do que dos quadrinhos (algo não muito comum). Então, a série é uma motivação para reler as páginas da obra de Gaiman. Os “Prelúdios e noturnos” e “A casa das bonecas” são as histórias escolhidas para serem adaptadas para as telas entre as 75 edições da obra, publicadas entre 1989 e 1996. E a verdade é que o seriado não só preserva o que havia de melhor nos gibis, como melhora alguns aspectos do enredo.

A participação muito próxima do autor, por um lado, pode ter sido um fator primordial para o sucesso da produção. Neil Gaiman ajudou na seleção de elenco, além de escrever ele próprio o roteiro do primeiro episódio juntamente com Allan Heinberg (“Grey’s Anatomy”) e David S. Goyer (trilogia “Cavaleiro das Trevas”). Os aspectos mais marcantes da HQ, como o ambiente sombrio e a mistura de fantasia, terror e temas filosóficos, permitem que o “espírito dos quadrinhos” seja preservado na série.

Por outro lado, a opção por distanciar-se um pouco do universo DC melhora a experiência. A narrativa mais linear e conectada, ao invés da opção por segmentos mais independentes entre si (como ocorria nos quadrinhos), passa uma sensação de continuidade bastante interessante para a história. A divisão do protagonismo entre outros personagens, além de Morpheus, também foi uma ótima escolha.

Diálogos, sonhos e pesadelos

A inserção do Mathew (o Corvo) em mais histórias do que originalmente apresentava a HQ, permitiu o aprofundamento e qualificação de alguns diálogos, como na jornada pelo inferno, por exemplo. É de se destacar ainda a participação de Lucienne (Vivienne Acheampong) na evolução pessoal de Morpheus. Ainda assim, nenhuma decisão foi melhor do que a de dar maior relevância para o personagem Coríntio (Boyd Holbrook de “Narcos”). Além de tapar alguns “furos” na trama original, o pesadelo que fugiu do mundo dos sonhos mostrou-se o vilão perfeito para uma temporada inicial.

É preciso pontuar, no entanto, que nada disso significa um enfraquecimento do personagem principal, muito pelo contrário. Cada diálogo, cada embate, cada antagonismo e cada trama compartilhada com outros indivíduos do seu universo convergem para a afirmação de Morpheus como a figura incomparável e essencial da produção. E a atuação praticamente impecável de Tom Sturridge (“As Vantagens de ser Invisível”) certamente foi decisiva para que o resultado final não fosse de apenas um personagem marcante, mas de toda uma história que funciona muito bem.

O ator, aliás, contou que pediu ajuda para Gaiman na hora de construir o personagem. De acordo com o próprio, uma de suas principais preocupações era saber como a voz de Sonho (uma das mais destacadas formas gráficas da HQ, com seus balões negros), deveria soar. “Neil me falou que ele é a voz dentro da sua cabeça. Ele é a voz que te leva ao sono. A voz que o guia pelos seus sonhos”, relatou Sturridge em entrevista de lançamento da série.

O ator Boyd Holbrook faz o papel de  Coríntio

Profundidade filosófica

O ar soturno e solitário, as dúvidas com relação à complexidade das relações humanas, a perplexidade de Morpheus diante do comportamento dos mortais e tudo mais que configura esse cativante personagem estão devidamente transplantados dos quadrinhos e expressos na atuação de Tom Sturridge. Assim como no ritmo e estilo da narrativa, nos cenários e efeitos especiais e até na caracterização dos personagens. Mais do que tudo, a complexidade está na abordagem dos temas com profundidade filosófica em cada segmento.

Em síntese, “The Sandman” fez melhor nas telas o que já era muito bom nas páginas quadriculadas. A série tem muitos pontos positivos: não perdeu a essência e consertou falhas no enredo sem descaracterizar personagens ou promover mudanças drásticas ou incompatíveis com a trama original. As atuações individuais dos atores (em especial Morpheus, Lúcifer e Coríntio) não deixaram nada a desejar. A introdução (ainda incipiente) da instigante relação de Sonho com seus irmãos (os Perpétuos), em especial com a Morte e o Desejo, e o vasto material das histórias ainda não adaptadas, sugerem que a produção fará ainda mais sucesso no futuro e, provavelmente, marcará época. Para isto, basta não abandonar a receita bem-sucedida da primeira temporada.

