Longa-metragem faz jus à incrível trajetória do cantor que marca a cultura nacional
Por Amanda Leitzke

Ney Matogrosso prestigiando a pré-estréia de “Homem com H” com Esmir Filho e Jesuíta Barbosa Foto: Divulgação
O filme biográfico que estreou no dia 1º de maio nos cinemas, conta de maneira íntima e sensível a história de vida de Ney Matogrosso, seu processo pessoal para se entender como artista, a maneira que explorou sua expressão musical e de identidade, o reconhecimento nacional que ganhou, e o impacto que causou na cultura brasileira.
A obra fala de diferentes fases da vida de Ney Matogrosso, começando pela sua infância, quando era agredido pelo seu pai, que dizia que ele deveria “virar homem” e que “filho meu nunca vai ser artista”. Depois, trata do período que viveu no exército quando era adolescente. E durante toda a sua vida adulta, abordando o início da sua carreira na banda “Secos e Molhados”, seus trabalhos como artista solo e relacionamentos amorosos, focando na sua relação com Cazuza e Marco de Maria. Fala também sobre a ditadura militar e a censura, a epidemia da AIDS, e o fenômeno da sua carreira aqui no Brasil.
A história prende o espectador do início ao fim e, em nenhum momento, pode causar desinteresse. O filme conta com muitas apresentações musicais que ajudam na narrativa, as cores, ângulos e enquadramentos são muito bem trabalhados pelo diretor Esmir Filho, e os figurinos são extremamente fiéis à época e às roupas que Ney Matogrosso usava em seus shows.
Um dos pontos de maior destaque é a atuação impressionante de Jesuíta Barbosa. Ele incorpora de maneira admirável a essência e os trejeitos de Ney, e consegue transmitir todas as emoções e conflitos internos do personagem brilhantemente. O mesmo pode ser dito sobre o restante do elenco principal. O pai de Ney é um personagem complexo. No início, bate no filho, é preconceituoso e nunca o apoia. Mas, com o passar dos anos, aprende a ver o filho com respeito e valorização, admitindo, já no final de sua vida, que ele é, sim, “um grande artista”. Sua mãe também exerce um papel importante na vida de Ney, pois sempre o protegia, ajudava da maneira que podia, e admirava muito a pessoa que se tornou e a arte que criava.

De garoto sonhador a um dos maiores nomes da música brasileira Foto: Divulgação/Paris Filmes
Outro ponto importante são as relações amorosas que Ney Matogrosso teve durante sua vida, tanto com homens, quanto com mulheres. As duas que mais se destacam no longa, são as com o também artista, Cazuza, e mais adiante com Marco. A paixão e os conflitos enfrentados durante os dois relacionamentos são muito bem desenvolvidos, com muitas cenas de momentos tranquilos e normais da vida de um casal, mas também com muitas cenas explícitas, algumas de briga, e, no final, de cuidado e melancolia, quando Cazuza e seu parceiro são diagnosticados com AIDS, além de muitas outras pessoas de próximo convívio de Ney.
Por abordar diversas temáticas, o filme atrai tanto a faixa etária que viveu a ascensão de Ney Matogrosso, quanto a nova geração que tem interesse em descobrir mais sobre a vida do cantor. Nas sessões nas salas de exibição, dá para notar que a história sensibiliza as pessoas jovens, além de quem vivenciou a história do cantor na época dos acontecimentos. O público se diverte com os momentos mais engraçados, e os fãs chegam a cantar as letras de Ney nos momentos de apresentação musical.
Também há momentos emocionantes, que são muitos, mas principalmente os que exploraram a dor da epidemia da AIDS, o avanço da doença de Marco e a perda de diversos amigos do cantor. Em certo momento, Ney deixa claro o orgulho que sente em ser quem é, mesmo com todos os estereótipos e comentários da época. Na cena em que Marco fala, ao discutir o seu diagnóstico, que “esse vírus veio para matar a gente”, Ney responde: “Não, se ele veio, é pra mostrar que a gente existe, que a gente é humano e que a gente ama”.
O filme e a vida de Ney Matogrosso inspiram a ser autêntico, a explorar a sexualidade e a identidade da maneira que se deseja, de amar e apreciar fortemente as pessoas que cercam, de criar arte e de lutar pelo que se acredita, e, acima de tudo, inspira a ousadia de ser livre.
A cinebiografia “Homem com H” está disponível na Netflix desde o dia 17 de junho, e, no Prime Video, para aluguel e compra, a partir do dia 27 de junho.
Ficha Técnica:
Direção e roteiro: Esmir Filho
Cinematografia: Azul Serra
Companhias produtoras: Paris Filmes; Paris Entretenimento
Diretor de Fotografia: Azul Serra
Diretor de Arte: Thales Junqueira
Figurinista: Gabriella Marra
Engenheiro de Som: Martin Grignaschi
Duração: 129 min
Elenco: Jesuíta Barbosa, Hermila Guedes, Bruno Montaleone, Rômulo Braga, Mauro Soares, Jullio Reis, Jeff Lyrio, Caroline Abras, Lara Tremouroux, Bruno Parmera, André Dale, Davi Malizia, Augusto Trainotti, Danilo Grangheia, Artur Volpi e Bela Leindecker.
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.