Filme fala sobre alguns pontos das atividades de imprensa, principalmente a reportagem investigativa
Por Antonio Berndt

Jornalistas Paul Avery (Robert Downey Jr.) e Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) investigam assassino autor de cartas Foto; Divulgação
Lançado em 2007 e sob a direção de David Fincher, “Zodíaco” é um suspense psicológico fundamentado em acontecimentos verídicos e inspirado nas obras de Robert Graysmith, que estudou o caso do famoso assassino do Zodíaco, que ficou conhecido com esse nome por escrever cartas aos jornais com essa assinatura, com ameaças de novas matanças e atentados. O filme explora a incessante busca de jornalistas e agentes da lei para descobrir a identidade do criminoso que assolou a Califórnia nas décadas de 1960 e 1970. É evitado o sensacionalismo e cenas de violência explícita, dando prioridade à tensão psicológica e à investigação detalhada.
O roteiro, de autoria de James Vanderbilt, é fundamentado em documentos autênticos e descreve as pistas, cartas cifradas e os enigmas que o assassino enviava aos jornais, bem como as várias teorias acerca de sua identidade.
Um dos principais tema do filme é a obsessão na resolução de crimes, especialmente observada nas figuras do cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) e do jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.). Ambos se comprometem intensamente com a investigação da identidade do Zodíaco, com Graysmith investindo anos em sua busca, o que acaba impactando negativamente sua família e sua saúde mental. A obra retrata como essa atividade investigativa pode dominar os profissionais envolvidos, fazendo com que eles deixem de lado outras áreas de suas vidas.
Outra questão é a responsabilidade enquanto ser jornalista e sua ética. O Chronicle e outros veículos de comunicação se deparam com um dilema em relação à publicação das cartas do Zodíaco. Caso decidam publicar, podem acabar estimulando o criminoso; por outro lado, se optarem por não divulgar, podem ser responsabilizados por eventuais novos assassinatos. Esse dilema destaca um debate clássico no jornalismo: até onde a imprensa deve ir na divulgação de informações que podem ter repercussões imprevisíveis?
A escolha de divulgar, retratada no filme, representa a influência que a mídia pode exercer em investigações criminais, muitas vezes assumindo um papel quase tão significativo quanto o da polícia. Além disso, isso evidencia a relação tensa entre jornalistas e autoridades, uma vez que nem sempre a polícia deseja que certos detalhes sejam expostos ao público.
Outro ponto importante que o filme traz acerca do jornalismo investigativo é a questão de o jornalista adentrar ainda mais nas investigações e agir como detetive, e como tudo isso afeta a questão psicológica do jornalista. Paul Avery e, acima de tudo, Robert Graysmith se transformam em quase detetives durante a investigação. Graysmith, embora não seja um repórter, aplica suas competências analíticas para unir pistas e progredir na caçada ao assassino. Isso enfatiza como o jornalismo investigativo pode servir como uma extensão das investigações oficiais, frequentemente trazendo à tona informações que as autoridades não conseguem ou não desejam compartilhar.
E isso consome a vida de um jornalista. Avery cai no vício do álcool e observa sua trajetória profissional ruir, ao passo que Graysmith se afasta de seus entes queridos por causa da sua fixação pelo caso. Isso evidencia a carga psicológica e o sacrifício emocional que jornalistas de investigação enfrentam ao tratar de assuntos angustiantes.
Por fim, um último e importante tema é a questão da veracidade das informações no jornalismo, principalmente relacionadas a questões históricas. É adotado uma dedicação intensa à exatidão dos acontecimentos históricos, um aspecto crucial para qualquer projeto com um elemento jornalístico significativo. O roteiro, fundamentado na obra de Graysmith, recria conversas, reportagens e até características linguísticas das correspondências do criminoso. A metodologia cuidadosa enfatiza a relevância do jornalismo fundamentado em dados concretos e na verificação minuciosa dos fatos.
“Zodíaco” é um dos filmes que mais exemplificam a investigação jornalística no mundo do cinema. Ele não só mostra a batalha para identificar o criminoso, mas também aborda temas relacionados à ética, obrigações, efeitos psicológicos e a obsessão pelo ofício. Este filme evidencia tanto a potência quanto as fragilidades do jornalismo ao lidar com delitos que desafiam a realidade e a justiça.
Trailer oficial:
Ficha técnica:
Gênero: Crime, Drama, Mistério
Direção: David Fincher
Roteiro: James Vanderbilt
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Anthony Edwards, Robert Downey Jr., Brian Cox, John Carroll Lynch, Richmond Arquette, Bob Stephenson, John Lacy, Chloë Sevigny, Ed Setrakian, John Getz, John Terry, Candy Clark, Elias Koteas
Produção: Ceán Chaffin, Brad Fischer, Mike Medavoy, Arnold Messer, Louis Phillips, James Vanderbilt
Duração: 147 min.
Ano: 2007
País: Estados Unidos
Classificação: 16 anos
Onde assistir: Pela assinatura da HBO Max ou alugando o filme por R$ 7,90 no Prime Vídeo
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