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Joyland: Mistério sobre um crime silencioso

Uma história envolvente de jovem apaixonado em parque de diversões assombrado      

Vivian Domingues Mattos   

 

O ano era 1973, um jovem na Carolina do Norte, após passar por uma desilusão amorosa, precisa de uma mudança de vida e decide começar um emprego temporário no parque de diversões Joyland.

Em meio à rotina de trabalho na alta temporada do parque, Devin Jones tem a atenção fisgada pelo passado. A morte de Linda Grey, uma garota assassinada por um serial killer anos atrás, no parque, virou uma lenda urbana. E as histórias de que seu fantasma ainda permanece assombrando Joyland ganham foco no mundo do rapaz.

Com pouquíssimos dados aprofundados sobre o caso, Jones inicia uma investigação por conta própria para esclarecer o quebra-cabeça incompleto sobre o caso de Linda Grey.

A narração do livro “Joyland”, de Stephen King, acontece pelo personagem principal que desenvolve parte da trama sem envolver diálogo com outros personagens. No decorrer da história, as responsabilidades de Davi Jones aumentam gradualmente e, aliado a isso, o leitor pode acompanhar o amadurecimento do personagem diante de cada nova situação.

A leitura é uma boa indicação tanto para quem deseja começar a ler o gênero de terror contemporâneo, quanto para os fãs do autor Stephen King. Caso queira uma sugestão, nunca se arrisque em uma roda gigante durante um temporal.

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Humberto Gessinger faz show da turnê “Não vejo a hora” em Pelotas

Repertório traz um compilado das músicas de seu novo álbum e sucessos consagrados pela banda Engenheiros do Hawaii      

Por Victoria Fonseca   

Humberto Gessinger abriu seu show com “Infinita Highway”  e já contagiou a plateia     Fotos: Gustavo Vara

Em apresentação esperada desde 2020, adiada devido à pandemia de Covid-19, Humberto Gessinger lotou o Theatro Guarany em Pelotas mais uma vez, com seu espetáculo no sábado (dia 15 de outubro). O show faz parte da tour do seu novo álbum “Não Vejo a Hora”. Além das composições inéditas de sua autoria, Gessinger não podia deixar de cantar grandes singles de sua carreira como vocalista na banda Engenheiros do Hawaii, que sempre levam os fãs à euforia.

E foi com a famosa “Infinita Highway” que Humberto abriu o seu show. O que já é de praxe, pois quem acompanha a sua carreira sabe que Gessinger usa a canção também para dar o “boa noite” em toda cidade em que está se apresentando. E, na Princesa do Sul, não foi diferente. O trecho “Eu não vim até Pelotas para desistir agora” foi cantado a plenos pulmões pela plateia.

Produzido pelo próprio Humberto, “Não Vejo a Hora” é o primeiro álbum de inéditas desde “InSULar” (2013), e traz 11 canções autorais gravadas com dois trios. São oito faixas com o clássico trio formado com Rafa Bisogno na bateria, o pelotense Felipe Rotta na guitarra e Humberto no baixo de seis cordas. Nas três músicas acústicas, Gessinger assume a viola caipira, acompanhado por Nando Peters no baixo acústico e Paulinho Goulart no acordeon.

Gessinger também empolga com seu talento de multi instrumentista

Deste modo, o show é dividido em partes. Inicia com as canções de rock com as fortes presenças das guitarras e da bateria. Na metade da apresentação, Humberto convida a dupla Goulart e Peters a assumir o palco, momento que as composições calmas e com presença de características de músicas tradicionalistas gaúchas ganham espaço. Já, na finaleira, Rafa Bisogno e Felipe Rotta voltam a assumir o espaço, momento em que Gessinger canta novamente sucessos da carreira no Engenheiros do Hawaii, como a canção “Eu que não amo você”.

Para os fãs não é novidade, mas aqueles que nunca estiveram em um show de Gessinger podem ter se surpreendido com o seu talento também como multi instrumentista. Em várias canções, Humberto tocava guitarra, teclado e gaita, tudo praticamente simultâneo. Outro aspecto que marca as mudanças de fases no seu show é as trocas de guitarras e de baixo.

