“Passaporte Memória”, uma produção da Atama Filmes de Porto Alegre, teve algumas gravações na cidade e contou com a participação de 12 alunos do Colégio Pelotense no elenco
Por Felipe Boettge
Com a passagem da produção de “Passaporte Memória” um filme produzido pela Atama Filmes e dirigido pelo diretor Décio Antunes, a cidade de Pelotas e o Colégio Municipal Pelotense foram escolhidos como cenário para algumas de suas locações, em uma das etapas de gravação, devido à sua arquitetura. O filme também terá cenas gravadas em Porto Alegre e em Paris. Para o filme, foram feitas diversas seletivas e entrevistas, convidando atores de toda a cidade. Dentre esses, 12 alunos do Colégio Pelotense tiveram papéis dentro da produção, com Gabriel Ferreira, de 16 anos, realizando o papel do protagonista na sua juventude. Além dele, os outros alunos participaram como figurantes e em outros papéis dentro da produção.
O Teatro dos Gatos Pelados, atualmente, é uma iniciativa do LADRA, o Laboratório de Dramaturgia do curso de Teatro da UFPel, que, em conjunto com o Colégio Municipal Pelotense e o professor de História e coordenador do grupo, Joaquim Dias, coordena o grupo de teatro desde 2021. Existiu primeiramente em formato de EAD e, a partir de 2022, presencialmente, com duas turmas. Uma com alunos mais novos pela manhã e outra com adolescentes pela tarde, possuindo em média 29 estudantes frequentando o grupo entre as duas turmas.
O número de participantes varia muito conforme a época do ano ou a situação escolar dos alunos, como nos conta o professor Joaquim: “No final do ano, acaba diminuindo [a quantidade de alunos], mas tem muitas variáveis, como quem pega o programa Jovem Aprendiz, quem está estudando pro IFSul, está preocupado com o PAVE ou o ENEM e, aí, a gente respeita. A ideia é ser uma atividade extracurricular, mas que não atrapalhe a vida estudantil e profissional deles”.
Teatro do Colégio Pelotense desde 1905
Historicamente, o teatro no Colégio Municipal Pelotense é algo que surge desde muito cedo, com registros desde 1905. A atividade teatral sempre fez parte da escola. Mas, só a partir de 1963, a formação de um grupo mais forte e estruturado aconteceu através do Grêmio Estudantil da época. Dessa forma, o teatro teve nesse período a sua época de ouro, com alguns dos momentos de maior reconhecimento e participação em festivais municipais, estaduais e nacionais até 1973, chegando até mesmo a ser premiado. Porém, o grupo acaba sofrendo várias interrupções e intervalos durante os anos até se desfazer em 2002. Apesar de ainda haver algumas iniciativas nesse sentido através de festas juninas ou trabalhos escolares.
Dessa maneira, a presença de teatro nas escolas e na vida desses alunos desde cedo cumpre um papel incrível para a socialização e autoconhecimento. Algo acontece em conjunto com a UFPel e conta com a vitalidade das professoras que fazem parte do projeto para uma maior conexão com os estudantes e com as suas dificuldades e anseios. Bárbara Nunes, estudante da UFPel e professora do Teatro dos Gatos Pelados, acrescenta: “É sempre muito rica a maneira como cada adolescente aprende e se expressa. Eu sou a que mais puxa eles, mas eu vejo uma evolução dos alunos que permaneceram desde quando eu comecei a dar aula, como que eles evoluíram tanto no teatro como pessoa”. Algo que também foi reforçado pelos alunos entrevistados foi a importância da consciência corporal que se adquire e que, com certeza, eles levarão para toda sua vida, para além da prática do teatro.
A conexão com os colegas e as professoras é essencial para a permanência, assim como o amor pelo teatro. O ambiente teatral é um dos maiores atrativos para os alunos, que se consideram como uma família, valorizando cada experiência nas aulas e peças que realizam juntos. Com tudo isso, o grupo também funciona graças à união e amizade que os alunos criam uns com os outros durante o seu tempo ali.
Escolha do Colégio e seleção de atores
A escolha pela produção cinematográfica da cidade e do Colégio Municipal Pelotense se deu muito graças à arquitetura da cidade e do interior da escola, o que combina com o proposto pela narrativa. Um processo que se iniciou no meio do ano passado e que levou quase todo o ano de 2023, até que as filmagens ocorressem e fossem finalizadas. Enquanto isso, a possibilidade de participação dos alunos não era certa, todos precisaram enviar vídeos de teste e passar posteriormente por uma seletiva. Esse foi o caso de Gabriel Ferreira, o escolhido para o papel de protagonista, “O momento da espera foi muito longo, teve um intervalo entre gravar e enviar um vídeo, e mais outro, até saber. Eu mandei o vídeo pensando, vai que uma hora precisem de alguém como eu, nunca me veio uma expectativa muito alta. A gente mandou os vídeos para que depois houvesse uma seletiva, eu achei que nem iria para essa fase, que tinha mandado o vídeo à toa.”
Enquanto os alunos esperavam por alguma notícia ou resultado, os professores souberam antes dos escolhidos e tiveram que controlar as expectativas enquanto preparavam os alunos até o momento em que os resultados pudessem ser divulgados. “Sempre deixamos algumas coisas bem claras para eles, que isso era uma oportunidade, que não dependia só de talento deles ou se eram bons atores ou não. O cinema é uma questão mais de estereótipo, características, da parte física mesmo. Além de que o cinema é muito diferente do teatro, eles não vão fazer teatro [diante das câmeras]”.
Com tudo isso posto para os jovens, uma grande quantidade de alunos foi selecionada e isso causou uma enorme felicidade dentro do grupo. Não só oferecendo uma experiência única para os alunos, mas também o reconhecimento para os professores e o grupo em si. Como conta o coordenador e professor da escola, Joaquim Dias: “Se conseguíssemos um aluno, já era uma vitória. Conseguimos doze, então fantástico, melhor ainda.”
Sendo assim, com todos os aprendizados e experiências que o teatro proporcionou e seguirá fazendo para esses alunos, uma coisa é garantida, eles seguirão envolvidos com a quinta arte, a dos palcos. Seja como espectadores ou atores, todos os alunos se mostraram interessados em continuar com a arte em suas vidas. Como nos conta Gabriel: “No início eu achava que não, mas eu vi uma peça esses dias e o talento das pessoas expressando aquilo que eu acho muito massa. Se eu não continuar fazendo, vou continuar acompanhando. Mas, com certeza, eu vou continuar fazendo.”
Agora, em recesso escolar, as atividades do Teatro dos Gatos Pelados retornarão com a volta das aulas do Colégio Municipal Pelotense. A partir daí, o grupo estará aberto para todos aqueles alunos que desejam ingressar e também estará de portas abertas durante as exibições de suas peças para que a comunidade os visite e conheça o seu trabalho.
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