Uma das pessoas sentadas na primeira fileira do Guarany para não perder um detalhe da apresentação era a professora de Geografia, Roberta Morales. Fã de Gessinger há 15 anos, ela conta que já foi a três shows, mas que sempre se surpreende com o talento do cantor. “É uma capacidade de se reinventar que só ele tem. Um cantor e um ser humano de inúmeros talentos. Humberto não só canta com maestria como também toca todos esses instrumentos quase que ao mesmo tempo”, comenta.

Com 36 anos de estrada, Gessinger lançou “Não vejo a hora”, seu vigésimo segundo álbum em 2019. Oito DVDs completam a discografia que renderam oito Discos de Ouro, um Disco de Platina e quatro DVDs de Ouro.

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“Rota 66”, clássico de Caco Barcellos vira série de TV

Livro que narra histórico de violência policial da Rota ganha versão para a televisão   

Por Vitor Valente    

Quando se fala em jornalismo literário no Brasil, é impossível deixar de citar o clássico “Rota 66 – A história da polícia que mata”, escrito pelo jornalista Caco Barcellos. Lançado em 1992, faturou no ano seguinte o Prêmio Jabuti, maior honraria da literatura brasileira. A investigação que gerou o livro-reportagem começou após a morte de três jovens de classe média de São Paulo em razão da ação de uma unidade das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), esquadrão de elite da Polícia Militar. Trinta anos depois, a história do livro foi adaptada para a televisão. A série foi lançada pela plataforma de streaming Globoplay no final de setembro e conta com oito episódios.

Criada por Maria Camargo e Teodoro Poppovic, com direção artística de Philippe Barcinski, a série explora o potencial narrativo de uma história cujo tema permanece atual. A investigação obstinada e a pesquisa minuciosa de Caco Barcellos, interpretado na série pelo ator Humberto Carrão, rendeu dezenas de relatos de casos sombrios e devastadores de violência policial. Ao recontar as histórias, o jornalista gaúcho jogou luz sobre eventos que seriam esquecidos e varridos para debaixo do tapete. De outra forma, as versões oficiais dos policiais seriam impunemente tratadas como verdade.

                 Ator Humberto Carrão interpreta o jornalista Caco Barcellos na adaptação para televisão de “Rota 66”                       Foto: Divulgação

A estudante de jornalismo Joanna Manhago conta que após assistir a série, decidiu ler o livro “Rota 66”. “Eu já conhecia o trabalho do Caco, mas ainda não tinha despertado o interesse pela leitura”, explica a estudante. “Quando comecei a assistir a série, achava que ela não abordaria tanto o trabalho do Caco, que seria mais sobre a realidade da polícia em si. [A série] fala muito daquilo também, mas aborda principalmente como o Caco trabalhou na construção do livro. Como jornalista, gostei muito disso, para entender o processo de produção, criação e de estudo”, completa Joanna.

Segundo o especialista em jornalismo literário Eduardo Ritter, o livro “Rota 66” é uma obra fundamental para o gênero no Brasil. “Foi um caso em que o jornalista colocou em prática, de maneira quase que perfeita, algumas premissas do jornalismo literário como a pesquisa, o texto de fôlego, a narrativa criativa e a linguagem”, valoriza Ritter. “Mas, principalmente, um dos pontos que diferencia de outros gêneros da literatura é a apuração. O trabalho do Caco como jornalista, a pesquisa, as consultas a documentos, entrevistas, levou bastante tempo até ele conseguir juntar todo aquele material para escrever o livro. Isso o diferencia”, complementa.

Eduardo Ritter é professor de jornalismo, escritor e colunista   Foto: Reprodução/Internet

O professor Eduardo aponta, ainda, a importância do reconhecimento do nome e da credibilidade de Caco Barcellos para o destaque do trabalho realizado. “O fato de ele ser um repórter conhecido do grande público ajuda, pois muitas vezes o jornalista literário esbarra na questão do reconhecimento midiático, por melhor que seja o trabalho. Excelentes trabalhos literários sofrem com esse obstáculo”, conclui.

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